13/06/2014
Vaias e xingamentos são máscaras políticas antinacionais de direita
Orvandil Moreira Barbosa*
No meu trabalho educacional e nas ações pastorais me deparo seguidamente com pessoas dizendo que não gostam de política.
Certa vez, durante os anos de chumbo da
ditadura cívico-mediática-imperialista- militar, no dia 04 de setembro de
1978, eu fazia um sermão em Cruz Alta-RS e denunciava que a Pátria fora
esmagada em sua cidadania e falta de liberdade quando percebi que
grande parte do coral saia com medo de represálias da ditadura. Depois
soube que maridos de coristas esperavam em seus carros com motores
ligados e portas abertas para, no caso dos militares invadirem o templo,
correrem em fuga me abandonando em suas garras sanguinárias. Logo a
seguir iniciaram movimento com abaixo-assinados e fofocas para minha
transferência de paróquia, além de me dedurarem para os milicos que
nunca mais me deixaram em paz, levando-me a malabarismos pelos
interiores daquele vasto território municipal para evitar emboscadas e
até ser assassinado.
Outra vez em Caxias do Sul, numa paróquia
dominada por farsantes que passavam por cima de minha autoridade
pastoral, em convênio com um bispo fraco e covarde, numa oportunidade eu
lia, nas vésperas das eleições, orientações pastorais provindas da
diocese, sediada em Porto Alegre, sobre a postura cristã e cidadã a ser
adotada no pleito que se aproximava, quando um senhor, de posse de sua
influência nos meios de comunicação, levantou-se aos gritos para tentar
barrar a leitura de decisões oficiais, alegando que em igreja não se
trata de política. Posteriormente este senhor juntou-se a um grupo
clandestino para me boicotar e torpedear as ações pastorais coordenadas
por mim até quase me levar à loucura, agindo de forma extremamente
desumana, nada condizendo com o cristianismo que diziam ser sua
religião.
No campo da educação onde exerço papel
apaixonado como professor desde minha juventude, a partir do seminário,
também enfrento perseguições dos que entendem, não sei com base em que
epistemologia, que educação e política não se casam. Minha primeira
prisão, aliás, muito violenta, acompanhada de torturas e de empurrões
sobre pessoas assassinadas nos porões da ditadura, deu-se numa sala de
aula onde eu ensinava religião apontando os caminhos históricos e
geográficos trilhados por Jesus na Palestina, desde sempre pisada pelos
opressores. Tempos depois soube que a prisão se dera porque a diretora
conservadora, muito religiosa, me dedara para a repressão. Por pouco não
fui assassinado e, talvez, meu cadáver enterrado como desconhecido numa
vala qualquer e eu dado como desaparecido.
Aqui em Goiânia um coordenador neoliberal
me difamou e me prejudicou para dar meu espaço para gente da ala
neoliberal de Marconi Perillo, acusado de aliança com o famoso bicheiro
Carlos Cachoeira e de mandar assassinar um soldado da polícia militar,
como a mídia noticia agora. O seu diretor falou mal de mim apesar de
dizer que sou ótimo professor, alegando em sua sala, sempre pedindo a
quem e para quem fofoqueia que o que ele diz ali dali não deve sair, que
sou muito radical – que classificação filosoficamente estranha essa.
Muito radical? – Não importa definições corretas das coisas para esse
tipo de gente, o que importa é difamar. Outra diretora de instituição
diferente reuniu os professores com a clara intenção de me passar um
pito ao afirmar que há professores que tratam de partidos políticos em
sala de aula, numa confusão de má-fé ou por ignorância entre conceito de
política e de partido político, discursando com a costumeira ameaça
fascista de demissão. Noutra instituição, um diretor completamente
despreparado, amante de Revista Veja, dos Estados Unidos e do seu
terrorista presidente Obama, a quem acha o máximo como orador, cortou
relações comigo já no início de meu trabalho naquela instituição, cujo
proprietário eu respeito e estimo por sua inteligência e coerência
ecumênica.
O que desejo exemplificar com esses
exemplos? Não os elenco para me queixar nem para sinalizar que me sinta
perseguido. Meu interesse é analisar a hipocrisia subjacente no discurso
de má-fé ou ignorante dos que dizem que religião, educação, futebol e
política não se misturam e que é falso a tese dos que dizem que não
gostam de política quando fazem essas coisas. Gostam e da pior maneira
possível. Gostam da política de direita, marcada de discriminações,
perseguições e golpes traiçoeiros.
Todos os exemplos que listei acima são
movidos por interesses políticos de direita, conservadores da classe
dominante, que teme mudanças e indícios de socialismo, por mais distante
que este ainda se coloque em nossa agenda evolutiva e social
brasileiras.
Nos exemplos que aqui dou salta aos olhos
que seus promotores agem com interesses políticos, muitas vezes até com
ligações partidárias neoliberais e fascistas disfarçadas. Noutros casos
até agem sem ligações deliberadas partidárias com a direita, mas, por
sua ignorância, a favorecem. Ressalte-se que todas aquelas atitudes são
fingidas, fofoqueiras, não debatidas, não conversadas, antiéticas, por
isso, autoritárias e perigosas por seu alto grau de desumanidade.
As vaias dadas à Presidenta Dilma ontem
na linda abertura da Copa do Mundo, dadas pelos branquinhos, cheirosos e
bem alimentados, são do mesmo teor dos exemplos que enfileirei acima.
Assim como me lembro com tristeza dos que
fizeram e fazem denuncismo contra mim e a muitos, sem nunca consultar
meu coração, senti muita vergonha do que os engomadinhos de São Paulo e
da elite racista, de ideias embranquecidas e de atitudes rasteiras
fizeram contra o Brasil, mostrando ao mundo a negação de que nosso povo
é.
Não gosto de Fernando Henrique Cardoso
por avaliar que ele traiu o Brasil ao vender tudo o que pode de nossas
estatais, por se render covardemente, prostituindo o cargo de Presidente
do Brasil, o “florão da América”, mas nunca gritei nada contra ele nem
nunca o ofendi quando estive em suas proximidades.
Não gosto de Aécio Neves por analisar que
sua proposta de governo para o Brasil é do interesse histórico e
antinacional da elite colonizadora brasileira, mas, se desgraçadamente
se eleger para encharcar o Brasil de seus desvalores, é certo que nunca
faltarei com o respeito a seu cargo, embora ele não me represente.
Nunca faria o que aconteceu ontem no jogo
do Brasil com a Croácia. Nunca mesmo, porque há que sermos honestos,
justos e respeitadores. Política séria não se trata com desrespeito, com
palavrões e com traições. O que aconteceu ontem é feio, vergonhoso, mas
não é sério. Não o é porque a direita não é séria, não tem respeito e é
vulgar, desde sua origem, por mais que seus protagonistas batem no
peito alegando que suas pessoas são finas e de estirpe.
Essa é hora do confronto sim, mas de
forma politizada, madura, respeitosa e, sobretudo, construtiva. É o
Brasil que está em jogo e não projetos diminutos e atitudes pequenas.
*Bispo, educador e presidente da Ibrapaz (www.domomb.blogspot.com.br)
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