Carta Maior, 06/02/2014
Punhos sem renda
Por Saul Leblon
O deputado André Vargas (PT-PR) não foi orientado por um script publicitário a erguer o braço e cerrar o punho na presença da toga que se esponja no desfrutável papel midiático de algoz do PT.
Genoíno, que o antecedeu na afirmação simbólica de identidade e protesto, ou Dirceu, que assim também se confraternizou com os militantes solidários que o aguardavam na entrada da Papuda, tampouco obedeceram aos alertas de ‘luzes, câmera, ação!’
Milhares de petistas e não-petistas anônimos que fizeram chegar doações a Genoíno e Delúbio –e aqueles que repetirão a solidariedade a Dirceu e João Paulo, por certo não podem ser confundidos com coadjuvantes de uma eleitoral.
O significado desses sinais de vitalidade enviados do metabolismo profundo não apenas do PT, da esquerda em geral, já foram sublinhados pela argúcia de vários analistas da blogosfera.
O que eles evidenciam deixou inconformados colunistas e togas engajados em anos de desqualificação diuturna do partido, de seu legado e valores.
Depois de tanto sangrar, o esquartejado ainda teima –e respira?
Da perplexidade ao ataque, passaram-se poucos dias até o impoluto doutor duplo habeas corpus, Gilmar Mendes, puxar a coleira da matilha que passou a farejar operosa e incansavelmente: em algum ponto há de se achar uma cubana das doações.
O fato é que eles não contavam com a sobrevida da solidariedade no espinhaço ferido da esquerda. Tudo isso já foi dito e bem dito.
Faltou dizer que parte expressiva desta esquerda também se surpreendeu.
Surpreendeu-se ela com o efeito demolidor de algo esquecido na prática minuciosamente monitorada pela conveniência do exercício do poder: a espontaneidade de André Vargas.
Sem falar da solidariedade sem hesitação a Genoíno e Delúbio –que por certo inclui doações expressivas de instituições e personalidades, a exemplo do cheque de R$ 10 mil enviado pelo ex-ministro Nelson Jobim.
Mas nada que diminua a vitalidade do que verdadeiramente incomoda e sacode: milhares de doadores anônimos não esperaram uma peça publicitária para sair em defesa de quem personifica referências inegociáveis de sua visão de vida, de mundo e de Brasil.
A criatividade inexcedível do protesto espontâneo e o efeito demonstração incomparável da prontidão solidária hibernavam na memória algo entorpecida do PT.
Há mais de uma década desafiado a ser partido de massa e governo - a bordo das sabidas contradições que a dupla jornada encerra, o partido impôs-se, compreensivelmente, o gesso da previsibilidade e as algemas do risco zero.
Ademais dos comedimentos da responsabilidade de ser governo, o próprio êxito dessa trajetória - reiterado nas urnas - instituiu um protocolo de autopreservação: ele delega ao pensamento publicitário a última palavra (não raro a primeira também) sobre o que o partido deve falar, quando e como fazê-lo.
Cabe a pergunta: que publicitário petista orientaria um dirigente a cerrar o punho, de braço erguido, diante da toga colérica, a essa altura do jogo? E quantos bancariam uma campanha massiva de doações aos incômodos condenados do chamado ‘mensalão’?
‘E pur si muove...’
A eficácia do improvável deveria inspirar arguições no pragmatismo que planeja a campanha presidencial deste ano.
Todo cuidado é pouco – estão aí as togas, o jornalismo isento, os mercados sedentos, os netos oportunistas e os verdes convertidos no altar do tripé.
‘Não vai ter Copa’ é o mínimo que eles ambicionam.
Mas estão aí também a democracia e o desenvolvimento brasileiro perfilados num horizonte de encruzilhadas imunes à receita de mais do mesmo em nova embalagem e sabores reciclados.
Aquilo que cabe em um script competente, mas exatamente por isso encilhado em baixos teores de ousadia e residual espaço à mobilização, talvez seja suficiente para vencer o conservadorismo nas urnas de outubro.
Mas o será para liderar a transição do novo pacto de desenvolvimento necessário à construção da democracia social brasileira?
A ver.
http://www1.folha.uol.com.br/ poder/2014/02/1408154-jurista- critica-declaracoes-de- ministro-do-stf.shtml
Por Saul Leblon
O deputado André Vargas (PT-PR) não foi orientado por um script publicitário a erguer o braço e cerrar o punho na presença da toga que se esponja no desfrutável papel midiático de algoz do PT.
Genoíno, que o antecedeu na afirmação simbólica de identidade e protesto, ou Dirceu, que assim também se confraternizou com os militantes solidários que o aguardavam na entrada da Papuda, tampouco obedeceram aos alertas de ‘luzes, câmera, ação!’
Milhares de petistas e não-petistas anônimos que fizeram chegar doações a Genoíno e Delúbio –e aqueles que repetirão a solidariedade a Dirceu e João Paulo, por certo não podem ser confundidos com coadjuvantes de uma eleitoral.
O significado desses sinais de vitalidade enviados do metabolismo profundo não apenas do PT, da esquerda em geral, já foram sublinhados pela argúcia de vários analistas da blogosfera.
O que eles evidenciam deixou inconformados colunistas e togas engajados em anos de desqualificação diuturna do partido, de seu legado e valores.
Depois de tanto sangrar, o esquartejado ainda teima –e respira?
Da perplexidade ao ataque, passaram-se poucos dias até o impoluto doutor duplo habeas corpus, Gilmar Mendes, puxar a coleira da matilha que passou a farejar operosa e incansavelmente: em algum ponto há de se achar uma cubana das doações.
O fato é que eles não contavam com a sobrevida da solidariedade no espinhaço ferido da esquerda. Tudo isso já foi dito e bem dito.
Faltou dizer que parte expressiva desta esquerda também se surpreendeu.
Surpreendeu-se ela com o efeito demolidor de algo esquecido na prática minuciosamente monitorada pela conveniência do exercício do poder: a espontaneidade de André Vargas.
Sem falar da solidariedade sem hesitação a Genoíno e Delúbio –que por certo inclui doações expressivas de instituições e personalidades, a exemplo do cheque de R$ 10 mil enviado pelo ex-ministro Nelson Jobim.
Mas nada que diminua a vitalidade do que verdadeiramente incomoda e sacode: milhares de doadores anônimos não esperaram uma peça publicitária para sair em defesa de quem personifica referências inegociáveis de sua visão de vida, de mundo e de Brasil.
A criatividade inexcedível do protesto espontâneo e o efeito demonstração incomparável da prontidão solidária hibernavam na memória algo entorpecida do PT.
Há mais de uma década desafiado a ser partido de massa e governo - a bordo das sabidas contradições que a dupla jornada encerra, o partido impôs-se, compreensivelmente, o gesso da previsibilidade e as algemas do risco zero.
Ademais dos comedimentos da responsabilidade de ser governo, o próprio êxito dessa trajetória - reiterado nas urnas - instituiu um protocolo de autopreservação: ele delega ao pensamento publicitário a última palavra (não raro a primeira também) sobre o que o partido deve falar, quando e como fazê-lo.
Cabe a pergunta: que publicitário petista orientaria um dirigente a cerrar o punho, de braço erguido, diante da toga colérica, a essa altura do jogo? E quantos bancariam uma campanha massiva de doações aos incômodos condenados do chamado ‘mensalão’?
‘E pur si muove...’
A eficácia do improvável deveria inspirar arguições no pragmatismo que planeja a campanha presidencial deste ano.
Todo cuidado é pouco – estão aí as togas, o jornalismo isento, os mercados sedentos, os netos oportunistas e os verdes convertidos no altar do tripé.
‘Não vai ter Copa’ é o mínimo que eles ambicionam.
Mas estão aí também a democracia e o desenvolvimento brasileiro perfilados num horizonte de encruzilhadas imunes à receita de mais do mesmo em nova embalagem e sabores reciclados.
Aquilo que cabe em um script competente, mas exatamente por isso encilhado em baixos teores de ousadia e residual espaço à mobilização, talvez seja suficiente para vencer o conservadorismo nas urnas de outubro.
Mas o será para liderar a transição do novo pacto de desenvolvimento necessário à construção da democracia social brasileira?
A ver.
http://www1.folha.uol.com.br/
Folha.com, 06/02/2014
Jurista critica declarações de ministro do STF
MARINA DIAS
DE SÃO PAULO
O advogado Celso Antônio Bandeira de Mello classificou como "escandalosas" as declarações do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes sobre possível lavagem de dinheiro nas doações feitas a petistas condenados pelo mensalão.
Professor da PUC-SP e amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o jurista disse à Folha que Mendes "faz acusações sem provas". "Ele irroga a terceiros a prática de um crime sem indícios e isso, vindo de um ministro da Suprema Corte, é escandaloso".
Bandeira de Mello também é amigo do ex-presidente do PT José Genoino e foi uma das 2.620 pessoas que doaram ao petista para ajudá-lo a pagar a multa de R$ 667,5 mil imposta pela Justiça.
A doação de Bandeira de Mello foi no valor de R$ 10 mil, quantia acordada entre outros advogados que participaram da campanha.
"Como doador, me senti ofendido, porque Gilmar Mendes lançou publicamente uma suspeita sem provas e fui atingido por ela. Estou chocado", afirmou o jurista.
O ministro do STF disse que achava "muito esquisito" o fato de Genoino e de o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares terem arrecadado, juntos, cerca de R$ 1,7 milhão com "grande facilidade".
Para ele, o sistema de doações deveria ser investigado pelo Ministério Público.
Os dois petistas promoveram campanhas de arrecadação em sites na internet que devem ser repetidas com o ex-ministro José Dirceu e o deputado João Paulo Cunha.
FALTA DE LÓGICA
Bandeira de Mello disse ainda que "não vê lógica" na tese sobre lavagem de dinheiro. "O montante é grande porque as pessoas que doaram consideraram o julgamento do mensalão injusto".
O jurista afirmou que pretende doar para Dirceu e que só não doou para Delúbio porque "não era muito próximo" do ex-tesoureiro do PT.
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