quinta-feira, 14 de novembro de 2013

O Brasil amanheceu pior

Brasil 247, 14 de novembro de 2013

O grito de um blogueiro contra a prisão de Genoino


Edição/247 Fotos: Folhapress/Reprodução:

No artigo "Preto, pobre, prostituta e petista", Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania, expressa sua indignação com a prisão de uma das principais lideranças da esquerda brasileira, José Genoino, que deve acontecer nas próximas horas; "isso está acontecendo em um país em que um político como Paulo Maluf, cujas provas de corrupção se avolumam há décadas, jamais foi condenado à prisão", diz ele, que ilustra seu texto com uma imagem da "mansão de Genoino"


“Num tempo
Página infeliz da nossa história
Passagem desbotada na memória
Das nossas novas gerações
Dormia
A nossa pátria mãe tão distraída
Sem perceber que era subtraída
Em tenebrosas transações”
 Vai Passar (Chico Buarque)

Por Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania

O Brasil amanheceu pior do que ontem. A partir de agora, torna-se oficial o que, até então, era uma tenebrosa possibilidade: cidadãos brasileiros estão sendo privados de suas liberdades individuais apenas pelas ideologias político-partidárias que acalentam.
A “pátria mãe tão distraída” foi “subtraída em tenebrosas transações” entre grupos políticos partidários e de comunicação e juízes politiqueiros.
Na foto que ilustra este texto, o leitor pode conferir o único patrimônio de um político que foi condenado pelos crimes de “corrupção ativa e formação de quadrilha” pelo Supremo Tribunal Federal em 9 de outubro de 2012.
Junto com ele, outros políticos ou militantes políticos filiados ao Partido dos Trabalhadores, todos com evoluções patrimoniais modestas diante dos cargos que ocupavam na política.
José Dirceu, José Genoino, João Paulo Cunha e Henrique Pizzolato tiveram suas prisões decretadas com base em condenações por uma Corte na qual, ao longo de sua existência secular, jamais políticos de tal importância foram condenados.
A condenação desses quatro homens, todos de relevância político-partidária, poderia até ser comemorada. Finalmente, políticos começariam a responder por seus atos. Afinal, até aqui o STF sempre foi visto como a principal rota de fuga dos políticos corruptos.
Infelizmente, a única condenação a pena de prisão que aquela Corte promulgou contra um grupo político foi construída em cima de uma farsa gigantesca, denunciada até por adversários políticos dos condenados, como, por exemplo, o jurista Ives Gandra Martins, que, apesar de suas divergências com o PT, reconheceu que não houve provas para condenar José Dirceu, ou como o formulador da teoria usada para condenar os réus do mensalão, o alemão Claus Roxin, que condenou o uso que o STF fez de sua revisão da teoria do Domínio do Fato.
Dirceu e Genoino foram condenados por “formação de quadrilha” e “corrupção ativa” apesar de o primeiro ter estado infinitamente mais distante dos fatos que geraram o “escândalo do mensalão” do que estão Geraldo Alckmin e José Serra dos escândalos Alston e Siemens, por exemplo.
Acusaram e condenaram Dirceu apesar de, à época dos fatos do mensalão, estar distante do Partido dos Trabalhadores, por então integrar o governo Lula. Foi condenado simplesmente porque “teria que saber” dos fatos delituosos por sua importância no PT.
Por que Dirceu “tinha que saber” das irregularidades enquanto que Alckmin e Serra não são nem citados pelo Ministério Público, pela Justiça e pela mídia como tendo responsabilidade direta sobre os governos nos quais os escândalos supracitados ocorreram?
O caso Genoino é mais grave. Sua vida absolutamente espartana, seu microscópico patrimônio, sua trajetória ilibada, nada disso pesou ao ser julgado e condenado como um “corruptor” que teria usado milhões de reais para “comprar” parlamentares.
O caso João Paulo Cunha é igualmente ridículo, em termos de sua condenação. Sua mulher foi ao banco sacar, em nome próprio, com seu próprio CPF, repasse do partido dele para pagar por uma pesquisa eleitoral. 50 mil reais o condenaram por “corrupção passiva, peculato e lavagem de dinheiro”.
O caso mais doloroso de todos, porém, talvez seja o de Henrique Pizzolato, funcionário do Banco do Brasil, filiado ao PT e que, por ter assinado um documento que dezenas de servidores da mesma instituição também assinaram sem que contra eles pesasse qualquer consequência, foi condenado, também, por “corrupção passiva, peculato e lavagem de dinheiro”.
Isso está acontecendo em um país em que se sabe que dois governadores do PSDB de São Paulo, apesar de ter ocorrido em suas administrações uma roubalheira de BILHÕES DE REAIS, não são considerados responsáveis por nada.
Isso está acontecendo em um país em que um político como Paulo Maluf, cujas provas de corrupção se avolumam há décadas, jamais foi condenado à prisão.
Isso está acontecendo em um país em que um governador como Marconi Perillo, do PSDB, envolveu-se até o pescoço com um criminoso do porte de Carlinhos Cachoeira, foi gravado em relações promíscuas com esse criminoso e nem acusado foi pelo Ministério Público.
Isso está acontecendo, finalmente, no mesmo país em que os ex-prefeitos José Serra e Gilberto Kassab toleraram durante anos roubalheira dentro da prefeitura e quando essa roubalheira de MEIO BILHÃO de reais vem à tona, a mídia e o Ministério Público acusam quem mesmo? O PT, claro.
Já entrou para o imaginário popular, portanto, que, neste país, cadeia é só para pretos, pobres, prostitutas e, a partir de agora, petistas.
No Brasil, as pessoas são condenadas com dureza pela “justiça” se tiverem mais melanina na pele, parcos recursos econômicos, se venderem o que só pertence a si (o próprio corpo) para sobreviver ou se tiveram convicções políticas que a elite brasileira não aceita.
A condenação de alguém a perder a liberdade por suas convicções políticas, porém, é mais grave. É característica das ditaduras, pois a desigualdade da Justiça com os outros três pês deriva de falta de recursos para se defender, não de retaliação a um ideário.
Agora, pois, é oficial: você vive em um país em que se deve ter medo de professar e exercer suas verdadeiras convicções políticas, pois sabe-se que elas expõem a retaliações ditatoriais como as que levarão para cadeia homens cuja culpa jamais foi provada.


 
Conversa Afiada, 14/11/2013

O STF é que foi julgado



A sessão que decidiu prender o Dirceu já foi um exercício no caos.

E no ineditismo.

Nunca Dantes, na História do Supremo, se inovou tanto para atingir o objetivo de  encarcerar o Dirceu, o arquiteto da obra política que governa o Brasil – para os pobres – desde 2002.

Encarcerar de preferência com algemas, se depender a opinião do Gilberto Freire com “i” (*), diretor de jornalismo do Supremo, e seu êmulo na batalha de seduzir o patrão – clique aqui para ler o depoimento do Paulo Nogueira sobre a matéria, o Ataulfo Merval de Paiva (**), o decimo­segundo Ministro.

Clique aqui para ler “Como o PiG se fez Juiz do mensalão”.

Breve será possível fazer a autopsia deste Golpe bem sucedido, que foi a cassação da liderança do PT.

Só sobram – por enquanto – o Lula e a Dilma.

Mas, é possível também extrair alguns benefícios da sessão que acabou por condenar este julgamento de exceção a seu lamentável lugar na Historia – o da Exceção.

O Supremo, com a ajuda da TV Justiça (um escárnio à Democracia) se mostrou em close ­up.

É o que é.

Uma Corte de partido.

O da Big House.

Mas, há o beneficio de o encarceramento do Dirceu realizar­-se um ano antes da eleição de 2014, que poderá ser histórica para o PT.

Até lá, as imagens do Dirceu algemado – se o secreto desejo do diretor de jornalismo da Globo se realizar – terão perdido a força da novidade estarrecedora.

O presidente Joaquim Barbosa não repetiu a metodologia de seu antecessor , o Big Ben de Propriá, que condenou Dirceu, na primeira vez, na hora em que o eleitor de São Paulo elegia Haddad contra o eterno Padim.

Obtido o encarceramento do Dirceu, o presidente Barbosa pode se sentir com autoridade e poder de legitimar, imediatamente, a Operação Satiagraha, que lança luz ofuscante sobre as atividades do Valeriodantas e a Operação Castelo tucano na Areia.

Enquanto apressa o julgamento do mensalão tucano, mais velho que o do PT e, nem por isso, na parada de sucessos.

O bem sucedido Golpe para degolar a liderança que construiu o PT ao lado do Lula deve ter ensinado ao PT a amarga lição: saber escolher ministros do Supremo e Procuradores Gerais.

Quem está na lista da Presidenta Dilma para suceder o ministro decano Celso de Mello ?

Vai depender o Sigmaringa, do zé da Justiça, do Palocci, king makers do PT?

Está na hora de fazer a limonada.


Paulo Henrique Amorim

Nenhum comentário:

Postar um comentário