domingo, 1 de novembro de 2015

Documentário: 'Pervert Park' retrata vila de pedófilos



Pervert Park (Official Trailer)
 


http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2015/11/1700571-premiado-em-sundance-documentario-pervert-park-retrata-vila-de-pedofilos.shtml




Folha.com, 01/11/2015



Premiado em Sundance, documentário 'Pervert Park' retrata vila de pedófilos



ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER

DE SÃO PAULO



A reação a comentários de conotação sexual sobre uma participante do programa "MasterChef Júnior" mostra que poucos temas enfurecem tanto a sociedade quanto a pedofilia. Monstruosa para a maioria, mas não para o casal de cineastas Frida, sueca, e Lasse Barkfors, dinamarquês.

Em "Pervert Park" (Parque dos pervertidos), documentário premiado pelo júri no Festival de Sundance e que estreia neste domingo (1º) na Mostra de Cinema de SP, eles visitam um terreno na Flórida onde vivem em traileres, após saírem da prisão, 120 dos 500 mil condenados por agressão sexual nos EUA – boa parte contra menores de idade.

Há o sujeito que, em ataque de fúria misógino após um fora da namorada, dirigiu até o México e estuprou uma garota de cinco anos. Uma mãe fez sexo com o filho de oito anos para agradar o cara com quem se correspondia na internet.

Se não monstros, como definir os "estupradores de bebês"? Eis o rótulo que recebem nas cadeias, onde são abusados por detentos, diz um deles, em liberdade condicional.

Os diretores, porém, não estão no negócio de arremessar primeiras pedras. "Queríamos pôr o público na montanha-russa emocional na qual embarcamos", diz Frida à Folha.

E que viagem sãos os 77 minutos do longa que, sem passar a mão na cabeça dos entrevistados, esforça-se para ouvir o outro lado que poucos querem conhecer dessa história.

 
CÍRCULO VICIOSO

Eles relatam uma espiral de abusos de quais também foram vítimas. Não deixam, contudo, de assumir responsabilidade por seus crimes. "A gente os desprezava pelo que fizeram, mas pudemos nos importar profundamente com eles, pelo que passaram", diz Frida.
 
Não foi fácil para ninguém. O pai de Tracy a estuprou desde que estava no berço (mais tarde, transaram por anos, com consentimento). Ela levou uma surra da tia por assediar primos mais novos. Foi Tracy quem repetiu o histórico familiar e se deitou com o filho.

O garoto contou vantagem para colegas, professores souberam, e a mãe acabou presa. Quando a mulher acima do peso, cabelos curtos vermelhos e olheiras é questionada pelo terapeuta se vê monstros no "parque dos pervertidos", chora e diz: "Apenas um: eu".
 
A comunidade é alvo de ataques – um dos residentes acha um saco de ratos mortos em sua trouxa de roupas sujas.
 
O filme discute até que ponto há uma "indústria do crime sexual", disposta a condenar a qualquer custo. Conhecemos Jamie, universitário de 22 anos, cabelos roxos e tatuagens como "eat the rich" (coma os ricos). Ele diz que foi pego numa operação policial por trocar mensagens com uma mulher (um agente disfarçado).

Segundo Jamie, a pessoa ficava o tempo todo "oferecendo" a filha de 14 anos. Teria conseguido, após muita insistência, arrancar um comentário devasso dele. Condenado, ele conviverá até o fim da vida com o estigma de pedófilo.
 
Após a prisão, os julgados têm seus perfis (nome, endereço e até detalhes como cor do cabelo) divulgados publicamente. Há aplicativos para smartphone que reúnem essas informações e dão a localização exata do agressor.

Frida e Lasse gravaram seu filme em 2010, dois anos antes de nascer o filho deles. "Aprendemos um bocado sobre violências desse tipo. Sabemos que em geral as crianças são alvo de alguém próximo a elas. São raros os criminosos sexuais escondidos em arbustos, prontos para o ataque", diz ela.
 
Frida continua: "Para nós, 'Pervert Park' não é sobre como reagir se seu próprio filho for abusado. É sobre como podemos brecar um ciclo de abuso que perpassa gerações".

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