Jornal GGN, 08/07/16
Classe média, complexo de vira-lata e a casa grande e senzala
Por Assis Ribeiro
Rodou um interessante post aqui
no blog sobre a rapaziada da área de Direito que participa de cursos
organizados pelo governo dos EUA, ou por corporações estrangeiras com
grandes interesses em nossas riquezas.
Um respeitado comentarista relaciona
dois tipos de alunos. Um formado por "pessoas de formação mais
sofisticada" e o outro por "pessoas mais simples que tem uma visão de
vida e de mundo limitada ou provinciana", atribuindo ao primeiro grupo
uma condição, pelo conhecimento, de estarem blindados de se tornarem
americanófilos.
Uma observação mais detalhada o
levaria a perceber que o comportamento atribuído às "pessoas mais
simples que tem uma visão de vida e de mundo limitada ou provinciana"
representa a quase totalidade dos que participam de tais cursos, no
sentido de aptidão para a "doutrinação", como diz o autor do comentário.
É regra, quando se observa juízes,
promotores, policiais, podemos continuar a relação com médicos,
empresários, fazendeiros, industriais, militares,...a lista seria muito
grande e englobaria boa parte da nossa classe média, que seus
comportamentos seguem um linha muito bem definida como "complexo de
vira-lata" e pelos que observam a sociedade, constatando a persistência
do modelo da Casa Grande e Senzala, condições que expressam relação de
senhor/subservientes, e nunca de paridade e reciprocidade.
Neste sentido, Marilena Chauí dá um banho de conhecimento da formação do povo brasileiro quando constata que:
“a classe média é uma abominação
política, porque é fascista, é uma abominação ética porque é violenta, e
é uma abominação cognitiva porque é ignorante"
"Hoje, as manifestações juvenis de
nosso passado recente, depois de domadas, assimiladas e distorcidas pelo
sistema, foram substituídas por um fetiche abstrato e bastante ridículo
que é o jovem tal como é definido pelas agências de publicidade,
delineado pelas pesquisas de opinião, incensado pela mídia, tomado por
paradigma de eficiência empresarial (o tal do Yuppie) e, o que é pior de
tudo, imposto como modelo aos ainda mais jovens, ou seja, nossas
crianças. Esse “jovem” é o que, no meu tempo, chamávamos de alienado e,
depois, de careta. Trata-se de uma domesticação dos instintos naturais
da juventude em função dos interesses do sistema."
Teria sido a genialidade dos
militares, na tentativa de impedir a admiração para o lado dos comunas,
quem criou a babação pueril à tudo que se origina dos EUA? É bom lembrar que destacado general e
político brasileiro admitiu que "o que é bom para os Estados Unidos é
bom para o Brasil", pode alguma outra afirmação ser tão submissa, tão
carregada de "complexo vira-lata" como essa de Juracy Magalhães?
Outra vitória da ditadura, seguindo
modelo, apenas para exportação, ditado pelos americanos, de
consequências trágicas, é a falta de lideranças nacionalistas que pensem
o Brasil de frente, como orientador de políticas e não um Brasil
dependente ao que nos determina o irmão do norte.
Em outras palavras, permitiu-se no
Brasil a construção de um modelo que impede a construção de lideranças
(em qualquer que seja a área), e a destruição da política.
Observem que para explicar a nossa
subserviência, como demonstrado em parágrafos anteriores, não foi preciso
nem entrar na simbologia dos desenhos e filmes passados nas nossas TVs.
Em vez de personagens brasileiras, simbologias americanizadas. Quando
criança, Pato Donald e Tio Patinhas; adolescentes, Halloween e o tão
sonhado presente de quinze anos, ir aos States. Adultos, o glamour
hollywoodiano, e os nossos heróis Batman, Super Homem, e todos os outros
vestidos de azul, vermelho e branco. Com certeza Moro, Dallagnol e
tantos outros não estariam fora dessa receita.
Como falha de um modelo cultural, as
relações de domínio/subserviência; honrar/humilhar; ban ban ban/bum bum
bum; Casa Grande/Senzala, terão que ser revistas e as soluções só virão
com mudança cultural.
A base seria a diversidade para que o
pensamento retilíneo e linear, de característica maniqueísta, de uma
sociedade que condiciona a conhecimento aos traçados de objetivos. O
princípio estaria na inclusão social, na inserção nas grades escolares
de matérias de pensamento/reflexão/análise/ conclusão, proposta do Enem.
Na obrigatoriedade de conteúdo nacional nas programações das TVs.
Exatamente dentro da concepção aplicada pelos últimos governos e que o
grupo golpista quer impedir e fazer retornar ao modelo que atrasa o
nosso desenvolvimento em benefício dos interesses estrangeiros, típico
do "complexo de vira-lata" e da "casa grande e senzala".
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