segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

A realidade sórdida do mercado: loucura, violência e poluição



http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/O-socialismo-esta-em-crise-E-o-capitalismo-%0A/4/32317




Carta Maior, 28 de novembro de 2014



O socialismo está em crise? E o capitalismo?



Por Wadih Damous*




A queda do Muro de Berlim e a extinção do bloco socialista na Europa do Leste fizeram a alegria dos defensores do capitalismo. Houve até quem, como Francis Fukuyama, decretasse o fim da história: a partir dali, afirmava ele, não haveria mais solavancos. As coisas aconteceriam sem mudanças radicais na sociedade.

Fukuyama não foi o primeiro a vaticinar o caráter perene de uma determinada situação de hegemonia. O Império Romano já falava nisso. Vindo mais para perto no tempo, poderia ser lembrado também o “Reich dos Mil Anos”, apregoado pelos próceres do nazismo, e que, em vez de mil, mal durou 15 anos…

De qualquer forma – é preciso reconhecer – as experiências socialistas enfrentaram percalços para transformar em realidade os sonhos de milhões de lutadores sociais que as defenderam ao longo dos últimos cento e poucos anos.

Essas dificuldades têm que ser objeto de estudo. A compreensão de suas razões será importante para a construção do futuro.

Questões relacionadas com a democracia e o desenvolvimento da produtividade do trabalho, e das forças produtivas em geral, estão a clamar por respostas. Ao não serem resolvidas, empurraram aquelas sociedades para uma excessiva estatização e uma burocratização que criou camadas privilegiadas e parasitárias – o que lhes foi fatal.

Mas, seria o caso de, por isso, se abdicar do socialismo, de se jogar fora a criança juntamente com a água da banheira?

Penso que não.

Essas dificuldades têm que ser vistas como desafios a serem vencidos para os que não têm o sistema capitalista como solução para os problemas da humanidade.

Por isso, é preciso travar o debate ideológico. E, se a construção prática do socialismo enfrentou problemas, o que dizer dos resultados apresentados pelo capitalismo? Como anda a África, onde, em pleno século 21, milhões de seres humanos são desnutridos e morrem de fome? O que o capitalismo trouxe para essas pessoas?

Mas, deixemos de lado a África – continente que, ainda hoje, enfrenta as consequências da escravidão, que retirou durante mais de três séculos sua força de trabalho mais qualificada. Vejamos o que o capitalismo oferece aos cidadãos na maior potência econômica da história.

Como anda a assistência de saúde nos Estados Unidos? Por incrível que pareça, lá não existe sequer um sistema universal de saúde, algo correspondente ao nosso SUS (mesmo com os problemas que o SUS possa ter). Quem não tem plano de saúde privado está arriscado a morrer diante de um hospital sem ser atendido. Isso é civilização?

Aos incrédulos, eu recomendaria que assistissem ao filme “Sicko”, realizado em 2007 pelo cineasta americano Michael Moore, que mostra o quão excludente é o sistema de saúde nos Estados Unidos.

E nem só de fracassos viveram as experiências socialistas até agora existentes. 

Vejamos Cuba, por exemplo: é um país pequeno, sem grandes recursos naturais e que apresenta alguns indicadores sociais de fazer inveja. Seu índice de mortalidade infantil – critério usado pelas Nações Unidas para medir a qualidade de vida, pois, quando se esta se deteriora as crianças são a parcela da população mais vulnerável – é o melhor da América Latina, sendo superior até mesmo ao dos Estados Unidos.

Por outro lado, seu sistema educacional – que abrange todas as crianças do país, sem exceção – tem recebido os maiores prêmios internacionais da Unesco, à frente de todos os demais países da América Latina.

Cuba é um país pobre. Deve ser comparada não às nações do Norte da Europa, mas às da América Central, como Guatemala, Honduras ou República Dominicana. Quem vive melhor? A população desses países, que são capitalistas, ou o povo cubano, apesar de todos os problemas que tem diante de si?

Assim, a discussão sobre os problemas do socialismo tem que ser enfrentada sem subterfúgios. Mas considerar que, devido às dificuldades (algumas delas oriundas do bloqueio e da sabotagem de países capitalistas, diga-se), a solução estaria no capitalismo é um enorme engano.

Que, nestes tempos de confusão ideológica e amesquinhamento de objetivos, as correntes progressistas não percam essa verdade de vista.

 
(*) Advogado




http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Meio-Ambiente/A-realidade-sordida-do-mercado-loucura-violencia-e-poluicao/3/32331



Carta Maior, 01/12/2014 


A realidade sórdida do mercado: loucura, violência e poluição



Por ​Najar Tubino



As consequências do sistema econômico custam vidas, lesões fatais, traumas em famílias em todo o mundo. Não importa se é uma economia rica e desenvolvida, como o caso da União Europeia, onde em cada grupo de quatro cidadãos um tem algum distúrbio mental. Ou que a cada nove minutos ocorra um suicídio – 58 mil conforme os dados oficiais ainda do final da década passada. No Brasil em 2013, foram registradas 53.646 mortes violentas- uma a cada 13 minutos - a maioria de jovens da periferia das regiões metropolitanas. Uma pesquisa do Ministério da Saúde apontou a morte de 1.118.651 pessoas entre 1991 e 2000 – mais de 309 homicídios, 62.800 suicídios e 309.212 mortes por acidentes e violência no trânsito. A Organização Mundial de Saúde estima que sete milhões de pessoas morreram em consequência da poluição atmosférica e por poluição domiciliar .

Em São Paulo morreram 99.084 entre os anos de 2006-2011, conforme pesquisa do Instituto de Sustentabilidade e Saúde, dirigido pelo pesquisador da USP, Paulo Saldiva. Desde o ano passado o ar contaminado e o poluente material particulado passaram a ser consideradas causas ambientais de mortes por câncer – de pulmão, na sua maioria. No Rio de Janeiro ocorreram 36.194 mortes no mesmo período. Somadas as duas frotas de veículos das maiores capitais brasileiras – SP e RJ – o total ultrapassa 10 milhões de veículos. A poluição causa doenças no sistema cardiovascular e pulmonar, e embora o Brasil tenha um programa de monitoramento do ar há 25 anos, apenas 1,7% dos municípios mantém estações de monitoramento. Em São Paulo existem 86, no Rio de Janeiro 80 e no Rio Grande do Sul 20, são os estados mais avançados nesta questão.


Dois milhões de mortes por acidentes de trabalho

A professora e juíza do trabalho Martha Furtado de Mendonça Schmitt, de Belo Horizonte, elaborou uma pesquisa sobre o trabalho e saúde mental na visão da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

"Os acidentes fatais no mundo causaram a morte de dois milhões de trabalhadores e os não fatais atingiram 330 milhões. As doenças relacionadas ao trabalho atingem 100 milhões de trabalhadores no mundo. O custo atual dos acidentes e doenças relacionadas ao trabalho é equiparado a 4% do PIB mundial. Os maiores problemas de saúde relacionados foram o estresse e as disfunções músculo-esqueléticas", registra a pesquisadora.

Martha Schmitt também aponta para o número crescente de casos de Karoshi – palavra japonesa que significa morte por excesso de trabalho – no país asiático, tendo por causas a tensão, alta demanda e excesso de obrigação em acatar ordens. Na Alemanha os casos de faltas ao trabalho por transtornos mentais dobrou nos últimos anos. Desde 1995, as doenças mentais tornaram-se a principal causa de aposentadoria precoce – a percentagem dobrou a partir de 1980. Já no Reino Unido o Departamento de Trabalho e Aposentadoria Inglês aponta as doenças mentais e os distúrbios comportamentais como os responsáveis pelo maior gasto do setor - que junto com as doenças relacionadas ao sistema nervoso são a causa da metade das despesas com os benefícios por incapacidade, num total de 3,9 bilhões de libras. Em março de 2010, a Organização Internacional do Trabalho atualizou a Recomendação 194, incluindo as desordens mentais e comportamentais. No Brasil, ainda citando a pesquisadora mineira, em 2007 foram registrados 653.090 acidentes e doenças do trabalho. As notificações por doenças mentais cresceram 1324%, em segundo lugar as doenças osteomusculares registraram crescimento de 893%.


Na Europa custa de 3 a 4% do PIB

A União Europeia firmou um Pacto pela Saúde Mental em 2008, com metas para todos os estados membros, em consequência das “incidências significativas sobre os sistemas econômico, social, educativo, penal e judicial”, além disso a “estigmatização, a discriminação e o desrespeito aos direitos e a dignidade a pessoa doente continua a ser uma realidade, que se opõe aos valores europeus fundamentais”. A doença mental custa a União Europeia de 3 a 4% do PIB, sobretudo através da perda de produtividade. Ou seja, além da falta ao trabalho, as doenças mentais são uma das principais causas de aposentadoria e pensões por invalidez. Em 2014, o Parlamento Europeu decretou o “Ano Europeu do Cérebro e das Doenças Mentais”.

Na China, onde os migrantes deixam suas famílias para trabalhar nas fábricas dos centros industriais, os filhos “deixados para trás”, sofrem de ansiedade e depressão, um índice que atinge 15% das crianças, segundo Zheng Yi, presidente da Sociedade Chinesa de Psiquiatria da Criança e do Adolescente. A depressão já é considerada um problema de saúde pública pela Organização Mundial de Saúde e atinge 400 milhões de pessoas. Nos Estados Unidos o problema tem um contorno mais complicado porque envolve diretamente a indústria farmacêutica. Os psiquiatras que elaboram o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), considerado uma referência não somente nos EUA, mas para outros países, são comprovadamente ligados à indústria. E tem aumentado o número de doenças de uma maneira absurda.


Experimento nocivo

A questão se tornou tão grave que o Instituto Nacional de Saúde Mental (NHI) decidiu excluir de financiamento as pesquisas que se baseiam nas categorias do guia. O psiquiatra Allen Frances, autor do livro “Saving Normal” – Salvando os normais -, que participou da elaboração do guia, denunciou a dobradinha médico-indústria:

"Estamos transformando os problemas diários em transtornos mentais e tratando-os com comprimidos... parte do problema é que o sistema de diagnóstico é muito frouxo... mas o principal problema é que a indústria farmacêutica vende doenças e tenta convencer os indivíduos de que precisam de remédios. Eles gastam bilhões de dólares em publicidade enganosa para vender doenças psiquiátricas e empurrar medicamentos”, disse ele em uma entrevista.

O transtorno do momento é o de déficit de atenção e de hiperatividade. Num mundo digital, onde as crianças já viram celebridades na internet, desde que saem da barriga da mãe e são fotografadas diariamente, logo em seguida, ganham o seu primeiro celular, é inevitável que o sistema nervoso acelere. O inconveniente da agitação é tratado com remédio, e os Estados Unidos são campeões na produção e consumo da Ritalina, o medicamento indicado para estes casos – são 38 toneladas produzidas e 34 consumidas.

Diz o psiquiatra Allen Frances : “o TDHA ocorre em 3% das crianças, mas é diagnosticado em 11% e, ridiculamente, em 20% dos adolescentes homens. Nós estamos fazendo um vasto e descontrolado experimento em nossas crianças, banhando seus cérebros imaturos com produtos químicos fortes sem saber seus efeitos de longo prazo”.


Morrendo à míngua

No Brasil, o Ministério da Saúde considera que 3% da população apresentam transtornos mentais severos e persistentes, mas de 9 a 12% - ou seja, até 15% da população -, em todas as faixas etárias apresentam transtornos mentais leves e necessitam de cuidados eventuais. Também registra a dependência de álcool entre os 12 e 65 anos em 9 a 11% da população.

No momento em que os burocratas da diplomacia mundial começam a reunião preparatória para a próxima Conferência do Clima em Lima - a COP ocorrerá em 2015 na capital da França - é fundamental ter em conta o seguinte: a população mundial tem problemas gravíssimos no seu cotidiano, como consequência do sistema econômico, que só aumenta a concentração de renda na mão de uma elite cada vez menor, e deixa a grande maioria numa corrida sórdida por sobrevivência. E, no dia a dia, vai perdendo a batalha econômica, para uma elite que não quer saber se as condições de vida no Planeta estão piorando, o que significa que vai piorar ainda mais a vida de milhões de pessoas. Muito antes dos governantes se dignarem a traçar metas de mudanças no sistema econômico, onde somente o poder financeiro comanda, ou muito mais difícil, definirem metas de redução de consumo de petróleo, que significa reduzir frotas de veículos e mudar os sistemas de transporte no mundo – além é claro de acabar com o poder das petrolíferas e as ligações do mercado com a elite árabe - milhões de trabalhadores continuarão morrendo à míngua, doentes, enlouquecidos, e pior, se considerando culpados.

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