Carta Maior, 28/02/2015
A encruzilhada do Brasil que poderíamos ser
Por Saul Leblon
A via ortodoxa escolhida pelo governo para viabilizar o quarto mandato presidencial do PT está implantada e o paradoxo começa a dar frutos.
São ácidos.
O desemprego saltou de 4,3% em dezembro para 5,3% em janeiro; o governo acaba de anunciar um corte de 23,7% do orçamento do PAC e o BC deve aumentar a taxa de juro na próxima 4ª feira, para 12,75%.
Significa dizer que o ciclo econômico ajustou-se ao ciclo político.
Ao cerco conservador que antecedeu o período pré-eleitoral, e somente ali foi afrontado, sobrepõe-se agora uma asfixia econômica, que cada vez mais será percebida pela população como um torniquete que se ajusta diariamente.
Estamos só no começo da primeira volta.
A emissão conservadora ostenta uma coerência editorial de cabo a rabo. Não há mais dissonância entre o salvacionismo antipetista do noticiário político e os resultados registrados nas páginas de economia.
A recessão vai engrossar as fileiras do neoudenismo - se não no aventado dia 15 de março, um pouco mais adiante.
Não há pressa. O tempo age a favor da turma que recentemente uivou contra o ex-ministro Guido Mantega, e sua esposa, no Hospital Albert Einstein, em São Paulo.
Ali ficamos definitivamente cientes de que ‘SUS’ para a fina estampa da elite paulista é o sinônimo de um palavrão.
O governo assiste a tudo com notável desdém pela própria cabeça.
A hora de Brasília não define mais a hora do Brasil.
A abertura e o fechamento dos mercados agendam a sociedade e não há contraditório.
A democracia não fala.
O ministro Joaquim Levy fala por ela.
Diariamente, oferece libras de carne fresca às tesourarias que no final do expediente dão a nota seca para o cardápio da jornada e deixam orientações para o desjejum da manhã seguinte.
É uma conversa de brancos de olhos azuis.
À Nação mestiça ninguém se dirige; tampouco lhe é facultado dizer o que pensa sobre o seu futuro.
Ilhadas na inundação das más notícias, sem comunicação com o governo, forças progressistas lançam manifestos desesperados em garrafas que nunca ultrapassam o espelho d’água do Planalto.
O aparato conservador não disfarça a sulfurosa agitação, nem camufla mais suas bandeiras no fundo do armário.
Serra fareja o clima e hasteia no peito a mais reluzente de todas.
O tucano quer fatiar e vender a Petrobras.
Sinal dos tempos: agora explicita aquilo que sempre teve o cuidado de ocultar.
Seu projeto resgata o plano sedimentado no governo FHC.
Trata-se de criar uma situação de fato.
Qual?
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