segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Dilma e a turma do Brasil aos cacos

Pronunciamento da Presidenta Dilma em 29.Dez.2013

http://www.youtube.com/watch?v=35WqAEXvNYA



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Dilma e a turma do Brasil aos cacos

 
 
Por Saul Leblon


 

Em mensagem de fim de ano, a Presidenta da República reafirma a determinação de conduzir o país de olho no que verdadeiramente importa: melhorar a vida do conjunto dos brasileiros. Sua fala rebate a narrativa conservadora do Brasil aos cacos - se não for hoje, de amanhã o Brasil não passa. Capitalismo em equilíbrio é uma contradição nos seus próprios termos, fuzila Dilma nas entrelinhas.

A estabilidade reivindicada pela ortodoxia equivale, na verdade, à paz salazarista dos cemitérios, na qual o povo faz o papel de defunto e o dinheiro grosso, o de coveiro. É o oposto do compromisso firmado pela Presidenta com a melhoria das condições de vida do povo brasileiro. Só há uma receita econômica compatível com esse pacto: aquela que entende o desenvolvimento como um processo histórico de transformação da sociedade, o que implica superar estruturas existentes e criar outras novas, e isso não se faz a frio.

Ao contrário do que sugerem os dogmas neoliberais apregoados pelo jornalismo isento, quem determina a macroeconomia nessa processo é a correlação de forças de cada época. Para romper os torniquetes do dinheiro grosso é necessário poder -e poder hoje no Brasil implica subtrair espaços do mercado em favor da democracia.
 

Por isso Dilma alerta em sua mensagem: "Defendemos uma reforma política que amplie os canais de participação popular e (dê) maior legitimidade à representação política". A guerra de expectativas, de natureza essencialmente política, levada a cabo pelo jogral conservador, age exatamente no sentido oposto, o de estreitar o espaço de manobra da luta pelo desenvolvimento. Dilma vai ao ponto:  "Se alguns setores, seja porque motivo for, instilarem desconfiança, especialmente desconfiança injustificada, isso é muito ruim. A guerra psicológica pode inibir investimentos e retardar iniciativas", denunciou uma Presidenta ciente dos seus trunfos e, sobretudo, consciente de como é possível ampliá-los. Leia a íntegra do pronunciamento.


Minhas amigas e meus amigos,

Graças ao esforço de todas as brasileiras e de todos os brasileiros, o Brasil termina o ano melhor do que começou. Temos motivos também para esperar um 2014 ainda melhor do que foi 2013.

As dificuldades que enfrentamos, aqui dentro e lá fora, não foram capazes de interromper o ciclo positivo que vivemos e que tem garantido que a vida dos brasileiros melhore gradativamente a cada ano. Nos últimos anos somos um dos raros países do mundo em que o nível de vida da população não recuou ou se espatifou em meio a alguma grave crise. Chegamos até aqui melhorando de vida, pouco a pouco, mas sempre de maneira firme e segura. Construindo a base para que a expressão "melhorar de vida" deixe de ser, em um futuro próximo, um sonho parcialmente realizado, torne-se a realidade plena e inegável da vida de cada brasileiro e de cada brasileira.

É para isso que você pega duro no batente todos os dias. É para que o seu esforço traga resultados ainda mais rápidos que cobro todos os minutos um bom desempenho do meu governo. Não existe nada mais importante para mim do que ver as famílias brasileiras melhorando de vida, mais felizes, mais tranquilas e mais satisfeitas com o fruto do seu trabalho. Por isso, sinto alegria de poder tranquilizar vocês dizendo-lhes que entrem em 2014 com a certeza que o seu padrão de vida vai ser ainda melhor do que você tem hoje. Sem risco de desemprego, podendo pagar suas prestações, em condições de abrir sua empresa ou ampliar o seu próprio negócio. Entrem em 2014 com toda energia e otimismo e com a certeza de que a vida vai continuar melhorando. Reflitam sobre o que aconteceu de positivo nos últimos anos na vida do Brasil, na sua vida e na vida de sua família e projetem isso de forma ampliada para os próximos anos.

Você, jovem, sabe o quanto o seu padrão de vida melhorou comparado ao que você tinha na infância e ao que seus pais tinham na sua idade. Usem essa fotografia do presente e do passado recente como pano de fundo para projetar o futuro. Esta é a melhor bússola para navegar neste novo Brasil.

Minhas amigas e meus amigos,

Neste ano de 2013 continuamos nossa luta vigorosa em defesa do emprego e da valorização do salário do trabalhador. Uma luta plenamente vitoriosa, pois alcançamos o menor índice de desemprego da história. Estamos com uma das menores taxas de desemprego do mundo, continuamos nossa luta constante contra a carestia. Nela, tivemos alguns problemas localizados, mas chegamos a um ponto de equilíbrio que garante a tranquilidade do planejamento das famílias e das empresas.

Nisso o governo teve uma ação firme, atuou nos gastos e garantiu o equilíbrio fiscal, atuou na redução de impostos e na diminuição da conta de luz. Nesses últimos casos enfrentando duras críticas daqueles que não se preocupam com o bolso da população brasileira.

Neste ano o Brasil apoiou como nunca o empreendedor individual, o pequeno e o médio empresários, diminuindo impostos, reduzindo a burocracia e facilitando o crédito. Continuamos nossa luta incansável pela construção de um grande futuro para o Brasil, viabilizando a exploração do pré-sal e garantindo a destinação de seus fabulosos recursos para a educação e a saúde. Ampliamos nossa luta pela melhoria de infraestrutura iniciando a mais ampla, justa e moderna parceria de todos os tempos com o setor privado para a construção e ampliação de estradas, portos e aeroportos. Aumentamos o apoio à produção agropecuária em todos os seus formatos e escalas produtivas. Continuamos a difícil luta pela melhoria da saúde e da educação, setores onde ainda temos muito a fazer, mas onde estamos conseguindo avanços.

No caso da saúde, o Mais Médicos foi um dos destaques. Hoje já temos 6.658 novos médicos em 2.177 cidades beneficiando cerca de 23 milhões de pessoas. Em março, serão 13 mil médicos e mais de 45 milhões de brasileiros e brasileiras beneficiados.

Como toda mãe de família, sei que o patrimônio mais valioso na vida dos nossos filhos é a educação. Por isso, estamos fazendo um esforço redobrado nesta área. Além de garantirmos mais vagas e mais qualidade em todos os níveis de ensino, aumentamos o número de creches e escolas de tempo integral, de universidades e escolas técnicas, e consolidamos programas decisivos para a formação profissional e o emprego, como o Pronatec e o Ciência sem Fronteiras. O Pronatec já beneficiou mais de 5 milhões de jovens e adultos com cursos técnicos e de qualificação profissional. Enquanto o Ciência sem Fronteiras ofereceu 60 mil bolsas a estudantes brasileiros em algumas das melhores universidades do mundo.

Continuamos nosso esforço gigantesco para oferecer moradia para os pobres e para a classe média. E o Minha Casa, Minha Vida transformou-se no mais exitoso programa desse gênero no mundo.

Reforçamos o programa Brasil sem Miséria e estamos a um passo de acabar com a pobreza absoluta em todo o território nacional. Ampliamos nosso diálogo com todos os setores da sociedade e escutamos seus reclamos, implantando pactos para acelerar o cumprimento de nossos compromissos. Defendemos uma reforma política que amplie os canais de participação popular e dá maior legitimidade à representação política.

Não abrimos mão, em nenhum momento, de apoiar o combate à corrupção em todos os níveis. Exatamente por isso, nunca no Brasil se investigou e se puniu tanto o malfeito. O Brasil também tem buscado apoiar fortemente suas populações tradicionais, em especial os grupos indígenas e os quilombolas. E eu tenho um imenso orgulho do programa Viver sem Limites, que leva oportunidades e cidadania para as pessoas com deficiência.

Em suma, não deixamos em nenhum momento de lutar em favor de todos os brasileiros em especial dos que mais precisam. Com o olhar muito especial para os jovens, para as mulheres e para os negros. Mas sabemos que há muito, muito mesmo, ainda por fazer e muito, muito mesmo, por melhorar.

Minhas amigas e meus amigos,

O Brasil melhorou, a nossa vida melhorou, mas o melhor é que temos tudo para melhorar ainda mais. O Brasil será do tamanho que quisermos, do tamanho que o imaginemos. Se imaginarmos um país justo e grande e lutarmos por isso, assim o teremos. Se mergulharmos em pessimismo e ficarmos presos a disputas e interesses mesquinhos, teremos um país menor.

O mesmo raciocínio se aplica à nossa economia. Assim como não existe um sistema econômico perfeito, dificilmente vai existir em qualquer época um país com economia perfeita. A economia é um conjunto de vasos comunicantes em busca permanente de equilíbrio. Em toda economia sempre haverá algo por fazer, algo a retocar, algo a corrigir para conciliar o justo interesse da população e das classes trabalhadoras e os interesses dos setores produtivos. Por isso, temos que agir sempre de forma produtiva e positiva tentando buscar soluções e não ampliar os problemas. Defendemos uma reforma política que amplie os canais de participação popular e dá maior legitimidade à representação política. Se alguns setores, seja porque motivo for, instilarem desconfiança, especialmente desconfiança injustificada, isso é muito ruim. A guerra psicológica pode inibir investimentos e retardar iniciativas.

Digo aos trabalhadores e empresários que continuo disposta a ouvi-los em tudo que for importante para o Brasil. Digo aos trabalhadores e aos empresários que apostar no Brasil é o caminho mais rápido para todos saírem ganhando. O governo está atento e firme em seu compromisso de lutar contra a inflação e de manter o equilíbrio das contas públicas. Sabemos o que é preciso para isso e nada nos fará sair desse rumo, como também nada fará mudar nosso rumo na luta em favor de mais distribuição de renda, diminuição da desigualdade pelo fim da miséria e em defesa das minorias.

Não perderemos jamais nossa disposição de lutar para que o povo brasileiro tenha uma saúde e educação de mais qualidade hoje e no futuro. Por isso, no orçamento do próximo ano os setores que tiveram mais aumento foram justamente a saúde, a educação e o combate à pobreza.

No médio e longo prazo fizemos do pré-sal nosso passaporte para o futuro destinando seus recursos majoritariamente para a educação.

Minhas amigas e meus amigos,

O Brasil tem passado, tem presente e tem muito futuro. Existem poucos lugares no mundo onde o povo tenha melhores condições de crescer, melhorar de vida e ser mais feliz. É isso que sinto Brasil afora, é isso que sinto coração adentro.

Um ano novo cheio de felicidade e prosperidade para vocês e de muito progresso e justiça social para o Brasil.

Obrigada e boa noite.

A reaparição do Subcomanda​nte Marcos nos 20 anos do levante zapatista




Carta Maior, 30/12/2013

          

A reaparição do Subcomandante Marcos nos 20 anos do levante zapatista



 

 Eduardo Febbro


 

San Cristobal de las Casas – A prosa está intacta. Sutil e envolvente como o sol da tarde que envolve a praça central de San Cristobal de las Casas. Às vésperas de se completarem duas décadas do levante zapatista, o subcomandante Marcos reapareceu com um novo e extenso comunicado semeado com a ideia da “memória e da rebeldia”.

Na abertura, Marcos cita a novela do escritor norte-americano Herman Melville, Moby Dick. Encontro de uma prosa com outra: “Me parece que temos confundido muito esta questão da Vida e da Morte. Me parece que o que chamam de minha sombra aqui na terra é minha substância autêntica”, diz a prosa de Melville. A de Marcos completa o resto do comunicado. O subcomandante, que há uns cinco anos não aparecia em público, escreve: “É território zapatista, é Chiapas, é México, é América Latina, é a Terra. E é dezembro de 2013, faz frio como há 20 anos, e, como então, hoje há uma bandeira que nos cobre: a da rebeldia”.

Em outro momento de seu comunicado, Marcos acrescenta: “Porque a rebeldia, amigos e inimigos, não é patrimônio exclusivo dos neozapatistas. Ela é patrimônio da humanidade. E isso é algo que é preciso celebrar. Em todas as partes, todos os dias e em todas as horas. Porque a rebeldia é também uma celebração. Não são poucas nem débeis as pontes que, desde todos os rincões do planeta Terra, se estenderam até estes solos e céus. Às vezes com olhares, às vezes com palavras, sempre com nossa luta, temos nos cruzado para abraçar esse outro que resiste e luta”.

Ao longo do texto em que se alternam parágrafos poéticos, guerreiros ou irônicos, o Subcomandante zapatista presta homenagem a todos aqueles que, de uma maneira ou de outra, acompanharam o levante de 20 anos atrás: “Aos que, durante a noite, colocaram nas costas a mochila e a história, aos que tomaram com as mãos o relâmpago e o trovão, aos que calçaram as botas sem futuro, aos que cobriram o rosto e o nome, aos que, sem esperar nada em troca, morreram na longa noite para que outros, todos, todas, em uma manhã ainda por vir, possam ver o dia como é preciso fazê-lo, ou seja, de frente, de pé, com o olhar e o coração erguidos. Para eles, nem biografias nem museus. Para eles, nossa memória e rebeldia. Para eles nosso grito: Liberdade! Liberdade! Liberdade! Saúde e que nossos passos sejam tão grandes como nossos mortos”.
Marcos se pronunciou igualmente com um tom crítico contra todos os mandatários que ocuparam a presidência do México desde que surgiu o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN): Carlos Salinas de Gortari, Ernesto Zedillo, Vicente Fox, Felipe Calderón e Enrique Peña Nieto. “Vicente Fox é a prova de que o posto de presidente de uma república e de uma filial de uma fábrica de refrigerantes é intercambiável...e que ambos os postos podem ser ocupados por inúteis; Felipe Calderón Hinojosa foi um “presidente valente” (para que outros morressem) e não um psicopata que roubou a arma (a presidência) para seus jogos de guerra (...) e que terminou sendo o que sempre foi: um empregado de segunda em uma multinacional. A propósito do atual presidente, Enrique Peña Nieto, cuja candidatura marcou o regresso do PRI ao poder após 14 anos na oposição, o Subcomandante questionou as reformas que vem adotando desde que foi eleito em fevereiro de 2012, particularmente aquelas no setor da energia:

“Enrique Peña Nieto será um presidente culto e inteligente (bom, é ignorante e tonto, mas hábil), é o novo perfil que se constrói nos grupinhos de analistas políticos, e não um analfabeto funcional”.

O tom deste comunicado é muito menos duro do que o que emitiu no final de 2012. Neste momento e já com o PRI no poder, o EZLN saiu a público, primeiro no dia 21 de dezembro com uma mobilização silenciosa da qual participaram cerca de 40 mil pessoas com o rosto coberto com o famoso gorro dos zapatistas. Nesta ocasião, o líder insurgente emitiu um comunicado onde perguntava: Escutaram? O som de seu mundo ruindo é o do nosso ressurgindo. A marcha do dia 21 foi a maior mobilização protagonizada pelos zapatistas desde que pegaram em armas no dia 1º de janeiro de 1994. Agora chega, pontual e esperado, esse aniversário.

Duas décadas de lutas, de mortos, de injustiças e repressão ao cabo das quais as palavras e o combate seguem vivos.

 
Segue a íntegra do novo comunicado do Subcomandante Marcos
 
QUANDO OS MORTOS CALAM EM VOZ ALTA.
(Rebobinar 1)


(No que se reflete sobre @s ausentes, as biografias, narra o primeiro encontro de Durito com o Gato-Perro, e fala de outros assuntos que não vem ao caso, ou coisa, segundo irá ditando o pós-data impertinente)


Novembro - Dezembro de 2013.


Me parece que confundimos muito esta questão da Vida e da Morte.  Me parece que o que chamam minha sombra aqui na terra é minha substância autêntica.  Me parece que, ao ver as coisas espirituais, somos demasiado como ostras que observam o sol através da água e pensam que a densa água é a mais fina das atmosferas.  Me parece que meu corpo não é mais que as fezes de meu melhor ser.  De fato, que leve meu corpo quem queira, que o leve, digo: não sou eu. (Herman Melville “Moby Dick”).

Já faz um bom de tempo que sustento que a maioria das biografias não são mais que uma mentira documentada, e às vezes, não sempre, bem redigida. O biógrafo médio tem uma convicção prévia e a margem de tolerância é muito reduzida, quando não inexistente. Com essa convicção começa a movimentar o quebra-cabeças de uma vida que lhe é alheia (por isso seu interesse em fazer a biografia), e vai coletando as peças falsas que o permitam documentar sua própria convicção, não a vida resenhada.


O certo é que talvez pudéssemos conhecer com certeza data e lugar de nascimento e, em alguns casos, data e lugar de falecimento. Fora isso, a maioria das biografias deveriam estar no ramo de “histórias noveladas” ou “ficção-científica”.


O que sobra então de uma vida?  Pouco ou muito, dizemos nós.


Pouco ou muito, dependendo da memória.


Ou, melhor, dos fragmentos que na memória coletiva essa vida imprimiu.


Se isso não vale para biógrafos e editores, pouco importa para o comum das pessoas. 

Costuma acontecer que o que realmente importa não aparece nos meios de comunicação, nem se pode medir em pesquisas.

Logo, de uma pessoa ausente só temos peças arbitrárias do complexo quebra-cabeças feito de farrapos, rasgos e tendências que se conhecem como “vida”.


Assim que, com esse início confuso, permitam-me levantar algumas dessas peças fragmentadas para abraçar e abraçarmos pela passagem que hoje nos falta e necessitamos…

Um concerto no silêncio mexicano.  Don Juan Chávez Alonso, purépecha, zapatista e mexicano, faz um gesto como se estivesse afastando de si um inseto incômodo.  É sua resposta à desculpa que lhe dou por uma de minhas torpes grosserias.  Estamos em território Cucapá, no meio de um terreno arenoso.  Nessas coordenadas geográficas e quando no calendário se assinala a Sexta 2006 no Noroeste do México, na grande barraca de campanha que lhe serve de hospedagem, Don Juan toma o violão e pergunta se queremos escutar algo que compôs. Apenas afina e inicia um concerto que, sem letra alguma, narra o levantamento zapatista desde primeiro de janeiro de 1994 até a presença da Comandanta Ramona na formação do Congresso Nacional Indígena.


Um silêncio depois, como se fosse uma nota mais.


Um silêncio no qual calavam em voz alta nossos mortos.


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Também no noroeste mexicano, a loucura sangrenta do Poder pinta de absurdos ainda impunes o calendário abaixo. 5 de junho de 2009. A cobiça e o despotismo governamentais lançaram fogo a uma creche para infantes.  As vítimas mortais, 49 meninos e meninas, são as baixas colaterais quando se destroem arquivos comprometedores. Ao absurdo de que os pais sepultem os filhos, segue o de uma justiça débil e corrupta: os responsáveis não recebem uma ordem de apreensão mas cargos no gabinete do criminoso que, sob o azul da Ação Nacional, tratará de ocultar o banho de sangue no qual sumiu ao país inteiro.

Onde os biógrafos encerram suas anotações “porque uns poucos anos de vida não são rentáveis”, a história de baixo abre seu caderno de outros absurdos: com sua injusta ausência, essas crianças pariram outros homens e mulheres.  Seus pais e mães levantam desde então a demanda da justiça maior: a de que a injustiça não se repita.

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O problema com a vida é que ao final te mata”, havia dito Durito, cujas fantasiosas histórias cavalheirescas tanto divertiam Chapis.  Ainda que ela tenha perguntado, com essa impertinente mistura de ingenuidade e sinceridade que desconcertava quem não a conhecesse, “e por que um problema?”.  Don Durito da Lacandona, escaravelho de origem e de ofício cavaleiro andante, teria evitado polemizar com ela, posto que, segundo um suposto regulamento da cavalaria andante, não se deve contradizer uma dama, (sobretudo se a dama em questão tem boas influências “muito acima”, agregava Durito que sabia que a Chapis era religiosa, monja, irmã, ou como queiram vocês chamar as mulheres que fazem da fé, sua vida e profissão).

A Chapis não nos conhecia. Quero dizer, não como quem nos vê de fora e sobre nós escreve, fala… ou mal fala (agora vocês veem como são passageiras as modas).  A Chapis era com nós. E era muito tempo antes de que um escaravelho impertinente se empessoasse nas montanhas do sudeste mexicano para declarar-se cavaleiro andante.


E, talvez por ser em nós, era que a Chapis não parecia se inquietar tanto com isso de vida e morte. Como essa atitude tão nossa, dos neozapatistas, em que tudo se inverte e não é a morte que a preocupa e ocupa, mas a vida.


Mas a Chapis não era só em nós.  É claro que fomos só uma parte de seu andar.  E se agora lhes conto algo dela não é para dar apontamentos para sua biografia, mas para dizer o que aqui sentimos.  Porque a história desta crente, sua história conosco, é das que fazem duvidar os fanáticos ateus.


A religião é o ópio dos povos”?  Não sei.  O que sei é que a explicação mais brilhante que escutei sobre a destruição e despovoamento que a globalização neoliberal opera em um território foi dada, não por um teórico marxista-leninista-ateísta-e-alguns-istas-mais, mas… um padre cristão, católico, apostólico e romano, aderente à Sexta, e desterrado pelo alto clero (“por pensar muito”, me disse como pedindo desculpas) a um dos desertos geográficos do planalto mexicano.


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Acho (talvez me engane, não seria a primeira vez e, seguramente, não será a última), que muitas pessoas, senão todas, que se aproximaram do que se conhece como neozapatismo, o fizeram buscando respostas a perguntas feitas nas histórias pessoais de cada um, segundo seu calendário e geografia. E que demoram apenas o indispensável para encontrar a resposta.  Quando se deram conta de que a resposta era o monossílabo mais problemático da história, viraram para o outro lado e para lá se puseram a andar. Não importa quanto digam e se digam que continuam estando aqui: foram embora. Umas pessoas mais rápido que outras.  E a maioria delas não nos olham, ou o fazem com a mesma distância e desdém intelectual que os que hastearam calendários antes que amanhecesse o janeiro de 1994.

Acho que já disse antes, em alguma outra missiva, não estou seguro.  Mas como queira digo, ou repito aqui, que esse perigoso monossílabo é “tu”. Assim, com minúsculas, porque essa resposta era e é íntima a cada um.  E cada um a toma com o terror respectivo.


Porque a luta é coletiva, mas a decisão de lutar é individual, pessoal, íntima, como o é a de seguir ou claudicar.


Digo que as poucas pessoas que ficaram (e não me refiro à geografia, mas ao coração) não encontraram essa resposta?  Não.  O que trato de dizer é que a Chapis não veio procurando essa resposta à sua pergunta pessoal.  Ela já conhecia a resposta e havia feito desse “tu” seu caminho e meta: seu ser crente e consequente.


Muitas outras, muitos outros como ela, mas diferentes, já haviam se respondido em outros calendários e geografias.  Ateus e crentes.  Homens, mulheres e outr@s de todos os calendários.  São esses, essas, ess@s, que sempre, vivos ou mortos, se colocam frente ao Poder, não como vítimas, mas para desafiá-lo com a múltipla bandeira da esquerda de baixo.  São nossas companheiras, companheiros e companheir@s… ainda que na maioria dos casos nem el@s nem nós o saibamos… ainda.


Porque a rebeldia, amigos e inimigos, não é patrimônio exclusivo dos neozapatistas. É da humanidade.  E isso é algo que temos que celebrar.  Em todos os lugares, todos os dias e a todas as horas.  Porque a rebeldia é também uma celebração.


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Não são poucas nem débeis as pontes que, desde todos os cantos do planeta Terra, se estenderam até estes solos e céus.  Às vezes com olhares, às vezes com palavras, sempre com nossa luta, atravessamos todos para abraçar a este outro que resiste e luta.

Talvez disso e não de outra coisa se trata o de “ser companheiros”: de atravessar pontes.
Como neste abraço feito letras para as irmãs da Chapis que, como nós, tem saudades e, como nós, precisam dela.

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"A impunidade, querido Matías, é algo que só a justiça pode outorgar; é a Justiça exercendo a injustiça”. Tomais Segovia, em “Cartas Cabales”.

Já disse antes que, segundo minha humilde opinião, cada um é o herói ou a heroína de sua própria história individual.  E que na sedativa auto complacência de narrar “esta é minha história pessoal”, se editam fatos e não-fatos, se inventam as fantasias mais incríveis, e o narrar anedotas se parece demasiadamente ao fazer contas do avarento que rouba o alheio.


O ancestral afã de transcender à morte própria encontra nas biografias o substituto ao elixir da eterna juventude. Claro, também na descendência. Mas a biografia é, para dizer de alguma forma, “mais perfeita”.  Não se trata de alguém que se parece, é o “eu” alongado no tempo graças à “magia” da biografia.


Acudiu o biógrafo de cima a documentos da época, talvez a testemunhos de familiares, amigos ou companheir@s da vida cuja morte se apropria.  Os “documentos” têm a mesma certeza que os prognósticos meteorológicos, e os testemunhos obviam a delgada separação entre o “eu acho que…” e o “eu sei que…”.  E então a “veracidade” da biografia se mede pela quantidade de notas de rodapé.  Para as biografias vale o mesmo que para as faturas de gasto em “imagem” governamental: quanto mais volumosas, mais certas.


Na atualidade, com a internet, os tuiters, os feisbuc e equivalentes, os mitos biográficos arredondam suas falácias e, voilá, se reconstrói a história de uma vida, ou fragmentos dela, que pouco ou nada têm a ver com a história real.  Mas não importa, porque a biografia está publicada, impressa, circula, é lida, citada, recitada… como a mentira.

Cheque você nas modernas fontes documentais das biografias futuras, ou seja, Wikipedia e os blogs, Facebook e os “perfis” respectivos.  Agora compare com a realidade:
¿Não lhe dão calafrios ao dar-se conta de que, talvez, no futuro…

Carlos Salinas de Gortari será “o visionário que entendeu que vender a uma Nação era, além de um negócio familiar (claro, entendendo como família a sanguínea e a política), um ato de patriotismo moderno”, e não o líder de uma gangue de traidores (não se façam, aí andam, na oposição “madura e responsável”, vári@s daqueles que apoiaram a reforma ao artigo 27 constitucional, o separador de águas da claudicação do Estado Nacional no México);


Ernesto Zedillo Ponce de Leão não será o “homem de Estado” que levou toda uma Nação de uma crise a outra pior (além de ser um dos autores intelectuais, junto com Emilio Chuayffet e Mario Renán Castillo, do massacre de Acteal), mas que levou “as rendas do país” com um singular sentido do humor… para terminar sendo o que sempre foi: um empregado de segunda em uma multinacional;


Vicente Fox será a amostra de que o cargo de presidente de uma república e de uma filial de sombra é intercambiável… e que ambos os cargos podem ser ocupados por inúteis;

Felipe Calderón Hinojosa será um “presidente valente” (para que outros morressem) e não um psicopata que roubou a arma (a presidência) para seus jogos de guerra… e que terminou sendo o que sempre foi: um empregado de segunda em uma multinacional;
Enrique Peña Nieto será um presidente culto e inteligente (“bom, é ignorante e bobo, mas hábil”, é o novo perfil que lhe constroem nos jograis de analistas políticos), e não um analfabeto funcional (nem modo, como diz o provérbio popular: “o que a natureza não dá, a Monex não compra”) …?

Ah, as biografias.  Não poucas vezes são autobiografias, ainda que sejam os descendentes (ou os compinchas) quem as promovam e assim adornam sua árvore genealógica.


Os criminosos da classe política mexicana que mal governaram estas terras continuarão sendo, para aqueles que padeceram seus desmandos, criminosos impunes. Não importa quantas linhas se paguem nos meios de comunicação nem quanto se gaste em espetáculos nas ruas, na imprensa escrita, em rádio e televisão. De los Díaz (Porfirio e Gustavo) aos Calderón e Peña, dos Castellanos e Sabines aos Albores e Velasco, só media a troca (via redes sociais, porque nos meios de comunicação pagos continuam sendo “pessoas responsáveis e maduras”) da ridícula frivolidade dos “Juniors”.


Mas o mundo é redondo e no contínuo sobe e desce da política de cima, se pode passar, em pouco tempo, da capa da revista “Hola”, ao “PROCURA-SE: CRIMINOSO PERIGOSO”; da patuscada de dezembro do TLC à crua do levantamento zapatista; do “homem do ano” à “greve de fome” com água engarrafada de marca “chic” (não tem jeito, até para os protestos há classes sociais); do aplauso pelas piadas ruins, ao filicídio putativo por concretizar-se; do nepotismo e da corrupção adornados com ocorrências à investigação por ligações com o narcotráfico; dos trajes militares tamanho extra grande, ao exílio temeroso e manchado de sangue; da patuscada de dezembro entreguista a…


-*-


Com tudo isso e o que continua digo que não temos que escrever/ler biografias?  Não, mas o que faz que ande a velha roda da história são os coletivos, não os indivíduos… ou indivíduas.  A historiografia se nutre de individualidades; a história aprende de povos.
Digo que não temos que escrever/estudar história?  Não, mas o que digo é que é melhor fazer da única forma que se faz, ou seja, com outros e organizados.


Porque a rebeldia, amigos e inimigos, quando é individual é bela.  Mas quando é coletiva e organizada é terrível e maravilhosaA primeira é matéria de biografias, a segunda é a que faz história.


-*-

E não com palavras abraçamos nossos companheiros e companheiras zapatistas, ateus e crentes:

aos que de noite puseram a mochila e a história nas costas,
aos que tomaram com as mãos o relâmpago e o trovão,
aos que se calçaram as botas sem futuro,
aos que se cobriram o rosto e o nome,
aos que, sem esperar nada em troca, na longa noite morreram
para que outros, todos, todas, em uma manhã por vir ainda,
possam ver o dia como tem que ser,
ou seja, de frente, de pé e com o olhar e o coração erguidos
.
Para eles nem biografias nem museus.
Para eles nossa memória e rebeldia.
Para eles nosso grito:
liberdade! Liberdade! LIBERDADE!

Vale. Saúde e que nossos passos sejam tão grandes como nossos mortos.
O SupMarcos.

P.D. DE INSTRUÇÕES ÓBVIAS - Agora sim, seja tão amável de ler, em calendário inverso, desde Rebobinar 1 até o 3, e talvez assim encontre o gato-perro e algumas dúvidas se esclareçam.  E sim, tenha a segurança de que surgirão mais perguntas.


P.D. QUE ATENDE, SOLÍCITA, AOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO PAGOS - Ah! Comovedor o esforço dos contras nos meios pagos para tratar de dar argumentos aos poucos leitores-ouvintes-videntes contras que lhes sobram.  Mas, generoso pela época de natal, aqui lhes mando algumas dicas para que usem de material jornalístico:


. - Se as condições das comunidades indígenas zapatistas estão iguais que há 20 anos e nada se avançou em seu nível de vida, por que o EZLN – como fez em 1994 com a imprensa paga - se “abre” com a escolinha para que a gente de baixo veja e conheça diretamente, SEM INTERMEDIÁRIOS, o que existe aqui.


E já posto em “modo interrogativo”, por que no mesmo período se reduziu, também exponencialmente, o número de leitores-ouvintes-telespectadores dos meios de comunicação pagos?  Pst, pst, podem responder que não têm menos leitores-ouvintes-telespectadores – isso reduziria a publicidade e o chuchu -, que o que acontece é que agora são mais “seletivos”.


. - Vocês perguntam “Que fez o EZLN pelas comunidades indígenas? E nós estamos respondendo com o testemunho direto de dezenas de milhares de nossos companheiros e companheiras.


Agora vocês, os donos e acionistas, diretores e chefes, respondam:


Que fizeram, nestes 20 anos, pelos trabalhadores dos meios de comunicação, um dos setores mais golpeados pelo crime existente e alentado pelo regime a quem tanto adoram? Que fizeram pelos jornalistas, as jornalistas ameaçadas, sequestradas e assassinadas? E por seus familiares? Que fizeram para melhorar as condições de vida de seus trabalhadores? Aumentaram o salário para que tenham uma vida digna e não tenham que vender sua palavra ou seu silêncio frente à realidade? Criaram as condições para que se retirem, depois de anos de trabalhar para vocês, dignamente? Deram-lhes segurança no emprego?  Quero dizer, o emprego de um repórter já não depende do humor do chefe de redação ou dos “favores”, sexuais ou de outro tipo, que demandam a todos os gêneros?


Que fizeram para que o ser trabalhador dos meios de comunicação seja um orgulho que não custe a perda da liberdade ou a vida ao ser honesto?



Podem dizer que seu trabalho é mais respeitado por governantes e governados que há 20 anos?



Que fizeram contra a censura imposta ou tolerada? Podem dizer que seus leitores-ouvintes-telespectadores estão mais bem informados que há 20 anos? Podem dizer que têm mais credibilidade que há 20 anos? Podem dizer que sobrevivem graças a seus leitores-ouvintes-telespectadores e não pela publicidade?

Aí lhes respondem a seus trabalhadores e leitores-ouvintes-telespectadores, assim como nós lhes respondemos aos nossos companheiros e companheiras.

Oh, vamos, não fiquem tristes.  Não somos os únicos que escapamos de seu papel de juiz e carrasco, suplicando sua absolvição e recebendo sempre sua pena.  Está também, por exemplo, a realidade.


Vale de nove, ou, melhor, de sessenta e nove.


O Sup dizendo-se que é melhor um polegar para baixo que um dedo médio para cima.


É território zapatista, é Chiapas, é México, é América Latina, é a Terra.  E é dezembro de 2013, faz frio como há 20 anos, e, como então, hoje uma bandeira nos cobre: a da rebeldia.

A 'grande imprensa' sucumbe ao próprio veneno




​30/12/2013


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A 'grande imprensa' sucumbe ao próprio veneno

 



​Por Cadu Amaral


Para encerrar bem o ano de 2013, a autoproclamada “grande imprensa”, solta seus já conhecidos sambas de uma nota só. Além de um provável programa no Fantástico (?) da Globo sobre a mãe de Joaquim Barbosa, que pode ser candidato à presidência em 2014, uma lista com nomes para participarem dos jogos bobocas do Programa do Faustão em que nela aparece Aécio Neves (PSDB) e as equipe são nas cores azul e amarelo. Coincidência?

O canal de tevê fechada GloboNews, em seu programa Painel, apresentado pelo apresentador mais próximo dos EUA no país, William Waack, apresentou um “debate” sobre direita e esquerda.

Como não podia deixar de ser, senão não era a Globo, todos os três “debatedores” eram de direita, entre eles o Reinaldo Azevedo, de Veja. Junte isso ao próprio apresentador e tivemos, por quase cinquenta minutos, quatro pessoas tentando destruir o espectro ideológico de esquerda no Brasil. Se a Globo tive o mínimo de senso de ridículo, ao menos um dos convidados seria de esquerda. Porém pedir o senso de ridículo à Globo é pedir demais. Seja na quantidade que for.

Entre as inúmeras baboseiras que soltavam em rede nacional de tevê fechada, estava a de que “os esquerdista não sabem lidar com a diferença”. Pois é, falaram isso durante um programa para debater direita e esquerda e que só participaram debatedores de direita. Isso sim é saber lidar com as diferenças, não acham?

Outra bobagem ditas pelos “entendedores” de linhas ideológicas foi a de que o Brasil é “um país de esquerdista” e “ser liberal é ser revolucionário”. Seria cômico se não fosse trágico.

O programa Painel, da GloboNews, é a prova material do que disse Márcio Pochmann, da Fundação Perseu Abramo, à revista Fórum, sobre a imprensa no Brasil.

Os jornais que temos hoje também escrevem para os seus militantes, escrevem o que eles querem ouvir, e por isso esses jornais estão com dificuldades para ampliar o seu número de leitores, é por isso que os jovens não interagem com esses jornais. Mas eles têm um público cativo, e para manter esse público cativo ficam alimentando uma visão que é, a meu ver, insustentável, isso não tem futuro. Estamos assistindo ao fim desse tipo de imprensa. Está em construção uma outra imprensa, uma outra cobertura, que é a coisa digital e isso também está em construção", afirmou Pochmann.

Por essas e outras que a internet vem ganhando o terreno da televisão como mídia mais consumida pelos brasileiros. De acordo com o um estudo realizado pelo IAB Brasil em parceria com a comScore chamado “Brasil Conectado – Hábitos de Consumo de Mídia”. Hoje no país, cerca de 100 milhões de pessoas, 82% dos entrevistados, se informam e se entretém pela internet.

Enquanto que, em 2013, a audiência da Globo foi a pior da História, principalmente de seu principal programa, o Jornal Nacional. Entre 2012 e 2013, a audiência caiu cerca de 18,4%. No acumulado da década, a queda foi de quase 30%. O Fantástico sua horrores para chegar a 20 pontos.

Lógica natural de uma mídia que tenta convencer as pessoas de uma realidade que não existe. Que é extremamente panfletária, mas jura de pés juntos ser imparcial e compromissada com a informação e a verdade factual. Provavelmente por acreditar que seus telespectadores, ouvintes e leitores tenham a capacidade intelectual do personagem de desenho animado Homer Simpson.

Como o próximo ano é eleitoral, a postura da “grande imprensa” deverá ser o mesmo e seguindo o mesmo comportamento sua audiência cairá ainda mais. Ela não é uma grande imprensa, não trata os temas de forma grandiosa, completa, com a finalidade que deveria. Ela é apenas uma imprensa grande, graças inclusive ao golpe de 1964. Mas do jeito que vai, nem uma imprensa grande será mais. E em menos tempo do que se pensa.

Por que o sonho americano se transformo​u num pesadelo

 





​30.Dez.2013



Por que o sonho americano se transformou num pesadelo


Por Paulo Nogueira




Os americanos estão muito mais para isso que para Bill Gates
 

Morris Berman, 67 anos, é um acadêmico americano que vale a pena conhecer.
Recomendo a leitura dePor Que os Estados Unidos Fracassaram”, dele. A primeira coisa que me ocorre é: tomara que alguma editora brasileira se interesse por este pequeno – 196 páginas — grande livro.
A questão do título é respondida amplamente. Você fecha o livro com uma compreensão clara sobre o que levou os americanos a um declínio tão dramático.
O argumento inicial de Berman diz tudo. Uma sociedade em que os fundamentos são a busca de status e a aquisição de objetos não pode funcionar.
Berman cita um episódio que viu na televisão. Uma mulher desabou com o rosto no chão em um hospital em Nova York. Ela ficou tal como caiu por uma hora inteira, sob indiferença geral, até que finalmente alguém se movimentou. A mulher já estava morta.
“O psicoterapeuta Douglas LaBier, de Washington, tem um nome para esse tipo de comportamento, que ele afirma ser comuníssimo nos Estados Unidos: síndrome da falta de solidariedade”, diz Berman. “Basicamente, é um termo elegante para designar quem não dá a mínima para ninguém senão para si próprio. LaBier sustenta que solidariedade é uma emoção natural, mas logo cedo perdida pelos americanos porque nossa sociedade dá foco nas coisas materiais e evita reflexão interior.”
Berman afirma que você sente no ar um “autismo hostil” nas relações entre as pessoas nos Estados Unidos. “Isso se manifesta numa espécie de ausência de alma, algo de que a capital Washington é um exemplo perfeito. Se você quer ter um amigo na cidade, como Harry Truman disse, então compre um cachorro.”
O americano médio, diz ele, acredita no “mito” da mobilidade social. Berman nota que as estatísticas mostram que a imensa maioria das pessoas nos Estados Unidos morrem na classe em que nasceram. Ainda assim, elas acham que um dia vão ser Bill Gates. Têm essa “alucinação”, em vez de achar um absurdo que alguém possa ter mais de 60 bilhões de dólares, como Bill Gates.
Estamos assistindo ao suicídio de uma nação”, diz Berman. “Um país cujo propósito é encorajar seus cidadãos a acumular mercadorias no maior volume possível, ou exportar ‘democracia’ à base de bombas, é um navio prestes a afundar. Nossa política externa gerou o 11 de Setembro, obra de pessoas que detestavam o que os Estados Unidos estavam fazendo com os países delas. A nossa política (econômica) interna criou a crise mundial de 2008.”
A soberba americana é sublinhada por Berman  em várias situações. Ele cita, por exemplo, uma declaração de George W Bush de 1988: “Nunca peço desculpas por algo que os Estados Unidos tenham feito. Não me importam os fatos.Essa fala foi feita pouco depois que um navio de guerra americano derrubou por alegado engano um avião iraniano com 290 pessoas a bordo, 66 delas crianças. Não houve sobreviventes.
Berman evoca também a Guerra do Vietnã. “Como entender que, depois de termos matado 3 milhões de camponeses vietnamitas e torturado dezenas de milhares, o povo americano ficasse mais incomodado com os protestos antiguerra do que com aquilo que nosso exército estava fazendo? É uma ironia que, depois de tudo, os reais selvagens sejamos – nós.”
Você pode perguntar: como alguém que tem uma visão tão crítica – e tão justificada – de seu país pode viver nele?
A resposta é que Berman desistiu dos Estados Unidos. Ele vive hoje no México, que segundo ele é visceralmente diferente do paraíso do narcotráfico pintado pela mídia americana — pela qual ele não tem a menor admiração. “Mudei para o México porque acreditava que ainda encontraria lá elementos de uma cultura tradicional, e acertei”, diz ele. “Só lamento não ter feito isso há vinte anos. Há uma decência humana no México que não existe nos Estados Unidos.”
Clap, clap, clap.


O  jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.​

sábado, 28 de dezembro de 2013

Barbosa nega direitos a Genoíno. Ilegal e daí?

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28 de dezembro de 2013
 


Barbosa nega direitos a Genoíno. Ilegal e daí?


Por Miguel do Rosário



Leio na imprensa que o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, negou pedido feito por José Genoíno para cumprir a sua pena de residência domiciliar em sua… residência.
A lei diz que os presos tem direito de cumprir a sua pena no estado onde mantém residência. Trata-se de um direito humano, baseado na lógica, pois facilita o acesso dos familiares ao condenado.
Mas no Brasil de Joaquim Barbosa e Rede Globo, a única lei que vale é a da vingança e do justiçamento midiático. Barbosa também se negou a conceder, em caráter definitivo, a prisão domicilar para Genoíno. Prefere mantê-lo, e à sua família, em estado de torturante suspense, até fevereiro do ano que vem.
Condenados em regime semi-aberto seguem presos em regime fechado, e mesmo assim a Globo continua chamando-os de privilegiados, tentando produzir ainda mais animosidade contra os condenados.
Nenhum colunista levantou a voz para comentar alguma dessas ilegalidades.  Chico Caruso hoje publica outra charge contra Dirceu, em mais um ato nojento de covardia contra um político que não pode responder porque está preso ilegalmente em regime fechado.  A tropa midiática é organizada, fiel, e mau caráter.
O jornal O Globo tem um slogan que costuma usar para ironizar o chamado “jeitinho” brasileiro. A frase agora se volta contra o próprio jornal. O Globo sabe que Joaquim Barbosa está cometendo ilegalidades, e nem dá bola.  Ilegal, e daí?
Além de ilegal, a atitude de Joaquim Barbosa, de negar conceder em caráter definitivo a prisão domiciliar para Genoíno, um cidadão brasileiro que foi torturado barbaramente durante a ditadura,  reflete uma personalidade má, vingativa, mesquinha. Definitivamente, ele não tem as qualidades que se espera de um juíz.
Genoíno sofre de grave doença cardíaca, precisa de estabilidade emocional para viver um pouco mais. Ao manter o suspense sobre sua prisão domiciliar, estendida apenas provisoriamente até fevereiro, Joaquim Barbosa agride diretamente a saúde do parlamentar. Ao negar que ele cumpra sua prisão domicilar em sua própria casa, conforme manda a lei, ele se arvora em verdugo sem escrúpulos, disposto a afrontar a lei para satisfazer seu próprio sadismo.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

As mentiras que trataram as vendas de Natal como um fracasso

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​sex, 27/12/2013


Como os jornalões conseguiram estragar um Natal surpreendente


Por Luis Nassif


Folha e Estadão esmeraram-se em tratar as vendas de Natal como um fracasso.
Manchete da Folha: “Comércio tem o pior resultado no Natal em 11 anos”.
Manchete do Estadão: “Com crédito contido e juros altos, vendas de Natal decepcionam”.
Ambos os jornais trabalham em cima de dados da Serasa Experian e da Alshop (a associação dos lojistas de shoppings).
Vamos a alguns erros de manchetes e de análises.
1. Erro de manchete: Se em 2013 vendeu-se mais do que em 2012, como considerar que foi o pior resultado  em 11 anos?
2. A Serasa trabalha especificamente com pedidos de informação para crédito. Houve retração no crédito, mas a maior ferramenta de vendas têm sido o parcelamento (em até dez vezes) em cartões de crédito e de loja. Os jornalões trataram os dados da Serasa como se representassem o universo total de vendas.
3. As vendas em shoppings deixam de lado o comércio para classes C e D - justamente as que mais vêm crescendo. Mesmo assim, os jornalões trataram os dados como se representassem o todo.
4. A Alshop (associação dos lojistas) informou que as vendas cresceram 6% no Natal. O problema maior foi o aumento do número de lojas, que fez com que as lojas mais antigas permanecessem com o mesmo faturamento. Ora, o que expressa o mercado são as vendas totais. A distribuição entre lojas novas e antigas é problema setorial, que nada tem a ver com a conjuntura.
5. Os jornalões deixaram de lado o comércio eletrônico - que tem sido o principal competidor das lojas de shopping. Em 2013 os shoppings centers venderam R$ 138 bilhões, 8% a mais do que em 2012. O comércio eletrônico vendeu R$ 23 bilhões, ou 45% a mais do que em 2012. Somando a venda dos dois segmentos, saltou de R$ 143 bi em 2012 para R$ 161 bi em 2013, aumento de expressivos 12%.
6. Os jornais falam em “decepção”, porque a Alhosp esperava crescimento de 10% nas vendas de Natal e conseguiu-se “apenas" 6%. Esperar 10% de crescimento com uma economia rodando a 2% é erro clamoroso de análise. Mas, para os jornalões, o erro está na realidade, que não acompanhou os sonhos.
Se não houvesse essa politização descabida do noticiário econômico, as análises estariam em outra direção: a razão do consumo ainda não ter se acomodado mesmo com dinheiro mais caro, o crédito mais escasso, com a competição de Miami, com o PIB andando de lado etc. E suas implicações sobre as contas externas brasileiras. Estariam questionando também que raios de política monetária é esta, na qual aumenta-se a Selic para supostamente reduzir a demanda agregada, e ela continua crescendo.

PS - a soma das Vendas em shopping e comércio eletrônico em 2012 foi de R$ 143 bi e não R$ 151 bi, como estava na matéria, perfazendo alta de 12,6%. 

Empresário mineiro é identifica​do em vídeo de pichação da estátua de Drummond

A sociedade merece saber quem é este elemento.

Se eu fosse cliente ou fornecedor deste empresário, deixaria de sê-lo imediatamente.







27/12/2013

Empresário mineiro é identificado em vídeo de pichação da estátua de Drummond


Do UOL, no Rio
 
 
Marcelo Carnaval/Agência O Globo/Reprodução

A estátua de Drummond amanhece pichada no Rio no Natal

A estátua de Drummond amanhece pichada no Rio no Natal

Policiais da DPMA (Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente) identificaram o jovem flagrado por uma câmera de monitoramento da Prefeitura do Rio de Janeiro enquanto pichava a estátua de Carlos Drummond de Andrade que fica na orla de Copacabana, na zona sul da cidade.
Ele foi identificado como Pablo Lucas Faria e também é suspeito de pichar a estátua de Zózimo Barroso do Amaral, no posto 12, no Leblon, e o monumento de Estácio de Sá, no Parque do Flamengo. Faria é empresário da cidade de Uberaba (MG) e foi identificado após uma pesquisa no sistema da delegacia.

De acordo com o delegado José Fagundes, as investigações continuam em andamento para localizar o suspeito. Ainda segundo o delegado, a mulher que aparece nas imagens foi identificada como sendo namorada de Faria, e é conhecida como Mel.
Divulgação/Polícia Civil
 Pablo Lucas Faria é empresário da cidade de Uberaba (MG) e foi identificado após uma pesquisa no sistema da delegacia
A imagem de Drummond foi pintada com uma tinta branca. A parte mais atingida foi a do rosto do poeta, mas também foram pichados o peito e as pernas da obra, que é um dos principais atrativos turísticos na orla carioca.
Os óculos do poeta também já foram alvo de vandalismo em oito oportunidades, a última dela em 12 de maio de 2012.  O reparo do acessório custa cerca de R$ 25 mil.
A estátua, de autoria do artista plástico Leo Santana, foi instalada em outubro de 2002, em comemoração aos 100 anos do nascimento do poeta. Dois dias depois, o monumento amanheceu pichado.

O Brasil e seu mar interior


 
 
 


Carta Maior, 27/12/2013


O Brasil e seu mar interior


Por José Luis Fiori


Situado entre a costa leste da América do Sul, e a costa oeste da África Negra, o Atlântico Sul ocupa um lugar decisivo do ponto de vista do interesse econômico e estratégico brasileiro: como fonte de recursos, como via de comunicação, e como meio de projeção da influência do país no continente africano. Além do “pré-sal”brasileiro, existem reservas de petróleo na plataforma continental argentina, e na região do Golfo da Guiné, sobretudo na Nigéria, Angola, e no Congo, Gabão, São Tomé e Príncipe. Na costa ocidental africana, também existem grandes reservas de gás, na Namíbia, e de carvão, na África do Sul; e na bacia atlântica, se acumulam crostas cobaltíferas, nódulos polimetálicos ( contendo níquel, cobalto, cobre e manganês), sulfetos ( contendo ferro, zinco, prata, cobre e ouro), além de depósitos de diamante, ouro e fósforo entre outros minerais relevantes, e já foram identificadas  grandes fontes energéticas e minerais, na região da Antártica. Além disto, o Atlântico Sul é uma via de transporte e comunicação fundamental, entre o Brasil e a África, e é um espaço crucial para a defesa dos países ribeirinhos, dos dois lados do oceano.

A Argentina tem 5 mil km de costa, sustenta uma disputa territorial com a Grã Bretanha, e tem uma importante projeção no território da Antártida e nas passagens interoceânicas do canal de Beagle e do estreito de Drake. Do outro lado do Atlântico, a África do Sul ocupa o vértice meridional do continente africano, e é um país bioceânico, banhado simultaneamente pelo Atlântico e pelo Indico, com 3000 km de costas marítimas, e cerca de 1 milhão de km2 de águas jurisdicionais, ocupando uma posição muito importante como ponto de passagem entre o “ocidente’ e o “oriente”,  por onde circula cerca de 60% do petróleo embarcado no Oriente Médio, na direção dos EUA e da Europa. Finalmente, a Nigéria e Angola têm 800 e 1600 km de costa atlântica, respectivamente, e as reservas de petróleo do Golfo da Guiné estão estimadas em 100 milhões de barris.

Mas não há duvida que o Brasil é o país costeiro  que tem maior importância econômica e geopolítica dentro do Atlântico Sul, com seus 7490 km de costa, e seus 3.600 milhões de km2 de território marítimo, que podem chegar a 4,4 milhões - mais do que a metade do território continental brasileiro - caso sejam aceitas as reivindicações apresentadas pelo Brasil  perante a Comissão de Limites das Nações Unidas: quase o dobro do tamanho do Mar Mediterrâneo e do Caribe, e quase 2/3 do Mar da China.

O interesse estratégico do Brasil nesta área vai além da defesa de seu mar territorial, e inclui toda sua  Zona Exclusiva Econômica (ZEE),  por onde passa cerca de 90%  do seu comercio internacional; e onde se encontram, cerca de 90% das reservas totais de petróleo do Brasil, e 82% de sua produção atual; e mais  67% de suas reservas de gás natural.
Além disto, o Brasil possui três ilhas atlânticas que tem uma importante projeção sobre o território da Antártida, e que são altamente vulneráveis do ponto de vista de sua segurança.

Apesar disto, o controle militar do Atlântico Sul segue em mãos das duas grandes potências anglo-saxônicasA  Grã- Bretanha mantém  um cinturão de ilhas e bases navais através do Atlântico Sul, que lhe conferem uma enorme vantagem estratégica no controle da região
. E os EUA dispõem de três comandos que operam na mesma área: o USSOUTHCOM, criado em 1963,  o AFRICOM, criado em 2007, e a sua IV Frota Naval criada durante a II Guerra Mundial, e reativada em 2008, com objetivo explícito de policiar o Atlântico Sul.
 
Além disso, as duas potências anglo-saxônicas controlam em comum, a Base Aérea da Ilha de Ascenção, onde operam simultaneamente, a Força Aérea dos EUA, a Força Aérea do Reino Unido e forças dos países da OTAN. Na mesma Ilha de Ascenção estão instaladas estações de interceptação de sinais e bases do sistema de monitoramento global, denominado  Echelon, que permite o monitoramento e  controle de todo o Oceano Atlântico. Caracterizando-se uma enorme assimetria de poder e de recursos entre as forças navais e aéreas, das potencias anglo-saxônicas e da OTAN, e a dos demais países situados nos dois lados do Atlântico Sul.
Neste ponto o Brasil não tem como enganar-se: possui a capacitação econômica e tecnológica para explorar os recursos oferecidos pelo oceano, mas não possui atualmente a capacidade de defender a soberania do seu “mar interior”. A capacitação naval do Brasil foi inteiramente dependente da Grã Bretanha e dos Estados Unidos, pelo menos até a década de 70, e o Brasil segue sendo um país vulnerável do ponto de vista da sua capacidade de defesa de sua costa, e de sua plataforma marítima. E este panorama só poderá ser modificado no longo prazo, depois da construção da nova frota de submarinos convencionais e nucleares que deverão ser entregues à marinha brasileira, entre 2018 e 2045, e depois que o Brasil adquira capacidade autônoma de construção de sua própria defesa aérea. De imediato, entretanto, o cálculo estratégico do Brasil tem que assumir esta assimetria de poder como um dado de realidade e como uma pedra no caminho de sua política de projeção de sua influência  no continente africano, e sobre este seu imenso “mar interior”.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

O PSDB e sua "indignaçã​o seletiva"




Carta Maior, 26/12/2013 
 
         

O PSDB e sua "indignação seletiva" para casos de corrupção.


 
Daniel Quoist
 
 
Orlando Brito / OBritoNews
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Impressiona a indignação seletiva do PSDB com casos de corrupção. Mas a frase, para ser verdadeira, não pode terminar aí.

É que a indignação tucana é um primor de seletividade e parcialidade: só há indignação se houver suspeita de malfeito que envolva, mesmo que com meros sinais de fumaça, o PT ou Dilma Rousseff, seja o governo, seja a pessoa.

Qualquer denúncia urdida na grande imprensa - das rotativas de Veja às empresas de comunicação da Globo, passando pelos jornais Folha de S.Paulo e Estado de São Paulo – que tenha poder de desgastar o PT ou o governo Dilma Rousseff, recebe desdobramentos previsíveis e imediatos por parte do PSDB.

No Senado, a indignação assoma à tribuna juntamente com Álvaro Dias. Na Câmara, perfaz o espetáculo “indignadosinho de sempre” emulado por Carlos Sampaio. Na blogosfera tucana repercute nos textos de Augusto Nunes e Reinaldo Azevedo, ambos abrigados no portal de Veja.

Se é contra o PT/Dilma Rousseff a força da marola é potencializada em tsunami indonésio.

Mas se o assunto é corrupção envolvendo próceres tucanos, o silêncio, além de constrangedor, é sepulcral. É o caso do cartel permeando contratos dos trens de São Paulo. É o caso da máfia do ISS também em São Paulo. É o caso do mensalão tucano, envolvendo o deputado Eduardo Azeredo e dando origem aos esquemas criminosos chancelados por Marcos Valério, personagem-chave e onipresente no chamado mensalão do PT.

Este maniqueísmo tucano é o mesmo maniqueísmo midiático que vem solapando a fugidia credibilidade de veículos de nossa grande imprensa, acima nomeados. A mídia tonifica a indignação tucana com supostos escândalos envolvendo seu inimigo figadal, o PT, e reduz a poucos tons de cinza a repercussão de maracutaias das grossas envolvendo os quase vinte anos de poder tucano em São Paulo, passando pelos governos Covas, Alckmin e Serra.

É tão desigual – e tão partidarizada – a cobertura de uns e de outros que não tardará o dia em que a Associação Nacional de Jornais e o Instituto Millenium irão requerer participação no Fundo Partidário, a par com o PSDB, PT, PMDB, DEM, PSOL.
A defesa do PSDB é valsa de uma nota só. “Tudo é armação. Não passa de perseguição. Isso se chama aparelhamento do Estado”. No caso do “trensalão tucano” nenhum porta-voz pessedebista estranhou que o procurador Rodrigo de Grandis tenha justificado a perda do prazo de cooperação com as autoridades suíças afirmando que havia arquivado numa pasta errada os ofícios do Ministério da Justiça que continham os pedidos de cooperação sobre o cartel da CPTM. E o engavetamento, ôpa!, o arquivamento em pasta errada vem desde 2010. Não é algo por demais estranho? E exótico, mesmo para os padrões brasileiros?

Ninguém viu Álvaro Dias no Senado pedindo instalação de CPI para investigar o cartel dos trens de São Paulo e muito menos propor a convocação do procurador De Grandis para receber aula da Comissão Permanente do Senado sobre a arte de arquivar corretamente documentos. A TV Câmara não transmitiu nenhum discurso estabanado de Carlos Sampaio descendo a lenha em Rodrigo De Grandis. Trens, então, nenhum piado.
Ao mesmo tempo, sempre em conluio com a grande imprensa, o PSDB se fez de morto com a recente operação em que a Polícia Federal apreendeu 445 quilos de cocaína em helicóptero do senador mineiro Zezé Perrela. Optou por fazer gênero indignação zero. Também nenhum chiado. Silentes estavam, calados ficaram. E por quê? Simples, é muito delicado colocar em uma mesma frase palavras como Cocaína – PSDB – Aécio. E no caso do helicóptero o que mais se especulou foi a muito próxima amizade entre Zezé Perrela e o senador Aécio Neves, ambos torcedores apaixonados do Cruzeiro, mas não só isso, atestam muitos perfis nas redes sociais da internet.

Fato é que a imagem de helicóptero com quase meia tonelada de cocaína apreendida, sendo de propriedade de um figurão da política mineira e cujo piloto é lotado como assessor de seu filho, deputado na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, jamais deixaria de ser capa de revistas semanais e de jornais de circulação nacional.

Mas no Brasil, país que tanto se preza a liberdade de imprensa, simplesmente deixou de ser capa. No caso de Veja, a capa foi sobre games. Peculiar, não? E é assim que com pés e mão de barro desejam empunhar a bandeira da moral e dos bons costumes, onde imoralidade e maus costumes só se pode ver no lado do governo.

Ridículo se não fosse pateticamente risível.