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Independência Sul Americana, 15/06/16
Temer neoliberal incomoda os militares
Por Cesar Fonseca Ubiramar Lopes
O
grande gargalo do governo Temer, se ele continuar, o que é uma
incógnita, é sua relação com as forças armadas. O motivo é simples. A taxa de insegurança social aumenta com o neoliberalismo econômico temerista e lança dúvidas sobre a estabilidade política.
Os militares desenvolveram, ao longo dos
últimos treze anos de Era Petista, nacionalista, outro conceito de
segurança social, que não se compatibiliza com a política neoliberal. Trata-se de perceber a segurança como
produto do desenvolvimento econômico equilibrado, em que sejam
constantes e seguros investimentos em educação, saúde, meio ambiente,
emprego, fortalecimento do mercado interno, como produto de opção
desenvolvimentista, nacionalista.
Isto está claro no Programa Nacional de
Defesa (2005), na Estratégia de Defesa Nacional (2007) e na Doutrina
Militar de Defesa Nacional (2008), aprovados no Congresso Nacional e
constantes, desde então, no ordenamento jurídico brasileiro.
Essa nova concepção de segurança se
baseia nos estudos desenvolvidos pela Escola de Copenhague, por meio da
qual novos conceitos de desenvolvimento foram formulados pelos europeus,
no pós guerra fria. Por meio dela, combina-se segurança
nacional com desenvolvimento econômico em que a sociedade tenha diante
de si ofertadas educação, saúde, emprego, renda, consumo adequados às
suas exigências de dignidade humana e social.
Ou seja, os militares, com seus três
projetos, aprovados nos governos Lula e Dilma, não entendem mais a
segurança pública e nacional como produto de prioridade conferida à
força policial. Muito pelo contrário. A força policial, em si, é vista como
produto da insegurança social, da insuficiência dos fatores econômicos e
políticos capazes de atender demandas comunitárias.
A segurança social, nesse sentido,
representaria integração cívico-militar em favor de projeto nacional
desenvolvimentista, a partir da industrialização focada na indústria de
defesa, visando, sobretudo, o território nacional, em especial, a
Amazônia, fonte de cobiça internacional.
No desenvolvimento desta, desenrola-se
processo tecnológico e científico apoiado na cibernética, na produção
nuclear e atômica, especialmente, nos submarinos de defesa.
O foco na indústria de defesa nacional –
e continental, sul-americana, dado que, para os militares, a América do
Sul é extensão do território nacional a ser preservado pela integração
econômica do continente – é a prioridade, entendida ela como alavanca
do desenvolvimento científico e tecnológico a espraiar-se pelo restante
das atividades produtivas.
Assim, haveria expansão da indústria
nacional de patentes, desenvolvimento da inteligência, que requer, por
sua vez, prioridade à educação e à saúde, a reclamarem grandes
investimentos, isto é, algo que se interage para formação de consciência
cívico-militar, como destacou o comandante do Exército, general Eduardo
Villas Boas, no Dia do Exército, 19 de maio, em palestra aos estudantes
do CEUB.
Os projetos de segurança nacional são,
ao mesmo tempo, âncoras do desenvolvimento com viés, amplamente,
nacionalista, visto que sua prioridade é o fortalecimento de uma
geopolítica brasileira que confere ao Brasil posição independente no
mundo globalizado.
Certamente, os Estados Unidos são os
principais adversários dessa geopolítica nacionalista que o Congresso
aprovou, razão pela qual os militares são profundamente gratos aos
governos petistas e, inversamente, encontram-se profundamente
desconfiados do governo interino Temer, cuja prioridade é alinhar-se à geopolítica norte-americana.
Os americanos, como se sabem, negam tudo
o que os militares nacionalistas brasileiros estão construindo em
favor da política de defesa, percebida como projeto da sociedade
consciente da necessidade de desenvolvimento nacionalista.
A prioridade de Temer pelo modelo
econômico neoliberal, focado, exclusivamente, em ajuste fiscal, que até o
FMI passou a criticar, lança profundas dúvidas no meio militar.
O neoliberalismo temerista, que:
1 – desconstitucionaliza conquistas sociais;
2 – destrói direitos trabalhistas;
3 – amplia desvinculação de verbas orçamentárias destinadas à educação e saúde, para pagar juros da dívida pública;
4 – tira dinheiro de banco de
desenvolvimento, como do BNDES, para ser esterilizado no caixa do
Tesouro, também, para pagar juros da dívida aos banqueiros;
5 – desloca recursos do Fundo de Amparo
ao Trabalhador(FAT), para o mesmo objetivo, ou seja, engordar os
sanguessugas que faturam desmesuradamente na taxa de juro especulativa,
enquanto é pregada austeridade contra os assalariados;
6 – amplia privatizações do setor de
petróleo, desnacionalizando o pré sal, para atender demandas das
petroleiras internacionais;
7 – esvazia a geopolítica brasileira de aproximação com os BRICs, para atender pressões de Washington;
8 – acaba com abono salarial, para fazer ajuste fiscal;
9 – amesquinha política social(Mais Médicos, Minha Casa Minha Vida, Bolsa Família, Farmácia Popular etc) e;
10 – põe em risco políticas promotoras
de diversidade cultural, ampliando participação e democratização dos
mais pobres, com acesso às universidades etc, e;
11 – Tenta afastar o Brasil dos
BRICs (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), como força
alternativa à geopolítica de Tio Sam, que se transformou, depois da
crise global de 2008, em favor de segurança internacional – ou
seja, tudo isso contribui, no entendimento da política de defesa
nacional, para aumentar a insegurança social e, consequentemente, a
instabilidade política.
O governo Temer, com seu carrossel de
medidas de austeridade neoliberal antipopular que acaba com poder de
compra dos trabalhadores, diminuindo renda disponível para o consumo,
deprimindo as forças produtivas, enquanto não se faz nada contra o
processo de sobreacumulação especulativa da renda nacional, para atender
reivindicações dos bancos, da Febraban, que tomou conta do Banco
Central, para fazer a política da agiotagem contra a sociedade etc, eis o
que apavora, no momento, os comandantes das forças armadas.
A austeridade neoliberal – para os
ricos, tudo, para os pobres, pau – acelera providências que aumentam
extraordinariamente a instabilidade social e a insegurança pública e
política.
Vai o jogo do ajuste fiscal austero,
bancocrático, na linha contrária propugnada pelos projetos nacionalistas
dos militares, como alternativa de desenvolvimento nacional
sustentável.
O golpe político em marcha,
mundialmente, condenado, tocado por forças antinacionais golpista, visa
sobretudo derrubar a caminhada desenvolvimentista nacionalista.
Por isso, o governo Temer, do ponto de
vista das Forças Armadas, vai se transformando, aceleradamente, em
grande fator de insegurança nacional.
Faz tempo que acredito na conversão do conceito de Segurança Nacional das Forças Armadas. São épocas diferentes as de hoje e as de 64, o Brasil é outro apesar do crescimento da direita fascista e de sua virulenta invasão no Brasil. As Forças Armadas compreenderam a importância do investimento nas áreas sociais e seu retorno ao desenvolvimento do País. Elas que outrora ficaram em posições opostas às do povo, hoje acredito que sejam nossas aliadas. Não se venderão ao Temer como outros setores, especialmente o da Justiça.
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