terça-feira, 2 de junho de 2015

Uma história exemplar de interferências de caráter político sobre o trabalho policial

 2 de junho de 2015


Um caso exemplar

 
Por Paulo Moreira Leite
 

 
 
 
A investigação da Polícia Federal que levou a uma operação de busca e apreensão na residência de Carolina Oliveira, mulher do governador Fernando Pimentel, de Minas Gerais, é uma história exemplar de interferências externas, de caráter político, sobre o trabalho policial.

Em 7 de outubro de 2014, logo após a vitória espetacular de Fernando Pimentel — em primeiro turno — na disputa pelo governo de Minas Gerais, quando derrotou o longo reinado do PSDB de Aécio Neves, duas denúncias anônimas chegaram à Polícia Federal em Brasília. Uma através do Ministério Público. A outra, através da própria polícia.

As duas traziam a mesma informação. Falavam sobre a chegada de um avião turbo-hélice — identificado apenas pelo prefixo — com pouso previsto para o fim da tarde no Aeroporto JK, em Brasília. Denúncias dessa natureza são comuns e o anonimato é um recurso típico de quem deseja passar uma informação importante mas não quer ser identificado. O fato incomum é que a mesma informação fora transmitida ao MP e à PF, ao mesmo tempo. Esse cuidado extremo indicava que não se tratava de uma ação banal.

Não era mesmo. Como o país inteiro ficaria sabendo naquela mesma noite, havia uma câmara da TV Globo no aeroporto, pronta para gravar uma cena que seria exibida em sequência dramática nos telejornais, um pouco mais tarde. Foi possível mostrar a chegada de uma perua negra com letras douradas da Polícia Federal ao hangar indicado. Também foi possível mostrar a hora que seu ocupante, o empresário Benedito Rodrigues de Oliveira Neto, e outros dois acompanhantes saíam do avião. Todos foram revistados pela polícia, que encontrou R$ 116 000,00 em seus bolsos.

Não foi só. A Folha de S. Paulo também exibiu uma fotografia tirada em Belo Horizonte, no momento em que o próprio Benedito sobe a escada antes da decolagem. “Foto obtida pela Folha”, diz a legenda, para sublinhar que era material de terceiros. (Esta é a imagem que ilustra esta nota).

Só não dá para imaginar que fosse da própria PF”, disse um policial ao 247, antes de ironizar: “nossos fotógrafos não são capazes de fazer imagens tão boas.”

Toda complicação do caso reside aí — a influência de terceiros muito especiais. Sem esse fator, dificilmente teria ocorrido uma operação de busca e apreensão na casa de Carolina, sexta-feira passada, imóvel residencial, que hoje é ocupado por sua mãe.

Conforme a polícia, o nome de Carolina Oliveira, mulher de Pimentel apareceu por acaso. Dias depois da operação no aeroporto, os policiais foram atrás dos endereços do empresário apreendido com R$ 116 000,00 e receberam, na portaria do edifício de um deles, uma informação errada. A de que o local indicado não era usado por Benedito, mas pela empresa Oli, pessoa jurídica até então desconhecida.
Na verdade, a Oli deixara o lugar meses antes, o que seria comprovado pelos registros de cartório. Mesmo assim, os policiais foram atrás dos dados da empresa, descobrindo que pertencia a Carolina.

Pelos registros do celular de Benedito — apreendido no aeroporto — foi possível saber que os dois mantinham conversas com frequência. Ambos frequentaram o mesmo círculo de amizade. Carolina é amiga da namorada do empresário e os dois casais chegaram a fazer viagens juntos. Além disso, Benedito tem uma gráfica que prestou serviços ao PT na campanha de Minas Gerais — ainda que nenhum trabalho possa ser vinculado diretamente à campanha de Pimentel.

A operação de busca e apreensão foi um erro, pois não tinha base nenhuma,” afirma o advogado Pier Paolo Bottini, que representa Carolina. “Exigimos que o material seja devolvido.”

Você não precisa acreditar na inocência nem na culpa de ninguém neste caso, ainda que o bom Direito ensine que toda

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