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Carta Maior, 06/05/2014
O fogo eterno
Por Mauro Santayana
No dia 27 de abril, em Lvov, na Ucrânia, um grupo de centenas de pessoas – a maioria de jovens “arianos” - se reuniu para prestar homenagem à Décima Quarta Divisão Waffen SS Grenadier. A unidade foi criada pelos nazistas em 1943, com “voluntários” ucranianos, que cometeriam depois diversas atrocidades contra seu próprio povo.
Foi nesse país - tomado pela estupidez e a loucura - que, premido pelas circunstâncias, o “primeiro-ministro” “interino”, Arseni Yatseniuk, foi obrigado a reconhecer, há três dias, a responsabilidade das “forças de segurança” de seu “governo” pela morte, em Odessa, de 46 pessoas.
A maioria delas foi queimada viva, no interior da Casa dos Sindicatos, ocupada por russo-ucranianos e anti-golpistas, e cercada por um bando imberbe e covarde de aprendizes de assassino, e de “unionistas”. Um termo recém-criado pelos jornais ocidentais para designar os neonazistas do Pravy Sektor, o Setor de Direita, da Ucrânia.
As declarações de Yatseniuk - ele próprio já flagrado fazendo a saudação hitlerista - desmentem as primeiras versões, publicadas por meios de comunicação ocidentais. Os sitiados teriam, segundo elas, queimado a si mesmos, incendiando a base do prédio em que se encontravam, ao atirar “coquetéis” Molotov na rua.
Nos vídeos feitos no local, em nenhum momento se vê alguém jogando algo, ou disparando, das janelas. Mas, por diversas vezes, se pode perceber garrafas cheias de gasolina sendo lançadas por quem estava do lado de fora, explodindo, em labaredas, nas paredes, e homens de colete à prova de balas disparando em direção à fachada.
Os nazistas, como seus infernais rebentos, - e certos animais que o temem - sempre tiveram reverente fascínio pelo fogo. Hitler ascendeu ao poder, e exterminou a oposição de esquerda, colocando nos comunistas e socialistas a culpa pelo incêndio – pessoalmente ordenado por ele mesmo – do Reichstag, a sede do parlamento alemão da época.
Göering mandava queimar, publicamente, em grandes piras, obras de arte e livros considerados subversivos, seqüestrados das residências de opositores – o que daria origem, mais tarde, a obras como Farenheit 451, de Ray Bradbury.
Os assassinos da SS, antes de cercar, incendiar aldeias e matar a população de cidades como Lidíce ou Oradour, cantavam, bêbados, hinos guturais em volta de fogueiras, nas quais esquentavam, à noite, seus punhais.
E não há como esquecer a luz macabra que saía dos fornos dos crematórios dos campos de extermínio, que se abriam e fechavam sem parar, como a boca insaciável da morte.
Mas o Fogo Eterno não é aquele do Mal, que consumiu o prédio da Casa dos Sindicatos e dezenas de vidas na semana passada, em Odessa.
O Fogo Eterno é aquele que brilha, mas não se apaga, no coração dos heróis.
O Fogo Eterno queima, e não se consome, no peito dos que morreram na luta contra o nazismo. Da mesma forma como estão morrendo, agora, os russo-ucranianos em defesa de seu solo, de sua língua, da honra de seus antepassados, e do sangue que seus filhos herdarão, para contrabandear, driblando desafios e malefícios, até as manhãs do futuro.
O Fogo Eterno é aquele que guiou os manifestantes que, horas depois, libertariam 67 companheiros que estavam trancados nas celas da sede das forças de segurança, na mesma cidade.
O Fogo Eterno é aquele que brilha na alma dos homens e das mulheres, que, aos milhares, depositaram em homenagem aos mortos, dúzias e dúzias de flores, de todas as cores, diante do prédio incendiado, e em outros altares improvisados, por toda Odessa.
Muitos gostariam que essa chama – aquela que Prometeu roubou aos Deuses – a da Indignação, da Inteligência e da Utopia, se apagasse de uma vez por todas.
Há quem queira que fique, apenas, a iluminar a humanidade, a luz mortiça que tremula aos pés de barro dos ídolos da cobiça e do egoísmo – e a competição estéril de homem contra homem, pelos frutos do hedonismo, no espaço que separa o nascimento e a morte.
No entanto - apesar de seus adversários - o Fogo Eterno, que não é aquele do inferno, mas sim, o da Liberdade, continuará a arder no coração dos homens, a incomodar a paz dos indiferentes, a atrapalhar o ócio dos privilegiados. E a iluminar a caminhada da Humanidade, em sua luta por justiça, pelas sinuosas trilhas da História.
Foi nesse país - tomado pela estupidez e a loucura - que, premido pelas circunstâncias, o “primeiro-ministro” “interino”, Arseni Yatseniuk, foi obrigado a reconhecer, há três dias, a responsabilidade das “forças de segurança” de seu “governo” pela morte, em Odessa, de 46 pessoas.
A maioria delas foi queimada viva, no interior da Casa dos Sindicatos, ocupada por russo-ucranianos e anti-golpistas, e cercada por um bando imberbe e covarde de aprendizes de assassino, e de “unionistas”. Um termo recém-criado pelos jornais ocidentais para designar os neonazistas do Pravy Sektor, o Setor de Direita, da Ucrânia.
As declarações de Yatseniuk - ele próprio já flagrado fazendo a saudação hitlerista - desmentem as primeiras versões, publicadas por meios de comunicação ocidentais. Os sitiados teriam, segundo elas, queimado a si mesmos, incendiando a base do prédio em que se encontravam, ao atirar “coquetéis” Molotov na rua.
Nos vídeos feitos no local, em nenhum momento se vê alguém jogando algo, ou disparando, das janelas. Mas, por diversas vezes, se pode perceber garrafas cheias de gasolina sendo lançadas por quem estava do lado de fora, explodindo, em labaredas, nas paredes, e homens de colete à prova de balas disparando em direção à fachada.
Os nazistas, como seus infernais rebentos, - e certos animais que o temem - sempre tiveram reverente fascínio pelo fogo. Hitler ascendeu ao poder, e exterminou a oposição de esquerda, colocando nos comunistas e socialistas a culpa pelo incêndio – pessoalmente ordenado por ele mesmo – do Reichstag, a sede do parlamento alemão da época.
Göering mandava queimar, publicamente, em grandes piras, obras de arte e livros considerados subversivos, seqüestrados das residências de opositores – o que daria origem, mais tarde, a obras como Farenheit 451, de Ray Bradbury.
Os assassinos da SS, antes de cercar, incendiar aldeias e matar a população de cidades como Lidíce ou Oradour, cantavam, bêbados, hinos guturais em volta de fogueiras, nas quais esquentavam, à noite, seus punhais.
E não há como esquecer a luz macabra que saía dos fornos dos crematórios dos campos de extermínio, que se abriam e fechavam sem parar, como a boca insaciável da morte.
Mas o Fogo Eterno não é aquele do Mal, que consumiu o prédio da Casa dos Sindicatos e dezenas de vidas na semana passada, em Odessa.
O Fogo Eterno é aquele que brilha, mas não se apaga, no coração dos heróis.
O Fogo Eterno queima, e não se consome, no peito dos que morreram na luta contra o nazismo. Da mesma forma como estão morrendo, agora, os russo-ucranianos em defesa de seu solo, de sua língua, da honra de seus antepassados, e do sangue que seus filhos herdarão, para contrabandear, driblando desafios e malefícios, até as manhãs do futuro.
O Fogo Eterno é aquele que guiou os manifestantes que, horas depois, libertariam 67 companheiros que estavam trancados nas celas da sede das forças de segurança, na mesma cidade.
O Fogo Eterno é aquele que brilha na alma dos homens e das mulheres, que, aos milhares, depositaram em homenagem aos mortos, dúzias e dúzias de flores, de todas as cores, diante do prédio incendiado, e em outros altares improvisados, por toda Odessa.
Muitos gostariam que essa chama – aquela que Prometeu roubou aos Deuses – a da Indignação, da Inteligência e da Utopia, se apagasse de uma vez por todas.
Há quem queira que fique, apenas, a iluminar a humanidade, a luz mortiça que tremula aos pés de barro dos ídolos da cobiça e do egoísmo – e a competição estéril de homem contra homem, pelos frutos do hedonismo, no espaço que separa o nascimento e a morte.
No entanto - apesar de seus adversários - o Fogo Eterno, que não é aquele do inferno, mas sim, o da Liberdade, continuará a arder no coração dos homens, a incomodar a paz dos indiferentes, a atrapalhar o ócio dos privilegiados. E a iluminar a caminhada da Humanidade, em sua luta por justiça, pelas sinuosas trilhas da História.
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