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16/04/2014
A oposição já venceu a luta de Pasadena
Por Luis Nassif (Jornal GGN)
Em
2009, quando foi alvo de um ataque midiático, a Petrobras montou um
grupo estratégico de acompanhamento da crise e lançou o seu Blog, no
qual passou a responder rapidamente a todas as denúncias.
O grupo
estratégico era composto por diretores, técnicos e analistas políticos e
midiáticos. A presença dos analistas justificava-se porque sabia-se que
a guerra era política e a resposta deveria ser política.
Por
resposta política, não se entenda escamotear os fatos, fugir à verdade,
mas analisar as formas de responder às questões para evitar as
pegadinhas do adversário.
A presidente Graça Foster decidiu abrir mão dessa estratégia e repetir Dilma Rousseff logo que assumiu a presidência.
No início de seu governo, houve um festival de denúncias e Dilma acatou todas, as fundamentadas e as improcedentes.
Sacrificou ministros, auxiliares, permitiu algumas injustiças
flagrantes - como a armação de que foi vítima o então Ministro dos
Esportes Orlando Silva. Mas, em um primeiro momento, conseguiu desarmar a
campanha contra si própria. A mídia - meio que a contragosto - passou a
tratá-la temporariamente como a anti-Lula, a governante com vida
própria.
O
custo foi alto. Devolveu à velha mídia a influência que tinha perdido
após a campanha de 2010. Cada vítima abatida - pouco importa se com
denúncias fundamentadas ou não - aumentava a gana por sangue.
Com a
avalanche de denuncias, houve a paralisia de áreas importantes do
governo, especialmente na infraestrutura com o desmonte do DNIT - cujo
titular foi alvo de uma armação da organização criminosa Carlinhos
Cachoeira-Veja. Nem se julgue que havia santos no DNIT. Mas poderia ter
havido uma transição menos rumorosa, sem interrupção dos trabalhos, caso
o governo não fosse atrás do ritmo alucinante de denuncismo da mídia.
A guerra política em torno da Pasadena
Esse mesmo estilo repete-se no caso Pasadena.
Desde o
ano passado correm inquéritos no TCU (Tribunal de Contas da União) e do
MPF (Ministério Público Federal). O próprio Ministro José Jorge, do
TCU, o mais ferrenho opositor do governo, já tinha declarado que a
análise era exclusivamente administrativa, avaliando se a Petrobras
cometeu erros de estratégia ou não.
Não se
vislumbrava nenhuma irregularidade. Ao contrário do caso Paulo Roberto
da Costa, o ex-diretor de exploração, envolvido em um esquema pesado de
quadrilha.
A
declaração de Dilma Rousseff - de que foram sonegadas informações que
teriam levado o Conselho de Administração a rejeitar a compra - jogou a
Pasadena no meio da lama de Paulo Roberto e surpreendeu o próprio José
Jorge.
Por
dias, dias e dias a imprensa martelou o suposto escândalo, sem nenhuma
resposta satisfatória da Petrobras. Pouco importa se haverá ou não a
CPI: a Petrobras já caiu na boca do povo. Em qualquer esquina, a
maioria absoluta das pessoas não tem a menor noção sobre o que se
discute, mas repete que a Petrobras virou um antro de negociatas. Ou
seja, independentemente das análises técnicas que se façam, foi uma luta
política da qual a oposição já se saiu amplamente vitoriosa. E as estripulias de Paulo Roberto da Costa mal começaram a ser divulgadas.
Do lado
da presidência da empresa, não foi montada nenhuma estratégia de
comunicação, não se criou um grupo de crise, não de ouviram analistas
políticos.
A primeira iniciativa de Graça foi uma entrevista a O Globo, tipo “nada tenho a esconder” (http://is.gd/KFguMA). Julgou que bastaria apresentar argumentos técnicos e racionais – e ela o fez com segurança – para todo mal ser exorcizado.
Inicialmente
colocou de maneira clara as implicações da ausência das cláusulas put
(pela qual um dos sócios poderia vender sua parte para o outro) e Marlim
(que assegurava rentabilidade mínima sobre os novos investimentos),
desdramatizando sua ausência.
E isso seria normal (a não apresentação das cláusulas no resumo executivo apresentado ao Conselho de Administração)?
Aí,
depende do diretor que está elaborando o resumo e de quão relevante é. A
cláusula Marlim é relevante, mas não teve a revamp (modernização) da
refinaria. E, por isso, não teve efeito. A put option é absolutamente
comum, mas distinta para cada ativo. Ela não é igual. É específica. E
isso não fez parte do resumo executivo.
Na
sequência, falou na existência de um comitê de proprietários da
Pasadena, cujo representante da Petrobras era Paulo Roberto da Costa.
Ressalvou que a mera presença de Paulo Roberto não significava que o
comitê tivesse cometido qualquer ilegalidade. Mas admitiu que não sabia
da existência desse comitê.
A entrevista bem conduzida vai extraindo dúvidas de Graça:
Como a senhora se sentiu ao descobrir esse comitê?
Eu
não posso saber disso dois anos depois de estar na presidência da
Petrobras. Eu não posso ser surpreendida com informações que me dão o
desconforto necessário para que eu busque uma comissão para apuração.
Como se
diz em jornalismo, “deu o lead”, ou seja, a frase que seria o tema dali
para diante: havia informações que foram escondidas da presidente da
companhia, é o que importa, mesmo que se constate que a participação do
comitê tenha sido anódina.
De
pouco valeu, no restante da entrevista, Graça salientar que a compra da
Pasadena, na época, era bom negócio; que ficou mau negócio com a mudança
da economia global; que era impossível prever essa virada da economia;
que até as declarações de Dilma, o assunto vinha sendo conduzido
administrativamente (tanto na Petrobras quanto no TCU).
Até o momento nada indica irregularidades em Pasadena?
Nada. Mas eu não posso não saber de alguma coisa nesse momento em relação a Pasadena. Eu não aceito, e daí vem minha indignação.
A casca de banana do Senado
Ontem, no Senado foi a mesma coisa.
Em
sua apresentação, Graça expôs todos os dados que justificavam, na
época, a compra da Pasadena, assim como as mudanças posteriores de
cenário. Tecnicamente, deixou algumas dúvidas no ar, mas que não foram
exploradas por senadores que estavam mais interessados no “lead" que no
conteúdo. Como a questão dos valores investidos na compra da tal trading
da Astra. Segundo ela, foram duas compras, da refinaria e da trading,
com seus contratos. Nem nos comunicados ao mercado se informava dessa
distinção.
Indagada
sobre a claúsula put, mudou um pouco a versão original. O problema não
era a cláusula em si (comum em contratos desse tipo) mas a “put price”,
ou seja, as regras de cálculo do valor em caso de oferta de venda por um
dos sócios. Disse que se a cláusula tivesse sido apresentada, a compra
teria sido vetada pelo Conselho.
Duvido!
Se o Conselho Administrativo e a Diretoria Executiva acreditavam na
manutenção do cenário petrolífero da época - e, como ela mesmo disse,
mesmo em Davos todos os grandes executivos do mundo não previram a
crise que explodiu pouco depois - no máximo teriam solicitado alguma
negociação a mais, jamais impedido o negócio.
Ontem
conversei com um repórter que acompanhou todo o depoimento no próprio
Senado. A impressão geral era a de que Graça tinha se saído bem, com
segurança, as respostas tinham sido satisfatórias, embora – para todos –
ela passasse a impressão de querer se colocar como a “justiceira” de
tempos ruins.
Mas o que os senadores e a mídia queriam era o “lead”. E ela deu.
É evidente que a compra da Pasadena se tornou um mau negócio, caso contrário a Petrobras não a teria lançado a prejuízo.
A casca de banana estava na pergunta:
- Foi um mau negócio?
E na resposta:
- Foi um mau negócio.
Se
tivesse se preparado politicamente para a discussão, Graça teria exposto
sinteticamente o que explicou tecnicamente durante toda a sabatina:
- Na
época, foi um bom negócio. Tornou-se um mau negócio depois que a crise
internacional atrapalhou a rentabilidade de todas as refinarias dos
Estados Unidos. Mas está voltando a ser bom negócio este ano, já que
lucramos US$ 53 milhões por mês nos dois primeiros meses do ano.
Simples assim. Ao admitir a seco que foi um mau negócio, Graça deu o “lead".
Hoje, todos os jornais usaram na manchete essa resposta.
Por trás desse desastre político, questões pessoais mal resolvidas, essa disputa autofágica com José Sérgio Gabrielli.
Foi um mau negócio? Pagar mais de um bilhão de dólares por algo inicialmente pago por pouco mais que 40 milhões, isso é mau negócio?
ResponderExcluirO Brasil perdeu, e muito! Então desculpe os senadores que querem ver sim alguém sangrar por este desastre.