Blog do Santayana, 13 de fevereiro de 2015
As últimas da boataria
Por Mauro Santayana
Ao mesmo tempo em que aperta a estratégia de convocação de manifestações contra o governo, a direita se esmera em soltar, com a regularidade de quem serve, todos os dias, de seu próprio forno, o "pão" que o diabo amassou, novos factoides destinados a confundir e assustar a opinião pública.
Mensagens na internet espalham a tese de que o ex-presidente Lula - já acusado de ser dono da Friboi e de outros negócios milionários - teria recebido bilhões em comissões de empréstimos concedidos a grandes empresas pelo BNDES, e torpedos enviados em massa pelo What's Up aconselham os incautos a retirarem o dinheiro de suas contas de poupança na Caixa Econômica Federal, porque o governo estaria preparando-se para confiscar os depósitos a partir do mês que vem.
Enquanto isso, a "situação", como nos últimos 12 anos, faz cara de que não é com ela. E a tão decantada militância do principal partido da base aliada prima pela ausência nas redes sociais e nos principais portais, como se de repente tivesse sido transportada para a época do telégrafo e da máquina a vapor.
Blog do Santayana, 18 de fevereiro de 2015
De confiscos e de impeachments
Por Mauro Santayana
Anteontem, cerca de 200 pessoas se reuniram na Avenida Paulista, para pedir uma "intervenção" militar, com a derrubada do governo. No Whatsapp convocam-se brasileiros para saírem às ruas pelo impeachment da Presidenta da República; para que não se abasteça em postos da Petrobras - as multinacionais penhoradamente agradecem - e alerta-se a população para que retire seu dinheiro da CEF, porque o governo vai confiscar o que estiver depositado nas contas de poupança da instituição, que teve um crescimento de mais de 22% em sua carteira de crédito, 7 bilhões de reais em lucro e uma inadimplência de apenas 2.56% em 2014.
É preciso lembrar que, caso Dilma saia, será o PMDB que continuará a governar o país. O poder não será entregue aos anti-petistas mais radicais ou aos militares como - dentro e fora da internet - defendem alguns.
Seria o PMDB, e não a oposição, que conduziria uma eventual (cada vez mais distante) reforma política. E ele provavelmente lançaria candidato próprio daqui em 2018.
Além disso, na remotíssima possibilidade de que fosse aprovado o impeachment da Presidente da República, ele só atingiria a a prória Presidente, e não o PT, como partido.
Nesse caso, alguém acredita que Lula deixaria de se lançar Presidente, contando com uma militância muitíssimo mais aguerrida pela promulgação - para todos os que votaram em Dilma e no PT- do que seria encarado como um golpe branco?
A oposição - principalmente a mais preparada - precisa, até mesmo em benefício da democracia, e da sua própria sobrevivência política, construir um projeto alternativo para o país que vá além da permanente criminalização do Partido dos Trabalhadores.
Primeiro, porque - como se vê por escândalos de outras agremiações políticas, incluído o da Petrobras - sempre sobra um estilhaço para quem joga pedra nos outros e tem telhado de vidro.
Em segundo lugar, porque a bateria de ataques, constantes, repetitivos, contundentes, que está ocorrendo, a cada dia, a cada hora, sem descanso, pode, pelo exagero, acabar levando a maioria da população a identificar, neles, apenas mais uma espécie de conspiração contra o governo, fazendo com que a popularidade do Palácio do Planalto termine por se recuperar, mais tarde, como ocorreu em outras ocasiões em que a destruição do PT era tida como certa, como nas manifestações de 2013, e no massacre institucional do "mensalão".
E, finalmente, porque se enganam aqueles que acham que a direita vai reservar lugar, no seu bonde, para eles.
A direita é, por natureza, radical, impiedosa e excludente.
Quando ela - ou melhor, o seu extremo - se organizar institucionalmente, seu discurso será claramente fascista, inequívoco, e antidemocrático, o que poderá dificultar certas alianças.
E ela terá seu próprio projeto, partido e candidato - convenientemente engordados pelo discurso anticomunista e "anti-bolivariano" de agora - para entrar na disputa.
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