Carta Maior, 23/12/2014
10 ações de Obama para regularizar as torturas da CIA
Por Nazanín Armanian
Quando Calígula nomeou Incitatus, seu cavalo, como cônsul de Britínia, ele insinuou que aquele império poderia seguir seu curso à margem da vontade de seus servis senadores.
Em 2008, o senador Barack Obama era a favor de processar os funcionários da CIA que cometeram atos atrozes de tortura, afirmando que “ninguém está acima da lei”, e que Guantánamo deveria ser fechada. Meses depois, e graças a seu lema “change”, Obama substituiu um Bush transformado em bode expiatório do sistema, e em breve ratificaria o conceito de “gatopardismo” do novelista Tomasi di Lampedusa: o de “mudar tudo para que nada mude”.
E agora, um presidente derrotado – tanto por perder as eleições ao Senado como por sua incapacidade de cumprir suas promessas – tenta reabilitar seu prestígio falando de torturas como se fossem fatos passados.
O relatório do Senado sobre as torturas da CIA cometidas entre 2002 e 2009 contra uma centena de cidadãos estrangeiros sequestrados demorou 5 anos para aparecer porque a agência e o próprio Presidente fizeram todo o possível para freá-lo: desde obstruir o acesso do Comitê do Senado aos documentos até instar o Departamento de Justiça para processar penalmente os pesquisadores, passando por hackear seus computadores até destruir os vídeos das torturas. Logo, o mesmo “sistema” (ambos os partidos) decidiu que o relatório – redigido originalmente em 6000 folhas e que, após a censura, ficou com cerca de 500 – fosse divulgado depois das eleições do último dia 4 de novembro.
O que o presidente Obama tem feito contra a tortura – essa “invasão ao mais profundo do ser, em um lugar a que ninguém pode chegar para ajudar, naquele lugar no qual as fronteiras do meu corpo se confundem com as fronteiras do meu eu”, nas palavras de Jean Améry, escritor preso pelos nazistas – é revelador:
1. Em 2008, ele arquivou os expedientes abertos por crimes da CIA e impediu a formação de uma comissão bipartidária da verdade que ia investigar não mais apenas “quatro maçãs podres”, mas toda a agência e muitos dos altos cargos do governo Bush.
2. Em sua intenção de encobrir a CIA, nomeou John Brennan como seu diretor: era o ex-chefe do Centro de Ameaças Terroristas da CIA na era Bush, e responsável pela base da Inteligência na Arábia Saudita (desconhece-se se sua posição teve a ver com não implicar a Arábia Saudita no 11 de setembro, quando diziam que 9 dos terroristas eram daquele país). E agora, apesar dos horrores que esses papéis revelam e em uma leitura pouco honesta deles, Obama volta a apoiá-los e ainda minimizando atos de envilecimento tão graves, como obrigar os presos a defecar em público, ultrajando seu mais profundo sentido humano. Ele não sente empatia pelas vítimas, mas sim com seus algozes: disse que lhes compreendia, pobrezinhos que “estavam sob uma grande pressão pelas circunstâncias” (em 2005, continuavam torturando os detidos de 2002, como se sua “informação” tivesse algum valor!). E Brennan, em vez de apresentar sua demissão e procurar um bom advogado, agradeceu a todos os seus “patriotas” subordinados, referindo-se aos torturadores, que segundo a Fundação Open Society, levavam aqueles martirizados aos “buracos negros” de 54 países, para continuar a torturá-los em suas masmorras. Bem, os amigos de Boko Haram fazem o mesmo, mas em seu próprio território, e não dão lições de moral a ninguém. O fato de um em cada quatro estados ter colaborado com esses crimes mostra a magnitude e a dimensão desses “alguns erros” aos quais Obama se referiu.
3. Assinou uma “ordem executiva” que proíbe a tortura, mas com dois matizes: primeiro, que só menciona a CIA, e não o resto das agências de inteligência, excluindo especial e conscientemente o Comando Conjunto de Operações Especiais, que possui seus próprios centros de detenção secretos pelo mundo; e segundo, que esta “ordem”, ao não passar pelas câmeras, poderia ser anulada pelo próximo presidente.
4. O presidente se nega a eliminar o “Apêndice M” do Manual do Campo do Exército sobre os interrogatórios, que autoriza os militares a usar a tortura físicas e psicológica nos prisioneiros.
5. Ele fez todo o possível para impedir a difusão de notícias e imagens sobre a tortura cometida pelos seus funcionários pelo mundo, e pressionou seus aliados cúmplices (desde britânicos até tailandeses) para manter ocultos esses crimes.
6. E falta à verdade quando diz que “Essa não é a forma como operamos”. Ele mesmo é o único chefe de Estado do mundo com uma “lista da morte” (kill list) para assassinar pessoas consideradas “terroristas”. Brennan é o autor de “Disposition Matrix”, o software responsável por organizar essa lista.
7. Ao dizer que “torturamos algumas pessoas”, além de zombar de centenas de seres humanos esmagados por seus homens, mostra-se consciente de que as torturas da CIA não apareceram com as crueldades da Al Qaeda, e que os EUA as vêm praticando desde o início da Guerra Fria, e de forma sistemática.
8. O chefe do executivo está utilizando a doutrina do “Privilégio do segredo de Estado” (“state secrets privilege”) para evitar que as vítimas de tortura usem provas contra os funcionários do Governo em suas demandas.
9. Ainda que o reconhecimento formal do uso da tortura obrigue Obama a perseguir seus responsáveis, ele sugeriu que não vai processá-los. Voltará a olhar para o outro lado e colocará a “organizar o esquecimento” da sociedade, como ocorreu em 1976 com o Comitê Church, que determinou que os governos dos EUA – desde Roosevelt até Nixon – haviam prevaricado, chegando inclusive a assassinar líderes estrangeiros, e hoje está esquecido.
10. Não fechou Guantánamo, onde os presos “inocentes” ainda deverão esperar anos para serem colocados em liberdade.
Enquanto isso, os avisos de suspeitos atentados, assim como as verdadeiras torturas, continuarão justificando um pressuposto desmedido e o negócio da repressão – como o pagamento de 81 milhões de dólares a dois sádicos psicólogos que planejaram essas torturas –, apesar de que, segundo o Senado, não serviram para nada.
Nessa tragédia, a cumplicidade dos meios de comunicação de massa é assombrosa: são capazes de produzir empatia com, por exemplo, os sequestrados da cafeteria de Sidney (por um xiita fanático que, segundo o roteiro que eles difundiram, pedia a bandeira dos extremistas sunitas do Estado Islâmico que exterminam os xiitas!), enquanto ocultam o rosto humano e a dor dos inocentes cativos nas prisões ilegais da CIA, e o inferno da incerteza na qual também vivem seus filhos, pais e companheiros.
O relatório revela também as mentiras sobre o 11 de setembro, tais como o fato de Abu Zubaydah, sequestrado em 2002 e considerado “lugar-tenente” do terrorista saudita e “um organizador do 11/9”, por Michael Sheehan, ex-diretor do contraterrorismo do Departamento de Estado, nem sequer ser da Al Qaeda. O comitê do Senado ressalta ainda a inutilidade da tortura para revelar novas ameaças, ao contrário do que se argumentou no filme trash “A hora mais escura”, uma abominável apologia de tortura sobre o suposto assassinato do suposto Bin Laden.
Melhorando as “Verschärfte Vernehmung” nazistas
A CIA não apenas copiou o termo “técnicas de interrogatório melhoradas” dos nazistas (“Verschärfte Vernehmung”, para se referir à arrepiante palavra “tortura”, mas também se fez com elas: baseadas no triângulo de “posições de estresse, privação sensorial e humilhação sexual”, trata-se de torturas que não deixam marca visível no corpo, provocando em troca um intenso sofrimento e transtornos e traumas psicológicos. Métodos que estiveram presentes na história humana desde que seres dominaram e exploraram outros, e inclusive aparecem nos castigos divinos das religiões monoteístas contra os dissidentes.
A “arte” de tortura de “não tocar” da CIA consiste em: manter o preso em um estado permanente de terror, privação do sono até 180 horas em pé, colocá-lo em posições de estresse (pendurado pelos braços), a negação do contato humano durante longos períodos, colocar capuz e submeter o preso a fortes barulhos, o uso da hipotermia, o “submarino”, o choque elétrico, bater nas genitálias, mantê-lo ajoelhado durante horas, injuriar seus entes queridos, mantê-lo nu em público, e inclusive a ausência de pelos e cabelo é para despojar-lhe a dignidade humana e arruiná-lo como pessoa, e tudo para que uns carrascos sádicos se sintam superiores.
Jesse Leaf, o ex-agente da CIA no Irã, recorda que na década de 1960 ensinavam técnicas nazistas aos agentes do SAVAK iranianos, além de instrui-los quanto a outros métodos: sentar os homens e mulheres presos políticos em chapas quentes, simulacros de execução e de afogamentos, introduzir fragmentos de vidro e jogar água fervendo nas genitálias, submergi-los em tanques de fezes, arrancar-lhes as unhas e dentes, e colocá-los em posição fetal durante longos períodos em um pequeno ataúde. A CIA-SAVAK chegou a gravar cenas de tortura reais para distribuir o vídeo entre países como Taiwan, Indonésia e Filipinas.
Nos Kubark, os manuais de tortura desclassificados em 1996, a CIA e o Pentágono continuavam mostrando, sem qualquer controle, o “estado profundo” dos EUA.
Tortura como parte da Política Externa dos EUA
A tortura sistemática – que representa uma negação da democracia – faz parte da doutrina da política externa dos EUA, baseada na violência contra estados soberanos, na conquista militar de outros territórios e no espólio de recursos alheios. E exibir o terror é uma estratégia de intimidação, como quando quis estourar a bomba nuclear.
A informação útil que pode escapar de um ativista é aquela que é obtida nas primeiras horas de prisão. Submetê-lo à tortura durante meses e anos tem apenas o objetivo de difundir o pavor entre os que estão lá fora. Inclusive, exibir Guantánamo teve a função da “pedagogia do terror”; do contrário, teriam ocultado os réus na frota de barcos-prisões que os EUA mantêm nos mares.
Trata-se do país que levou adiante o Programa Phoenix contra o povo vietnamita, a Operação Condor na América Latina, ou a recente Operação Punho de Ferro no Iraque.
O único ponto positivo desse informe é que se absolvem os acusados da “teoria da conspiração” de ter denunciado as mentiras em torno do 11/9, de apontar o terrorismo de Estado e de desmontar a versão oficial dos atentados.
Trata-de do país onde a polícia (a força da repressão de Estado) pode matar os cidadãos negros (outros que são “Untermensch”, ou “sub-humanos”, nos termos nazistas) com total impunidade. Não é preciso esperar para ver algum “branco” norte-americano ou britânico e seus aliados no Tribunal Internacional por ter assassinado cerca de dois milhões de iraquianos e afegãos.
É certo que existem muitos governos que torturam seus opositores com esses mesmos métodos bárbaros, mas nenhum tem um braço tão grande e uma impunidade tamanha como a de que goza o ainda principal império planetário.
Os chefes dessa falsa democracia baseada no poder de provedores de “alimentação” retal a seres humanos cativos, abatidos e derrotados devem sentir muito mérito.
Tradução de Daniela Cambaúva
Em 2008, o senador Barack Obama era a favor de processar os funcionários da CIA que cometeram atos atrozes de tortura, afirmando que “ninguém está acima da lei”, e que Guantánamo deveria ser fechada. Meses depois, e graças a seu lema “change”, Obama substituiu um Bush transformado em bode expiatório do sistema, e em breve ratificaria o conceito de “gatopardismo” do novelista Tomasi di Lampedusa: o de “mudar tudo para que nada mude”.
E agora, um presidente derrotado – tanto por perder as eleições ao Senado como por sua incapacidade de cumprir suas promessas – tenta reabilitar seu prestígio falando de torturas como se fossem fatos passados.
O relatório do Senado sobre as torturas da CIA cometidas entre 2002 e 2009 contra uma centena de cidadãos estrangeiros sequestrados demorou 5 anos para aparecer porque a agência e o próprio Presidente fizeram todo o possível para freá-lo: desde obstruir o acesso do Comitê do Senado aos documentos até instar o Departamento de Justiça para processar penalmente os pesquisadores, passando por hackear seus computadores até destruir os vídeos das torturas. Logo, o mesmo “sistema” (ambos os partidos) decidiu que o relatório – redigido originalmente em 6000 folhas e que, após a censura, ficou com cerca de 500 – fosse divulgado depois das eleições do último dia 4 de novembro.
O que o presidente Obama tem feito contra a tortura – essa “invasão ao mais profundo do ser, em um lugar a que ninguém pode chegar para ajudar, naquele lugar no qual as fronteiras do meu corpo se confundem com as fronteiras do meu eu”, nas palavras de Jean Améry, escritor preso pelos nazistas – é revelador:
1. Em 2008, ele arquivou os expedientes abertos por crimes da CIA e impediu a formação de uma comissão bipartidária da verdade que ia investigar não mais apenas “quatro maçãs podres”, mas toda a agência e muitos dos altos cargos do governo Bush.
2. Em sua intenção de encobrir a CIA, nomeou John Brennan como seu diretor: era o ex-chefe do Centro de Ameaças Terroristas da CIA na era Bush, e responsável pela base da Inteligência na Arábia Saudita (desconhece-se se sua posição teve a ver com não implicar a Arábia Saudita no 11 de setembro, quando diziam que 9 dos terroristas eram daquele país). E agora, apesar dos horrores que esses papéis revelam e em uma leitura pouco honesta deles, Obama volta a apoiá-los e ainda minimizando atos de envilecimento tão graves, como obrigar os presos a defecar em público, ultrajando seu mais profundo sentido humano. Ele não sente empatia pelas vítimas, mas sim com seus algozes: disse que lhes compreendia, pobrezinhos que “estavam sob uma grande pressão pelas circunstâncias” (em 2005, continuavam torturando os detidos de 2002, como se sua “informação” tivesse algum valor!). E Brennan, em vez de apresentar sua demissão e procurar um bom advogado, agradeceu a todos os seus “patriotas” subordinados, referindo-se aos torturadores, que segundo a Fundação Open Society, levavam aqueles martirizados aos “buracos negros” de 54 países, para continuar a torturá-los em suas masmorras. Bem, os amigos de Boko Haram fazem o mesmo, mas em seu próprio território, e não dão lições de moral a ninguém. O fato de um em cada quatro estados ter colaborado com esses crimes mostra a magnitude e a dimensão desses “alguns erros” aos quais Obama se referiu.
3. Assinou uma “ordem executiva” que proíbe a tortura, mas com dois matizes: primeiro, que só menciona a CIA, e não o resto das agências de inteligência, excluindo especial e conscientemente o Comando Conjunto de Operações Especiais, que possui seus próprios centros de detenção secretos pelo mundo; e segundo, que esta “ordem”, ao não passar pelas câmeras, poderia ser anulada pelo próximo presidente.
4. O presidente se nega a eliminar o “Apêndice M” do Manual do Campo do Exército sobre os interrogatórios, que autoriza os militares a usar a tortura físicas e psicológica nos prisioneiros.
5. Ele fez todo o possível para impedir a difusão de notícias e imagens sobre a tortura cometida pelos seus funcionários pelo mundo, e pressionou seus aliados cúmplices (desde britânicos até tailandeses) para manter ocultos esses crimes.
6. E falta à verdade quando diz que “Essa não é a forma como operamos”. Ele mesmo é o único chefe de Estado do mundo com uma “lista da morte” (kill list) para assassinar pessoas consideradas “terroristas”. Brennan é o autor de “Disposition Matrix”, o software responsável por organizar essa lista.
7. Ao dizer que “torturamos algumas pessoas”, além de zombar de centenas de seres humanos esmagados por seus homens, mostra-se consciente de que as torturas da CIA não apareceram com as crueldades da Al Qaeda, e que os EUA as vêm praticando desde o início da Guerra Fria, e de forma sistemática.
8. O chefe do executivo está utilizando a doutrina do “Privilégio do segredo de Estado” (“state secrets privilege”) para evitar que as vítimas de tortura usem provas contra os funcionários do Governo em suas demandas.
9. Ainda que o reconhecimento formal do uso da tortura obrigue Obama a perseguir seus responsáveis, ele sugeriu que não vai processá-los. Voltará a olhar para o outro lado e colocará a “organizar o esquecimento” da sociedade, como ocorreu em 1976 com o Comitê Church, que determinou que os governos dos EUA – desde Roosevelt até Nixon – haviam prevaricado, chegando inclusive a assassinar líderes estrangeiros, e hoje está esquecido.
10. Não fechou Guantánamo, onde os presos “inocentes” ainda deverão esperar anos para serem colocados em liberdade.
Enquanto isso, os avisos de suspeitos atentados, assim como as verdadeiras torturas, continuarão justificando um pressuposto desmedido e o negócio da repressão – como o pagamento de 81 milhões de dólares a dois sádicos psicólogos que planejaram essas torturas –, apesar de que, segundo o Senado, não serviram para nada.
Nessa tragédia, a cumplicidade dos meios de comunicação de massa é assombrosa: são capazes de produzir empatia com, por exemplo, os sequestrados da cafeteria de Sidney (por um xiita fanático que, segundo o roteiro que eles difundiram, pedia a bandeira dos extremistas sunitas do Estado Islâmico que exterminam os xiitas!), enquanto ocultam o rosto humano e a dor dos inocentes cativos nas prisões ilegais da CIA, e o inferno da incerteza na qual também vivem seus filhos, pais e companheiros.
O relatório revela também as mentiras sobre o 11 de setembro, tais como o fato de Abu Zubaydah, sequestrado em 2002 e considerado “lugar-tenente” do terrorista saudita e “um organizador do 11/9”, por Michael Sheehan, ex-diretor do contraterrorismo do Departamento de Estado, nem sequer ser da Al Qaeda. O comitê do Senado ressalta ainda a inutilidade da tortura para revelar novas ameaças, ao contrário do que se argumentou no filme trash “A hora mais escura”, uma abominável apologia de tortura sobre o suposto assassinato do suposto Bin Laden.
Melhorando as “Verschärfte Vernehmung” nazistas
A CIA não apenas copiou o termo “técnicas de interrogatório melhoradas” dos nazistas (“Verschärfte Vernehmung”, para se referir à arrepiante palavra “tortura”, mas também se fez com elas: baseadas no triângulo de “posições de estresse, privação sensorial e humilhação sexual”, trata-se de torturas que não deixam marca visível no corpo, provocando em troca um intenso sofrimento e transtornos e traumas psicológicos. Métodos que estiveram presentes na história humana desde que seres dominaram e exploraram outros, e inclusive aparecem nos castigos divinos das religiões monoteístas contra os dissidentes.
A “arte” de tortura de “não tocar” da CIA consiste em: manter o preso em um estado permanente de terror, privação do sono até 180 horas em pé, colocá-lo em posições de estresse (pendurado pelos braços), a negação do contato humano durante longos períodos, colocar capuz e submeter o preso a fortes barulhos, o uso da hipotermia, o “submarino”, o choque elétrico, bater nas genitálias, mantê-lo ajoelhado durante horas, injuriar seus entes queridos, mantê-lo nu em público, e inclusive a ausência de pelos e cabelo é para despojar-lhe a dignidade humana e arruiná-lo como pessoa, e tudo para que uns carrascos sádicos se sintam superiores.
Jesse Leaf, o ex-agente da CIA no Irã, recorda que na década de 1960 ensinavam técnicas nazistas aos agentes do SAVAK iranianos, além de instrui-los quanto a outros métodos: sentar os homens e mulheres presos políticos em chapas quentes, simulacros de execução e de afogamentos, introduzir fragmentos de vidro e jogar água fervendo nas genitálias, submergi-los em tanques de fezes, arrancar-lhes as unhas e dentes, e colocá-los em posição fetal durante longos períodos em um pequeno ataúde. A CIA-SAVAK chegou a gravar cenas de tortura reais para distribuir o vídeo entre países como Taiwan, Indonésia e Filipinas.
Nos Kubark, os manuais de tortura desclassificados em 1996, a CIA e o Pentágono continuavam mostrando, sem qualquer controle, o “estado profundo” dos EUA.
Tortura como parte da Política Externa dos EUA
A tortura sistemática – que representa uma negação da democracia – faz parte da doutrina da política externa dos EUA, baseada na violência contra estados soberanos, na conquista militar de outros territórios e no espólio de recursos alheios. E exibir o terror é uma estratégia de intimidação, como quando quis estourar a bomba nuclear.
A informação útil que pode escapar de um ativista é aquela que é obtida nas primeiras horas de prisão. Submetê-lo à tortura durante meses e anos tem apenas o objetivo de difundir o pavor entre os que estão lá fora. Inclusive, exibir Guantánamo teve a função da “pedagogia do terror”; do contrário, teriam ocultado os réus na frota de barcos-prisões que os EUA mantêm nos mares.
Trata-se do país que levou adiante o Programa Phoenix contra o povo vietnamita, a Operação Condor na América Latina, ou a recente Operação Punho de Ferro no Iraque.
O único ponto positivo desse informe é que se absolvem os acusados da “teoria da conspiração” de ter denunciado as mentiras em torno do 11/9, de apontar o terrorismo de Estado e de desmontar a versão oficial dos atentados.
Trata-de do país onde a polícia (a força da repressão de Estado) pode matar os cidadãos negros (outros que são “Untermensch”, ou “sub-humanos”, nos termos nazistas) com total impunidade. Não é preciso esperar para ver algum “branco” norte-americano ou britânico e seus aliados no Tribunal Internacional por ter assassinado cerca de dois milhões de iraquianos e afegãos.
É certo que existem muitos governos que torturam seus opositores com esses mesmos métodos bárbaros, mas nenhum tem um braço tão grande e uma impunidade tamanha como a de que goza o ainda principal império planetário.
Os chefes dessa falsa democracia baseada no poder de provedores de “alimentação” retal a seres humanos cativos, abatidos e derrotados devem sentir muito mérito.
Tradução de Daniela Cambaúva
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