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Observatorio Geral, 30 de janeiro de 2014
O pensamento utópico e reacionário do “não à Copa”
Por Jean Menezes de Aguiar
A moça segurava um cartaz na manifestação, semana passada. Dizia: ‘da Copa eu abro mão, não abro de saúde e educação’. Frase de efeito, com um sentido até interessante. Mas clama por coisas que há séculos o Brasil não resolveu: saúde e educação. Nem países avançados.
O discurso é uma bravata. Perde como argumentação, mesmo sendo um panfleto de manifestação. Há nele uma sublógica até correta, mas o erro é imenso. A parte correta é pedir ‘mais’ saúde e educação, isto é óbvio, todos querem. A parte incorreta é reacionária e não se sustenta: opor a Copa -um fato novo- a problemas seculares.
Qualquer pessoa em sã consciência ‘prefere’ para um país como o Brasil, saúde e educação a eventos como Copa, Olimpíada. Mas comparações precisam ser possíveis. Não há a menor equivalência nos termos: saúde/educação de um lado, e Copa do outro. Precisamente aí se esconde a falácia. Ou o maquiavelismo de botequim.
A sanha reacionária está em se colocar em um dos pratos da balança, querendo que se resolva em 4 meses, ‘sob pena’ de se dizer não à Copa, a saúde e a educação. Percebe-se que este discurso contém o impossível: não se resolve saúde e educação em 4 meses. Há que se ser minimamente honesto. A falácia está na ameaça: se não resolver saúde e educação, ‘então’ não haverá Copa.
Se vale o impossível que se evoque o ‘fim da miséria’, o ‘fim das drogas’, o ‘fim da pobreza’, o ‘fim da corrupção’ etc. A realidade doi, mas ela é o que é.
Saúde e educação serão resolvidas. Não há bola de cristal aí. Tem sido assim nos países ‘avançados’. É uma evolução social natural. Mas o conserto sempre exigiu décadas e administrações honestíssimas. Dezenas de presidentes se sucedendo, acertando e errando. Milhões de eleitores acertando e errando. Errando, estrondosamente, por exemplo, como foi com o desastre Collor.
Saúde e educação são pautas econômicas e sociais dificílimas que se acumulam sem solução há décadas, não apenas no Brasil. Desafiam modelos econômicos e sociais antagônicos e opostos em que capitalismo e marxismo, para se falar pouco, se enfrentam.
Apenas dois dados. O Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Program for International Student Assessment – PISA) é um sistema de avaliação internacional que mede o desempenho de alunos de 15 anos de idade em leitura e conhecimento científico. Isso se dá a cada três anos. Dos países avaliados (OCDE – Organização para a Cooperação Econômica e o Desenvolvimento), os alunos americanos, em ciência, ficaram atrás de 16 de 29 países. Em matemática, ficaram atrás de 23. Os dados estão em Joseph Stiglitz, ‘O mundo em queda livre’, 2010, p. 480. Ou seja, o grave problema da educação existe ‘até’ nos Estados Unidos. Assim os estudiosos como Stiglitz veem.
A mesma pesquisa no Brasil, edição 2012, entre 65 países pode ser vista em (http://www.oecd.org/pisa/
Manifestação de rua, no Brasil, entrou na moda com o advento do Junho-2013. É uma ótima moda, ótima prova de civismo, linda manifestação de cidadania e participação. Há apenas que se saber qual ponto ou qual modo e maneira ‘podem’ ser reivindicados. Ninguém quer defender o impossível e o anacrônico. Pedofilia, abuso infantil, liberdade de drogas pesadas, pena de morte são exemplos que seriam simplesmente ridículos numa manifestação. Ninguém imagina algo assim.
Manifestações exageram e não se pode querer controlar exageros. Palavras de ordem são usadas de forma às vezes ofensivas. ‘Acidentes podem’ ocorrer como o Fusca do serralheiro que foi incendiado – que se pague um outro carro para ele-. Mas se criar um movimento buscando negar o Brasil como sede da Copa do Mundo porque há que se resolver saúde e educação ‘antes’, beira o patético. Ou o politiqueiro, no sentido de ‘politizar’ a Copa querendo-a do PT e de Dilma.
A Copa é do Brasil, não é exclusividade de nenhum partido político ou mesmo de Dilma. PT e Dilma ocupam, por voto, a gestão atual de governo e têm e tiveram a obrigação de buscar a Copa para o país. Conseguiram e merecem o reconhecimento. Mas houve aí mero ato de ofício bem sucedido de governo. Havia chegado a hora do Brasil e o governo, fosse ele quem fosse, teria que se esforçar para trazer a Copa para o Brasil.
Sendo a Copa da sociedade – ela que pagará a conta-, afigura-se antropofágica a própria sociedade lutar contra. Ainda que uma parcela ínfima e barulhenta. Por que não se berrou dos bilhões de reais enfiados nos estádios?
Se a Copa é de todos, nem a oposição ao governo atual pode instigar manifestações contrárias à Copa. Estará instigando uma manifestação contrária à sociedade. Sendo assim, viva a Copa e que o brasileiro saiba dar o valioso exemplo de educação e amizade.
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