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Blog do Santayana, 27/07/2014
A TRAGÉDIA PALESTINA E A VITÓRIA DOS “ANÕES DIPLOMÁTICOS” SOBRE OS ISRAELENSES NA ONU.
Por Mauro Santayana
O porta-voz do
Ministério das Relações Exteriores de Israel, Yigal Palmor, deve estar
achando o máximo ter sido repentinamente elevado, pela rançosa e entreguista
direita latino-americana - como o Sr. Andrés Oppenheimer - à condição de
“superstar”, depois de ter chamado o Brasil de “anão diplomático” e de ter nos
lembrado, com a autoridade moral de um lagarto, que “desproporcional é perder
de 7 x 1”, referindo-se à Copa do Mundo, e não, matar e ferir mais de 3.000
pessoas e desalojar quase 200.000, para “vingar” um número de vítimas civis que
não chegam a cinco.
Com acesso a drones
e a sofisticados satélites de vigilância norte-americanos, e a compra de espiões
em território “controlado” pelo Hamas – traidores e mercenários existem em
todos os lugares - Israel poderia, se quisesse, capturar ou eliminar, com
facilidade, em poucos meses, os responsáveis pelo lançamento de foguetes contra
seu território, assim como alega contar com eficaz escudo que o protege da
maioria deles.
O governo de
Telaviv - e o Mossad - não o faz porque não quer. Prefere transformar sua
resposta em expedições punitivas não contra os responsáveis pelos projéteis,
mas contra todo o povo palestino, matando e mutilando - como fizeram os
nazistas com os próprios judeus na Segunda Guerra Mundial- milhares de pessoas,
apenas pelo fato de serem palestinos.
Essa atitude,
no entanto, não impediria que surgissem novos militantes dispostos a encarar a
morte, para continuar afirmando – pelo único meio que bélico lhes restou - que
a resistência palestina continua viva.
Do meu ponto de
vista, nesse contexto de cruel surrealismo e interminável violência do
confronto, para chamar a atenção do mundo, os palestinos, principalmente os que
não estão ligados a grupos de inspiração islâmica, deveriam não comprar mais
pólvora, mas tecido.
Milhares e
milhares de metros de pano listrado, como aqueles que eram fabricados por ordem
do Konzentrationslager Inspetorate, e das SS, na Alemanha Nazista, para
vestir entre outros, os prisioneiros judeus dos campos de extermínio.
Os milhões de
palestinos que vivem na Cisjordânia e na Faixa de Gaza poderiam - como fez
Ghandi na Índia - adotar a não violência, raspar as suas cabeças, as de suas
mulheres e filhos, como raspadas foram as cabeças dos milhões de judeus que
pereceram na Segunda Guerra Mundial, tatuar em seus braços, com números e
caracteres hebraicos, a sua condição de prisioneiros do Estado de Israel,
costurar, no peito de seus uniformes, o triângulo vermelho e as três faixas da
bandeira palestina, para ser bombardeados ou morrer envoltos na mesma
indumentária das milhões de vítimas que pereceram em lugares como Auschwitz,
Treblinka e Birkenau.
Quem sabe,
assim, eles poderiam assumir sua real condição de prisioneiros, que vivem
cercados dentro de campos e de guetos, por tropas de um governo que não é o
seu, e que, em última instância, controla totalmente o seu destino.
Quem sabe,
despindo-se de suas vestimentas árabes, das barbas e bigodes de seus homens,
dos véus e longos cabelos de suas mulheres, despersonalizando-se, como os
nazistas faziam com seus prisioneiros, anulando os últimos resquícios de sua
individualidade, os palestinos não poderiam se aproximar mais dos judeus,
mostrando-lhes, aos que estão do outro lado do muro e aos povos do resto
do mundo - com imagens semelhantes às do holocausto – que pertencem à mesma
humanidade, que são, da mesma forma, tão vulneráveis à doença, aos cassetetes,
às balas, ao desespero, à tristeza e à fome, quanto aqueles que agora os estão
bombardeando.
As razões da
repentina e grosseira resposta israelense contra o Brasil - que ressaltou,
desde o início, o direito de Israel a defender-se - devem ser buscadas não no
“nanismo” diplomático brasileiro, mas no do próprio governo sionista.
É óbvio, como
disse Yigal Palmor, que no esporte bretão 7 a 1 é um número desproporcional e
acachapante.
Já no seu campo
de trabalho - a diplomacia –como mostrou o resultado da votação do Conselho de
Direitos Humanos da ONU, que aprovou, há três dias, a investigação das ações
israelenses em Gaza, os “anões” diplomáticos - entre eles o Brasil, que também
votou contra a posição israelense - ganharam por 29 a 1, com maioria de países
do BRICS e latino-americanos. Só houve um voto a favor de Telaviv, justamente o
dos EUA.
Concluindo, se
Palmor – que parece falar em nome do governo israelense, já que até agora
sequer foi admoestado - quiser exemplo matemático ainda mais contundente,
bastaria lembrar-lhe que, no covarde “esporte” de matar seres humanos
indefesos – entre eles velhos, mulheres e crianças – disputado pelo Hamas
e a direita sionista israelense, seu governo está ganhando de goleada, desde o
início da crise, pelo brutal - e desproporcional placar - de quase 300 vítimas
palestinas para cada civil israelense.
Carta Maior, 24/07/2014
Mídia israelense abre pouco espaço aos críticos da guerra
PorBettina Marx
PorBettina Marx
Em Israel, quem se opõe à ofensiva militar do país à Faixa de Gaza tem
dificuldades na mídia local. De modo geral, não se pode sequer terminar
uma frase antes de ser interrompido. Em debates televisivos, as
animosidades não vêm apenas dos demais participantes. Os próprios
moderadores não costumam tolerar opiniões que fujam do consenso. Ao
tentar expressar seu ponto de vista, as vozes divergentes são
imediatamente caladas.
Num estúdio de televisão, Yeshuda Shaul – da Breaking the Silence, organização de ex-soldados contrários à ocupação militar de Gaza – sentava-se entre um jornalista e o apresentador de rádio Sharon Gal. Ao anunciar uma manifestação contra a ofensiva militar marcada para aquele dia, ele logo recebeu duras críticas do radialista. "Você é judeu e deveria se envergonhar. Deveria vestir seu uniforme e ir à Faixa de Gaza, ao invés de ficar sentado em estúdios de televisão e organizando protestos", disparou Gal.
Quem também participava do debate era o parlamentar da Knesset – o Parlamento israelense – Muhammad Barakeh. De origem árabe, ele também acabou se transformando em alvo da ira do radialista. "O senhor é um mentiroso, um criminoso, e não deviam ter deixado que falasse aqui. Vá aparecer na televisão do Hamas. O senhor apoia o Hamas!", disse Gal.
Nervos à flor da pele
Assim é Israel nos dias de hoje. O clima de crise toma conta de todo o país. Os três canais de televisão – um público e dois privados – estão no ar 24 horas. "Um Estado sob fogo", dizem as chamadas sensacionalistas.
Nos últimos dias, o jornalista Gideon Levy acabou se tornando a figura central de uma grande controvérsia. Num artigo no jornal israelense Haaretz, ele criticou os pilotos da Força Aérea por suas missões sobre a Faixa de Gaza. "Vocês nunca viram uma aeronave inimiga. A última batalha da Força Aérea israelense aconteceu antes de vocês nascerem. Vocês nunca viram o branco dos olhos de seus inimigos, tampouco o vermelho do sangue de suas vítimas. Vocês são heróis que lutam contra os mais fracos e desamparados, aqueles que sequer possuem uma Força Aérea ou defesa antiaérea e que mal sabem empinar uma pipa."
O texto provocou uma enxurrada de reações. Os pilotos da Força Aérea são tidos em Israel como heróis intocáveis. Apenas os melhores dos melhores conseguem sobreviver ao árduo e extenso treinamento para piloto de combate e são a elite da sociedade militar do país. O artigo de Levy, escrito após a morte de 21 membros da família do chefe de polícia de Gaza num ataque aéreo, foi tido por muitos como um sacrilégio imperdoável.
O jornalista tentou explicar sua opinião em talk-shows e programas de entrevistas. "A maioria dos israelenses não tem acesso às imagens de Gaza e não sabe o que está acontecendo lá", afirmou. Para Levy, as mortes e a destruição vêm ocorrendo numa extensão terrível, e alguém é responsável por isso. "Os pilotos não são os únicos, mas também são responsáveis. Devemos nos perguntar se ninguém está assumindo a responsabilidade moral", protestou o jornalista.
Quase linchado
Levy pronunciou essas palavras em Ashkelon, uma das cidades mais atingidas pelos foguetes de Gaza nas últimas semanas. Ele estava em frente a um centro comercial, e sua entrevista era transmitida ao vivo para o estúdio de televisão. Mas o jornalista mal começava a falar e já era interrompido. "Você é um traidor. Chama nossos pilotos de assassinos. Não tem vergonha? Aqui você não pode falar", protestaram os passantes.
O apresentador no estúdio teve que interromper a conversa, porque cada vez mais pessoas se juntavam no local para insultar Levy. Mais tarde, o jornalista contou em outro artigo no Haaretz que por pouco não havia sido linchado. "Meus melhores amigos pediram que eu deixasse o país até que a situação se acalme, que tomasse cuidado ou que ao menos ficasse em casa", escreveu.
Levy não seguiu os conselhos. Ele preferiu enfrentar as perguntas dos apresentadores de talk-shows, e lutar por suas convicções. "Eu lhes pergunto: se existe um coro tão forte e unificado na mídia, por que uma única voz isolada, um simples eco divergente incomoda? Por que essa voz causa tamanha tempestade? Por quê?", questiona o jornalista.
Num estúdio de televisão, Yeshuda Shaul – da Breaking the Silence, organização de ex-soldados contrários à ocupação militar de Gaza – sentava-se entre um jornalista e o apresentador de rádio Sharon Gal. Ao anunciar uma manifestação contra a ofensiva militar marcada para aquele dia, ele logo recebeu duras críticas do radialista. "Você é judeu e deveria se envergonhar. Deveria vestir seu uniforme e ir à Faixa de Gaza, ao invés de ficar sentado em estúdios de televisão e organizando protestos", disparou Gal.
Quem também participava do debate era o parlamentar da Knesset – o Parlamento israelense – Muhammad Barakeh. De origem árabe, ele também acabou se transformando em alvo da ira do radialista. "O senhor é um mentiroso, um criminoso, e não deviam ter deixado que falasse aqui. Vá aparecer na televisão do Hamas. O senhor apoia o Hamas!", disse Gal.
Nervos à flor da pele
Assim é Israel nos dias de hoje. O clima de crise toma conta de todo o país. Os três canais de televisão – um público e dois privados – estão no ar 24 horas. "Um Estado sob fogo", dizem as chamadas sensacionalistas.
Nos últimos dias, o jornalista Gideon Levy acabou se tornando a figura central de uma grande controvérsia. Num artigo no jornal israelense Haaretz, ele criticou os pilotos da Força Aérea por suas missões sobre a Faixa de Gaza. "Vocês nunca viram uma aeronave inimiga. A última batalha da Força Aérea israelense aconteceu antes de vocês nascerem. Vocês nunca viram o branco dos olhos de seus inimigos, tampouco o vermelho do sangue de suas vítimas. Vocês são heróis que lutam contra os mais fracos e desamparados, aqueles que sequer possuem uma Força Aérea ou defesa antiaérea e que mal sabem empinar uma pipa."
O texto provocou uma enxurrada de reações. Os pilotos da Força Aérea são tidos em Israel como heróis intocáveis. Apenas os melhores dos melhores conseguem sobreviver ao árduo e extenso treinamento para piloto de combate e são a elite da sociedade militar do país. O artigo de Levy, escrito após a morte de 21 membros da família do chefe de polícia de Gaza num ataque aéreo, foi tido por muitos como um sacrilégio imperdoável.
O jornalista tentou explicar sua opinião em talk-shows e programas de entrevistas. "A maioria dos israelenses não tem acesso às imagens de Gaza e não sabe o que está acontecendo lá", afirmou. Para Levy, as mortes e a destruição vêm ocorrendo numa extensão terrível, e alguém é responsável por isso. "Os pilotos não são os únicos, mas também são responsáveis. Devemos nos perguntar se ninguém está assumindo a responsabilidade moral", protestou o jornalista.
Quase linchado
Levy pronunciou essas palavras em Ashkelon, uma das cidades mais atingidas pelos foguetes de Gaza nas últimas semanas. Ele estava em frente a um centro comercial, e sua entrevista era transmitida ao vivo para o estúdio de televisão. Mas o jornalista mal começava a falar e já era interrompido. "Você é um traidor. Chama nossos pilotos de assassinos. Não tem vergonha? Aqui você não pode falar", protestaram os passantes.
O apresentador no estúdio teve que interromper a conversa, porque cada vez mais pessoas se juntavam no local para insultar Levy. Mais tarde, o jornalista contou em outro artigo no Haaretz que por pouco não havia sido linchado. "Meus melhores amigos pediram que eu deixasse o país até que a situação se acalme, que tomasse cuidado ou que ao menos ficasse em casa", escreveu.
Levy não seguiu os conselhos. Ele preferiu enfrentar as perguntas dos apresentadores de talk-shows, e lutar por suas convicções. "Eu lhes pergunto: se existe um coro tão forte e unificado na mídia, por que uma única voz isolada, um simples eco divergente incomoda? Por que essa voz causa tamanha tempestade? Por quê?", questiona o jornalista.
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