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Carta Maior, 23/07/2014
Por José Augusto Valente
A denúncia da Folha de São Paulo de investimento de R$ 14 milhões em aeroporto nas terras do avô de Aécio Neves, em Cláudio/MG, provocou a primeira grande turbulência na campanha presidencial, com repercussões imprevisíveis.
Segundo o jornal, o aeroporto foi construído no município de Cláudio, a 150 km de Belo Horizonte. As obras foram concluídas em outubro de 2010 e é administrado por familiares de Aécio. (veja abaixo o aeroporto de Divinópolis, em pleno uso, a 40 minutos de onde Aécio construiu o seu; redundância custou R$ 14 milhões aos cofres públicos de MG)
O caos aéreo mineiro
Por José Augusto Valente
A denúncia da Folha de São Paulo de investimento de R$ 14 milhões em aeroporto nas terras do avô de Aécio Neves, em Cláudio/MG, provocou a primeira grande turbulência na campanha presidencial, com repercussões imprevisíveis.
Segundo o jornal, o aeroporto foi construído no município de Cláudio, a 150 km de Belo Horizonte. As obras foram concluídas em outubro de 2010 e é administrado por familiares de Aécio. (veja abaixo o aeroporto de Divinópolis, em pleno uso, a 40 minutos de onde Aécio construiu o seu; redundância custou R$ 14 milhões aos cofres públicos de MG)
Ainda segundo a matéria da Folha, a família de Múcio Guimarães Tolentino, 88, tio-avô do senador e ex-prefeito de Cláudio, guarda as chaves do portão do aeroporto. Para pousar ali, é preciso pedir autorização aos filhos de Múcio.
Segundo um deles, Fernando Tolentino, a pista recebe pelo menos um voo por semana, e seu primo Aécio Neves usa o aeroporto sempre que visita a cidade. O senador, sua mãe e suas irmãs são donos da Fazenda da Mata, a 6 km do aeroporto.
Aécio, em nota, afirma que “o terreno onde foi construído o aeroporto foi escolhido por apresentar as "condições topográficas" ideais e permitir que a obra fosse feita com o "menor custo para o Estado".
Segundo o governo de Minas, "A área foi indicada pelo setor especializado do governo". "Foi a opção mais correta do ponto de vista técnico e de custos." Diz ainda que o aeroporto de Cláudio "é de uso público e aguarda a homologação junto à Anac", cujo processo foi encaminhado em 2011.
Informação de ontem (21/7) da ANAC confirma que esse aeroporto ainda não foi autorizado a funcionar, por falta de cadastro no órgão.
Como profissional da área de transportes, veio-me a curiosidade de saber como esse aeroporto se encaixaria no sistema aeroportuário brasileiro e no marco legal.
Assim, meu primeiro movimento foi consultar os sites oficiais do Governo de Minas Gerais. Primeira frustração, não há informações sobre os aeroportos sob gestão do governo mineiro.
Na falta de informações, há algumas questões que precisam ser respondidas:
O governo mineiro, em 1983, poderia ter feito investimento público, construindo um campo de pouso na fazenda do tio-avô de Aécio? Qual o estudo que norteou esse investimento público em terreno privado?
Se é verdade que foram utilizados critérios técnicos, para a localização e construção do aeroporto de Cláudio, o governo de Minas poderia apresentar os estudos e projetos que nortearam essa tomada de decisão? Nesse caso, tem que apresentar o EVTE – estudo de viabilidade técnico-econômica -, dado que existe um aeroporto maior, em Divinópolis, a 50 km da cidade de Cláudio, o que muito provavelmente inviabiliza o uso comercial deste último (Nota da redação: Entre os dois aeroportos, a distância é de apenas 31,3 km).
O governo de Minas poderia apresentar o estudo que levou à avaliação da desapropriação da área do aeroporto em R$ 1 milhão de reais oferecida ao tio-avô de Aécio? Isso é importante para saber se houve subavaliação da desapropriação para forçar a viabilidade econômica do empreendimento.
Além disso, se o tio-avô do Aécio ganhar na justiça um valor muito maior do que o oferecido e incluído no cálculo do estudo de viabilidade, essa nova despesa poderá trazer sério prejuízo para o estado e, consequentemente, para os contribuintes. Alguém terá que ser responsabilizado por essa avaliação equivocada.
Se o aeroporto é público, porque as chaves do portão ficam em poder da família do Aécio?
Segundo moradores em Cláudio, ouvidos pela Folha, o Aécio utilizou o aeroporto umas seis vezes por ano.
Se ainda não foi homologado pela ANAC, como Aécio o utiliza sabendo que é ilegal? Ou não sabe dessa ilegalidade?
Quem fiscaliza o uso e segurança desse aeroporto, nesta fase em que aguarda homologação da ANAC? A própria agência? O governo mineiro? A família do Aécio? Ninguém?
Se é verdade que Aécio utilizou o aeroporto algumas vezes por ano, como conseguiu passar pelo controle de voo, que sabe que ele não poderia ser utilizado?
O comandante da aeronave mentiu sobre o aeroporto de destino e origem, quando informou seu plano de voo? Se fez isso, trata-se de infração muito grave.
Apenas Aécio utilizou ilegalmente esse aeroporto ou outras aeronaves, como helicópteros, também o fizeram?
Se Aécio se tornar presidente, será o chefe supremo da ANAC. Como terá autoridade moral de exigir rigor da agência se ele mesmo violou as regras atuais?
Como se vê, a menos que tudo o que a Folha de São Paulo divulgou seja falso, o candidato Aécio Neves passará o resto da campanha tendo que explicar o inexplicável. Pela quantidade de perguntas que precisam ser respondidas, será uma tarefa muito difícil.
.....
Carta Maior, 24/07/2014
Nova estação eleitoral: candidatos e seus estilos
Por Wanderley Guilherme dos Santos
Os estilos da nova estação eleitoral estão sendo apresentados em
pré-lançamento para apreciação do consumidor especializado – os
eleitores. Ao contrário dos preços exorbitantes das marcas em evidência
destinadas ao 1% endinheirado, a decisão eleitoral é baratíssima:
atenção à propaganda, tempo de transporte à seção onde vota e o esforço
de apertar alguns botões. E pensar que quando toda essa história começou
só aquele 1% desfilava e escolhia ao mesmo tempo, pois o direito de
voto custava uma fortuna. Provavelmente os que julgam que a democracia
representativa é uma fraude descendem em linha direta, antes, como
agora, do 1% privilegiado. Antes, porque eram os fraudadores, hoje
porque, com o voto secreto universal e digitalizado, não podem mais
sê-lo. Há razões, portanto, para a variedade de estilos em desfile.
O principal candidato oposicionista, senador Aécio Neves, tem adotado a estratégia juvenil de bater como homem e apanhar como dama. Muito comum na adolescência, as ameaças e declarações truculentas transformam-se em apelo aos irmãos mais velhos quando o caldo engrossa. Ao endossar, em primeira edição, a pornofonia vip contra a Presidenta (“colheu o que semeou”, depois retificado), e apoiar o coro agourento dos conservadores históricos sobre as conseqüências de uma derrota futebolística (“ela vai pagar o preço”), vestiu a carapuça black bloque desafiando a Presidenta com grosseria (“ela não pode andar nas ruas”).
Esse é o lado viril da juventude, logo em debandada quando se descobre (e essa foi só a primeira descoberta de um passado controverso, ainda não muito conhecido) que construiu com dinheiro público em fazenda de um tio e onde costuma pousar com jatinhos de amigos ou parentes, não está claro se de uns, outros, ou de ambos. Foi o que bastou para lamentar-se de perseguição quando seria suficiente mostrar a papelada do aeroporto legalmente exigida. Em habitual movimento de defesa buscou abrigo nas referências a opiniões de ministros do Supremo. Quando em vantagem canta de galo e em condições de igualdade foge da raia.
Candidata a reeleição, Dilma Roussef parece acreditar na excelência do desempenho e na força da verdade. É uma estratégia olímpica cujos resultados só ficarão claros quando começar o horário eleitoral gratuito. Vi alguns filmetes e suponho que aquela narrativa com o entusiasmo burocrático de relatório incomoda até os seus eleitores fiéis, enfadonha depois de um ou dois minutos, quando todas as realizações parecem uma só (que era o quanto bastaria em cada vídeo) e fica patente a ausência de um rosto humano. Nenhum dos engenheiros que planejaram a BR-XXX, nenhum dos trabalhadores que a executaram, nenhum dos empresários por ela beneficiados, nenhum dos moradores dos locais por onde passa. É como a fazenda do tio de Aécio Neves: só tem aeroporto, não aparece ninguém para falar bem do lugar.
Os responsáveis pela campanha governista deixam a impressão de que não distinguem programa de governo de propaganda eleitoral. Formular em campanha o empenho em reforma política e federalista provoca reações contrárias de quem não terá opinião enquanto não souber o que será reformado e como (visto que os conservadores estão loucos por uma reforminha que altere o capítulo sobre direitos sociais da Constituição de 88). Isso é para ser discutido no desempenho do mandato, com o Legislativo, onde estarão representadas todas as correntes da opinião pública, e não baixada como medida provisória, com prazo compulsório de votação (“faça-se uma reforma política”).
Discutir o federalismo brasileiro é matéria urgente, mas não responde, para o eleitor, à acusação direta e concreta de que o governo tem sido mau gestor e corrupto. Parece escapismo, pois não é por aí que a oposição conservadora busca se diferenciar do governo. Até agora, portanto, o estilo da estação, para o governo, é o do discurso da verdade. Claro que alteração nenhuma deve substituir a verdade pela mentira, mas traduzi-la em propaganda para homens e mulheres comuns, isto é, a maioria esmagadora do eleitorado.
A favor do momento diga-se que não deixa de ser um desafogo para os democratas verificarem que a imprensa conservadora tem sido incapaz de modificar a convicção política dos eleitores. As pesquisas, interpretações esdrúxulas à parte, tem revelado cautela e ponderação dos eleitores em sua cuidadosa definição eleitoral. Até aqui, a imprensa conservadora, já impotente para dar um golpe com apoio dos militares, tenta manter seus recursos de chantagem com a tentativa de golpe pela via das estatísticas. Se bem observado, isto é um progresso, resultado de 13 anos de governos trabalhistas.
O principal candidato oposicionista, senador Aécio Neves, tem adotado a estratégia juvenil de bater como homem e apanhar como dama. Muito comum na adolescência, as ameaças e declarações truculentas transformam-se em apelo aos irmãos mais velhos quando o caldo engrossa. Ao endossar, em primeira edição, a pornofonia vip contra a Presidenta (“colheu o que semeou”, depois retificado), e apoiar o coro agourento dos conservadores históricos sobre as conseqüências de uma derrota futebolística (“ela vai pagar o preço”), vestiu a carapuça black bloque desafiando a Presidenta com grosseria (“ela não pode andar nas ruas”).
Esse é o lado viril da juventude, logo em debandada quando se descobre (e essa foi só a primeira descoberta de um passado controverso, ainda não muito conhecido) que construiu com dinheiro público em fazenda de um tio e onde costuma pousar com jatinhos de amigos ou parentes, não está claro se de uns, outros, ou de ambos. Foi o que bastou para lamentar-se de perseguição quando seria suficiente mostrar a papelada do aeroporto legalmente exigida. Em habitual movimento de defesa buscou abrigo nas referências a opiniões de ministros do Supremo. Quando em vantagem canta de galo e em condições de igualdade foge da raia.
Candidata a reeleição, Dilma Roussef parece acreditar na excelência do desempenho e na força da verdade. É uma estratégia olímpica cujos resultados só ficarão claros quando começar o horário eleitoral gratuito. Vi alguns filmetes e suponho que aquela narrativa com o entusiasmo burocrático de relatório incomoda até os seus eleitores fiéis, enfadonha depois de um ou dois minutos, quando todas as realizações parecem uma só (que era o quanto bastaria em cada vídeo) e fica patente a ausência de um rosto humano. Nenhum dos engenheiros que planejaram a BR-XXX, nenhum dos trabalhadores que a executaram, nenhum dos empresários por ela beneficiados, nenhum dos moradores dos locais por onde passa. É como a fazenda do tio de Aécio Neves: só tem aeroporto, não aparece ninguém para falar bem do lugar.
Os responsáveis pela campanha governista deixam a impressão de que não distinguem programa de governo de propaganda eleitoral. Formular em campanha o empenho em reforma política e federalista provoca reações contrárias de quem não terá opinião enquanto não souber o que será reformado e como (visto que os conservadores estão loucos por uma reforminha que altere o capítulo sobre direitos sociais da Constituição de 88). Isso é para ser discutido no desempenho do mandato, com o Legislativo, onde estarão representadas todas as correntes da opinião pública, e não baixada como medida provisória, com prazo compulsório de votação (“faça-se uma reforma política”).
Discutir o federalismo brasileiro é matéria urgente, mas não responde, para o eleitor, à acusação direta e concreta de que o governo tem sido mau gestor e corrupto. Parece escapismo, pois não é por aí que a oposição conservadora busca se diferenciar do governo. Até agora, portanto, o estilo da estação, para o governo, é o do discurso da verdade. Claro que alteração nenhuma deve substituir a verdade pela mentira, mas traduzi-la em propaganda para homens e mulheres comuns, isto é, a maioria esmagadora do eleitorado.
A favor do momento diga-se que não deixa de ser um desafogo para os democratas verificarem que a imprensa conservadora tem sido incapaz de modificar a convicção política dos eleitores. As pesquisas, interpretações esdrúxulas à parte, tem revelado cautela e ponderação dos eleitores em sua cuidadosa definição eleitoral. Até aqui, a imprensa conservadora, já impotente para dar um golpe com apoio dos militares, tenta manter seus recursos de chantagem com a tentativa de golpe pela via das estatísticas. Se bem observado, isto é um progresso, resultado de 13 anos de governos trabalhistas.
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