Blog da Boitempo, 05/06/2014
Não é a Copa, imbecil, são as eleições!
Por Emir Sader
A imagem do
Brasil foi projetada internacionalmente nas ultimas décadas de três
maneiras distintas: o Brasil da ditadura militar, o Brasil do
neoliberalismo e o Brasil do Lula. O da ditadura tinha a cara do
“milagre econômico” e a da repressão. Cada campo político exaltava um
lado. No neoliberalismo, da mesma forma, o Brasil foi retratado de
modelo que parecia se consagrar a fracasso.
O Brasil do
Lula foi a imagem mais difundida do país em muito tempo. Depois de estar
apagado na mídia internacional por um bom tempo, de repente, para
surpresa geral, no meio da era neoliberal, o pais mais desigual do mundo
passou a ser a referencia na luta contra a fome e o modelo de sucesso
no combate à desigualdade. É uma imagem que incomoda muito. Antes de
tudo, às hostes neoliberais, cujos princípios são negados abertamente
pelo Brasil, que faz residir nessa negação exatamente o seu sucesso. E
incomoda aos setores da ultra-esquerda, que já tinham cantado a
“traição” do Lula e do PT, no começo do governo e tiveram que engolir a
seco o sucesso popular interno e internacional do Brasil.
Desde o ano
passado, foi se desatando uma gigantesca campanha internacional contra o
Brasil, que busca desconstruir esse Brasil que incomoda a esses
setores. Tratou-se de dizer que, com as manifestações de junho do ano
passado, ruía todo o castelo construído no Brasil. Não poucos – da
direita à ultra-esquerda, aqui e lá fora – se valeram da palavra
“farsa”, como se tudo o que acontece no Brasil desde 2003 fosse uma
montagem, que finalmente se desmontava. Houve até quem prognosticasse
que o país entrava numa “fase de rebeliões”, fazendo dos seus desejos
realidade. Coisas presas na garganta vieram pra fora sem nenhuma
auto-censura, acreditando que a realidade era redutível às suas
palavras.
A persa de
apoio do governo incentivou a oposição a acreditar que “o ciclo do PT
havia terminado”, levando forças da própria base de apoio do governo a
acreditarem que sua hora havia chegado. Puseram seus melhores ternos e
foram para a janela a ver passar o féretro do governo.
Contam esses com a formidável maquinaria neoliberal global, que tem no The Economist, no Financial Times, no The Wall Street Journal, no El Pais,
suas vozes cantantes. Junto com a anunciada – e nunca cumprida –
desaceleração da economia chinesa, agregaram uma suposta recessão dos
Brics a uma também imaginária recuperação dos países do centro do
capitalismo. Tudo contra todas as evidencias, que os desmentem em
números, todos os meses.
Faz parte
dessa contra-ofensiva da direita a campanha orquestrada contra o Brasil.
Para não citar a cascata de calúnias e mentiras – que incluíam desde o
assassinato de crianças em Fortaleza e uma greve geral de todas as
polícias estaduais –, basta recordar que o Ministério de Relações
Exteriores da Alemanha classificou o Brasil como “pais de alto risco”,
categoria usada para países com conflagração armada, com insegurança
total, como Nigéria, Sudão, Ucrânia.
Nada fez com que diminuísse a procura de pacotes para a vinda ao Brasil, nem na Alemanha, nem na França como atestou o Veríssimo de Paris, depois de alinhar algumas das barbaridades que falam do Brasil por lá.
É uma
ofensiva intencionada, pelo que o Brasil do Lula os incomoda. Aqui
dentro, com a Copa coincidindo com as eleições, a mídia – mais do que
nunca assumida direção partidária da oposição
– se joga inteiramente nas denuncias sobre a Copa e no eco desmesurado
de qualquer mobilização que, de alguma forma, possa aparecer ligada à
Copa, na expectativa de que possam desgastar a candidatura da Dilma.
Se valem de
manifestações de distintos setores, algumas deles em que alguns, de
forma oportunista, buscam os holofotes da mídia nacional e
internacional, para gerar uma imagem de descontrole social. Contam com a
mídia internacional afoita de notícias sensacionais e com a operação
política global da direita contra o Brasil.
Não fosse
ano eleitoral e a circunstância de que a direita deve ter sua quarta
derrota consecutiva, a mídia não estaria tão assanhada assim. Não
estaria – até as eleições, claro – dando cobertura e superdimensionando
qualquer manifestação existente ou por haver. Afinal, no marco geral de
diminuição sistemática das tiragens e da audiência, a Copa seria um bom
tema para diminuir esse ritmo de queda.
Mas, não é a
Copa, imbecil! É a eleição presidencial. É a perspectiva provável de
reeleição da Dilma, ainda mais com a possibilidade de um retorno do Lula
em 2018. Isto é o que produz o desespero da direita nacional e dos seus
aliados internacionais. Não olhem para o dedo que aponta a lua, olhem
para a lua. A questão política central este ano não é a Copa, são as
eleições.
Emir Sader nasceu em São Paulo, em 1943. Formado em Filosofia pela Universidade de
São Paulo, é cientista político e professor da FFLCH-USP. É
secretário-executivo do Clacso e coordenador-geral do Laboratório de
Políticas Públicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
Coordena a coleção Pauliceia, publicada pela Boitempo, e organizou ao
lado de Ivana Jinkings, Carlos Eduardo Martins e Rodrigo Nobile a
Latinoamericana – enciclopédia contemporânea da América Latina e do
Caribe (São Paulo, Boitempo, 2006), vencedora do 49º Prêmio Jabuti, na
categoria Livro de não-ficção do ano. Colabora para o Blog da Boitempo
quinzenalmente, às quartas.
Por Luis Fernando Veríssimo
A televisão francesa não para de mostrar razões para ninguém ir ao Brasil, na Copa ou em qualquer outro momento. Ao mesmo tempo as agências de viagens não param de vender pacotes para franceses irem à Copa. E a música do Brasil está em alta como nunca em Paris, até em lugares inesperados.
Três cantoras francesas e uma guitarrista fizeram um show há dias no Teatro Bouffes du Nord só de compositores brasileiros, de Villa-Lobos a Hermeto Pascoal e incluindo “Tico-tico no fubá”. Uma cantora francesa chamada Malu le Prince está resgatando a obra injustamente esquecida do Johnny Alf. E um show da Stacey Kent com um quarteto de cordas no Teatro Chatelet não só tinha uma maioria de canções do Tom Jobim e outros brasileiros como acabou em batucada. Você acreditaria na Stacey Kent tocando agogô?
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