quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Por que José Dirceu sorriu pela segunda vez?



 

Conversa afiada, 21/11/2013 

  

Por que José Dirceu sorriu pela segunda vez?




Dirceu apresenta as algemas e sorri, em 1969, e ergue o punho com o mesmo sorriso, em 2013



Por Breno Altman

 


Os punhos erguidos de Genoino e Dirceu, ao se apresentarem à Polícia Federal no dia da República, tiraram do sério os áulicos da direita pátria. Os articulistas de aluguel do conservadorismo não esconderam sua frustração. Ansiavam por ver os líderes petistas algemados, vergados e humilhados. Mas foram obrigados a engolir o retrato de dois homens dispostos a enfrentar, com dignidade e valentia, o preço que lhes foi imposto.

Nem mesmo a saúde debilitada de Genoino, o primeiro a se entregar, arrebatou-lhe a integridade que, nessas horas, faz a diferença entre homens e ratos. Logo foi seguido por Dirceu. O mesmo gesto, horas depois, sem qualquer combinação prévia. Ambos exclamaram, em silêncio, a disposição de lutar contra os abutres da nação, não importa as condições a que estejam submetidos.

A imagem levou a malta reacionária ao ódio indecoroso, mas aqueceu o coração dos que aceitavam desanimados o julgamento de exceção do chamado “mensalão”. Animou a solidariedade entre as forças progressistas. Deixou escancarado o fosso histórico e moral entre os réus e seus verdugos. Pavimentou emocionalmente o longo caminho para que se restabeleça a verdade e a justiça.

Nas horas seguintes já estava claro que o presidente do STF optara pelo caminho da ilegalidade e do arbítrio, pisoteando decisões da própria Corte Suprema e violando direitos legais dos presos. Talvez imaginasse que sua atitude seria respaldada pela passividade dos que poderiam resistir. A firmeza de Genoino e Dirceu, porém, serviu de exemplo para milhares e milhares que vão dizendo basta ao arbítrio togado. Afinal, eles se entregaram sem rendição e estabeleceram a altura do sarrafo para o comportamento de seus pares.

Além do punho ao alto, no entanto, houve um sorriso. O mesmo de quase 45 anos passados, quando o líder estudantil de 68 mostrava as algemas na foto da turma libertada em troca do embaixador norte-americano.
Da primeira vez, Dirceu saía do cárcere, mas eternamente banido. Na segunda, começava a cumprir sua sentença. Nenhum dos dois deve ter sido sorriso de felicidade, mas possivelmente tivessem ambos o mesmo sentido histórico.

O fato é que Dirceu aparenta chegar ao outono de sua vida – para o bem e para o mal, dirão alguns – com a mesma alma de sobrevivente que carregava na sua juventude. Como se estivesse imbuído da missão de contar para a história que sua causa, a causa de sua geração, é invencível.
As manifestações cariocas dos últimos meses, quando reprimidas violentamente pela polícia militar, jocosamente repetem dois mantras. Quando se põem em movimento, cantam a pleno pulmão: “Olha eu aqui de novo!” Na hora da retirada, mesmo debaixo de pauladas, não perdem o humor e gritam: “Amanhã vai ser maior!
Preso e sem voz, nas duas vezes restou a Dirceu o punho e os lábios mudos. Como se cantasse, ao sorrir, os mesmos cânticos da garotada de hoje. “Olha eu aqui de novo! Amanhã vai ser maior!
Breno Altman é jornalista, diretor editorial do site Opera Mundi e da revista Samuel.



Carta Maior, 21 de novembro de 2013
 

Os 10 privilégios dos petistas presos
 
Por Antonio Lassance
 
É  grande e escandalosa a lista de privilégios a que José Dirceu, José Genoíno e Delúbio Soares estão usufruindo em sua estada no Planalto Central.

1) A começar, a prisão foi decretada em uma data toda especial. A última vez que tanta gente foi presa em um 15 de novembro foi na própria Proclamação, em 1889. Os presidiários eram, em sua maioria, da Família Real, os Orleans e Bragança. Ou seja, a data não é para qualquer um.

2) Eles (os petistas, não os Orleans e Bragança) tiveram o privilégio de serem presos antes do fim do processo, o que também não é pra qualquer um.


3) Os três, como poucos, foram presos sem a expedição da carta de sentença, o que constitui uma ilegalidade.

4) A lei determina que o preso deve cumprir a pena em seu estado de origem, a não ser excepcional e justificadamente. Mas eles tiveram o privilégio de serem levados a Brasília, de jatinho, por ordem não de um juiz qualquer, mas de Sua Excelência Excelsa e Magnânima, o presidente do Supremo. A falta de um motivo declarado para essa operação espetaculosa gerou a estranheza de ministros do próprio STF, tamanho o... privilégio.

5)
Condenados ao regime semiaberto, foram levados a um privilegiado estabelecimento prisional de regime fechado.

6) O fato provocou a hesitação do diretor do Complexo Penitenciário da Papuda em recebê-los. O impasse garantiu aos condenados o privilégio de ficarem mais de quatro horas dentro de um ônibus, aguardando uma decisão.

7) Para abreviar a demora e poupá-los do cansaço, eles tiveram o privilégio de passar o final de semana naquele mesmo aprazível estabelecimento, contrariando o regime semiaberto. Uma comentarista de TV, sem ruborizar, externou sua opinião de que isso não poderia ser considerado prisão, e sim “custódia”. Valeu pela tentativa.


8) Juristas como Dalmo Dallari, Hélio Bicudo, Ives Gandra Martins e Reginaldo Oscar de Castro consideram que a situação a que José Genoíno foi submetido fere as leis brasileiras e é uma clara violação aos tratados internacionais. Realmente, não é qualquer um que tem o privilégio de ter juristas desse naipe preocupados com suas condições. Não importa quais sejam as condições; o que vale é o privilégio de receber tais comentários.

9) Segundo o Instituto Médico Legal, Genoíno precisa de "cuidados específicos medicamentosos e gerais, controle periódico por exames de sangue, dieta hipossódica, hipograxa e adequada aos medicamentos utilizados, bem como avaliação médica cardiológica especializada regular". Por fazer uso regular de anticoagulante oral, deve ser submetido a exames de sangue periódicos para verificar sua coagulação sanguínea. É mesmo muita mordomia. Estão querendo fazer o Estado de babá.


10) Mas o cúmulo do privilégio quem teve não foi nenhum dos presos, e sim o senhor Henrique Pizzolatto, que garantiu o requinte de ter sua situação relatada pela comentarista de assuntos da Santa Sé, Ilze Scamparini. Graças a ela, veio a revelação de que a pronúncia correta dos zês de Pizzolato é a mesma da palavra pizza (tipo “pitzolato”). A primeira matéria foi feita pela repórter tendo justamente uma “pizzeria” ao fundo. De quem terá sido a tão sofisticada ideia? De todo modo, pelo didatismo, “grazie”!

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