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Jornal GGN, 15/12/2014
Xuxa, Jô e o fim das lealdades televisivas
Por Luis Nassif
Ao lado de Arnaldo Jabor, Jô Soares foi a primeira celebridade
televisiva a explorar o sentimento de preconceito da classe média alta
contra a democracia social que avançava.
Narro isso em minha série "O caso de Veja", de 2008.
De repente, em seu programa Jô critica o ridículo de se tratar qualquer avanço social como "boliviarismo", refere-se de forma simpática a Fidel Castro e ao próprio Evo Morales. Na sequência, a Globo anuncia o fim do público e do conjunto musical em seu programa, como parte de uma estratégia de controle de custos.
Imediatamente, na blogosfera, Jô torna-se um herói da resistência e a redução do seu programa é atribuído a represálias da Globo.
Volte-se a cena e recomece-se na ordem correta:
Há alguns meses, a Globo enviou uma comitiva para percorrer os
principais grupos de mídia do mundo e definir uma estratégia para ela.
As recomendações foram na linha da redução drástica de custos, para
enfrentar os novos tempos.
Até então, o enorme poder de monopólio da Globo permitia-lhe pagar um cast de artistas não aproveitados, apenas para impedir que fossem para a concorrência. Do mesmo modo, comprava campeonatos esportivos que não transmitia como filmes que não passava.
Esse mundo acabou. Ontem, foi anunciado o final do contrato com Xuxa. Outros destratos se seguirão. Jornais e revistas passaram a abrir mão de seu elenco de jornalistas, substituindo-os por uma infinidade de colunistas ou de jovens repórteres.
Historicamente, o maior investimento dos grupos de mídia era no seu cast. A imagem de atores, jornalistas, colunistas, cantores, era construída como celebridade. Seu perfil não era de mortais comuns. Habitavam um Olimpo e de vez em quando desciam à terra para palestras e confraternizações rápidas com os humanos.
É verdade que, de manhã, tinham que pagar as contas, brigar com os vizinhos, encrencar com as sogras como qualquer humano. Mas o modelo era suficientemente restrito para ser seletivo: poucos deuses jornalistas, poucos deuses atores.
De repente, chega a Internet não apenas colocando em xeque a fórmula financeira dos grupos de mídia, mas explodindo com seu universo de celebridades. Redes sociais, blogs dos mais variados, passam a construir seu próprio Olimpo, banalizando o modelo, que sempre foi peça chave do alcance e da influência dos grupos de mídia.
Décadas de investimento em colunistas, correspondentes, atores, celebridades estão sendo jogadas fora devido ao esgotamento financeiro do modelo tradicional de mídia.
Alguns jornalistas estão indo para a Internet, seguindo o caminho dos pioneiros. Outros, buscando as assessorias de imprensa - algumas delas com muito mais jornalistas do que as maiores redações.
Dia desses houve uma bela cerimônia de premiação de jornalistas que reuniu várias gerações, dos anos 70 até os dias de hoje.
Tinha todo o ar de último baile da Ilha Fiscal. Alguns dos premiados ousaram gritos de guerra contra as ameaças à liberdade de imprensa.
Deve ter sido um dos últimos episódios de solidariedade entre jornalistas e empresas.
Narro isso em minha série "O caso de Veja", de 2008.
De repente, em seu programa Jô critica o ridículo de se tratar qualquer avanço social como "boliviarismo", refere-se de forma simpática a Fidel Castro e ao próprio Evo Morales. Na sequência, a Globo anuncia o fim do público e do conjunto musical em seu programa, como parte de uma estratégia de controle de custos.
Imediatamente, na blogosfera, Jô torna-se um herói da resistência e a redução do seu programa é atribuído a represálias da Globo.
Volte-se a cena e recomece-se na ordem correta:
1. A Globo decide reduzir os custos do programa de Jô e comunica a ele.
2. Jô rebela-se e, no seu próprio programa, emite opiniões contrárias ao padrão Globo.
3. A notícia torna-se pública.
Até então, o enorme poder de monopólio da Globo permitia-lhe pagar um cast de artistas não aproveitados, apenas para impedir que fossem para a concorrência. Do mesmo modo, comprava campeonatos esportivos que não transmitia como filmes que não passava.
Esse mundo acabou. Ontem, foi anunciado o final do contrato com Xuxa. Outros destratos se seguirão. Jornais e revistas passaram a abrir mão de seu elenco de jornalistas, substituindo-os por uma infinidade de colunistas ou de jovens repórteres.
Historicamente, o maior investimento dos grupos de mídia era no seu cast. A imagem de atores, jornalistas, colunistas, cantores, era construída como celebridade. Seu perfil não era de mortais comuns. Habitavam um Olimpo e de vez em quando desciam à terra para palestras e confraternizações rápidas com os humanos.
É verdade que, de manhã, tinham que pagar as contas, brigar com os vizinhos, encrencar com as sogras como qualquer humano. Mas o modelo era suficientemente restrito para ser seletivo: poucos deuses jornalistas, poucos deuses atores.
De repente, chega a Internet não apenas colocando em xeque a fórmula financeira dos grupos de mídia, mas explodindo com seu universo de celebridades. Redes sociais, blogs dos mais variados, passam a construir seu próprio Olimpo, banalizando o modelo, que sempre foi peça chave do alcance e da influência dos grupos de mídia.
Décadas de investimento em colunistas, correspondentes, atores, celebridades estão sendo jogadas fora devido ao esgotamento financeiro do modelo tradicional de mídia.
Alguns jornalistas estão indo para a Internet, seguindo o caminho dos pioneiros. Outros, buscando as assessorias de imprensa - algumas delas com muito mais jornalistas do que as maiores redações.
Dia desses houve uma bela cerimônia de premiação de jornalistas que reuniu várias gerações, dos anos 70 até os dias de hoje.
Tinha todo o ar de último baile da Ilha Fiscal. Alguns dos premiados ousaram gritos de guerra contra as ameaças à liberdade de imprensa.
Deve ter sido um dos últimos episódios de solidariedade entre jornalistas e empresas.
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