terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Lava Jato: Que os interesses nacionais sejam respeitados

 


https://petroleiroanistiado.wordpress.com/2015/01/30/petrobras-sair-da-crise-com-forcas-revitalizadas/




Petroleiro Anistiado, 30/01/2015



Sair da crise com forças revitalizadas



Haroldo Lima




Foi muito positivo a Petrobras ter encerrado o ano de 2014 com dois feitos retumbantes: no dia 16 de dezembro, na província do pré-sal, chegou a extrair 700 mil bep, um recorde e, cinco dias depois, em 21 de dezembro, outro recorde, o da produção diária de 2,3 milhões de bep. A grande estatal mostrava, pela ação de seus 80 mil petroleiros, que não se deixou alquebrar pela sanha das quadrilhas que a saqueavam.
O desmonte do esquema corrupto que operava na Petrobras deve ser completo, identificando responsáveis e punindo, de forma exemplar, os que agiam dentro da Petrobras e fora dela, nas 23 empresas apontadas como vinculadas ao esquema. Segundo um dos delatores, o esquema desbaratado funcionava há quinze anos, por isso que tem de ser vasculhado em profundidade.
No ambiente embaçado que nessas horas se forma, correntes procuram aproveitar a oportunidade para agitar bandeiras enfraquecedoras da Petrobras, como o fim da partilha da produção no pré-sal e, “se couber”, a própria privatização da companhia. São posições que nada têm a ver com a crise atual e tocam em pontos que devem permanecer inalterados na estatal.
Contudo, quadrilhas se estruturaram na Petrobras e seguramente criaram hábitos, costumes e conceitos a serviço do saque, que funcionaram, “dentro das normas”, anos a fio, sem despertar suspeita. É provável que tenha sido criada uma “legalidade da fraude”, nas entranhas da empresa. A governança revelou-se permeável à corrupção e por isso deve ser submetida à mais rigorosa devassa. A Petrobras, as estatais brasileiras e todo o esquema oficial que contrata o setor privado podem sair dessa crise devidamente revitalizados e mais preparados para cumprir suas atribuições. Os recordes apontados acima mostram que a Petrobras, livrando-se das quadrilhas de falsários, pode dar monumental volta por cima.
O processo de investigar crimes, punir culpados e impermeabilizar estruturas vulneráveis ao furto correspondem ao interesse nacional, pois que a Nação precisa de empresas fortes e saudáveis, públicas e privadas, para se desenvolver.
No momento, organismos jurídicos e políticos discutem procedimentos aplicáveis à situação. Dependendo do que for feito, resultados diferentes ocorreriam. Isto nos permite examinar cenários díspares que podem advir de caminhos legais em debate.
Um cenário é o das 23 grandes empresas brasileiras, citadas na fase investigatória, serem declaradas “inidôneas” e, por força de legislação existente, ficarem impossibilitadas de firmar contratos com o poder público. Aí, de uma só tacada, todas, ou quase todas as grandes empresas brasileiras de construção pesada ficariam fora das grandes obras a serem feitas no Brasil, praticamente todas contratadas pelo poder público. Em consequência, essas grandes obras brasileiras seriam “entregues” às empresas estrangeiras do ramo, enquanto as brasileiras, mesmo com o prestígio internacional que têm, caminhariam para o cadafalso. A desindustrialização precoce da economia brasileira cresceria e com ela sua desnacionalização.
Nesse cenário, a batalha contra a corrupção na Petrobras, mesmo que exitosa, teria dado um fruto desastroso – o fim da indústria nacional de construção pesada, ou sua transformação em um grupo de importância residual.
Apesar de frequentemente essas grandes empreiteiras abusarem do poder que têm no Brasil, sua liquidação seria um prejuízo para o país. Nisso ficamos de pleno acordo com a posição expressa da presidenta Dilma. Seria uma “ingênua” forma de combate à corrupção, que não levaria em conta as repercussões para a NaçãoVeríamos, constrangidos, o entusiasmo das empresas estrangeiras assumindo sozinhas nossos maiores projetos. Passaríamos a impressão de termos concluído que, pelo menos na construção pesada, os empresários brasileiros são corruptos, e os estrangeiros, vestais impolutos.
O outro cenário partiria da convicção de que país algum se desenvolveu sem contar com indústrias nacionais sólidas e reafirmaria a disposição de não abrir mão do desenvolvimento como objetivo maior da nossa política. Repudiaria, como balela, a ideia de que a Petrobras foi envolvida em corrupção por ser estatal, como se, há pouco, fraudes monumentais não tivessem posto abaixo a gigante americana de energia, a Enron, que não era estatal, e que faliu em meio a escândalos, numerosos e graves, que levaram de roldão outras tantas companhias. Defenderia, finalmente, que a punição em pauta deve ser rigorosa com diretores e funcionários corruptos, da estatal e das empresas privadas onde agiam, mas não poderia sacrificar as forças produtivas empresariais, seu acúmulo, sua tecnologia e sua força de trabalho.
A devastação a que se chegaria no primeiro cenário, lembra-nos as palavras do oficial norte-americano William Haley, após a destruição da aldeia My Lai no Vietnam: “foi necessário destruí-la para salvá-la”. A situação a que se chegaria no segundo cenário recorda-nos o adágio chinês que diz ser “necessário tratar a doença para salvar o doente”.
O esquema corrupto que vai sendo desmascarado mostrou tentáculos, ainda a serem comprovados, com diretores de empresas, funcionários graduados, políticos. Delegados, promotores e juízes têm dado as cartas até aqui. Quando interesses nacionais começam a ser tocados, é hora de entrar em ação outras esferas de Poder, para encontrar as fórmulas que garantam.


Haroldo Lima – é consultor na área de petróleo e foi diretor-geral da Agência


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http://tijolaco.com.br/blog/?p=24440



Tijolaço, 29/01/2015



A esquerda não controla o processo político. Deve, por isso, cuidar do que põe em marcha



Por Fernando Brito


No governo Fernando Henrique – e em todos os governos conservadores, exceto o de Collor, que serviu para barrar a esquerda, iniciar a privatização e, em seguida, foi defenestrado – o controle da política se fez não por uma amordaçamento direto da mídia, mas pela política do próprio sistema de comunicação, assim como fazia o Procurador-Geral Geraldo Brindeiro, “engavetar”, logo depois que estouravam, os escândalos políticos.
Sivam, Pasta Rosa, negociatas na privatização, compra de votos para a reeleição e uma montoeira de outras “bombas atômicas” foram, em prazo mais ou menos curto, desarmadas e relegadas ao armário dos guardados, depois de uma, outra ou meia-dúzia de matérias, muitas delas boas reportagens, admita-se.
Mas num governo do campo popular  (e por isso um inimigo para a mídia e para boa parte da elite judicial e parajudicial – ou alguém duvida que estes segmentos, privilegiados em meio à nossa pobreza, tendam ao conservadorismo?) tudo é diferente.
Vêem-se eles, pois, numa encruzilhada: para agir de forma “republicana” e honrada, muitas vezes partem a expor suas próprias entranhas – e alguém já falou sobre política e a fabricação de salsichas – fornecem elas próprias a matéria prima para as explorações e campanhas midiáticas, que amplificam os atos criminosos (ou mesmo outros, simplesmente equivocados) de dirigentes públicos no “mar de lama” que fizeram contra Getúlio Vargas.
A honestidade da Presidenta Dilma Rousseff e de Graça Foster, da Petrobras, além de não ser objetivamente atingida por nada que se tenha apurado só podem ser ratificada por suas decisões, sobretudo a de afastar  da empresa, desde 2012, Paulo Roberto Costa, o ladrão confesso.
Mas incorrem em amadorismos políticos que só agravam a “onda” de que seus adversários políticos fazem, não apenas por objetivos políticos mas, também, contra a nossa maior empresa, alavanca do desenvolvimento brasileiro e marco de nossa soberania.
A produção de um relatório de diferenças contábeis na avaliação de ativos totalmente “troncho”, onde se misturam, além dos sobrepreços oriundos da roubalheira de Costa, fatos tão díspares quanto variações cambiais, de preço do petróleo, de ajustes de projetos, de especificações errôneas em projetos foi um destes.
Produziu-se um número gigantesco e  fantasioso: R$ 88 bilhões.
Um número que, sabe qualquer um que entenda um mínimo de contabilidade empresarial, não serve para nada, ainda mais com ativos que não têm “valor de mercado”. Não se compra e vende uma refinaria como quem vende um Golzinho, em bom estado, tinindo de novo….
Não reflete coisa alguma, nem do ponto de vista do valor contábil de um ativo nem de seu valor econômico para o país, porque este também é critério de mensuração numa empresa que tem compromisso com o desenvolvimento nacional: muitas vezes é melhor fazer algo aqui, mesmo por 5 ou  10% mais caro, do que importar: é o caso de navios, equipamentos de conteúdo nacional, instalações industriais, etc…
E ainda tem a questão de saber com que preço do petróleo e derivados se faz o cálculo: o da época, mais ou menos o mesmo de há alguns meses, ou o atual, metade disso? E se amanhã for o dobro?
Essa conta terá de ser feita a partir de cada negócio escuso: quanto custaria sem falcatruas e quanto custou, de fato.
Mas a direção da Petrobras, na ânsia de se mostrar confiável e honrada, produziu este número que, afinal, ela própria reconhece imprestável, como de fato é.
E entregou carne às hienas. 

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