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Carta Maior, 11/11/2014
A história da flexibilização quantitativa e da recuperação
Por Michael Roberts
Na semana passada houve alguns fatos
interessantes na economia mundial, que alguns consideraram uma mudança
importante. Em primeiro lugar, o Federal Reserve dos Estados Unidos (FED)
colocou fim em seu programa denominado “flexibilização quantitativa”
(QE). Isto é, a compra por parte dos bancos centrais de bônus de
governo, de empresas e imobiliárias pagos com a “impressão de dinheiro”
ou com a criação de reservas de dinheiros nos bancos.
Este estímulo monetário 'não convencional' foi adotado pelo Federal Reserve e por outros bancos depois de reduzidas as taxas de juros para empréstimos aos bancos comerciais (a 'taxa orientativa') a zero, mas as principais economias continuam lutando para sair da Grande Recessão. O argumento era que uma vez que as taxas de juros fossem 'equivalentes a zero', qualquer novo estímulo econômico teria que ser “quantitativo”, mas quantidade de dinheiro em vez de dinheiro emprestado mais barato (uma taxa de juros mais baixa).
Pois bem, em sua reunião da semana passada, o FED anunciou que seu programa de QE finalmente havia terminado e que não haveria mais compras com bônus comprados mediante a impressão de dinheiro. Alguns dias depois, o Banco do Japão anunciou o contrário em um movimento surpresa (a votação foi 5-4).
O Banco do Japão vai ampliar seu atual programa de QE aumentando a taxa anual de compras de bônus do governo e de outros bônus do setor privado. Por que estas diferentes políticas? A FED acredita que a economia dos Estados Unidos, e em particular seu mercado de trabalho, esteja se recuperando o suficiente para não precisar de ajuda, e que qualquer estímulo adicional poderia inclusive ser inflacionário. Por outro lado, a economia japonesa ainda está de joelhos e pode inclusive cair em uma nova recessão. Assim, o Banco do Japão está tratando de tirar sua economia da lama com uma injeção extra de QE em 2015.
Mas a QE funcionou e será capaz de relançar as economias capitalistas de novo até os níveis de crescimento real de antes da Grande Recessão em 2008? A resposta é clara: não. Desde o final da crise em meados de 2009 e o uso da QE desde 2010 por vários bancos centrais, pela FED, Banco da Inglaterra, Banco do Japão e, em certa medida pelo BCE, o crescimento mundial foi fraco e se manteve abaixo da tendência. A recuperação do emprego e o crescimento foram pequenos.
No Japão e na zona do Euro, os espectros que ameaçam suas economias são a recessão e a deflação (não a inflação). De fato, nas principais economias se fala de um “estancamento secular” e que nunca “voltarão à normalidade”. Mas o argumento contrário vêm pelo menos dos EUA e do Reino Unido, onde a QE foi mais utilizada, produzindo uma recuperação econômica.
Já tratei da natureza frágil e desequilibrada da recuperação econômica do Reino Unido em vários textos. E se analisarmos os EUA, veremos que o crescimento médio do PIB real desde o final da Grande Recessão foi somente a metade da taxa anterior. A brecha entre o PIB real per capita potencial dos EUA e o real depois da Grande Recessão está aumentando, não reduzindo.
Também se soube na semana passada o último número (projetado) do crescimento do PIB real dos Estados Unidos para o terceiro trimestre de 2014. Supõe um aumento de 3,5% em relação ao trimestre anterior depois de um aumento de 4,6% entre os trimestres no segundo trimestre e uma queda de 2,1% no 1T de “inverno”. O que é incrível, até que os dados subjacentes sejam levados em consideração. No terceiro trimestre, o crescimento anual continuava sendo mais ou menos o mesmo dos últimos anos, 2,3%. E parece que no 3T, o crescimento foi impulsionado principalmente por um maior gasto do governo e por melhores números no comércios. O crescimento do setor privado nacional dos EUA na verdade se desacelerou.
A contribuição do crescimento do consumo privado se reduziu de 1,75% para 1,22%, ou 38% do crescimento total no 2T para 35% no 3T. A contribuição do investimento das empresas se reduziu de 1,45% para 0,74%, o de 32% do crescimento total de somente 21%. O que sustentou o crescimento foi o gasto da defesa adicional, cuja contribuição ao crescimento total quase triplicou; e um enorme aumento da contribuição do comércio exterior, já que importações do petróleo caíram no preço e no volume, proporcionando um impulso para o PIB.
Mais importante ainda, o investimento empresarial (como porcentagem do PIB) ainda não voltou aos níveis anteriores à Grande Recessão, depois de seis anos. As empresas dos Estados Unidos utilizaram a forte recuperação da massa de benefícios a partir do final de 2008, principalmente para arrecadar dinheiro no exterior ou pagar dividendos aos grandes acionistas ou ainda para comprar suas próprias ações e aumentar o valor de mercado da empresa. O investimento em novas tecnologias ou fábricas para empregar trabalhadores foi a última prioridade. E agora há indícios de que os benefícios empresariais podem ter tocado o teto. E como os benefícios precedem o investimento, o crescimento do investimento poderia ser bruscamente freado ou inclusive ser revertido no ano seguinte.
Então, qual foi o efeito da QE? Pois bem, os teóricos da teoria quantitativa do dinheiro, cujo principal expoente no século XX foi o economista de direita Milton Friedman, sustentam que graças a um controle rigoroso da quantidade certa de dinheiro na economia por parte do banco central, a economia se torna estável e cresce de maneira constante (sempre e quando, certamente, os governos e os sindicatos não interferem nos mercados).
O ex-presidente da FED, Ben Bernanke, foi durante toda sua vida defensor da solução monetarista de Friedman. Em um discurso feito em 2012, reiterou sua velha posição de que “as compras de ações no longo prazo por parte da FED durante a Grande Depressão poderia ter ajudado a economia dos Estados Unidos a se recuperar apesar de as taxas no curto prazo estarem perto do zero”. Bernanke nos lembrou que “Friedman defendeu que as compras massivas de bônus no longo prazo por parte do Banco do Japão ajudaram a superar a armadilha deflacionária do Japão”.
A famosa fórmula monetarista é MV = PT, onde M é o total de dinheiro em circulação, V é a velocidade ou taxa de rotatividade do dinheiro (que muda de mãos), P é o nível de preços em uma economia e T é o nível de transações (atividades ou vendas) em uma economia. O argumento monetarista é que uma injeção de mais M (com V constante) ou faz subirem os preços (inflação) ou impulsiona a economia real (transações).
Bem, sem dúvidas houve uma enorme injeção de M. Nos EUA, a FED aumentou a base monetária de 3% do PIB para 15% e o Banco do Japão a elevou a mais de 30%. Mas o crescimento econômico real não respondeu. E podemos ver por que quando nos atemos ao “multiplicador de dinheiro” a relação da quantidade de dinheiro impresso pela FED com a quantidade de dinheiro que flui na economia em geral.
Durante a Grande Recessão, o multiplicador do dinheiro despencou quando a economia contraiu e a quantidade de dinheiro em circulação consequentemente caiu. Mas a injeção de mais dinheiro pela FED não fez nada para reverter a situação desde o final da recessão. Para utilizar a famosa frase, o FED ficou atirando de um lado e o outro extremo (a economia de modo geral) não se moveu.
A teoria quantitativa do dinheiro e seu instrumento político, a QE, demonstrou ser pouco realista e um fracasso. Na fórmula monetarista, M cresceu enormemente, mas P (preços) apenas se moveram para cima e T (transações) também se estancaram. O que aconteceu é que a V (velocidade ou volume de negócios) do dinheiro se reduziu consequentemente.
A razão é que a teoria quantitativa voltou ao cenário. Uma teoria endógena do dinheiro (da qual Marx foi um expoente) começaria ao contrário: é a demanda de crédito ou dinheiro que impulsiona a oferta de dinheiro, não a oferta que cria a demanda. E a demanda de dinheiro tem sido fraca porque a atividade econômica é fraca. Para utilizar outro clichê: “você pode levar um cavalo até a beira do rio, mas não conseguirá obrigá-lo a beber água”.
A QE não funcionou na hora de aumentar as taxas de crescimento econômico para os níveis anteriores à crise. Então, para onde foi todo o dinheiro? Para o sistema bancário para regular seus balanços e restaurar seus lucros. E gerou uma massiva borbulha de ativos financeiros; e os preços dos bônus governamentais e corporativos, e sobretudo, os preços das ações, cresceram durante 73 meses até níveis sem precedentes.
Enquanto escrevo isto, o índice da bolsa de valores dos Estados Unidos alcançou um novo recorde (depois de uma breve 'correção' no começo de outubro). Apesar do fim da QE da FED, a decisão do Banco do Japão de ampliar sua QE e a possibilidade de o BCE fazer o mesmo já alimentou outra escalada dos mercados de valores.
O economista keynesiano Robert Farmer escreveu uma série de livros há alguns anos defendendo que a melhor maneira de relançar a economia era que a FED comprasse ações e participações diretamente como parte de um programa de flexibilização quantitativa. Farmer acreditava que isso restauraria os 'espíritus animales' e a 'confiança' empresarial, e faria com que as empresas investissem mais.
Pois bem, a experiência dos últimos anos refutou essa ideia. As economias reais do mundo continuam caídas, enquanto os mercados de valores alcançam suas máximas siderais. Os únicos beneficiários são o 1% superior de todo o mundo, os donos da maior parte dos ativos financeiros em vez dos lares ou das classes médias.
A última expansão do Banco do Japão, contra as opiniões manifestadas por economistas da corrente majoritária (Bernanke, Krugman, etc.) não vai tirar o Japão de seu estancamento. Os EUA e o Reino Unido parecem ter recuperado algo de tração, mas se os beneficiários deixarem de crescer no próximo ano, poderíamos voltar a sofrer uma virada negativa. E o resto das principais economias em nível mundial se desaceleraram significativamente. Os principais organismos internacionais reduziram significativamente as previsões de crescimento mundial do próximo ano. Isso significa que milhões de pessoas vão continuar desempregadas e que as rendas reais continuarão estancadas em muitas economias importantes. E o risco é que se o FED colocar fim a seu programa de QE e aplicar um aumento das taxas de juros em 2015, o boom financeiro também fracassará e os benefícios começarão a cair, aumentando o risco de uma nova recessão.
(*) Michael Roberts é um reconhecido economista marxista britânico que trabalhou por 30 anos na City londinense como analista econômico. Escreve no blog The Next Recession.
Tradução: Daniella Cambaúva
Este estímulo monetário 'não convencional' foi adotado pelo Federal Reserve e por outros bancos depois de reduzidas as taxas de juros para empréstimos aos bancos comerciais (a 'taxa orientativa') a zero, mas as principais economias continuam lutando para sair da Grande Recessão. O argumento era que uma vez que as taxas de juros fossem 'equivalentes a zero', qualquer novo estímulo econômico teria que ser “quantitativo”, mas quantidade de dinheiro em vez de dinheiro emprestado mais barato (uma taxa de juros mais baixa).
Pois bem, em sua reunião da semana passada, o FED anunciou que seu programa de QE finalmente havia terminado e que não haveria mais compras com bônus comprados mediante a impressão de dinheiro. Alguns dias depois, o Banco do Japão anunciou o contrário em um movimento surpresa (a votação foi 5-4).
O Banco do Japão vai ampliar seu atual programa de QE aumentando a taxa anual de compras de bônus do governo e de outros bônus do setor privado. Por que estas diferentes políticas? A FED acredita que a economia dos Estados Unidos, e em particular seu mercado de trabalho, esteja se recuperando o suficiente para não precisar de ajuda, e que qualquer estímulo adicional poderia inclusive ser inflacionário. Por outro lado, a economia japonesa ainda está de joelhos e pode inclusive cair em uma nova recessão. Assim, o Banco do Japão está tratando de tirar sua economia da lama com uma injeção extra de QE em 2015.
Mas a QE funcionou e será capaz de relançar as economias capitalistas de novo até os níveis de crescimento real de antes da Grande Recessão em 2008? A resposta é clara: não. Desde o final da crise em meados de 2009 e o uso da QE desde 2010 por vários bancos centrais, pela FED, Banco da Inglaterra, Banco do Japão e, em certa medida pelo BCE, o crescimento mundial foi fraco e se manteve abaixo da tendência. A recuperação do emprego e o crescimento foram pequenos.
No Japão e na zona do Euro, os espectros que ameaçam suas economias são a recessão e a deflação (não a inflação). De fato, nas principais economias se fala de um “estancamento secular” e que nunca “voltarão à normalidade”. Mas o argumento contrário vêm pelo menos dos EUA e do Reino Unido, onde a QE foi mais utilizada, produzindo uma recuperação econômica.
Já tratei da natureza frágil e desequilibrada da recuperação econômica do Reino Unido em vários textos. E se analisarmos os EUA, veremos que o crescimento médio do PIB real desde o final da Grande Recessão foi somente a metade da taxa anterior. A brecha entre o PIB real per capita potencial dos EUA e o real depois da Grande Recessão está aumentando, não reduzindo.
Também se soube na semana passada o último número (projetado) do crescimento do PIB real dos Estados Unidos para o terceiro trimestre de 2014. Supõe um aumento de 3,5% em relação ao trimestre anterior depois de um aumento de 4,6% entre os trimestres no segundo trimestre e uma queda de 2,1% no 1T de “inverno”. O que é incrível, até que os dados subjacentes sejam levados em consideração. No terceiro trimestre, o crescimento anual continuava sendo mais ou menos o mesmo dos últimos anos, 2,3%. E parece que no 3T, o crescimento foi impulsionado principalmente por um maior gasto do governo e por melhores números no comércios. O crescimento do setor privado nacional dos EUA na verdade se desacelerou.
A contribuição do crescimento do consumo privado se reduziu de 1,75% para 1,22%, ou 38% do crescimento total no 2T para 35% no 3T. A contribuição do investimento das empresas se reduziu de 1,45% para 0,74%, o de 32% do crescimento total de somente 21%. O que sustentou o crescimento foi o gasto da defesa adicional, cuja contribuição ao crescimento total quase triplicou; e um enorme aumento da contribuição do comércio exterior, já que importações do petróleo caíram no preço e no volume, proporcionando um impulso para o PIB.
Mais importante ainda, o investimento empresarial (como porcentagem do PIB) ainda não voltou aos níveis anteriores à Grande Recessão, depois de seis anos. As empresas dos Estados Unidos utilizaram a forte recuperação da massa de benefícios a partir do final de 2008, principalmente para arrecadar dinheiro no exterior ou pagar dividendos aos grandes acionistas ou ainda para comprar suas próprias ações e aumentar o valor de mercado da empresa. O investimento em novas tecnologias ou fábricas para empregar trabalhadores foi a última prioridade. E agora há indícios de que os benefícios empresariais podem ter tocado o teto. E como os benefícios precedem o investimento, o crescimento do investimento poderia ser bruscamente freado ou inclusive ser revertido no ano seguinte.
Então, qual foi o efeito da QE? Pois bem, os teóricos da teoria quantitativa do dinheiro, cujo principal expoente no século XX foi o economista de direita Milton Friedman, sustentam que graças a um controle rigoroso da quantidade certa de dinheiro na economia por parte do banco central, a economia se torna estável e cresce de maneira constante (sempre e quando, certamente, os governos e os sindicatos não interferem nos mercados).
O ex-presidente da FED, Ben Bernanke, foi durante toda sua vida defensor da solução monetarista de Friedman. Em um discurso feito em 2012, reiterou sua velha posição de que “as compras de ações no longo prazo por parte da FED durante a Grande Depressão poderia ter ajudado a economia dos Estados Unidos a se recuperar apesar de as taxas no curto prazo estarem perto do zero”. Bernanke nos lembrou que “Friedman defendeu que as compras massivas de bônus no longo prazo por parte do Banco do Japão ajudaram a superar a armadilha deflacionária do Japão”.
A famosa fórmula monetarista é MV = PT, onde M é o total de dinheiro em circulação, V é a velocidade ou taxa de rotatividade do dinheiro (que muda de mãos), P é o nível de preços em uma economia e T é o nível de transações (atividades ou vendas) em uma economia. O argumento monetarista é que uma injeção de mais M (com V constante) ou faz subirem os preços (inflação) ou impulsiona a economia real (transações).
Bem, sem dúvidas houve uma enorme injeção de M. Nos EUA, a FED aumentou a base monetária de 3% do PIB para 15% e o Banco do Japão a elevou a mais de 30%. Mas o crescimento econômico real não respondeu. E podemos ver por que quando nos atemos ao “multiplicador de dinheiro” a relação da quantidade de dinheiro impresso pela FED com a quantidade de dinheiro que flui na economia em geral.
Durante a Grande Recessão, o multiplicador do dinheiro despencou quando a economia contraiu e a quantidade de dinheiro em circulação consequentemente caiu. Mas a injeção de mais dinheiro pela FED não fez nada para reverter a situação desde o final da recessão. Para utilizar a famosa frase, o FED ficou atirando de um lado e o outro extremo (a economia de modo geral) não se moveu.
A teoria quantitativa do dinheiro e seu instrumento político, a QE, demonstrou ser pouco realista e um fracasso. Na fórmula monetarista, M cresceu enormemente, mas P (preços) apenas se moveram para cima e T (transações) também se estancaram. O que aconteceu é que a V (velocidade ou volume de negócios) do dinheiro se reduziu consequentemente.
A razão é que a teoria quantitativa voltou ao cenário. Uma teoria endógena do dinheiro (da qual Marx foi um expoente) começaria ao contrário: é a demanda de crédito ou dinheiro que impulsiona a oferta de dinheiro, não a oferta que cria a demanda. E a demanda de dinheiro tem sido fraca porque a atividade econômica é fraca. Para utilizar outro clichê: “você pode levar um cavalo até a beira do rio, mas não conseguirá obrigá-lo a beber água”.
A QE não funcionou na hora de aumentar as taxas de crescimento econômico para os níveis anteriores à crise. Então, para onde foi todo o dinheiro? Para o sistema bancário para regular seus balanços e restaurar seus lucros. E gerou uma massiva borbulha de ativos financeiros; e os preços dos bônus governamentais e corporativos, e sobretudo, os preços das ações, cresceram durante 73 meses até níveis sem precedentes.
Enquanto escrevo isto, o índice da bolsa de valores dos Estados Unidos alcançou um novo recorde (depois de uma breve 'correção' no começo de outubro). Apesar do fim da QE da FED, a decisão do Banco do Japão de ampliar sua QE e a possibilidade de o BCE fazer o mesmo já alimentou outra escalada dos mercados de valores.
O economista keynesiano Robert Farmer escreveu uma série de livros há alguns anos defendendo que a melhor maneira de relançar a economia era que a FED comprasse ações e participações diretamente como parte de um programa de flexibilização quantitativa. Farmer acreditava que isso restauraria os 'espíritus animales' e a 'confiança' empresarial, e faria com que as empresas investissem mais.
Pois bem, a experiência dos últimos anos refutou essa ideia. As economias reais do mundo continuam caídas, enquanto os mercados de valores alcançam suas máximas siderais. Os únicos beneficiários são o 1% superior de todo o mundo, os donos da maior parte dos ativos financeiros em vez dos lares ou das classes médias.
A última expansão do Banco do Japão, contra as opiniões manifestadas por economistas da corrente majoritária (Bernanke, Krugman, etc.) não vai tirar o Japão de seu estancamento. Os EUA e o Reino Unido parecem ter recuperado algo de tração, mas se os beneficiários deixarem de crescer no próximo ano, poderíamos voltar a sofrer uma virada negativa. E o resto das principais economias em nível mundial se desaceleraram significativamente. Os principais organismos internacionais reduziram significativamente as previsões de crescimento mundial do próximo ano. Isso significa que milhões de pessoas vão continuar desempregadas e que as rendas reais continuarão estancadas em muitas economias importantes. E o risco é que se o FED colocar fim a seu programa de QE e aplicar um aumento das taxas de juros em 2015, o boom financeiro também fracassará e os benefícios começarão a cair, aumentando o risco de uma nova recessão.
(*) Michael Roberts é um reconhecido economista marxista britânico que trabalhou por 30 anos na City londinense como analista econômico. Escreve no blog The Next Recession.
Tradução: Daniella Cambaúva
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