O Cafezinho, 21/03/2014
As mentiras da mídia no caso Pasadena
Por Miguel do Rosário
O governo está brincando com fogo ao manter uma estratégia de comunicação tão irritantemente tosca. A nota da Dilma à imprensa, redigida ao lado do novo chefe da Secom, Thomas Traumann, entrará para a história como uma das maiores trapalhadas dos últimos anos.
Eu tenho muita admiração pela blogosfera, até porque eu sou blogueiro, vivo hoje quase que exclusivamente do meu blog, e não poderia pensar de outra maneira, mas o contraponto às mentiras da mídia não pode ficar apenas em mãos de um punhado de internautas.
O governo tem estrutura e organização para dar uma belíssima resposta à mídia. Dilma foi eleita pela maioria do povo e pode simplesmente dar uma entrevista para esclarecer tudo.
Não precisa dizer que a compra de Pasadena foi um bom negócio, porque não seria verdade. Parecia bom à época, mas com a descoberta do pré-sal e crise financeira mundial de 2008 tudo mudou.
Às vezes eu tenho impressão que os executivos da Secom sequer acompanham a imprensa. Ou pior, que eles acreditam no que lêem.
Em 2013, houve inúmeros debates e audiências sobre a compra de Pasadena pela Petrobrás. Sergio Gabrielli, que era presidente da companhia na época, foi ao Senado e apresentou um trabalho detalhado e completo. Ele também deu entrevistas francas e esclarecedoras sobre o episódio.
Primeira mentira da mídia: afirmar que a Petrobrás pagou US$ 360 milhões pela refinaria. A Petrobrás pagou US$ 190 milhões pelos 50% da refinaria. O valor restante – US$ 170 milhões – foram estoques de petróleo e derivados, os quais foram processados e vendidos, com geração de faturamento para a refinaria e para a Petrobrás.
Segundo Gabrielli, a Astra pagou US$ 42 milhões pela Astra em 2005, mas fez investimentos da ordem de US$ 84 milhões. De 2005 para 2006, os preços das refinarias cresceram muito nos EUA, de maneira que o valor pago pelo Brasil estava perfeitamente em linha com o mercado. E isso não sou eu que digo: Fabio Barbosa, hoje presidente do Grupo Abril, que fazia parte do conselho de administração da Petrobrás, na época da compra, acaba de declarar que “a proposta de compra de Pasadena submetida ao Conselho em fevereiro de 2006, da qual eu fazia parte, estava inteiramente alinhada com o plano estratégico vigente para a empresa, e o valor da operação estava dentro dos parâmetros do mercado, conforme atestou então um grande banco americano, contratado para esse fim”.
Jorge Gerdau Johannpeter, um dos empresários de maior prestígio no país, e que também compunha o conselho da Petrobrás, também assegura que as informações disponibilizadas por renomadas consultorias internacionais apontavam um ótimo negócio: “O Conselho de Administração da Petrobras baseou-se em avaliações técnicas de consultorias com reconhecida experiência internacional, cujos pareceres apontavam para a validade e a oportunidade do negócio, considerando as boas perspectivas de mercado para os anos seguintes. Entretanto, a crise global de 2008 alterou drasticamente o potencial de crescimento do mercado nos anos subsequentes”.
Outro membro à época do conselho da Petrobrás, Cláudio Haddad, que já foi sócio do Banco Garantia, diz a mesma coisa: “A gente achou que seria um bom negócio para a Petrobras. Eu me lembro que teve uma ‘fairness opinion’ (recomendação de uma instituição financeira), que foi do Citibank, que comparou preços, recomendou e mostrou que estava perfeitamente dentro, até abaixo dos preços praticados na época”.
Ou seja, na questão dos preços, consultorias independentes e a opinião de executivos e empresários respeitados no mundo dos negócios, afirmavam que se tratava de um excelente negócio para a Petrobrás. Isso deve calar a boca de muita gente.
Mas a mídia, como sempre, persiste na mentira em colunas e editoriais, desvelando um esforço algo desesperado para transformar o episódio num “escândalo” que possa prejudicar Dilma eleitoralmente.
Miriam Leitão vai além da mentira convencional, e diz em sua coluna de hoje que a Petrobrás pagou US$ 860 milhões pelos outros 50% de Pasadena.
Miriam mudou o número de US$ 820 milhões, correto, para US$ 860 milhões, invenção.
Só que a Petrobrás não pagou sequer US$ 820 milhões pelos últimos 50% da refinaria. Pagou US$ 296 milhões. O restante do valor refere-se à aquisição de estoques, que foram vendidos e entraram no caixa da refinaria, e custos bancários, honorários e indenizações processuais, após uma decisão judicial na Corte de Nova York que beneficiou a empresa belga, com muito mais experiência no mercado norte-americano.
Outra confusão é fingir que a refinaria é apenas uma sucata inútil localizada em algum lugar inacessível do pólo norte, e não uma instalação que ainda tem equipamentos operantes e se situa numa das áreas mais estratégicas dos EUA, quando se trata de petróleo: Houston Ship Channel, onde se tem acesso marítimo ao golfo do México e há interligações modais para todo o território americano. Ou seja, ainda pode ser útil à Petrobrás.
Gabrielli, contudo, é bem sincero: na sua opinião, a refinaria não é mais bom negócio para a Petrobrás, porque ela foi adquirida com o objetivo de receber petróleo pesado das jazidas brasileiras, processá-lo e vender no mercado americano. Só que as descobertas do pré-sal mudaram o cenário, pela simples razão de que o petróleo em águas ultra-profundas é leve. E à Petrobrás não interessa mais desviar qualquer recurso para uma refinaria em Pasadena porque já não consegue dar conta de tanto petróleo encontrado em nossa costa. Mas o momento não é bom para vender a refinaria, diz Gabrielli, que pensar valer a pena aguardar uma oportunidade mais favorável.
Enfim, há explicação para tudo, e a presidenta, ou algum ministro, bem que podia dar uma entrevista sobre o tema, talvez acompanhado da Graça Foster, presidente da Petrobrás. Não custava nada! Daí ela podia partir para o ataque, e mostrar números que provam o sucateamento vivido pela Petrobrás em período anterior, da tentativa de privatizar a empresa, e do afundamento da maior plataforma de petróleo do mundo, a P-36.
A P-36 valia mais de US$ 1 bilhão, matou 11 pessoas, vazou óleo no mar e causou prejuízo de bilhões, visto que a produção foi interrompida. Veja o vídeo, tem apenas 45 segundos.
Eu tenho muita admiração pela blogosfera, até porque eu sou blogueiro, vivo hoje quase que exclusivamente do meu blog, e não poderia pensar de outra maneira, mas o contraponto às mentiras da mídia não pode ficar apenas em mãos de um punhado de internautas.
O governo tem estrutura e organização para dar uma belíssima resposta à mídia. Dilma foi eleita pela maioria do povo e pode simplesmente dar uma entrevista para esclarecer tudo.
Não precisa dizer que a compra de Pasadena foi um bom negócio, porque não seria verdade. Parecia bom à época, mas com a descoberta do pré-sal e crise financeira mundial de 2008 tudo mudou.
Às vezes eu tenho impressão que os executivos da Secom sequer acompanham a imprensa. Ou pior, que eles acreditam no que lêem.
Em 2013, houve inúmeros debates e audiências sobre a compra de Pasadena pela Petrobrás. Sergio Gabrielli, que era presidente da companhia na época, foi ao Senado e apresentou um trabalho detalhado e completo. Ele também deu entrevistas francas e esclarecedoras sobre o episódio.
Primeira mentira da mídia: afirmar que a Petrobrás pagou US$ 360 milhões pela refinaria. A Petrobrás pagou US$ 190 milhões pelos 50% da refinaria. O valor restante – US$ 170 milhões – foram estoques de petróleo e derivados, os quais foram processados e vendidos, com geração de faturamento para a refinaria e para a Petrobrás.
Segundo Gabrielli, a Astra pagou US$ 42 milhões pela Astra em 2005, mas fez investimentos da ordem de US$ 84 milhões. De 2005 para 2006, os preços das refinarias cresceram muito nos EUA, de maneira que o valor pago pelo Brasil estava perfeitamente em linha com o mercado. E isso não sou eu que digo: Fabio Barbosa, hoje presidente do Grupo Abril, que fazia parte do conselho de administração da Petrobrás, na época da compra, acaba de declarar que “a proposta de compra de Pasadena submetida ao Conselho em fevereiro de 2006, da qual eu fazia parte, estava inteiramente alinhada com o plano estratégico vigente para a empresa, e o valor da operação estava dentro dos parâmetros do mercado, conforme atestou então um grande banco americano, contratado para esse fim”.
Jorge Gerdau Johannpeter, um dos empresários de maior prestígio no país, e que também compunha o conselho da Petrobrás, também assegura que as informações disponibilizadas por renomadas consultorias internacionais apontavam um ótimo negócio: “O Conselho de Administração da Petrobras baseou-se em avaliações técnicas de consultorias com reconhecida experiência internacional, cujos pareceres apontavam para a validade e a oportunidade do negócio, considerando as boas perspectivas de mercado para os anos seguintes. Entretanto, a crise global de 2008 alterou drasticamente o potencial de crescimento do mercado nos anos subsequentes”.
Outro membro à época do conselho da Petrobrás, Cláudio Haddad, que já foi sócio do Banco Garantia, diz a mesma coisa: “A gente achou que seria um bom negócio para a Petrobras. Eu me lembro que teve uma ‘fairness opinion’ (recomendação de uma instituição financeira), que foi do Citibank, que comparou preços, recomendou e mostrou que estava perfeitamente dentro, até abaixo dos preços praticados na época”.
Ou seja, na questão dos preços, consultorias independentes e a opinião de executivos e empresários respeitados no mundo dos negócios, afirmavam que se tratava de um excelente negócio para a Petrobrás. Isso deve calar a boca de muita gente.
Mas a mídia, como sempre, persiste na mentira em colunas e editoriais, desvelando um esforço algo desesperado para transformar o episódio num “escândalo” que possa prejudicar Dilma eleitoralmente.
Miriam Leitão vai além da mentira convencional, e diz em sua coluna de hoje que a Petrobrás pagou US$ 860 milhões pelos outros 50% de Pasadena.
Miriam mudou o número de US$ 820 milhões, correto, para US$ 860 milhões, invenção.
Só que a Petrobrás não pagou sequer US$ 820 milhões pelos últimos 50% da refinaria. Pagou US$ 296 milhões. O restante do valor refere-se à aquisição de estoques, que foram vendidos e entraram no caixa da refinaria, e custos bancários, honorários e indenizações processuais, após uma decisão judicial na Corte de Nova York que beneficiou a empresa belga, com muito mais experiência no mercado norte-americano.
Outra confusão é fingir que a refinaria é apenas uma sucata inútil localizada em algum lugar inacessível do pólo norte, e não uma instalação que ainda tem equipamentos operantes e se situa numa das áreas mais estratégicas dos EUA, quando se trata de petróleo: Houston Ship Channel, onde se tem acesso marítimo ao golfo do México e há interligações modais para todo o território americano. Ou seja, ainda pode ser útil à Petrobrás.
Gabrielli, contudo, é bem sincero: na sua opinião, a refinaria não é mais bom negócio para a Petrobrás, porque ela foi adquirida com o objetivo de receber petróleo pesado das jazidas brasileiras, processá-lo e vender no mercado americano. Só que as descobertas do pré-sal mudaram o cenário, pela simples razão de que o petróleo em águas ultra-profundas é leve. E à Petrobrás não interessa mais desviar qualquer recurso para uma refinaria em Pasadena porque já não consegue dar conta de tanto petróleo encontrado em nossa costa. Mas o momento não é bom para vender a refinaria, diz Gabrielli, que pensar valer a pena aguardar uma oportunidade mais favorável.
Enfim, há explicação para tudo, e a presidenta, ou algum ministro, bem que podia dar uma entrevista sobre o tema, talvez acompanhado da Graça Foster, presidente da Petrobrás. Não custava nada! Daí ela podia partir para o ataque, e mostrar números que provam o sucateamento vivido pela Petrobrás em período anterior, da tentativa de privatizar a empresa, e do afundamento da maior plataforma de petróleo do mundo, a P-36.
A P-36 valia mais de US$ 1 bilhão, matou 11 pessoas, vazou óleo no mar e causou prejuízo de bilhões, visto que a produção foi interrompida. Veja o vídeo, tem apenas 45 segundos.
http://veja.abril.com.br/ noticia/economia/conselheiros- corroboram-declaracao-de- dilma-sobre-Pasadena
21/03/2014
Conselheiros corroboram declaração de Dilma sobre Pasadena
Depois de a presidente Dilma Rousseff declarar que a compra de uma participação na refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), foi aprovada no início de 2006 pelo Conselho de Administração da Petrobras, que ela chefiava, com base em relatório executivo que depois se demonstrou "incompleto" e "falho", integrantes e ex-integrantes do conselho de administração da empresa corroboraram os argumentos da presidente.
O site de VEJA ouviu Fábio Barbosa, presidente da Editora Abril, que integrava o Conselho de Administração da Petrobras quando a compra da refinaria no Texas foi aprovada por unanimidade. Disse Barbosa: "A proposta de compra de Pasadena submetida ao Conselho em fevereiro de 2006, da qual eu fazia parte, estava inteiramente alinhada com o plano estratégico vigente para a empresa, e o valor da operação estava dentro dos parâmetros do mercado, conforme atestou então um grande banco americano, contratado para esse fim. A operação foi aprovada naquela reunião nos termos do relatório executivo apresentado."
O ex-conselheiro Claudio Luiz Haddad, economista e empresário, que a diretoria da estatal fez apresentação consistente do negócio e recomendou sua aprovação. Haddad também lembrou que as negociações foram assessoradas pelo Citibank, que deu aval às condições de compra da refinaria. "O Citibank apresentou um 'fairness opinion' (recomendação de uma instituição financeira) que comparava preços e mostrava que o investimento fazia sentido, além de estar em consonância com os objetivos estratégicos da Petrobras dadas as condições de mercado da época", disse.
Por meio de nota, o empresário Jorge Gerdau Johannpeter, do grupo Gerdau, que ainda mantém cadeira no Conselho de Administração da Petrobras, afirmou que o negócio foi decidido com base em "avaliações técnicas de consultorias com reconhecida experiência internacional, cujos pareceres apontavam para a validade e a oportunidade do negócio."
A mesma nota assevera que, ao aprovar em 2006 a operação de compra e 50% de participação na refinaria Pasadena, Gerdau "não tinha conhecimento, como os demais conselheiros, das cláusulas Put Option e Marlim do contrato". A primeira dessas cláusulas obrigou a Petrobras, posteriormente, a comprar 100% a refinaria, o que trouxe prejuízos à estatal.
O site de VEJA ouviu Fábio Barbosa, presidente da Editora Abril, que integrava o Conselho de Administração da Petrobras quando a compra da refinaria no Texas foi aprovada por unanimidade. Disse Barbosa: "A proposta de compra de Pasadena submetida ao Conselho em fevereiro de 2006, da qual eu fazia parte, estava inteiramente alinhada com o plano estratégico vigente para a empresa, e o valor da operação estava dentro dos parâmetros do mercado, conforme atestou então um grande banco americano, contratado para esse fim. A operação foi aprovada naquela reunião nos termos do relatório executivo apresentado."
O ex-conselheiro Claudio Luiz Haddad, economista e empresário, que a diretoria da estatal fez apresentação consistente do negócio e recomendou sua aprovação. Haddad também lembrou que as negociações foram assessoradas pelo Citibank, que deu aval às condições de compra da refinaria. "O Citibank apresentou um 'fairness opinion' (recomendação de uma instituição financeira) que comparava preços e mostrava que o investimento fazia sentido, além de estar em consonância com os objetivos estratégicos da Petrobras dadas as condições de mercado da época", disse.
Por meio de nota, o empresário Jorge Gerdau Johannpeter, do grupo Gerdau, que ainda mantém cadeira no Conselho de Administração da Petrobras, afirmou que o negócio foi decidido com base em "avaliações técnicas de consultorias com reconhecida experiência internacional, cujos pareceres apontavam para a validade e a oportunidade do negócio."
A mesma nota assevera que, ao aprovar em 2006 a operação de compra e 50% de participação na refinaria Pasadena, Gerdau "não tinha conhecimento, como os demais conselheiros, das cláusulas Put Option e Marlim do contrato". A primeira dessas cláusulas obrigou a Petrobras, posteriormente, a comprar 100% a refinaria, o que trouxe prejuízos à estatal.
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