Blog do Santayana, 22/11/2015
O Brasil dos jatos e o Brasil da Lava-Jato
Por Mauro Santayana
Neste singular momento da
vida nacional, o país está dividido, cada vez mais, em dois que parecem não
compartilhar a mesma realidade ou o mesmo território.
Para o Brasil da Lava
Jato, do impeachment, da mídia seletiva e conservadora, o que defende a volta
da ditadura, a tortura e a quebra do Estado de Direito, este é um país podre,
quebrado, mergulhado até o talo na corrupção, política e economicamente
inviável até não poder mais.
Para o Brasil dos jatos
Gripen, cuja transferência de tecnologia a presidenta Dilma Rousseff foi
negociar em outubro na Suécia, o Brasil da Força Aérea, da Aeronáutica, do
Exército, da engenharia, da indústria bélica, da indústria pesada, da indústria
naval, da indústria de energia, do petróleo e do gás, do agronegócio, da
mineração, este é o país que, mesmo com todos os seus problemas, depois de anos
e anos de abandono e estagnação, pagou a dívida com o FMI; voltou a pavimentar
e a duplicar rodovias; retomou obras ferroviárias e hidroviárias; retomou a
produção de navios e passou a fabricar plataformas de petróleo, armas,
satélites, sistemas eólicos, mergulhando, na última década, em dos maiores
programas de desenvolvimento de sua história.
Seria bom se o Brasil da
Lava Jato se concentrasse em prender os corruptos, aqueles com milhões de
dólares em contas na Suíça, e não em libertá-los – como está fazendo com o Sr.
Paulo Roberto Costa, dispensado até mesmo de sua prisão domiciliar –, no lugar
de manter aprisionados, arbitrariamente, quase que indefinidamente, dirigentes
de partido sem nenhum sinal ou prova de enriquecimento ilícito e executivos de
nossas maiores empresas.
A maioria delas ligada,
direta ou indiretamente, a um amplo e diversificado programa de rearmamento e
infraestrutura que engloba a construção de nossos novos submarinos
convencionais e atômicos; de nossos novos (foto) caças Gripen NG BR; do nosso
novo avião cargueiro militar multiuso KC-390 – a maior aeronave já fabricada no
Brasil; de 1.050 novos tanques blindados Guarani; de nossos novos rifles de
assalto IA-2; de nossos novos sistemas de mísseis de saturação e de cruzeiro,
como o Astros 2020 e o AVTM-300 da Avibras – com alcance de 300 quilômetros; de
nossos novos mísseis ar-ar como o A-Darter; de nossos novos radares como os
Saber; de nossos novos e gigantescos complexos petroquímicos e refinarias de
petróleo, como Abreu e Lima e Comperj; de nossas novas plataformas de petróleo
com capacidade para produção de centenas de milhares de barris de óleo por dia;
de nossas novas e gigantescas usinas hidrelétricas, como Jirau, Santo Antônio e
Belo Monte – a terceira maior do mundo; de nossa nova frota de navios da
Transpetro, do tipo Panamax, com capacidade de transporte de 650 mil barris de
combustíveis cada um; de nossas novas embarcações de guerra, que voltamos até
mesmo a exportar; de nossos novos satélites de comunicações; ou de portentosas
obras de engenharia como a ponte sobre o Rio Negro, em Manaus, e a ponte Anita
Garibaldi, em Laguna, Santa Catarina.
Esse é o Brasil da
estratégia, do longo prazo, que a mídia conservadora nacional optou, há muito
tempo, como fazem os ilusionistas das festas infantis, por esconder com uma
mão, enquanto mostra como uma grande novidade, com a outra mão, o Brasil de uma
“crise” e de uma “corrupção” seletiva e repetidamente exageradas e
multiplicadas ao extremo.
Há um Brasil que deveria
estar acima das disputas político-partidárias, que cabe preservar e defender.
Quem quiser fazer oposição precisa, se quiser chegar ao poder, mostrar, com um
tripé baseado no nacionalismo, na unidade, e no desenvolvimentismo, que estará
comprometido com o prosseguimento desses programas, fundamentais para o futuro
da Nação. Com todos os seus eventuais problemas, que podem ser solucionados sem
dificuldades, eles conformam um projeto de Nação que não pode ser interrompido,
cuja sabotagem e destruição só interessa aos nossos inimigos, muitos dos quais,
do exterior, se regozijam com o atual quadro de fragmentação e esgarçamento da
sociedade, antevendo o momento em que retomarão o controle de nosso destino e o
de nossas riquezas.
Seria bom que o Brasil da
Lava Jato – considerando-se os que comandam a operação homônima – trabalhasse
com responsabilidade e cidadania em sua missão, separando o joio do trigo,
prendendo quem tiver de prender, mas evitando, no lugar de incentivar, os danos
colaterais para empresas e projetos estratégicos que empregam milhares de
pessoas, nos quais já foram investidos bilhões e bilhões de dólares –
protegendo e não arrasando, como já está ocorrendo, parte da indústria pesada e
da engenharia nacionais.
Seria bom se o Brasil da
Lava Jato – considerando-se os que torcem pela “operação” – tratasse a questão
da corrupção sem partidarismo e seletividade, preparando-se para o pleito do
próximo ano, já que não há melhor lugar do que uma urna para que o desejo e a
determinação – e até mesmo a eventual indignação – de um povo livre, civilizado
e democrático possam se manifestar.
Seria bom, muito bom, se
o Brasil da Lava Jato, o do impeachment, o de quem defende uma guerra civil e o
“quanto pior, melhor” permitisse, em benefício do futuro, da soberania e da
economia nacional, que o Brasil dos jatos Gripen, da oitava economia do mundo,
dos US$ 370 bilhões de reservas internacionais, de uma safra agrícola de 200
milhões de toneladas, o terceiro maior credor individual externo dos Estados
Unidos – e que pertence não a um ou a outro partido, mas a todos os brasileiros
– pudesse continuar a trabalhar.
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