Carta Maior, 26/05/2014
Ronaldo foi um fenômeno do futebol e é, até hoje, um fenômeno na arte de
ganhar dinheiro. É difícil atravessar um intervalo comercial sem ver
sua cara e ouvir sua voz vendendo alguma coisa.
Desde que se aposentou dos gramados, sua fortuna cresce alimentada por sua boca. Cada frase de Ronaldo vale ouro e é ensaiada para render dividendos para algum patrocinador.
Por isso, não custa nada perguntar o que Ronaldo ganha com sua declaração de que está envergonhado com os preparativos da Copa.
A pergunta precisa ser feita, pois a declaração acabrunhada é estranha. Vem não só de alguém que, até então, era só elogios e otimismo. Vem de quem é do Conselho de Administração do Comitê Organizador Local da Copa.
Faltando poucos dias para o início da competição, o que devemos achar de quem resolve, simplesmente, lavar as mãos e fingir que não tem nada a ver com a coisa?
A vergonha de Ronaldo tem o efeito bumerangue sobre sua própria imagem, pois mostra alguém que, como se diz no jargão do futebol, "pipocou", fugiu da bola dividida. Alguém que deveria ter usado seu prestígio, desde o início, para ser parte da solução, preferiu tirar o corpo fora e ser parte do problema.
Como organizador, Ronaldo poderia ter dedicado seu tempo a ajudar a que algumas coisas ganhassem mais atenção. Preferiu gastá-lo gravando anúncios publicitários.
Enquanto era tempo, poderia ter pedido mais empenho e rapidez nas obras, tanto as dos estádios quanto as de mobilidade - por que não?
Poderia ter pedido paz às torcidas e aos manifestantes. Preferiu posar com um terno dourado no Carnaval e, depois, envergonhar-se.
Os preparativos para a Copa já estiveram por um triz, em vários momentos e sob vários aspectos. Ronaldo poderia ter dito, com muita antecedência, por exemplo, que se sentia envergonhado com o abandono a que a Arena da Baixada foi submetida pelo governador do Paraná e pelo prefeito de Curitiba.
De todas, foi a situação mais absurda e que quase comprometeu uma cidade como sede. Ronaldo nunca esteve entre os que correram atrás para cobrar providências, e nem para se mostrar envergonhado. Nenhuma declaraçãozinha.
Também não expressou qualquer sentimento, indignado ou envergonhado, quando da morte do torcedor atingido por uma latrina, no estádio Recife, em uma briga de torcida.
Nada disso. Ronaldo esperou os estádios serem construídos e entregues, os ingressos serem vendidos, as seleções serem convocadas; esperou ter feito todas as propagandas possíveis e imagináveis que poderia para esta Copa. Só então se fez de envergonhado.
Há quem diga que o sincericídio de Ronaldo tem a ver com o fato de que, no mesmo dia, declarou apoio à candidatura de Aécio Neves.
Difícil acreditar que ele, que hoje vive de emprestar sua imagem a vender produtos, esteja entrando nessa, ao lado de Aécio, por pura convicção, e não como garoto propaganda.
Sua vergonha não transpira nada de autêntica. Parece ensaiada e feita sob medida para um comercial, como aqueles com textos decorados e de péssima interpretação, em que o "Fenômeno" vende carros da Fiat, chuteiras da Nike e planos de telefonia da Claro.
Ronaldo, com vergonha ou sem vergonha, é a mesma pessoa. É aquele que vemos todos os dias na tevê e nos outdoors.
Já faz tempo que esse é o mundo do "Fenômeno". Não tem mais nada a ver com futebol, nem com indignação, nem com um pingo de vergonha.
(*) Antonio Lassance é cientista político.
Desde que se aposentou dos gramados, sua fortuna cresce alimentada por sua boca. Cada frase de Ronaldo vale ouro e é ensaiada para render dividendos para algum patrocinador.
Por isso, não custa nada perguntar o que Ronaldo ganha com sua declaração de que está envergonhado com os preparativos da Copa.
A pergunta precisa ser feita, pois a declaração acabrunhada é estranha. Vem não só de alguém que, até então, era só elogios e otimismo. Vem de quem é do Conselho de Administração do Comitê Organizador Local da Copa.
Faltando poucos dias para o início da competição, o que devemos achar de quem resolve, simplesmente, lavar as mãos e fingir que não tem nada a ver com a coisa?
A vergonha de Ronaldo tem o efeito bumerangue sobre sua própria imagem, pois mostra alguém que, como se diz no jargão do futebol, "pipocou", fugiu da bola dividida. Alguém que deveria ter usado seu prestígio, desde o início, para ser parte da solução, preferiu tirar o corpo fora e ser parte do problema.
Como organizador, Ronaldo poderia ter dedicado seu tempo a ajudar a que algumas coisas ganhassem mais atenção. Preferiu gastá-lo gravando anúncios publicitários.
Enquanto era tempo, poderia ter pedido mais empenho e rapidez nas obras, tanto as dos estádios quanto as de mobilidade - por que não?
Poderia ter pedido paz às torcidas e aos manifestantes. Preferiu posar com um terno dourado no Carnaval e, depois, envergonhar-se.
Os preparativos para a Copa já estiveram por um triz, em vários momentos e sob vários aspectos. Ronaldo poderia ter dito, com muita antecedência, por exemplo, que se sentia envergonhado com o abandono a que a Arena da Baixada foi submetida pelo governador do Paraná e pelo prefeito de Curitiba.
De todas, foi a situação mais absurda e que quase comprometeu uma cidade como sede. Ronaldo nunca esteve entre os que correram atrás para cobrar providências, e nem para se mostrar envergonhado. Nenhuma declaraçãozinha.
Também não expressou qualquer sentimento, indignado ou envergonhado, quando da morte do torcedor atingido por uma latrina, no estádio Recife, em uma briga de torcida.
Nada disso. Ronaldo esperou os estádios serem construídos e entregues, os ingressos serem vendidos, as seleções serem convocadas; esperou ter feito todas as propagandas possíveis e imagináveis que poderia para esta Copa. Só então se fez de envergonhado.
Há quem diga que o sincericídio de Ronaldo tem a ver com o fato de que, no mesmo dia, declarou apoio à candidatura de Aécio Neves.
Difícil acreditar que ele, que hoje vive de emprestar sua imagem a vender produtos, esteja entrando nessa, ao lado de Aécio, por pura convicção, e não como garoto propaganda.
Sua vergonha não transpira nada de autêntica. Parece ensaiada e feita sob medida para um comercial, como aqueles com textos decorados e de péssima interpretação, em que o "Fenômeno" vende carros da Fiat, chuteiras da Nike e planos de telefonia da Claro.
Ronaldo, com vergonha ou sem vergonha, é a mesma pessoa. É aquele que vemos todos os dias na tevê e nos outdoors.
Já faz tempo que esse é o mundo do "Fenômeno". Não tem mais nada a ver com futebol, nem com indignação, nem com um pingo de vergonha.
(*) Antonio Lassance é cientista político.
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