segunda-feira, 13 de junho de 2016

Gastronomia contra o golpe


http://operamundi.uol.com.br/conteudo/samuel/44403/gastronomia+contra+o+golpe+profissionais+da+area+repudiam+decisao+de+temer+de+cortar+verba+para+alimentacao+de+dilma.shtml


Gastronomia contra o golpe: profissionais da área repudiam decisão de Temer de cortar verba para alimentação de Dilma. 

Leia a nota na íntegra: 


'Gastronomia contra o golpe' 

Tem panela, coxinha, mortadela e, agora, até racionamento de comida à presidenta eleita. Não faltam ingredientes gastronômicos indigestos na desastrosa receita política do Brasil de hoje.

Nós, representantes da gastronomia brasileira, não podíamos assistir a esse cenário de ruptura da ordem constitucional democrática sem manifestar nossa profunda tristeza e indignação.

Representantes de um setor que gera seis milhões de empregos diretos em todo o país e que é a porta de entrada no mercado de trabalho para muitos brasileiros, sejam como estagiários, cumins ou garçons, até pesquisadores, jornalistas da cultura gastronômica, chefs, empresários do setor de alimentos e bebidas, restaurateurs, apaixonados pela gastronomia, que vivem dela ou por ela, vimos manifestar o nosso repúdio a essa ruptura por que passa hoje o Brasil. 

O governo é provisório, mas os traumas, permanentes. Nossa jovem democracia sofre um de seus mais duros golpes e exige de todos coerência e compromisso históricos. Uma presidente legitimamente eleita por 54,5 milhões de votos está afastada sob um pretexto ininteligível para a maioria dos mortais, as pedaladas fiscais.

Empréstimos contábeis que seus antecessores e dezenas de governadores cometeram e cometem, mas que só são crimes porque, para a presidente, a lei parece ter outro peso. Justiça com pesos diferentes não é Justiça, é vingança, é golpe. A maioria dos congressistas não faz ideia do que seja “pedalada fiscal” e recorre ao “conjunto da obra” para justificar o impeachment, como se fizesse parte de um júri de menu-degustação. Um pastelão que nos envergonha mundo afora. 

Ao arrepio da lei, sob o argumento falso-moralista de “crime de responsabilidade”, a presidente foi substituída por um vice ficha-suja e inelegível, cuja postura é completamente incompatível com a que se espera de um companheiro de chapa, e por um ministério (em sua totalidade, formado por homens e brancos, um retrocesso que não se via desde o governo Geisel), cuja idoneidade não resiste a uma simples pesquisa no Google. Assistimos, atônitos, ao BBB do governo interino, com uma queda por semana. 

O ato de cortar a comida de uma chefe de Estado, sua família e equipe nos sensibilizou não só por ser mesquinho, mas por ser medíocre. Um dos inegáveis méritos da gestão Lula-Dilma foi o de promover a ascensão social. Segundo a própria ONU, Lula e Dilma tiraram o Brasil do mapa da fome, dando dignidade mínima a 36 milhões de brasileiros. E foi justamente a essa chefe de Estado, gestora do Fome Zero, que o presidente interino negou comida, num gesto totalitário, anticonstitucional e incompatível com o de um vice de um projeto vitorioso nas urnas. 

Trata-se bem mais do que cortar a comida e direitos legítimos de uma presidente eleita, trata-se de simbolicamente relegar à indigência a democracia e a inteligência no Brasil. A indignação inspirou esse movimento de “alimentar a democracia”. A gastronomia, que nutre, agrega, reúne famílias, amigos e até inimigos em torno de uma mesa, que é capaz de promover a paz, também se une em defesa da democracia. 

Este é um manifesto apartidário, assinado por fãs de coxinha e de mortadela, de Cuba e de mojitos, de café, fé e wi-fi, do boteco-pé-sujo ao restaurante 3 estrelas, do vermelho (símbolo da Revolução Francesa e de tudo o que ela inspira até hoje) e do verde-e-amarelo, petistas e não petistas, eleitores de Dilma Rousseff ou não, eleitores com graves críticas ao governo da presidente, mas que sabem que impeachment não é solução, é consequência. Em comum: somos contrários ao ódio de classe, à intolerância e à histeria coletiva que tomou conta do país, temos amor ao Brasil e a convicção de que democracia só se cura com mais democracia.

Assinam:
1. Adalberto Ribeiro –Sócio da Grill Burger de Bragança (PA); 2. Airton Eré – Bartender da Malabar Drinks Artísticos (Florianópolis, SC); 3. Alexandre Bussab – Sócio do Raiz Forte Bar e Eventos (RJ); 4. Aline Lockmann de Azevedo Gomes – Jornalista (SP); 5. Ana Rojas – ¬ Jornalista de gastronomia (Brasil/Reino Unido); 6. Ana Candida Ferraz – Chef de sala (SP); 7. Analice Souza – Socióloga e chefe de bar do Oliver Art Bar (Belo Horizonte, MG); 8. Annete Alves – Barista (Buenos Aires, Argentina); 9. Bel Coelho – Chef de cozinha do Clandestino (SP); 10. Bianca Barbosa – Chef (RJ); 11. Caio Zakia – Cozinheiro (SP); 12. Carmem Virginia – Chef-proprietário do Altar Cozinha Ancestral (SP); 13. Carolina Ronconi – Fundadora do blog Meninas no Boteco (SP); 14. Caroline de Azevedo – Cozinheira (SP); 15. Cilmara Bedaque – Jornalista do blog Lupulinas (SP); 16. Danilo Lodi – Barista, torrador de café e juiz internacional (SP); 17. Dora Gil – Gerente de restaurante (SP); 18. Edson Pivoto – Gerente de restaurante (SP); 19. Elia Schramm – Chef (RJ); 20. Eliza D. Teixeira – chef e pesquisadora (Brasil/EUA); 21. Fel Mendes – Jornalista da revista Rabo de Galo e incubador da abelha (SP); 22. Felipe Jannuzzin – Idealizador do Mapa da Cachaça (SP); 23. Flávia Pogliani – Barista (SP); 24. Gabriel Cavalcante – Cantor e gourmet (RJ); 25. Gabriel Torres – Barista do Por um Punhado de Dólares (SP); 26. Gabriella Kerber – Chef de cozinha (SP); 27. Giovanni Assante – Proprietário das massas Gerardo di Nolla (Nápoles, Itália); 28. Guga Rocha – Chef e apresentador de TV (Brasil/Canadá); 29. Gisele Coutinho – Barista do Pura Caffeina (SP); 30. Guilherme Schwinn – Chef e sommelier (SC); 31. Hanny Guimarães – Especialista em chás (SP); 32. Izabela Tavares –Padeira (SP); 33. João Grinspum Ferraz – Historiador, cientista político e proprietário da Casa do Carbonara (SP); 34. Juliana Gelbaum – Barista do Por um Punhado de Dólares (SP); 35. Kátia Barbosa – Chef (RJ) 36. Lais Duo – Chef de cozinha (SP); 37. Luciana Berry – Chef (Brasil/Reino Unido); 38. Luciana Bianchi – Jornalista de gastronomia e chef (Reino Unido/Brasil); 39. Luciano Salomão – Barista e mestre de torra de café (SP); 40. Maira Marques – Bartender (Fortaleza, CE); 41. Marcelo Cury – Médico e jornalista de gastronomia (SP); 42. Marco de la Roche – Mixologista, editor do Mixology News e da revista Rabo de Galo (SP); 43. Marcos Tomsic – Barista do Por um Punhado de Dólares (SP); 44. Marilia Zylbersztajn – Confeiteira (SP); 45. Pedro Marques – Jornalista e pesquisador de gastronomia (SP); 46. Priscila Sabará – Criadora do FoodPass (SP); 47. Rafael Mariachi – Mixologista (SP); 48. Raphael Criscuolo – Fotógrafo (SP); 49. Ricardo Pieralini – Jornalista (SP); 50. Roberta Malta – Jornalista (SP); 51. Roberto Hundertmark – Chef de cozinha (Belém - PA); 52. Robinho Bernardo – Barista do Por um Punhado de Dólares (SP); 53. Rodolfo Bob – Gastrônomo e mixologista diretor de OBarVirtual (SP); 54. Sérgio Crusco – Jornalista gastronômico (SP); 55. Sheila Grecco – Jornalista, historiadora, RP na área gastronômica (SP); 56. Tabata Magarão – Sócia do Raiz Forte Bar e Eventos (RJ); 57. Tainá Hernandes – Confeiteira (SP); 58. Thiago Ceccotti – Bartender e consultor de bar da Ducktails (Belo Horizonte, MG); 59. Thiago dos Santos – Bartender e idealizador da Samba Nego (SP); 60. Thiago Flores – Chef do Circo Voador (RJ); 61. Thiago Rosas – Restaurateur (PA); 62. Thiago Tavares – Empreendedor e cachacier (SP); 63. Thianny Estevam – Bartender do Zazá Bistrot (RJ); 64. Tony Harion – Diretor da Mixing Bar (SP); 65. Túlio Silva – Jornalista gastronômico do PenseComida (SP); 66. Victor Camerlingo – Barista do Por um Punhado de Dólares (SP)

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