domingo, 15 de junho de 2014

Os “sicários da plutocracia”


O desabafo de Trajano​


 


Por Paulo Nogueira*


Viralizou

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E eis que José Trajano, da ESPN Brasil, viralizou.
Um vídeo em que ele cita quatro colunistas que instigam ódio circula freneticamente pela internet nestes dias.
Ele enxergou, com razão, uma relação espiritual entre os que xingaram Dilma no estádio e os colunistas que mencionou.
Trajano falou de Demetrio Magnolli, Augusto Nunes, Mainardi e Reinaldo Azevedo, mas poderia falar de muitos outros.
Outro dia li uma expressão do Nobel de Economia Paul Krugman e pensei exatamente no tipo de jornalista da pequena lista de Trajano.
São os “sicários da plutocracia”. São pagos, às vezes muito bem pagos, apenas para defender os interesses de seus patrões.
Os Marinhos, ou os Frias, ou os Civitas, ou os Mesquitas, não podem, eles mesmos, assinar artigos em defesa de suas próprias causas. Então contratam pessoas como as de que Trajano trata.
Muitos leitores, em sua ingenuidade desumana, vêem alguma coragem nos “sicários da plutocracia”.
É o oposto. Ao se alinhar aos poderosos – aqueles que fizeram o Brasil ser um dos campeões mundiais da desigualdade – eles têm toda a proteção que o dinheiro é capaz de oferecer.
Não correm risco de ficar sem emprego, por exemplo. Podem cometer erros grosseiros de avaliação, de prognóstico, de estilo, do que for.
Mesmo assim, estarão seguros porque cumprem o papel de voz dos que podem muito.
Vi em Trajano um desabafo, uma explosão, e entendo por duas razões.
Primeiro, Trajano sempre foi explosivo, temperamental. É um traço seu desde sempre, bem como a paixão pelo Ameriquinha.
Depois, Trajano ecoou um sentimento que representa o espírito do tempo.
Há um cansaço generalizado, uma irritação crescente com os “sicários da plutocracia”. Não apenas pela soberba vazia, pela arrogância de quem sabe que terá microfone em qualquer circunstância, não apenas pela vilania constante.
Mas pela compreensão de que eles representam um obstáculo brutal ao avanço social brasileiro.
Eles estão na linha de frente da resistência a um Brasil menos desigual.
Eles surgem em circunstâncias especiais. Seu papel é minar, perante a opinião pública, administrações populares.
O maior da espécie, Carlos Lacerda, se notabilizou ao levar GV ao suicídio e Jango à deposição.
Eles sumiram nas décadas que se seguiram ao Golpe de 64, por serem desnecessários. O Estado – com os incríveis privilégios e mamatas à base de dinheiro público — estava ocupado pela plutocracia. Já não tinham serventia.
Voltaram quando Lula ganhou, a despeito de todas as concessões petistas fixadas na Carta aos Brasileiros.
Voltaram com o PT, assim como voltariam com qualquer outros partido que representasse ameaça às vantagens de séculos, como livre acesso aos cofres do BNDES e outras coisas do gênero.
Neste sentido, é bom entender que não é algo contra o PT e sim contra o risco, real ou imaginário, do fim das regalias.
Você pode identificar claramente o processo de retorno dos sicários.
O primeiro deles foi Diogo Mainardi, na Veja. Logo depois, também na Veja, mas na internet, apareceu Reinaldo Azevedo.
Não eram conhecidos na elite dos jornalistas, mas ganharam um espaço privilegiado porque se dispuseram a fazer a propaganda, disfarçada de jornalismo, das causas de quem quer que o Brasil continue do jeito que sempre foi.
Aos poucos foram chegando outros, e hoje são muitos.
É um processo curioso: quanto menos votos têm os representantes da plutocracia, mais colunistas da direita vão aparecendo. É como se houvesse a esperança de, uma hora, aparecer um novo Lacerda e resolver o problema.
Mas a sociedade brasileira está cansada de tanta desigualdade, e é difícil acreditar que as lorotas dos sicários vão ter algum resultado parecido com o que houve em 54 ou 64.
O Brasil merece ser uma sociedade nórdica, escandinava, em que ninguém seja melhor ou pior que ninguém por causa do dinheiro, e na qual não haja os abismos de opulência e de miséria.
Os sicários aos quais Trajano se referiu simbolizam o oposto de tudo que escrevi acima.
Desta vez, ao contrário de 54 e 64, não triunfarão – até porque a internet deu voz a quem não tinha e retirou a exclusividade monopolística e predadora dos que favelizaram o Brasil enquando acumulavam fortunas extraordinárias.

​*O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo




http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/143377/O-hino-nacional-e-a-palavra-de-ordem-da-elite-paulistana.htm?fb_action_ids=635782676516362&fb_action_types=og.likes


Brasil 247, 13.06.2014

O hino nacional e a palavra de ordem da elite paulistana



Por Artur Scavone


O hino nacional cantado contra a vontade da Fifa na abertura da Copa, que programou a gravação para terminar logo após os primeiros versos, foi um momento tão emocionante quanto a virada do jogo. Os jogadores, o Filipão e a torcida na arquibancada cantaram a plenos pulmões as estrofes inteiras até a primeira parte do hino, que deveria terminar bem antes. Cantou a seco, sem o acompanhamento gravado. Foi uma espécie de "calma lá Fifa, essa copa é nossa, na nossa casa".
Sem dúvida essa atitude mostra um sentimento de nação que há muito tempo Lula tem invocado, contra aqueles que pregam uma postura de vira lata. É um reconhecimento de nação que a elite nacional nunca quis ver florescer, porque sempre temeu esse orgulho, essa apropriação de país. 
A ditadura e as elites festejavam a glória nacional sob a batuta das bandas militares para abafar a total falta de democracia, a submissão aos interesses norte-americanos e os "noventa milhões em ação" serviam para calar a boca dos que resistiam à violenta exploração a que os trabalhadores eram submetidos naquele tempo. Era uma ode à pátria amada dos militares. Não foi por outro motivo que as organizações de esquerda que resistiram ao regime tinham como lema "ou ficar à pátria livre, ou morrer pelo Brasil".
Poder ver o povo brasileiro ter orgulho do que é seu, manifestar-se para reivindicar seus direitos, e aprender a viver sob uma democracia ainda jovem e ameaçada pelos interesses do grande capital, é uma alegria que só os que viveram a opressão da ditadura podem festejar.
Mas algo precisava destoar, afinal. E o tom desafinado veio da ala vip da platéia: "Hei, Dilma, vai tomar no c.!" Essa foi a palavra de ordem da elite paulistana, que marcou seu descontentamento com as políticas do governo federal, bem ao estilo dos articulistas da direita truculenta. A elite paulistana está tentando aprender a viver sob a democracia, mas ainda há muito chão pela frente porque, convenhamos, esse xingamento grosseiro não é exatamente uma palavra de ordem que expresse uma posição política, mas um ódio de classe incontido, tal qual uma fratura exposta. Não é próprio da democracia. A conclusão, afinal, é que Marilena Chauí tem razão: a classe média paulistana ainda é uma abominação política e ética, no mínimo. Mas Dilma já disse, não custa relembrar: "Prefiro as vaias da democracia, do que os aplausos da ditadura".


Marilena Chauí: As abominações da classe média



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