Blog do Santayana, 5 de jun de 2016
O porta-aviões BNDES
Por Mauro Santayana
Na falta do que fazer, alguns segmentos da plutocracia
brasileira, que tem proventos gordos - em muitíssimos casos, de mais que o
dobro do Presidente da República - e que, ao contrário de nós, trabalhadores
comuns e empreendedores, conta com estabilidade no emprego, insiste em dar
lições aos "políticos" e meter-se, sem um voto reles de quem quer que
seja, a administrar indiretamente o país.
Enfurecidos, ideologicamente, com o Estado que os alimenta -
desde que não se mexa em seu salário, carreiras e privilégios - eles querem
agora “diminuir” e ajudar a arrebentar com o BNDES - Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social, um dos maiores símbolos do poder brasileiro
- vejam, bem, da Nação, e não apenas do Estado nacional.
Esse é o caso da provável aprovação, pelo órgão de
fiscalização da União, do pretendido repasse de 100 bilhões de reais do Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social ao Tesouro, aprovado pelo
governo interino, para supostamente serem usados na “diminuição” da dívida pública.
Isso, em um momento em que a SELIC está altíssima, e se
acaba de obter, paradoxalmente, autorização do Congresso, para um aumento
de mais da metade desse valor - 58 bilhões de reais - para os salários do
próprio Congresso e do funcionalismo público.
E em que se está procedendo também, à criação, pelo
Legislativo, de 14.000 novos cargos na administração federal.
Ora, quando uma nação está em crise - um mote já há tanto
tempo quase monocórdico, e a principal razão citada pelo discurso de parte da
mídia no apoio ao afastamento do governo anterior - é preciso
incrementar, e não baixar, os recursos disponíveis para a produção e a
infraestrutura.
Logo, se há dinheiro para o funcionalismo, não se pode
diminuir o valor destinado aos milhares de pequenos e médios empresários que
dependem do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social para
tocar seu negócio e às grandes empresas que têm acesso a financiamento
dessa instituição a fim de desenvolver - gerando, ou mantendo, milhões de
empregos - o atendimento ao mercado interno e à exportação, cujo
superavit tem crescido fortemente neste ano.
Ainda há homens probos e nacionalistas no PMDB, partido que
protagonizou a luta pela redemocratização e que, bem ou mal, esteve ao lado do
PT na administração federal nos últimos anos.
Essa conversa fiada de endividamento público - que sustentou
a tragédia da privatização e da desnacionalização da economia brasileira nos
anos 90, com a duplicação, em oito anos, da dívida líquida, a diminuição do PIB
e da renda per capita em dólar, segundo números do Banco Mundial - e o aumento
da carga tributária, é hipócrita e recorrente.
E sempre omite - convenientemente - que o país acumulou de
2002 para cá, com a colaboração também do PMDB que já estava no governo, e do
próprio Ministro Henrique Meirelles, mais de 370 bilhões de dólares em reservas
internacionais, fora os 40 bilhões também em moeda norte-americana pagos para
liquidar a dívida com o FMI.
O propalado deficit de 150 bilhões de reais deixado pelo governo
Dilma, aumentado pela soma de compromissos a pagar nos próximos anos,
representa - embora o PT e o PMDB, seu aliado nessa conquista, de forma
incompetente não o digam - apenas cerca de 10% da quantia que o Brasil possui
em moeda norte-americana, como quarto maior credor individual externo dos EUA,
como se pode ver - lembramos mais uma vez, no site oficial do tesouro USA:
http://ticdata.treasury.gov/ Publish/mfh.txt
Mas, isso, a parcela da mídia conservadora, entreguista e
parcial, que agora ataca, incessantemente, as grandes obras realizadas nos
últimos anos com aporte e financiamento do BNDES, não o diz.
Como não diz - para a informação da malta que constitui seu
público, radical, ignorante e tosca - que o BNDES é uma instituição muitíssimo
bem administrada, que deu lucro de 6.2 bilhões de reais no ano passado, de 8.5
bilhões de reais em 2014, de 8,15 bilhões de reais em 2013, de mais de 8
bilhões de reais em 2012, de 9 bilhões de reais em 2011, de 9.9 bilhões de
reais em 2010.
Esses resultados, não contam?
Sem falar nas centenas de bilhões de reais emprestados no
período, que deram, origem a um incalculável número de empregos e de negócios,
movimentando toda a economia do país.
Uma estratégia que foi fundamental para evitar que a crise
mundial de 2008 - que, de certa forma, ainda não acabou - não nos alcançasse
violentamente antes. E imprescindível, também, do ponto de vista geopolítico,
para projetar o “soft power” brasileiro para fora de nossas fronteiras, ajudando
na expansão de grandes empresas nacionais no exterior, que agora também estão
sendo destruídas, pela mesma plutocracia, por absoluta ausência de bom senso e
de visão estratégica, e manifesta e deletéria arrogância.
O Brasil do Dinheiro, e os “burrocratas” - que existem, sim,
com todo o respeito pelo conjunto dos funcionários públicos brasileiros - da
nova aristocracia “concursista” nacional - bons em pagar cursinho, mas não em
entender o país, a História, e as disputas geopolíticas internacionais - precisam
compreender que um banco de fomento como o BNDES - que chegou a ser o maior do
mundo nesta década - é um instrumento de poder e de persuasão tão forte quanto
um submarino atômico ou um porta-aviões - se houvesse uma belonave desse tipo
que pudesse ser vendida pelo preço que vale o banco - ou os 100 bilhões de
reais que está se alegando que precisam ser “devolvidos” ao Tesouro Nacional.
Tanto é que não existe, no grupo das dez maiores economias
do planeta, entre as quais voltamos a nos incluir na última década nenhum país
poderoso que não possua - vide o Eximbank, dos EUA, o KFW Bankengrouppe, da
Alemanha, o JBIC, do Japão - o seu próprio BNDES, ou que tenha alcançado a
posição que ocupa, no concerto das nações, sem um igualmente forte e poderoso
banco - estatal - de fomento e de desenvolvimento.
Se banco estatal fosse sinônimo de incompetência, as maiores
instituições do mundo não pertenceriam ao estado - verifiquem o ranking:
http://www.relbanks.com/ worlds-top-banks/assets , e os três maiores bancos do
planeta não seriam de um país comunista, a República Popular da China - e
a Caixa Econômica Federal não teria acabado de ultrapassar o Itaú esta semana,
passando a figurar, logo depois do Banco do Brasil, como a segunda maior
instituição bancária brasileira.
Por mais que se tente convencer os incautos do contrário,
bancos particulares visam, antes de mais nada, o lucro. Enquanto bancos públicos
visam - ou deveriam visar, sempre, se os deixassem trabalhar em paz - o
desenvolvimento de seus países, e crescem, principalmente no varejo, porque
fazem empréstimos de menor valor e menor risco, e portanto, mais democráticos -
a custos menores, para seus tomadores.
Mas uma vez, o Brasil do Dinheiro, dos grandes
comerciantes, agricultores, pecuaristas e fabricantes, e de seus filhos que
eventualmente entraram para a plutocracia graças à valorização das carreiras de
Estado propiciada pela visão estratégica e republicana de governos que
aprenderam a desprezar e odiar, apoiados pelo mesmo PMDB que está no poder
atualmente, precisam aprender a viver com - e a respeitar - o Brasil do Futuro:
o Brasil dos interesses estratégicos e perenes da Pátria e do povo brasileiros;
o Brasil das grandes hidrelétricas; das gigantescas plataformas de petróleo;
dos caças supersônicos; dos submarinos convencionais e atômicos; das bases de
submergíveis; das rodovias de alta velocidade; das ferrovias, como a
norte-sul, que já une Anápolis, em Goiás, a Itaqui, no Maranhão; das
hidrovias; dos cargueiros aéreos militares; de aceleradores de partículas, como
o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron; a maior parte, obras que
foram realizadas nos últimos anos, com apoio do partido que está
agora no governo - lembramos mais uma vez - e o financiamento do próprio BNDES.
O Brasil do Futuro, dos blindados, dos mísseis de saturação,
dos novos rifles de assalto que disparam 600 tiros por minuto, da
terceira maior usina hidrelétrica do mundo - que recentemente começou a operar
na Amazônia - não pode nem deve depender de bancos privados - cujo objetivo
primordial é o lucro e não o fortalecimento da pátria - para financiar esse
tipo de projeto.
Projetos estratégicos - que podem eventualmente, até atrasar
e até aumentar de preço - como ocorre em outros países - têm que ser vistos
como etapas necessárias, mesmo que nem sempre bem sucedidas - do processo de
fortalecimento nacional.
Ou quanto a plutocracia brasileira acha que foi jogado
“fora” em dinheiro pelos Estados Unidos, com financiamento público, em
tentativas fracassadas, até que eles conseguissem chegar à Lua, ou desenvolver
armas atômicas, ou sua primeira frota de submarinos ou de bombardeiros
estratégicos, ou o computador e a internet?
E no financiamento do New Deal, um projeto, antes de mais
nada, social, que tirou os EUA da Grande Depressão, em que estava mergulhado
desde o início da década de 1930?
Ou alguém ainda acha que os EUA vão destruir, algum
dia, suas principais empresas - todas ligadas ao esforço de defesa
e com o complexo industrial-militar - e interromper seu projeto de hegemonia,
por causa de conversa fiada de falsos fiscalistas e monetaristas,
pseudo-escândalos de corrupção, ou contos da Carochinha como o da Operação Mãos
Limpas - cujo êxito está sendo historicamente desmentido por outra operação,
que investiga o escândalo da Mafia Capitale, de 10 bilhões de euros, na
Itália?
Os militares da reserva, os industriais e os empresários
brasileiros, os trabalhadores, os milhares de empreendedores que possuem um
Cartão BNDES, e que sabem muitíssimo bem a diferença das taxas de financiamento
cobradas por esse banco e aquelas da banca privada - e os próprios funcionários
da instituição e das empresas em que ela possui participação - precisam
mobilizar-se para fazer ampla campanha em defesa do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social, começando com um manifesto-slogan, com o
tema de "não toquem no BNDES".
O Brasil não pode permitir que o desmonte dos pilares
estratégicos que sustentam e podem fazer avançar o projeto de desenvolvimento
nacional, comece logo por nosso maior banco de fomento, sem o qual não teríamos
nos projetado para a nossa área de influência - a África e a América Latina - e
ainda estaríamos relegados a ser um país apenas, e eminentemente, agrícola e
servil.
Querem - e nossos concorrentes estrangeiros iriam vibrar se
isso ocorresse - afundar o porta-aviões da economia brasileira.
E cabe aos setores mais responsáveis e organizados da
sociedade civil, em nome também de nossos filhos e netos, se organizar e lutar,
para evitar que isso ocorra.
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