sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Lydia Litvyak, a caçadora de aviões nazistas

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Airway, 06/11/2015



Lydia Litvyak, a caçadora de aviões nazistas


 
Por Thiago Vinholes



No dia 13 de setembro de 1942, uma esquadrilha de bombardeiros alemães Junker Ju-88 surgiu sobre os céus de Stalingrado (atual Volgogrado, na Rússia) dispostos a destruir a cidade, que era a porta de entrada para a Alemanha invadir a antiga União Soviética (URSS), no que foram alguns dos episódios mais sangrentos da Segunda Guerra Mundial. Os pilotos da Luftwaffe (Força Aérea da Alemanha), que imaginavam ter pela frente uma missão fácil, se surpreenderam quando caças soviéticos Yakovlev Yak-1 se aproximaram atirando com suas metralhadoras e canhões para impedi-los de lançarem suas bombas.

Mas os Ju-88 não estavam sozinhos. Os bombardeiros eram escoltados pelos temíveis caças Messerschmitt Bf 109. Ao ver um dos Junkers em chamas abatido por um avião soviético, o piloto alemão Sargento Erwin Maier, já um Ás condecorado com 11 vitórias aéreas, decidiu perseguir o líder daquela esquadrilha soviética.

Ao engajar o Yak-1, o alemão notou que aquele piloto russo era bem agressivo e nem de longe era um novato. Da posição de ataque com seu Bf 109, Maier subitamente foi surpreendido com uma manobra brusca de seu inimigo, que conseguiu se posicionar em sua traseira, virando o jogo. Agora perseguido pelo Yak, o avião alemão foi atingido e incendiado por tiros de canhão de 20 mm e o piloto alemão teve de saltar de paraquedas.

Ao ser capturado em solo pelas tropas soviéticas, o sargento Maier pediu para conhecer o piloto que o havia derrotado. Quando se encontraram ele riu, achou que se tratava de alguma brincadeira, até o piloto russo descrever em detalhes como foi o combate entre ambos. Neste momento o Erwin Maier descobriu que havia sido derrubado por uma mulher, a comandante Lydia Litvyak.

A aviadora soviética combateu os nazista com os caças Yakovlev​

Rosa de Estalingrado

Lydia nasceu em Moscou no dia 18 de agosto de 1921 e sua paixão pelos aviões surgiu ainda na infância. Com 14 anos ingressou na escola de aviação de um aeroclube da capital e dois anos depois já havia conseguido sua licença de “piloto esportivo” e em 1939 se tornou instrutora de voo.

Quando a Alemanha iniciou a invasão da URSS, em junho de 1941, Lydia se voluntariou para a unidade de aviação militar. No entanto, acabou rejeitada por não ter horas de voo suficiente. A aviadora então decidiu falsificar seus registros de voo e acresceu mais 100 horas a tabela. Desta forma acabou aceita no recém-formado regimento exclusivo para mulheres, formado por Marina Raskova, navegadora aérea com vasta experiência militar.

Agora no meio militar, Lydia iniciou seus treinamentos com o caça Yak-1. Após um ano e meio de instruções, a aviadora estava pronta para entrar em combate. Em setembro de 1942, a piloto foi enviada a frente batalha em Estalingrado, que era palco de um violento combate entre os soldados nazistas e o “Exército Vermelho”.

E naquele mesmo mês, no dia 13, a aviadora já conseguiu suas primeiras vitórias aéreas conta a Luftwaffe. Em uma única surtida, Lydia conseguiu um “Double Kill”, derrubando um bombardeiro Ju-88 e um caça Bf 109, pilotado pelo Sargento Erwin Maier. Era apenas a sua terceira missão de combate na carreira.

Ao final daquele mês, a aviadora soviética derrubou mais um caça e um bombardeiro, além de compartilhar outra vitória com um colega.

Com quatro vitórias em um mês, Lydia entrou para o grupo de elite de pilotos soviéticos e foi transferida para o 9º Regimento de Caças da Guarda, onde haviam somente homens. A piloto voltaria aos combates somente em fevereiro de 1942, derrubando mais três aviões até receber sua primeira condecoração, a Estrela Vermelha, e foi promovida a sub-tenente.

Nessa época, pilotos costumavam carregar amuletos, como pés de coelho e outros trevos de quatro folhas. Já Lydia pintou em seu avião uma flor de lírio, que acabou confundida com uma rosa branca, detalhe que rendeu a aviadora russa o apelido “Rosa de Stalingrado”.


Caçadora livre

Após a vitória da URSS na Batalha de Stalingrado, Lydia passou a atuar como “caçadora livre”, voando sem ordens específicas e com autorização para abrir fogo contra qualquer avião ou veículo alemão.
Atuando nessa nova função, a aviadora abateu mais caças e bombardeiros, além de um balão de observação que orientava as posições de artilharia alemã. Foi também uma época muito perigosa. Lydia foi abatida e ferida duas vezes (em 22 de março e 16 de julho de 1943) e em ambas ocasiões conseguiu realizar pousos de emergência em campos abertos.

Em 1943, Lydia se casou com o também piloto russo Aleksey Solomatin, mas a união durou pouco meses. O marido da aviadora morreu durante um treinamento naquele mesmo ano. A partir desse momento, segundo relatos, a piloto passou a combater em estado de fúria, realizando ataques extremamente perigosos e violentos, muitas vezes exagerando nos disparos contra os inimigos, que eram alvejados mesmo após já estarem em chamas no ar.


Última missão

O dia 1 de agosto de 1943 foi longo para Lydia. A Batalha de Kursk presseguia com toda intensidade e a aviadora se voluntariou para quatro missões nesse dia, na qual deveria escoltar com seu Yak-1 os bombardeiros soviéticos Ilyishin IL-2. No quarto raid, a esquadrilha da aviadora foi atacada de surpresa por caças alemães, que se aproximaram da formação quase invisíveis, voando de costas para o sol, que ofuscava a visão dos pilotos soviéticos.

O avião de Lydia recebeu um ataque frontal efetuado por quatro caças alemães e entrou em chamas. Seus companheiros disseram ter visto seu avião caindo, mas não conseguiram encontrar nenhum paraquedas. Após várias tentativas de localizar a piloto, as buscas terminaram e ela foi declarada desaparecida. Durante muitos anos, os soviéticos suspeitaram que a aviadora fora feita prisoneira pelos nazistas. Mas não foi isso que aconteceu…

A solução para o mistério sobre o desaparecimento de Lydia Litvyak foi esclarecido somente em 1979, quando o corpo da aviadora foi finalmente encontrado em Donestk, na Ucrânia, próximo ao local onde seu avião caiu. Além dos restos mortais da aviadora, que pereceu decorrente de um ferimento da cabeça, a história sobre seus últimos momentos também foi descoberta.

Mesmo ferida e com o avião avariado, Lydia conseguiu pousar mais uma vez de barriga sobre um campo. A piloto chegou a sair da cabine, mas acabou morrendo nas asas do avião, como foi encontrada pelos locais, que temendo que seu corpo fosse violado pelos alemães decidiram enterrá-la ali mesmo. O Yak-1 da aviadora, por outro lado, nunca foi encontrado – a hipótese mais aceita é de que o avião tenha sido desmontado e saqueado por caçadores de lembranças ou sucata.

Em seus pouco mais de dois anos de carreira militar, Lydia Litvyak abateu 12 aviões alemães e compartilhou outras quatro vitórias com seus colegas. Em 1990, o então presidente da URSS, Mikhail Gorbachev, concedeu postumamente a Lydia a medalha de ouro de Heroína da União Soviética. Quando morreu, Lydia estava prestes a completar 22 anos de idade.

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