Carta Maior, 15/05/2014
De quem é a estratégia do medo?
Antonio Lassance
Nesta semana foi ao ar a propaganda “Fantasmas do Passado”, do Partido dos Trabalhadores (PT), em inserções na tevê e no rádio.
A peça expõe cenas em que pessoas são confrontadas com a imagem delas próprias, no passado. Mais pobres, mais tristes, abandonadas à própria "sorte".
O programa quer - e consegue - fazer com que as pessoas tentem se lembrar de como era o Brasil antes dos governos de Lula e Dilma. No mínimo, que elas se recordem de como elas mesmas estavam – onde e em que situação.
Os candidatos da oposição acusaram o golpe e imediatamente reclamaram de que PT usa uma "estratégia do medo" e um "discurso do medo".
Ato contínuo, a velha mídia simplesmente copiou e colou o discurso oposicionista. Transformou as aspas da oposição em suas manchetes, literalmente. Estão em todos os jornalões: "estratégia do medo" e "discurso do medo".
Questiona-se em que medida o PT não estaria usando a mesma estratégia de FHC e Serra, disparada contra Lula em 2002. Boa pergunta - boa, capciosa e omissa.
A pergunta tem um pressuposto ardiloso, que é o de que a estratégia do medo é um recurso que deve ser exclusivo de quem faz oposição ao atual governo.
A pergunta omite 2004, 2006, 2008, 2010 e 2012, quando a oposição partidária e midiática usou a "estratégia do medo" em eleições presidenciais, estaduais e municipais.
Em 2006, as campanhas eleitoral e midiática instilavam o pavor a que dinheiro público fosse gasto com pobres, de que o Bolsa Família criasse uma legião de vagabundos e de que o País estivesse sendo transformado no pior dos mundos. Continuamos às voltas com esse discurso em cada esquina.
Em 2010, o medo era do aborto, do casamento de homossexuais e de uma candidata que tinha um passado de luta contra a ditadura. Esse mesmo medo irá proporcionar pelo menos uma candidatura nas eleições deste ano, a do PSC, mas promete estar na boca de muito mais gente.
Em 2014, a "estratégia do medo" é a de repetir - assim como se fez durante todo o ano de 2013 - que a inflação está fora de controle; que o país caminha para um apagão elétrico e de infraestrutura; que ninguém está satisfeito com nada.
De repente, a maioria da população virou "ninguém" e o país pode ser traduzido como "nada". Belo discurso.
Os brasileiros foram meticulosamente convencidos a terem medo da Copa do Mundo, de protestos, de greves. De quem, afinal, é a estratégia do medo?
A oposição sente calafrios não da peça publicitária, mas da ideia força que ela traz para o debate público.
O programa veiculado coloca, nas mãos dos eleitores, uma pergunta simples e direta, que até então não havia sido feita: de 2003 a 2014, sua vida melhorou ou piorou? Aquilo que você conquistou, de mais importante, foi conquistado antes ou depois de 2003?
A oposição, até mesmo Eduardo Campos, vestiu a carapuça de ser o fantasma a que o programa se refere - e treme por ter que carregar o apelido.
Seu medo maior é que as pessoas, no fundo, já não mais acreditem em fantasmas.
(*) Antonio Lassance é cientista político
Nesta semana foi ao ar a propaganda “Fantasmas do Passado”, do Partido dos Trabalhadores (PT), em inserções na tevê e no rádio.
A peça expõe cenas em que pessoas são confrontadas com a imagem delas próprias, no passado. Mais pobres, mais tristes, abandonadas à própria "sorte".
O programa quer - e consegue - fazer com que as pessoas tentem se lembrar de como era o Brasil antes dos governos de Lula e Dilma. No mínimo, que elas se recordem de como elas mesmas estavam – onde e em que situação.
Os candidatos da oposição acusaram o golpe e imediatamente reclamaram de que PT usa uma "estratégia do medo" e um "discurso do medo".
Ato contínuo, a velha mídia simplesmente copiou e colou o discurso oposicionista. Transformou as aspas da oposição em suas manchetes, literalmente. Estão em todos os jornalões: "estratégia do medo" e "discurso do medo".
Questiona-se em que medida o PT não estaria usando a mesma estratégia de FHC e Serra, disparada contra Lula em 2002. Boa pergunta - boa, capciosa e omissa.
A pergunta tem um pressuposto ardiloso, que é o de que a estratégia do medo é um recurso que deve ser exclusivo de quem faz oposição ao atual governo.
A pergunta omite 2004, 2006, 2008, 2010 e 2012, quando a oposição partidária e midiática usou a "estratégia do medo" em eleições presidenciais, estaduais e municipais.
Em 2006, as campanhas eleitoral e midiática instilavam o pavor a que dinheiro público fosse gasto com pobres, de que o Bolsa Família criasse uma legião de vagabundos e de que o País estivesse sendo transformado no pior dos mundos. Continuamos às voltas com esse discurso em cada esquina.
Em 2010, o medo era do aborto, do casamento de homossexuais e de uma candidata que tinha um passado de luta contra a ditadura. Esse mesmo medo irá proporcionar pelo menos uma candidatura nas eleições deste ano, a do PSC, mas promete estar na boca de muito mais gente.
Em 2014, a "estratégia do medo" é a de repetir - assim como se fez durante todo o ano de 2013 - que a inflação está fora de controle; que o país caminha para um apagão elétrico e de infraestrutura; que ninguém está satisfeito com nada.
De repente, a maioria da população virou "ninguém" e o país pode ser traduzido como "nada". Belo discurso.
Os brasileiros foram meticulosamente convencidos a terem medo da Copa do Mundo, de protestos, de greves. De quem, afinal, é a estratégia do medo?
A oposição sente calafrios não da peça publicitária, mas da ideia força que ela traz para o debate público.
O programa veiculado coloca, nas mãos dos eleitores, uma pergunta simples e direta, que até então não havia sido feita: de 2003 a 2014, sua vida melhorou ou piorou? Aquilo que você conquistou, de mais importante, foi conquistado antes ou depois de 2003?
A oposição, até mesmo Eduardo Campos, vestiu a carapuça de ser o fantasma a que o programa se refere - e treme por ter que carregar o apelido.
Seu medo maior é que as pessoas, no fundo, já não mais acreditem em fantasmas.
(*) Antonio Lassance é cientista político
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