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10/07/2014
Palavras de mudança
Por Jânio de Freitas
Por Jânio de Freitas
A variedade dos adjetivos foi pequena. Não por escassez vocabular de
quem os emitiu nos jornais e nas emissoras, mas porque o acontecimento
não suscitava mais do que palavras com força dramática. E todas serviram
para conduzir à mesma ideia, também expressa com pequena variedade: é
preciso mudar tudo no futebol brasileiro, que seja o fim de uma era, é o
momento de iniciar uma ressurreição. A ideia é o que importa, e é boa.
Para torná-la real, nada seria mais eficiente do que começar pelos que a
propõem.
A imprensa e os jornalistas são muito democráticos: têm a convicção de
que tudo e todos são sujeitos à crítica. Desde que não sejam a imprensa e
os jornalistas. Apesar disso, é preciso dizer que os mal denominados
meios de comunicação têm uma parcela -de difícil mensuração, mas não
pequena- nas causas do que está chamado de "humilhação, catástrofe e
vergonha". E parcela maior no choque emotivo das pessoas em geral,
reação que corresponde à expectativa esperançosa de que estiveram
imbuídas.
Jogadores justificam ou não as expectativas boas ou ruins. Não pregam,
porém, ânimos ou desânimos coletivos, sejam ou não fundados. Quem pode
fazê-lo são outros. E são muitos os que fazem e por diferentes maneiras.
Não cabe dizer que os torcedores são dependentes das induções, porque
nos esportes têm a possibilidade do testemunho que lhes falta na
política. Mas a verdade é que são cabeças e almas muito sugestionáveis,
muito sensíveis ao estímulo a paixões. (Dizem que é uma característica
dos povos latinos, mas basta uma olhada na tendência dos americanos para
os fanatismos, patrioteiros e outros, e constatar que não temos
exclusividade na matéria). E foi isso o que se viu, com origens também
perceptíveis.
Antes e depois de iniciada a Copa, o nível médio da franqueza foi muito
baixo nos comentários sobre a seleção, em contraste com a crítica, em
âmbito privado, de muitos dos mesmos autores profissionais. Ou pelo que
transparência nas entrevistas de seu trabalho público. Os amistosos com
timecos, inclusive já às vésperas da Copa, com Sérvia e Panamá,
prenunciaram o que viria depois. A contenção das análises naquele antes
também se mostrou no depois. Já a escolha de Felipão contrariara a
amplíssima preferência por outro treinador, talvez Tite, sem que isso se
mostrasse com firmeza na imprensa esportiva. Os fatos mostraram que a
preferência era justificada, e fez falta.
Se o tempo de vida em contato com a imprensa e com a opinião pública
vale alguma coisa, é a partir dele que concluo pela contribuição da
baixa média de franqueza crítica para a ocorrência do desacerto,
continuado e progressivo, que levou à "vergonha". E do mesmo modo se faz
a minha convicção de que o ambiente ficou livre para que a falta de
observações firmes, a tendência nacional ao oba-oba e os interesses
comerciais se juntassem na criação do otimismo mentiroso. Logo, também
na decepção doída como um luto.
O jornalismo brasileiro está precisando de uma reviravolta mais ou menos
como a pedida para o futebol. A na área dos esportes, que poderia ser
iniciada com menos obstáculos. Até porque a Olimpíada vem aí.
Ainda sobre a adjetivação da goleada engolida, sua destinação pareceu
transbordar do alvo justo -a comissão técnica e os jogadores. Nada de
"vergonha" ou "humilhação" nacional. Para os brasileiros, a derrota foi
não mais do que estonteante. E não para todos. No curto tempo entre o
fim do jogo e a edição dos jornais, segundo certo noticiário, o governo
foi capaz até de projetar uma nova "estratégia", que "agora é colar sua
imagem apenas à organização". Isso é que é governo veloz, segundo o
emitido "sinal de alerta" (na expressão idêntica da Folha e do "Globo")
decorrente do "temor" e do "mau humor" que a derrota instalou no
Planalto.
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