quinta-feira, 30 de junho de 2016

A falta de pudor de Temer

http://www.brasil247.com/pt/blog/terezacruvinel/240927/A-falta-de-pudor-de-Temer.htm




Brasil 247, 28/06/16




A falta de pudor de Temer


Por Tereza Cruvinel



A propósito das demissões de integrantes do Conselho Nacional de Educação, o ex-ministro da pasta, Aloizio Mercadante, foi preciso ao definir a falta de cerimônia com que o vice presidente em exercício Michel Temer avança o sinal, atropela lei e as regras de funcionamento das instituições públicas. ”Mais uma vez este governo demonstra incapacidade de distinguir entre instituições de Estado e interesses de governo", diz Mercadante. Os 24 conselheiros, nomeados por Dilma, estavam no exercício dos mandatos previstos em lei e no regimento do CNE. 
 
A esta violação some-se a intervenção na EBC, condenada até pela ONU, e a destituição de seu presidente mandatado, Ricardo Melo, revertida provisoriamente por liminar do ministro Dias Toffoli, do STF.  Enquanto o mérito não é julgado a empresa de comunicação pública vive o inferno da incerteza, alimentado por notícias de que Temer vai acabar com tudo, ora só com a TV Brasil, ora vai transformar a estrutura arduamente construída em uma agência de notícias. É muito pensar pequeno, é muito ignorar o valor universal e internacional da comunicação pública nas democracias. 
 
Na semana passada, outra ilegalidade. Temer demitiu o presidente da Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (ANATER), que também tinha mandato de quatro anos garantido em lei. Mas foi nomeado por Dilma, que até onde se sabe ainda é presidente da República, então que seja degolado.  A ANATER é entidade de direito privado em colaboração com o Poder Público na execução das políticas de assistência técnica e extensão rural aos agricultores familiares. Não possui qualquer vínculo de subordinação hierárquica a qualquer ministério ou instância do Poder Executivo. Tal como o presidente da EBC, é nomeado pelo presidente da República mas seu mandato tem que ser respeitado, salvo nos casos previstos em lei. Dane-se a lei.
 
Da mesma forma, a independência dos 24 conselheiros do CNE é garantida por mandatos de quatro anos. Em abril, ainda ministro, Mercadante publicou a lista das 39 entidades civis de educação que haviam feito indicações. Dilma fez as indicações a partir da lista de indicados, embora pudesse sacar do bolso metade dos conselheiros. Por terem sido nomeados por ela, estão sendo todos exonerados, apesar do mandato. Dane-se o regimento do CNE. 
 
O governo vem demitindo uma média de 100 funcionários por dia, nos mais altos e nos mais baixos escalões, embora Temer por ora seja apenas um vice no exercício do cargo.  Nos altos escalões, demite-se para nomear pessoas afinadas com as novas políticas de governo, e demite-se também por mera caça às bruxas, porque o funcionário tem laços com o PT ou partidos da base de Dilma. 
 
Daqui a pouco, Temer vai demitir os presidentes das agências reguladoras. Quando isso acontecer, será melhor fechá-las. Quando deixarem de ser independentes, não terão mais qualquer serventia como reguladoras do mercado e defensoras dos usuários e clientes de serviços públicos, executados diretamente pelo Estado ou concessionados. 
 
E preparem-se os procuradores, pois neste ritmo, dificilmente Temer fará como Lula e Dilma, que sempre escolheram o Procurador-Geral a partir da lista tríplice eleita pelos próprios integrantes da carreira. O MPF, órgão de Estado, nesta marcha também acabará sendo visto como organismo governamental.


http://www1.folha.uol.com.br/colunas/janiodefreitas/2016/06/1787079-ponto-de-encontro.shtml
 


Folha.com, 30/06/16
 

Ponto de encontro


Por Janio de Freitas



Michel Temer e seu governo agem para salvar Eduardo Cunha na Câmara. Talvez não fosse preciso dizer mais nada sobre a atitude de Temer. Afinal, apesar de todo o esforço da Lava Jato e dos pró-impeachment para incriminar petistas, na opinião nacional ninguém simboliza mais a calamidade política do que Eduardo Cunha. Está dito quase tudo sobre protetor e protegido. Mas Temer leva a algumas observações adicionais. 

Descoberto por jornalistas o encontro sorrateiro de Cunha e Temer na noite de domingo (26), o primeiro fez o que mais faz: negou. Não falava com Temer desde a semana anterior. Com a mentira, comprovou que a combinação era de encontro oculto. O segundo deu esta explicação: "Converso com todo mundo. Embora afastado, ele é um deputado no exercício do seu mandato". 

A frase é uma medida da lucidez de Temer ou da honestidade de sua resposta ao flagrante: "afastado" mas "no exercício do mandato". Nada de muito novo. Mas a pretensa justificativa de que "conversa com todo mundo" excede o aspecto pessoal. Se é isso mesmo, em quase seis anos de convívio com o Poder ainda não o compreendeu. À parte a liturgia do cargo, de que Sarney tanto falou, o Poder requer cuidados com sua respeitabilidade. Ao menos no sentido, tão do agrado de jornalistas brasileiros, cobrado às aparências da mulher de César. 

O sítio de alto luxo não combina, mas não tira o título do Palácio do Jaburu, nem, muito menos, a sua condição de uma das sedes do mais alto poder governamental. O recepcionado aí para a barganha de espertezas não é, porém, como "todo mundo". É um múltiplo réu no Supremo Tribunal Federal, tão excluído do exercício de mandato que está proibido até de simplesmente entrar na Câmara dos Deputados, Casa aberta a todos. Proibição, ao que consta, sem precedente. Não no conceito, de moralidade ao menos duvidosa, que o atual morador aplica ao uso do palácio de governo. 

Eduardo Cunha viu-se necessitado de reforço em duas instâncias. Na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, à qual encaminhou recurso contra a decisão do Conselho de Ética, que o considerou passível de perda do mandato. E também na substituição de Waldir Maranhão, em exercício na presidência da Casa, por alguém de sua confiança, para assegurar-lhe decisões favoráveis nas manobras de defesa ao ser julgado em plenário.

Já na segunda-feira (27), Temer fazia iniciar a ação do seu pessoal em favor da eleição de Rogério Rosso para presidir a Câmara. É o preferido por Eduardo Cunha. E viva a nova (i)moralidade. 

​Das "homenagens" prestadas

POR DENTRO DO FORA
 
A ordem de Michel Temer para suspender a cobertura oficial de sua presença fora de Brasília não é, como alegado, para reduzir gastos. É nenhum o custo de um fotógrafo ou cameraman já integrante da comunicação oficial. O problema está na impossibilidade de eliminar, nas gravações, o frequente "Fora, Temer", dito ou escrito. Sem encontrar outra solução, foi considerado preferível eliminar os registros.
 
Apesar de imprensa e TV não o noticiarem, coros de "Fora, Temer" estão pelo país todo. No espetáculo do Prêmio da Música Brasileira, por exemplo, o Teatro Municipal do Rio explodiu em repentino "Fora, Temer". Coisas assim acontecem todos os dias, numerosas.

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Educação sempre em greve



​Folha.com, 24/06/16



Educação sempre em greve




Por Vladimir Safatle





A Universidade de São Paulo, assim como a Unicamp e a Unesp, está mais uma vez em uma greve longa e de difícil resolução. Isso coloca, necessariamente, questões a respeito da relação entre a sociedade civil e a mais conhecida universidade pública brasileira. Nestas horas, aparece a importância de discutirmos o destino e as dificuldades do sistema público de ensino universitário brasileiro.

Alguns aproveitam esses momentos para insistir que a USP seria o maior exemplo de como o dinheiro público é utilizado para garantir privilégios de uma pequena elite que lá estuda. Melhor seria cobrar mensalidades de quem pode pagar e garantir bolsas para os que não podem. 

No entanto, os números mostram como esse raciocínio é primariamente falso. Em torno de 60% dos alunos da USP vêm de famílias que ganham até dez salários mínimos. Ou seja, sua grande maioria não pode ser considerada proveniente da elite. Mesmo assim, ela poderia se democratizar mais se fossem implementadas políticas efetivas de cotas, o que infelizmente boa parte dos críticos das universidades públicas recusa por razões meramente ideológicas. 

De fato, vemos atualmente problemas graves de financiamento das universidades paulistas. Costuma-se colocar tais problemas exclusivamente na conta da dita má gestão dos recursos. Mas há de se perguntar como se cria uma má gestão. Um dos maiores rombos produzidos na gestão da USP ocorreu na gestão do sr. Grandino Rodas, da qual o atual reitor participava. Este senhor foi imposto pelo então governador de São Paulo, José Serra, mesmo não tendo sido escolhido pela comunidade acadêmica. Houve alguma responsabilização do governo do Estado pelas suas escolhas? O mesmo Estado que culpa a USP por má gestão nos empurra maus gestores. 

No entanto, o problema não é apenas de má gestão. Ele é de escassez de dinheiro. As universidades paulistas têm um percentual fixo do ICMS para custear suas despesas. Tal percentual foi negociado em uma época na qual a USP tinha um pouco mais de 30.000 alunos. Atualmente, ela tem 92.000. Qualquer cálculo elementar pode entender a razão pela qual a conta não fecha mais.

Mas de onde viria o dinheiro, já que o Estado arrecada menos? Se o Estado de São Paulo tivesse o mínimo de responsabilidade social, ele não estaria pensando em como fechar escolas, cortar merendas de estudantes, asfixiar universidades, sucatear seus hospitais universitários, mas em como garantir educação de qualidade fazendo como quase todo país de referência em educação fez: taxando aqueles que podem contribuir

O Estado tem à mão impostos sobre herança ridiculamente baixos, IPVA que isenta jatos, helicópteros e iates. Ele poderia pressionar o governo federal a enfim aplicar o imposto sobre grandes fortunas, utilizando esses recursos para garantir mais dinheiro para a educação. Mas ele prefere jogar as escolas à deriva e deixar as universidades explodirem em um guerra entre seus setores.

Mas alguns poderiam querer colocar uma questão absolutamente legítima: vale a pena dar mais dinheiro à USP? Vamos desdobrar essa questão: vale a pena dar mais dinheiro para uma universidade responsável por 25% de toda a pesquisa feita no país, considerada nos rankings internacionais como a melhor universidade da América Latina e a nona entre os países dos Brics? 

Antes de responder, lembre-se que comparar a USP com universidades que aparecem em primeiros lugares nos rankings internacionais, como gostam de fazer alguns, não faz sentido. Harvard, por exemplo, tem ao todo 21.000 alunos. Yale tem um pouco mais de 12.000 alunos. Cambridge tem 20.000. Estas são universidades cuja função é formar uma elite de excelência. Muito diferente é uma universidade de massa como a USP que visa formar um enorme contingente de bons pesquisadores e profissionais. Os desafios, as dificuldades e as funções são outros.
 
Há ainda aqueles que afirmam que o problema da USP estaria em sua Faculdade de Humanidades, responsável por inutilidades e irrelevâncias, como deixou transparecer o sr. Alckmin ao criticar a Fapesp por financiar "muitos projetos de sociologia"

Muito haveria a dizer sobre "irrelevância", mas gostaria de pedir ao leitor que pense em alguma faculdade, no mundo, no sistema solar ou na galáxia cujos professores deram para o seu país, nos últimos 20 anos, um presidente da República, dois ministros da Educação, um ministro da Cultura, um secretário nacional de Direitos Humanos, um prefeito de São Paulo e um porta-voz da presidência, das mais diversas tendências e partidos. Como se vê, alguns usam "irrelevância" de maneira peculiar.

segunda-feira, 20 de junho de 2016

'Maçã do mundo' - O primeiro globo terrestre


http://operamundi.uol.com.br/conteudo/historia/35732/hoje+na+historia+1492++apelidado+de+maca+do+mundo+primeiro+globo+terrestre+e+construido.shtml



Opera Mundi, 20 de junho de 2016


'Maçã do mundo' - O primeiro globo terrestre


 
Por Max Altman



​Em Nuremberg, em 20 de junho de 1492, ou seja, algumas semanas antes da descoberta do "Novo Mundo", o cartógrafo e navegador Martin Behaim conclui a construção do primeiro globo terrestre. Em colaboração com o pintor Georg Glockenthon, Behaim o construiu entre 1491 e 1493 quando da sua permanência em Nuremberg, denominando-o de “Erdapfel”, ou seja, “maçã do mundo”. O original está hoje em exibição no Germanisches Nationalmuseum de Nuremberg e é uma das obras de arte mais descritas da Europa.

O Globo de Behaim, também conhecido como Globo de Nuremberg, seguiu a ideia de um globo construído por volta de 1475 para o papa Sisto IV, porém melhorando a representação e incluindo meridianos e a linha do Equador. Este globo, de cerca de 50 centímetros de diâmetro, encontra-se conservado em sua cidade natal.
 
A rotundidade da Terra, posta em evidência dois mil anos antes, não era mais dúvida para ninguém. Entretanto, houve necessidade de mais meio século para compreender, a partir de Copérnico, que a Terra é que gira em torno do Sol e é só um planeta em meio a outros.
É certo que os sumerianos, devotados à astronomia e que viviam na Mesopotâmia 3 mil anos antes de Cristo, representavam a Terra como um disco chato pousado sobre um oceano sem limites.

Foi somente no século 5 a.C., ao tempo de Péricles, que filósofos gregos como Pitágoras e Parmênides começaram a representar a Terra sob a forma de uma esfera, cuja representação lhes parecia coerente com a curvatura do horizonte.

​​
Por volta de 230 a.C., o astrônomo e matemático Erastótenes confirma brilhantemente a rotundidade da Terra e, ademais, mede sua circunferência com incrível precisão. Num primeiro momento, atenta no solstício de verão o momento em que o Sol está em seu zênite e se refletia nas águas de um poço muito fundo na cidade de Syene, hoje Assuã, Egito, que ficava exatamente no limite da zona tropical e no mesmo meridiano de Alexandria. Num segundo tempo, no mesmo dia do ano e no mesmo momento mede em Alexandria, a mil quilômetros ao norte, a sombra projetada por uma vara na vertical.

Conhecendo a distância entre as duas cidades e desprezando a diferença de inclinação dos raios solares, deduz que nosso planeta tem uma circunferência de 250 mil estádios, ou seja, praticamente 40 mil quilômetros, medida muito próxima da atualmente admitida.

A geografia de Claudio Ptolomeu, um grego de Alexandria, retoma as conclusões dos sábios que lhe antecederam. Graças a essa obra bem conhecida dos eruditos da Idade Média, a rotundidade da Terra iria ser ensinada nas universidades ocidentais a partir do século 13 e somente religiosos sectários ou ignorantes a negariam ou ignorariam.

Em 1410, o teólogo francês Pierre d'Ailly publica uma obra de cosmografia de grande difusão: Imago Mundi. Continuamente reeditada e enriquecida durante todo o século 15, sintetiza a visão medieval do mundo.

Segundo a Imago Mundi, as terras emergentes, todas reagrupadas na metade norte do globo terrestre, estão cercadas por um imenso rio, o “Mar Oceano”, salpicado de ilhas cada qual com uma singularidade, com habitantes como pigmeus, ciclopes, cinocéfalos — homens com cabeça de cão — antropófagos, etc. O equador marca o limite que é impossível ao homem ultrapassar.

À época de Cristóvão Colombo, os eruditos, navegantes e geógrafos conheciam tão bem o Imago Mundi quanto a geografia de Ptolomeu. Indagavam-se somente sobre a extensão do “Mar Oceano” que supostamente separava a Europa da Ásia.

Ora, Ptolomeu, em sua célebre Geografia, estabeleceu para a circunferência da Terra um valor claramente inferior ao de Eratóstenes, da ordem de 180 mil estádios ou 33 mil quilômetros.

Com base nisso, o astrônomo florentino Paolo Toscanelli produziu em 1468, para atender o rei de Portugal, uma carta que mostrava a Europa separada do Extremo Oriente por um oceano de somente 10 mil quilômetros de extensão, tendo em seu meio uma ilha mítica denominada Antilha.

Esse mapa induziria Colombo a erro, subestimando drasticamente a distância que separava, a oeste, a Europa do Extremo Oriente. De todo modo, o navegador genovês ousaria empreender a viagem que o levaria a descobrir um Novo Mundo.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Área nuclear: soberania em demolição


http://portalclubedeengenharia.org.br/info/usinas-nucleares-o-silencio-ensurdecedor-de-decisoes-sem-debate



Clube de Engenharia, 17/06/16



Usinas nucleares: o silêncio ensurdecedor de decisões sem debate



É sabido nos meios científicos e técnicos que no suprimento de energia, assim como o século 19 foi dominado pelo carvão, o século 20 pelo petróleo, o presente século será mais e mais dominado pelo combustível nuclear. Daí o interesse das principais potências do planeta em controlar o acesso a ele.

Aqui, o setor nuclear ganhou um silencioso destaque nas últimas semanas no Congresso Nacional, em função da tramitação das Propostas de Emenda Constitucional (PEC) 122/07 e da PEC 41/11, apensada à primeira. Silencioso, porque após longos nove anos, entre arquivamentos e desarquivamentos, as propostas receberam, sem alarde, em 12 de maio último, parecer favorável do relator da Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania e chegarão em breve ao plenário.

Trata-se de um raro movimento do Legislativo em relação à área nuclear. Mas não é positivo; tampouco é neutro.

As mudanças propostas põem a perder quase seis décadas de esforços que levaram o país a, desde a década de 1980, integrar o seleto grupo de países que domina todo o ciclo do combustível nuclear, ao lado de Alemanha, China, Estados Unidos, França, Holanda, Índia, Irã, Japão, Paquistão, Reino Unido e Rússia. Dono de uma das maiores reservas naturais de urânio do mundo, o país passou a dominar, após a construção da Fábrica de Combustível Nuclear em Resende/RJ, o ciclo nuclear completo em escala industrial. Desde então, detém a tecnologia e as ferramentas necessárias para a autonomia na produção do combustível, a se concretizar após a conclusão de Angra 3. Trata-se, pois, de injustificável alienação de soberania, consubstanciada na exclusão do monopólio da União para a construção e operação de reatores nucleares para fins de geração elétrica (PEC 122/07) e na vedação à construção e instalação de novas usinas que operem com reator nuclear no país, permitindo entretanto as atividades das usinas já existentes e em construção (PEC 41/2011).

As emendas constitucionais em apreço têm por objetivos inviabilizar a produção industrial de combustível nuclear no país, e possibilitar a privatização das usinas nucleares existentes, ora operadas pela Eletronuclear. Deixarão o país, caso aprovadas, mais uma vez à mercê de interesses externos. São iniciativas que se somam ao ataque ao Pré-Sal, à atualização do Código de Mineração para favorecer mineradoras multinacionais, à proposta de permitir a compra indiscriminada de terras por estrangeiros, à de “privatizar o que for possível” relegando-nos à condição de fornecedores de matérias-primas para o mundo. É a volta ao Brasil Colônia.

Longe de sermos xenófobos, preocupa-nos o nosso futuro como nação. Em face da sua extensão territorial, dos seus recursos naturais e da sua população, o Brasil, que já é hoje uma das 10 maiores economias do mundo, não pode renunciar sem mais nem menos à sua soberania. Capitais produtivos externos são bem-vindos, pois aqui geram empregos, pagam impostos e nos auxiliam no desenvolvimento tecnológico, desde que, contudo, subordinados aos interesses nacionais. Os que deles querem abrir mão, não pensam no Brasil. Merecem nosso repúdio.

'The Intercept': Caem as máscaras dos movimentos pró-impeachment


http://www.jb.com.br/pais/noticias/2016/06/17/the-intercept-caem-as-mascaras-dos-movimentos-pro-impeachment/



Jornal do Brasil, 17/06/16



'The Intercept': Caem as máscaras dos movimentos pró-impeachment



Jornal do Brasil




O site The Intercept, do premiado jornalista Gleen Greenwald, escritor e advogado americano, especializado em Direito Constitucional, publicou nesta sexta-feira (17) uma matéria sobre a arrasadora delação premiada de Sergio Machado, ex-presidente da Transpetro, empresa estatal de petróleo. A denúncia de que Michel Temer foi intermediário de um caixa 2 na campanha para prefeito de Gabriel Chalita, em 2012, voltou a ser visto pela mídia como personagem ativo na corrupção brasileira.

No texto do site The Intercept que analisa o caso, o jornalista afirma que afirma com estas denúncias “caem as máscaras dos movimentos pró-impeachment.”


Para Glenn Greenwald, o impeachment da presidente do Brasil democraticamente eleita, Dilma Rousseff, foi inicialmente conduzido por grandes protestos de cidadãos que demandavam seu afastamento. Embora a mídia dominante do país glorificasse incessantemente (e incitasse) estes protestos de figurino verde-e-amarelo como um movimento orgânico de cidadania, surgiram, recentemente, evidências de que os líderes dos protestos foram secretamente pagos e financiados por partidos da oposição. Ainda assim, não há dúvidas de que milhões de brasileiros participaram nas marchas que reivindicavam a saída de Dilma, afirmando que eram motivados pela indignação com a presidente e com a corrupção de seu partido.

Mas desde o início,” diz o americano, havia inúmeras razões para duvidar desta história e perceber que estes manifestantes, na verdade, não eram (em sua maioria) opositores da corrupção, mas simplesmente dedicados a retirar do poder o partido de centro-esquerda que ganhou quatro eleições consecutivas. Como reportado pelos meios de mídia internacionais, pesquisas mostraram que os manifestantes não eram representativos da sociedade brasileira mas, ao invés disso, eram desproporcionalmente brancos e ricos: em outras palavras, as mesmas pessoas que sempre odiaram e votaram contra o PT.

Para Greenwald, claramente, essas marchas não eram contra a corrupção, mas contra a democracia: conduzidas por pessoas cujas visões políticas são minoritárias e cujos políticos preferidos perdem quando as eleições determinam quem comanda o Brasil. E, como pretendido, o novo governo tenta agora impor uma agenda de austeridade e privatização que jamais seria ratificado se a população tivesse sua voz ouvida

Assim, depois das enormes notícias sobre o Brasil, as evidências de que estes protestos foram uma farsa são agora irrefutáveis. Um executivo do petróleo e ex-senador do partido conservador de oposição, o PSDB, Sérgio Machado, declarou em seu acordo de delação premiada que Michel Temer – presidente interino do Brasil que conspirou para remover Dilma – exigiu R$1,5 milhões em propinas para a campanha do candidato de seu partido à prefeitura de São Paulo (Temer nega a informação). Isso vem se somar a vários outros escândalos de corrupção nos quais Temer está envolvido, bem como sua inelegibilidade se candidatar a qualquer cargo (incluindo o que por ora ocupa) por 8 anos, imposta pelo TRE por conta de violações da lei sobre os gastos de campanha.

The Intercept acrescenta que os efeitos da notícia bombástica de foram muito além de Temer, envolvendo inúmeros outros políticos que estiveram liderando a luta pelo impeachment contra Dilma. Talvez o mais significante seja Aécio Neves, o candidato de centro-direita do PSDB derrotado por Dilma em 2014 e quem, como Senador, é um dos líderes entre os defensores do impeachment. Machado alegou que Aécio – que também já havia estado envolvido em escândalos de corrupção – recebeu e controlou R$ 1 milhão em doações ilegais de campanha. Descrever Aécio como figura central para a visão política dos manifestantes é subestimar sua importância. Por cerca de um ano, eles popularizaram a frase 'Não é minha culpa: eu votei no Aécio'; chegaram a fazer camisetas e adesivos que orgulhosamente proclamavam isso: Evidências de corrupção generalizada entre a classe política brasileira – não só no PT mas muito além dele – continuam a surgir, agora envolvendo aqueles que antidemocraticamente tomaram o poder em nome do combate a ela. Mas desde o impeachment de Dilma, o movimento de protestos desapareceu. Por alguma razão, o pessoal do “Vem Pra Rua” não está mais nas ruas exigindo o impeachment de Temer, ou a remoção de Aécio, ou a prisão de Jucá. Porque será? Para onde eles foram?

Greenwald afirma que “podemos procurar, em vão, em seu website e sua página no Facebook por qualquer denúncia, ou ainda organização de protestos, voltados para a profunda e generalizada corrupção do governo “interino” ou qualquer dos inúmeros políticos que não sejam da esquerda. Eles ainda estão promovendo o que esperam que seja uma marcha massiva no dia 31 de julho, mas que é focada no impeachment de Dilma, e não no de Temer ou de qualquer líder da oposição cuja profunda corrupção já tenha sido provada. Sua suposta indignação com a corrupção parece começar – e terminar – com a Dilma e o PT.

O jornalista concluiu o texto dizendo que neste sentido, esse movimento é de fato representativo do próprio impeachment: usou a corrupção como pretexto para os fins antidemocráticos que logrou atingir. Para além de outras questões, qualquer processo que resulte no empoderamento de alguém como Michel Temer, Romero Jucá e Aécio Neves tem muitos objetivos: a luta contra a corrupção nunca foi um deles.

O consumo de vinho reduz a taxa de homicídios?


http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/2016/06/17/o-consumo-de-vinho-reduz-a-taxa-de-homicidios/



Folha.com, 17/06/16


O consumo de vinho reduz a taxa de homicídios?


 
Por Bernardo Guimarães


Em meio à discussão sobre políticas públicas para reduzir assassinatos, começo esse post com uma teoria, um tanto exótica, que implica que o consumo de vinho reduz a taxa de homicídios.

A teoria é a seguinte: tomar um vinho traz um entendimento qualitativo essencial da nossa existência no campo físico e espiritual que harmoniza nossos pensamentos e emoções, pacificando a fonte de ímpetos destruidores do nosso ser. Esse estado pacífico se reflete em nossos atos, palavras e vibrações, tendo portanto um efeito contagiante sobre as pessoas que nos cercam. Assim, o consumo de vinho reduz as taxas de homicídios.

Baboseira? Vamos aos dados.

O gráfico abaixo mostra o consumo de vinho por habitante no eixo horizontal e a taxa de homicídios no eixo vertical. Cada ponto no gráfico corresponde a um país.


A reta no gráfico pode ser interpretada como um resumo da relação entre o consumo de vinho e a taxa de homicídios pelo mundo.

Os dados, portanto, corroboram a teoria exposta acima. Em países com mais consumo de vinho (à direita no gráfico), há em média muito menos homicídios. Poderia ser apenas uma coincidência, mas a relação é forte, indicando que é improvável que a relação se deva apenas ao acaso.

E aí, devemos subsidiar o vinho para combater o crime?

Esse post não é sobre homicídios — um assunto muito interessante, mas que eu nunca estudei. O ponto deste post é o seguinte: uma associação entre duas variáveis pode refletir três coisas diferentes. No exemplo deste post, as 3 possibilidades são

1. Maior consumo de vinho reduz as taxas de homicídios;

2. Maiores taxas de homicídios reduzem o consumo de vinho. Nesse caso, países com altas taxas de homicídios teriam, em geral, menor consumo de vinho, como de fato mostra o gráfico.

3. Algum outro fator causa as duas coisas: maior consumo de vinho e menor taxa de homicídios.

Nesse exemplo, não há dúvida: a terceira possibilidade é a que ocorre na realidade. Países mais ricos e desenvolvidos têm, em geral, menos homicídios e mais consumo de tudo quanto é coisa — afinal, eles são mais ricos e desenvolvidos.

Em economia e nas ciências sociais, em geral, é difícil inferir causalidade entre duas coisas. Os dados mostram como as variáveis se relacionam (como no gráfico deste post), mas é difícil separar as três possibilidades acima.

Trabalho empírico em economia e ciências sociais buscar identificar o efeito causal de uma variável sobre outras por meio de técnicas estatísticas avançadas que conseguem achar um ponto de partida para a direção da causalidade. Exemplos tratados neste blog incluem o efeito do Ramadã sobre a economia, das notícias de corrupção sobre os votos e dos salários dos políticos sobre a qualidade dos candidatos.

Em muitos casos, porém, não temos informação melhor que a associação entre duas variáveis (como a deste gráfico).

A associação entre duas variáveis é, em geral, informativa. Só que é fundamental entender o que se pode e o que não se pode concluir a partir dela. No jargão da ciência, correlação não implica causalidade.

Tolstoi explicou isso em Guerra e Paz: “Sempre que, olhando meu relógio, vejo o ponteiro se aproximar do X, eu escuto badalarem os sinos da igreja aqui perto. Mas eu não posso inferir daí que a posição dos ponteiros do meu relógio é a causa da vibraçao dos sinos” (em tradução livre do inglês).

É sempre importante olhar para os dados. Há muitas histórias circulando por aí que não sobreviveriam a uma rápida passada de olhos pelos dados. Mas há também muitas histórias consistentes com a relação entre duas variáveis que fazem tanto sentido quanto a teoria do vinho nos trazendo um entendimento qualitativo essencial da nossa existência.

quarta-feira, 15 de junho de 2016

O desmonte de Temer


http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Economia/O-desmonte-de-Temer/7/36287



Carta Maior, 15/06/2016


O desmonte de Temer


 
Paulo Kliass*



As tentativas de reação política em torno da estratégia do afastamento de Dilma Rousseff remontam ao dia seguinte da divulgação dos resultados do pleito de outubro de 2014. As forças que haviam sido derrotadas nas eleições presidenciais passaram imediatamente a perseguir aquilo que passou a ser conhecido como o “terceiro turno”. Face à recusa sistemática de simpatia por parte da maioria da população brasileira, lançaram mão do questionamento do resultado nas urnas, do questionamento das contas de campanha vencedora, da articulação das esferas do Poder Judiciário e do Ministério Público, da conspiração aberta dos principais órgãos de comunicação, entre tantos outros expedientes.

Passado um ano e meio de tamanho bombardeio, lograram alguns avanços significativos. O primeiro passo ocorreu com a aquela cena de triste memória no plenário da Câmara dos Deputados, quando a aceitação preliminar do pedido de impedimento mostrou ao mundo inteiro a qualidade da maioria dos integrantes daquela instância de nosso legislativo. Em seguida, veio a votação também preliminar no Senado Federal, que terminou por chancelar o início do processo sem nenhuma base de indiciamento com base em crime de responsabilidade, conforme determina a Constituição Federal. Em suma, um golpe institucional, forma pela qual as principais fontes da imprensa internacional e a unanimidade dos espaços de articulação diplomática assim o reconhecem.

No entanto, ao que tudo indica não imaginavam que a passagem de Michel Temer pelo Palácio do Planalto pudesse oferecer tamanho quadro de trapalhada, incompetência e acusação de corrupção. As dificuldades enfrentadas pelo presidente interino na montagem de sua equipe ministerial e o retardamento recorrente do início efetivo de seu governo terminam por comprometer o objetivo estratégico do financismo nessa aventura putschista. Afinal, trata-se de promover um desmonte do pouco que resta de um Estado de Bem Estar Social em nosso País e acionar a destruição dos principais instrumentos para eventual implementação de alguma política desenvolvimentista.
 
 
Temer: austericídio em sua versão 3.0

Essas são as principais razões para que a política de austericídio - iniciada por Joaquim Levy e Nelson Barbosa ainda no governo Dilma - tenha sido mantida e aprofundada mesmo depois da mudança. A chegada de Henrique Meirelles ao Ministério da Fazenda e seu empoderamento simbólico pelo presidente provisório revelam a crueldade com que se pretende solucionar a grave questão fiscal. Cortes, cortes e mais cortes no orçamento da União. Austeridade, austeridade e mais austeridade na recomendação para as finanças de Estados e Municípios. A ordem é promover o ajuste a qualquer custo e na maior brevidade possível. Afinal, o tempo corre contra os golpistas e o desgaste diário do governo contribui inclusive para eventual derrota do impedimento em sua votação definitiva em agosto.

O verdadeiro desmonte que as forças do financismo pretendem impor à sociedade brasileira tem pouco a ver com as tragicômicas cenas oferecidas por integrantes do governo interino. Apesar do inescapável desgaste político causado por esse tipo de ação de ministros indiciados e integrantes desajeitados do primeiro escalão, os estrategistas emprestados à linhagem do tucanato estão ali para executar com seriedade o serviço sujo. Trata-se de eliminar as conquistas inscritas no corpo da Constituição e privatizar as empresas estatais que haviam sobrevivido às várias ondas devastadoras no neoliberalismo que assolaram as nossas costas.

Isso significa ampliar o sufocamento dos serviços de assistência social, saúde, educação, previdência social e demais direitos republicanos que devem ser oferecidos pelo Estado brasileiro. Ao dar continuidade à gestão anterior, Meirelles comprime drasticamente as rubricas orçamentárias destinadas a tais benefícios de natureza social. Com isso os algozes no comando da política econômica perseguem duas metas. De um lado, promovem o sucateamento e a inviabilização da oferta de tais serviços pela estrutura da administração pública. Por outro lado, oferecem ao capital privado a excelente oportunidade de ampliar seus investimentos e sua lucratividade em áreas em que já vêm penetrando com força. Basta ver a impressionante expansão das universidades vinculadas a fundos de investimentos estrangeiro ou o ingresso de conglomerados multinacionais em planos de saúde e no setor de hospitais.
 
 
Superávit primário: lucro do financismo.

O tom catastrofista com que a grande imprensa divulga o tema da crise das contas públicas também atua no mesmo sentido. O mantra do inescapável superávit primário permanece inquestionado. Atuar com respeito à necessária responsabilidade fiscal sofreu um reducionismo inescrupuloso. De acordo com a antiga recomendação da velha ortodoxia, tal conduta permanece inalterada: continua sendo sinônimo de apenas promover cortes nas despesas primárias. Está blindada qualquer sugestão de se levar em consideração a possibilidade de políticas anticíclicas, em especial para os momentos de recessão e desemprego como o que vivemos atualmente. Não há espaço para que se proponha a busca do equilíbrio das contas por meio do aumento da receita advinda impostos sobre patrimônio ou incidentes sobre as parcelas do topo da pirâmide social.

Mas o principal aspecto do debate interditado pelo establishment refere-se à manutenção do adjetivo “primário” sempre que se estiver referindo ao superávit fiscal. Essa é a verdadeira malandragem imposta pelo financismo para isolar as despesas de natureza financeira do conjunto do bolo das rubricas potenciais a serem objeto de corte. As manchetes alarmistas se contentam em reproduzir as fontes oficiais, sempre a buscar justificativas para passar a tesoura nos gastos. E ai surgem as fórmulas conhecidas como “o modelo de direitos previsto na Constituição não cabe mais no Orçamento”, “o déficit estrutural da previdência”, “o crescimento exponencial dos gastos com saúde”, “a insustentabilidade das despesas com auxílio desemprego e abono salarial”, “a fraude no recebimento dos valores do Bolsa Família”, entre tantos outras meias verdades repetidas à mão cheia.

Ao se referir malandramente ao termo “primário”, os espertalhões da finança retiram do foco das despesas de natureza financeira. Ao sugerir a responsabilidade para com o equilíbrio fiscal, isolam do cálculo os gastos que o orçamento sustenta com o pagamento de juros e demais serviços da dívida pública. Em 2015, por exemplo, foram R$ 540 bilhões a esse título. A maior conta individual em valores e que não sofreu nenhum tipo de corte ou contingenciamento.
 
 
Despesas sociais ou despesas financeiras?

Para o presente ano, a situação não é muito distinta. O Ministério do Planejamento e o Ministério da Fazenda acompanham de forma sistemática a evolução das despesas e receitas. Com isso, e por determinação legal, divulgam a cada bimestre um documento chamado “Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias”. A situação do segundo bimestre aponta para um total previsto de R$ 1,5 trilhão a título de despesas financeiras a ser realizada ao longo de 2016. Esse valor representa mais do que 50% do total das despesas do Orçamento que está com previsão de R$ 2,9 tri.

Apesar disso, esse montante trilionário permanece “imexível”, em nome da necessária estabilidade macroeconômica e da manutenção das cláusulas do contrato do sacrossanto mercado. O que interessa a essa gente é cortar os direitos representados por rubricas sociais. Assim, as manchetes escancaram os R$ 503 bilhões dos benefícios do INSS e os R$ 259 bi relativos ao pagamento de pessoal. Também se escandalizam com os R$ 59 bi previstos com despesas de abono salarial e auxílio desemprego, além dos R$ 49 bi destinados ao Beneficio de Prestação Continuada (BPC), benefício dirigido aos idosos e deficientes. São números grandes, pois prestam um serviço para dezenas de milhões de famílias. Mas são benefícios que representam valores individuais muitas vezes inferiores a um salário mínimo por mês. Com toda certeza não são eles que estão promovendo as dificuldades de caixa do governo.

Esse é desmonte que Temer promete concluir. Tudo para beneficiar o sistema financeiro e as elites do andar de cima. Disciplina e determinação para destruir os direitos da grande maioria da população, especialmente em um momento que mais precisam do apoio de políticas públicas. 
 
 
* Doutor em Economia pela Universidade de Paris 10 e Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal.

Golpe neoliberal incomoda os militares


http://independenciasulamericana.com.br/2016/06/temer-neoliberal-incomoda-os-militares/




Independência Sul Americana, 15/06/16



Temer neoliberal incomoda os militares

Por Cesar Fonseca Ubiramar Lopes





O grande gargalo do governo Temer, se ele continuar, o que é uma incógnita, é sua relação com as forças armadas. O motivo é simples. A taxa de insegurança social aumenta com o neoliberalismo econômico temerista e lança dúvidas sobre a estabilidade política.

Os militares desenvolveram, ao longo dos últimos treze anos de Era Petista, nacionalista, outro conceito de segurança social, que não se compatibiliza com a política neoliberal. Trata-se de perceber a segurança como produto do desenvolvimento econômico equilibrado, em que sejam constantes e seguros investimentos em educação, saúde, meio ambiente, emprego, fortalecimento do mercado interno, como produto de opção desenvolvimentista, nacionalista.

Isto está claro no Programa Nacional de Defesa (2005), na Estratégia de Defesa Nacional (2007) e na Doutrina Militar de Defesa Nacional (2008), aprovados no Congresso Nacional e constantes, desde então, no ordenamento jurídico brasileiro.

Essa nova concepção de segurança se baseia nos estudos desenvolvidos pela Escola de Copenhague, por meio da qual novos conceitos de desenvolvimento foram formulados pelos europeus, no pós guerra fria. Por meio dela, combina-se segurança nacional com desenvolvimento econômico em que a sociedade tenha diante de si ofertadas educação, saúde, emprego, renda, consumo adequados às suas exigências de dignidade humana e social.

Ou seja, os militares, com seus três projetos, aprovados nos governos Lula e Dilma, não entendem mais a segurança pública e nacional como produto de prioridade conferida à força policial. Muito pelo contrário. A força policial, em si, é vista como produto da insegurança social, da insuficiência dos fatores econômicos e políticos capazes de atender demandas comunitárias.

A segurança social, nesse sentido, representaria integração cívico-militar em favor de projeto nacional desenvolvimentista, a partir da industrialização focada na indústria de defesa, visando, sobretudo, o território nacional, em especial, a Amazônia, fonte de cobiça internacional.

No desenvolvimento desta, desenrola-se processo tecnológico e científico apoiado na cibernética, na produção nuclear e atômica, especialmente, nos submarinos de defesa.

O foco na indústria de defesa nacional – e continental, sul-americana, dado que, para os militares, a América do Sul é extensão do território nacional a ser preservado pela integração econômica do continente –  é a prioridade, entendida ela como alavanca do desenvolvimento científico e tecnológico a espraiar-se pelo restante das atividades produtivas.

Assim, haveria expansão da indústria nacional de patentes, desenvolvimento da inteligência, que requer, por sua vez, prioridade à educação e à saúde, a reclamarem grandes investimentos, isto é, algo que se interage para formação de consciência cívico-militar, como destacou o comandante do Exército, general Eduardo Villas Boas, no Dia do Exército, 19 de maio, em palestra aos estudantes do CEUB.

Os projetos de segurança nacional são, ao mesmo tempo, âncoras do desenvolvimento com viés, amplamente, nacionalista, visto que sua prioridade é o fortalecimento de uma geopolítica brasileira que confere ao Brasil posição independente no mundo globalizado.

Certamente, os Estados Unidos são os principais adversários dessa geopolítica nacionalista que o Congresso aprovou, razão pela qual os militares são profundamente gratos aos governos petistas e, inversamente, encontram-se profundamente desconfiados do governo interino Temer, cuja prioridade é alinhar-se à geopolítica norte-americana.

Os americanos, como se sabem, negam tudo o que os militares nacionalistas brasileiros estão construindo em favor da política de defesa, percebida como projeto da sociedade consciente da necessidade de desenvolvimento nacionalista.

A prioridade de Temer pelo modelo econômico neoliberal, focado, exclusivamente, em ajuste fiscal, que até o FMI passou a criticar, lança profundas dúvidas no meio militar.

O neoliberalismo temerista, que:

 1 – desconstitucionaliza conquistas sociais;

2 – destrói direitos trabalhistas;

3 – amplia desvinculação de verbas orçamentárias destinadas à educação e saúde, para pagar juros da dívida pública;

 4 – tira dinheiro de banco de desenvolvimento, como do BNDES, para ser esterilizado no caixa do Tesouro, também, para pagar juros da dívida aos banqueiros;

5 – desloca recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador(FAT), para o mesmo objetivo, ou seja, engordar os sanguessugas que faturam desmesuradamente na taxa de juro especulativa, enquanto é pregada austeridade contra os assalariados;

6 – amplia privatizações do setor de petróleo, desnacionalizando o pré sal, para atender demandas das petroleiras internacionais;

7 – esvazia a geopolítica brasileira de aproximação com os BRICs, para atender pressões de Washington;

8 – acaba com abono salarial, para fazer ajuste fiscal;

9 – amesquinha política social(Mais Médicos, Minha Casa Minha Vida, Bolsa Família, Farmácia Popular etc) e;

10 – põe em risco políticas promotoras de diversidade cultural, ampliando participação e democratização dos mais pobres, com acesso às universidades etc, e;

11 – Tenta afastar o Brasil dos BRICs (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), como força alternativa à geopolítica de Tio Sam, que se transformou, depois da crise global de 2008, em favor de segurança internacional – ou seja, tudo isso contribui, no entendimento da política de defesa nacional, para aumentar a insegurança social e, consequentemente, a instabilidade política.

O governo Temer, com seu carrossel de medidas de austeridade neoliberal antipopular que acaba com poder de compra dos trabalhadores, diminuindo renda disponível para o consumo, deprimindo as forças produtivas, enquanto não se faz nada contra o processo de sobreacumulação especulativa da renda nacional, para atender reivindicações dos bancos, da Febraban, que tomou conta do Banco Central, para fazer a política da agiotagem contra a sociedade etc, eis o que apavora, no momento, os comandantes das forças armadas.

A austeridade neoliberal – para os ricos, tudo, para os pobres, pau – acelera providências que aumentam extraordinariamente a instabilidade social e a insegurança pública e política.

Vai o jogo do ajuste fiscal austero, bancocrático, na linha contrária propugnada pelos projetos nacionalistas dos militares, como alternativa de desenvolvimento nacional sustentável.

O golpe político em marcha, mundialmente, condenado, tocado por forças antinacionais golpista, visa sobretudo derrubar a caminhada desenvolvimentista nacionalista.

Por isso, o governo Temer, do ponto de vista das Forças Armadas, vai se transformando, aceleradamente, em grande fator de insegurança nacional.

terça-feira, 14 de junho de 2016

O grande golpe


http://www.maurosantayana.com/2016/06/o-grande-golpe_14.html



Blog do Santayana, 14/06/16


O grande golpe

 
Por Mauro Santayana



A direita trabalha agora no sentido de alcançar a aprovação e a conclusão definitiva do processo de impeachment da presidente da República. A frente formada com esse intuito é ampla, reúne a mídia parcial e conservadora, a parte mais corrupta e fisiológica do Congresso, setores do Ministério Público,­ do STF, da Polícia Federal e do Judiciário contra o PT e a esquerda nacionalista. Apesar das dificuldades vividas pelo governo interino, o processo não será fácil de ser revertido. 

 

Não tendo sabido enfrentar, de forma organizada e decidida – a começar pela internet –, os ataques que vinha sofrendo desde 2013; não tendo estabelecido um discurso abrangente que defendesse minimamente suas conquistas, que ocorreram, sim, em importantes momentos dos últimos 13 anos; tendo cometido erros grosseiros do ponto de vista estratégico, político e eleitoral, o que resta ao PT e aos grupos que o apoiam é parar de se equivocar, de serem pautados pelas circunstâncias e pela imprensa adversária, e entender o que realmente ocorre com o país neste momento.

 

Manter a realização de protestos isolados e constantes contra o governo Temer – acusando-o de golpista – pode ser um exercício retórico, e uma forma de fugir do imobilismo, mas essa abordagem não deve ser a única, nem a principal, nem ser levada às últimas consequências, porque pode conduzir a graves equívocos dos pontos de vista tático e histórico. Não se discute a questão da legitimidade do voto. Mas é rasteira simplificação – que colabora com os conspiradores ocultos, muitíssimo mais perigosos – dizer que o golpe partiu do PMDB, como se ele tivesse nascido quando essa legenda abandonou o governo Dilma.

 

Dizer que quem compõe o governo interino é corrupto é outra simplificação que também não resolve, nem agora, nem a médio prazo, o problema. Por um lado, porque reproduz em parte o discurso adversário, minimizando o fato de que muitos dos que estão sendo investigados pela Operação Lava Jato à direita estão sendo processados com as mesmas justificativas e argumentos espúrios usados para justificar acusações e as investigações lançadas contra membros do próprio PT. 

 

Por outro lado, porque quem compõe o governo são, com exceção do PSDB e do DEM, basicamente as mesmas forças que estiveram durante tantos anos nos governos do PT, não por afinidade política, mas porque é assim que se estabelece o equilíbrio de governabilidade possível em um regime típico de presidencialismo de coalizão.

 

Seguindo esse raciocínio, por mais que seja difícil para alguns admitir isso, a mesma miríade de pequenos partidos e legendas de aluguel que apoia hoje Michel Temer, faz parte de seu governo e está sendo atacada pelo PT pode vir a ter de ser, amanhã, cooptada­ de volta por Dilma para compor seu ministério, caso ela retorne ao poder.

 

O próprio presidente do PT, Rui Falcão, já admitiu que não fará nada para evitar que o partido se alie ao PMDB nas eleições municipais deste ano.

 

Devagar, portanto, com o andor.

 

É preciso cautela, para não parecer hipócrita, na mesma linha de leviandade usada pela direita contra a esquerda – e pela extrema-direita contra a política de modo geral, tendo a democracia e a liberdade como alvos finais dessa linha de atuação. 

 

Na tentativa de atingir seus adversários, a esquerda não pode cair no mesmo erro – aproveitado com deleite pelos fascistas – na tentação e na esparrela da criminalização da política. Mesmo quando atacada hipócrita e injustamente.

 

Pois corre o risco de legitimar o discurso de apoio à Operação Lava Jato e o discurso da mídia – muito mais importantes e deletérios do que o PMDB, no processo de golpe que estamos vivendo – e de se equiparar a quem o defende, diante da história e da população.

 

Vamos ser francos – mesmo que as conversas tenham sido propositadamente gravadas e conduzidas para ser usadas como habeas corpus por um dos interlocutores – os diálogos entre o ex-diretor da Transpetro Sérgio Machado e autoridades como Romero Jucá, Renan Calheiros e José Sarney não podem ser rotulados com o mesmo grau de subjetividade dirigida com que se julgaram e disseminaram outros diálogos gravados com a mesma intenção, e divulgados fora de contexto, como os de Delcídio do Amaral, ou o de Lula e Dilma.

 

Ao dizer que a Lava Jato representou uma sangria, por exemplo, o senador Romero Jucá diz não mais que o óbvio. Uma sangria em empregos, em interrupção de negócios, em sucateamento de obras e projetos, em desvalorização de ações e ativos, em contratos interrompidos, em prejuízos institucionais e contábeis para as empresas acusadas, com terríveis resultados para o país, em termos estratégicos, de defesa, energia e infraestrutura, e para milhares de empregados e acionistas, o que é evidente e redundante.

 

Da mesma forma que dizer que era preciso costurar um diá­logo nacional para analisar o assunto, com a participação do próprio STF, a quem cabe corrigir eventuais desvios e ações polêmicas – principalmente no âmbito jurídico –, colidentes com o texto constitucional, seria uma afirmação consequente, lógica, e, no correr da conversa, óbvia e ululante. 

 

Ou será que a Lava Jato não poderia ter investigado e condenado os corruptos efetivamente identificados, com dinheiro em contas no exterior, como Paulo Roberto Costa, Nestor Cerveró e Renato Duque, sem precisar destruir algumas das maiores empresas de engenharia do país?

 

Ou sem atrasar e prejudicar tantos projetos e programas de interesse nacional, colocando no mesmo balaio de gatos gente que se locupletou pessoalmente - gastando acintosamente o dinheiro roubado à nação, em farras, mesmo que familiares, no exterior - e funcionários de partidos que obtiveram doações eleitorais registradas, à época, como rigorosamente normais e legais?

 

Soltando os primeiros e encarcerando os segundos?

 

A Lava Jato pode ter tido, indiretamente, alguma influência positiva, sobretudo na identificação do fato de que não existem corrompidos no setor público se não houver os corruptores no âmbito privado.

 

Facilitando a aprovação de leis como a que acabou com o financiamento privado de campanha.

 

Mas o que está ocorrendo é que direita, centro e esquerda estão cometendo o erro primário de não entender que o que se está enfrentando é um grupo de forças que se opõem à própria atividade política, por princípio. 

 

E que ao se digladiarem fora do campo das ideias não estão fazendo mais do que favorecer os inimigos da liberdade, saudosos do autoritarismo, que se aproveitam das falhas normais de um regime – que, como diria Churchill, não é perfeito, mas é o melhor que se conhece – para jogar a população contra a democracia e promover e preparar, diligente e coordenadamente, a chegada do fascismo aos cargos mais altos da República.

 

O processo de impeachment é um golpe jurídico-midiático, mas ele representa apenas um passo, mais uma etapa, para a deflagração de um golpe maior contra a Nação, que levará à derrocada da democracia no Brasil, à aprovação de leis que lembram os nazistas, como a exigência de diploma superior para ministros e presidente, fim do voto obrigatório, volta do escrutínio manual, cassação de registros de partidos políticos, repressão ao trabalho de educadores na sala de aula, criminalização dos movimentos populares e até do comunismo – conforme propostas recentemente encaminhadas à apreciação do Congresso Nacional.

 

Some-se a isso a eventual chegada de um candidato de extrema-direita ao poder (há pelo menos dois sendo promovidos pela imprensa), ou a consolidação de uma massa de votos que seja suficiente para transformá-la na terceira força política do país, capaz de decidir, com o seu peso, o resultado do segundo turno das eleições de 2018. 

 

E dá para ter uma ideia concreta do que espera a Nação – se não houver urgente correção de rumo – depois da curva.

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Gastronomia contra o golpe


http://operamundi.uol.com.br/conteudo/samuel/44403/gastronomia+contra+o+golpe+profissionais+da+area+repudiam+decisao+de+temer+de+cortar+verba+para+alimentacao+de+dilma.shtml


Gastronomia contra o golpe: profissionais da área repudiam decisão de Temer de cortar verba para alimentação de Dilma. 

Leia a nota na íntegra: 


'Gastronomia contra o golpe' 

Tem panela, coxinha, mortadela e, agora, até racionamento de comida à presidenta eleita. Não faltam ingredientes gastronômicos indigestos na desastrosa receita política do Brasil de hoje.

Nós, representantes da gastronomia brasileira, não podíamos assistir a esse cenário de ruptura da ordem constitucional democrática sem manifestar nossa profunda tristeza e indignação.

Representantes de um setor que gera seis milhões de empregos diretos em todo o país e que é a porta de entrada no mercado de trabalho para muitos brasileiros, sejam como estagiários, cumins ou garçons, até pesquisadores, jornalistas da cultura gastronômica, chefs, empresários do setor de alimentos e bebidas, restaurateurs, apaixonados pela gastronomia, que vivem dela ou por ela, vimos manifestar o nosso repúdio a essa ruptura por que passa hoje o Brasil. 

O governo é provisório, mas os traumas, permanentes. Nossa jovem democracia sofre um de seus mais duros golpes e exige de todos coerência e compromisso históricos. Uma presidente legitimamente eleita por 54,5 milhões de votos está afastada sob um pretexto ininteligível para a maioria dos mortais, as pedaladas fiscais.

Empréstimos contábeis que seus antecessores e dezenas de governadores cometeram e cometem, mas que só são crimes porque, para a presidente, a lei parece ter outro peso. Justiça com pesos diferentes não é Justiça, é vingança, é golpe. A maioria dos congressistas não faz ideia do que seja “pedalada fiscal” e recorre ao “conjunto da obra” para justificar o impeachment, como se fizesse parte de um júri de menu-degustação. Um pastelão que nos envergonha mundo afora. 

Ao arrepio da lei, sob o argumento falso-moralista de “crime de responsabilidade”, a presidente foi substituída por um vice ficha-suja e inelegível, cuja postura é completamente incompatível com a que se espera de um companheiro de chapa, e por um ministério (em sua totalidade, formado por homens e brancos, um retrocesso que não se via desde o governo Geisel), cuja idoneidade não resiste a uma simples pesquisa no Google. Assistimos, atônitos, ao BBB do governo interino, com uma queda por semana. 

O ato de cortar a comida de uma chefe de Estado, sua família e equipe nos sensibilizou não só por ser mesquinho, mas por ser medíocre. Um dos inegáveis méritos da gestão Lula-Dilma foi o de promover a ascensão social. Segundo a própria ONU, Lula e Dilma tiraram o Brasil do mapa da fome, dando dignidade mínima a 36 milhões de brasileiros. E foi justamente a essa chefe de Estado, gestora do Fome Zero, que o presidente interino negou comida, num gesto totalitário, anticonstitucional e incompatível com o de um vice de um projeto vitorioso nas urnas. 

Trata-se bem mais do que cortar a comida e direitos legítimos de uma presidente eleita, trata-se de simbolicamente relegar à indigência a democracia e a inteligência no Brasil. A indignação inspirou esse movimento de “alimentar a democracia”. A gastronomia, que nutre, agrega, reúne famílias, amigos e até inimigos em torno de uma mesa, que é capaz de promover a paz, também se une em defesa da democracia. 

Este é um manifesto apartidário, assinado por fãs de coxinha e de mortadela, de Cuba e de mojitos, de café, fé e wi-fi, do boteco-pé-sujo ao restaurante 3 estrelas, do vermelho (símbolo da Revolução Francesa e de tudo o que ela inspira até hoje) e do verde-e-amarelo, petistas e não petistas, eleitores de Dilma Rousseff ou não, eleitores com graves críticas ao governo da presidente, mas que sabem que impeachment não é solução, é consequência. Em comum: somos contrários ao ódio de classe, à intolerância e à histeria coletiva que tomou conta do país, temos amor ao Brasil e a convicção de que democracia só se cura com mais democracia.

Assinam:
1. Adalberto Ribeiro –Sócio da Grill Burger de Bragança (PA); 2. Airton Eré – Bartender da Malabar Drinks Artísticos (Florianópolis, SC); 3. Alexandre Bussab – Sócio do Raiz Forte Bar e Eventos (RJ); 4. Aline Lockmann de Azevedo Gomes – Jornalista (SP); 5. Ana Rojas – ¬ Jornalista de gastronomia (Brasil/Reino Unido); 6. Ana Candida Ferraz – Chef de sala (SP); 7. Analice Souza – Socióloga e chefe de bar do Oliver Art Bar (Belo Horizonte, MG); 8. Annete Alves – Barista (Buenos Aires, Argentina); 9. Bel Coelho – Chef de cozinha do Clandestino (SP); 10. Bianca Barbosa – Chef (RJ); 11. Caio Zakia – Cozinheiro (SP); 12. Carmem Virginia – Chef-proprietário do Altar Cozinha Ancestral (SP); 13. Carolina Ronconi – Fundadora do blog Meninas no Boteco (SP); 14. Caroline de Azevedo – Cozinheira (SP); 15. Cilmara Bedaque – Jornalista do blog Lupulinas (SP); 16. Danilo Lodi – Barista, torrador de café e juiz internacional (SP); 17. Dora Gil – Gerente de restaurante (SP); 18. Edson Pivoto – Gerente de restaurante (SP); 19. Elia Schramm – Chef (RJ); 20. Eliza D. Teixeira – chef e pesquisadora (Brasil/EUA); 21. Fel Mendes – Jornalista da revista Rabo de Galo e incubador da abelha (SP); 22. Felipe Jannuzzin – Idealizador do Mapa da Cachaça (SP); 23. Flávia Pogliani – Barista (SP); 24. Gabriel Cavalcante – Cantor e gourmet (RJ); 25. Gabriel Torres – Barista do Por um Punhado de Dólares (SP); 26. Gabriella Kerber – Chef de cozinha (SP); 27. Giovanni Assante – Proprietário das massas Gerardo di Nolla (Nápoles, Itália); 28. Guga Rocha – Chef e apresentador de TV (Brasil/Canadá); 29. Gisele Coutinho – Barista do Pura Caffeina (SP); 30. Guilherme Schwinn – Chef e sommelier (SC); 31. Hanny Guimarães – Especialista em chás (SP); 32. Izabela Tavares –Padeira (SP); 33. João Grinspum Ferraz – Historiador, cientista político e proprietário da Casa do Carbonara (SP); 34. Juliana Gelbaum – Barista do Por um Punhado de Dólares (SP); 35. Kátia Barbosa – Chef (RJ) 36. Lais Duo – Chef de cozinha (SP); 37. Luciana Berry – Chef (Brasil/Reino Unido); 38. Luciana Bianchi – Jornalista de gastronomia e chef (Reino Unido/Brasil); 39. Luciano Salomão – Barista e mestre de torra de café (SP); 40. Maira Marques – Bartender (Fortaleza, CE); 41. Marcelo Cury – Médico e jornalista de gastronomia (SP); 42. Marco de la Roche – Mixologista, editor do Mixology News e da revista Rabo de Galo (SP); 43. Marcos Tomsic – Barista do Por um Punhado de Dólares (SP); 44. Marilia Zylbersztajn – Confeiteira (SP); 45. Pedro Marques – Jornalista e pesquisador de gastronomia (SP); 46. Priscila Sabará – Criadora do FoodPass (SP); 47. Rafael Mariachi – Mixologista (SP); 48. Raphael Criscuolo – Fotógrafo (SP); 49. Ricardo Pieralini – Jornalista (SP); 50. Roberta Malta – Jornalista (SP); 51. Roberto Hundertmark – Chef de cozinha (Belém - PA); 52. Robinho Bernardo – Barista do Por um Punhado de Dólares (SP); 53. Rodolfo Bob – Gastrônomo e mixologista diretor de OBarVirtual (SP); 54. Sérgio Crusco – Jornalista gastronômico (SP); 55. Sheila Grecco – Jornalista, historiadora, RP na área gastronômica (SP); 56. Tabata Magarão – Sócia do Raiz Forte Bar e Eventos (RJ); 57. Tainá Hernandes – Confeiteira (SP); 58. Thiago Ceccotti – Bartender e consultor de bar da Ducktails (Belo Horizonte, MG); 59. Thiago dos Santos – Bartender e idealizador da Samba Nego (SP); 60. Thiago Flores – Chef do Circo Voador (RJ); 61. Thiago Rosas – Restaurateur (PA); 62. Thiago Tavares – Empreendedor e cachacier (SP); 63. Thianny Estevam – Bartender do Zazá Bistrot (RJ); 64. Tony Harion – Diretor da Mixing Bar (SP); 65. Túlio Silva – Jornalista gastronômico do PenseComida (SP); 66. Victor Camerlingo – Barista do Por um Punhado de Dólares (SP)