domingo, 12 de fevereiro de 2012

Protestos promovem incêndios de construções históricas, cinemas e cafés em Atenas

O Globo.com, 12/02/2012

Manifestantes incendeiam prédios históricos em Atenas em protestos contra medidas de austeridade


Um ciclista passa por um dos prédios atingidos por chamas na capital grega
Foto: Reuters/Yannis Behrakis
Um ciclista passa por um dos prédios atingidos por chamas na capital grega Reuters/Yannis Behrakis 




ATENAS — Vários prédios, incluindo construções históricas, cinemas e cafés, estão em chamas em Atenas. Os incêndios fazem parte de um dos mais violentos protestos realizados na capital grega desde o início dos planos de resgate do país em 2010. Pode chegar a 120 mil pessoas o número de participantes das manifestações, convocadas por sindicatos, na Praça Sintagma, em frente ao Parlamento. Bombas de coquetel molotov e pedras vêm sendo atiradas por manifestantes, enquanto os parlamentares debatem a aprovação de novas medidas de austeridade, que cortam gastos públicos e são vistas como cruciais para habilitarem o país a receber nova injeção de dinheiro do Fundo Monetário Internacional (FMI), da União Europeia (UE) e do Banco Central Europeu (BCE).
O primeiro ministro grego, Lucas Papademos, diz que a violência não será tolerada, após os ataques a lojas e bancos realizados pelos manifestantes em protestos em Atenas:
— Vandalismo, violência e destruição não têm lugar num país democrático e não será tolerada — disse Papademos, que chamou os legisladores a apoiar as reformas de resgate, dizendo que tomar a "decisão errada" na votação de socorro levaria a omissão catastrófica e a saída do euro.
Os protestos se estenderam à Salonique, segunda cidade do país, onde policiais calculam que 20 mil pessoas participavam das manifestações contra as medidas de austeridade.
Em Atenas, cerca de três mil homens da polícia antidistúrbio tentava conter a multidão, neste domingo, com o uso de gás lacrimogêneo. Após a ação policial, a maioria dos manifestantes começou a se dispersar, mas pequenos grupos continuavam enfrentando a polícia próximo ao prédio do legislativo, enquanto uma nuvem de gás lacrimogêneo se espalhava pela praça.
Em imagens transmitidas pela televisão, era possível ver focos de incêndio provocados pelos coquetéis molotov lançados pelos manifestantes. Entre os prédios tomados por chamas está o cinema neoclássico Attikon, de 1870, e um edifício que abriga o Asty, um cinema subterrâneo usado pela Gestapo durante a Segunda Guerra Mundial como centro de tortura. Gangues de jovens encapuzados usando bombas incendiárias, destruíram fachadas de lojas e realizaram saques. Filiais de grandes bancos estrangeiros e cadeias multinacionais, como a cafeteria americana Starbucks, também foram atacadas.
Não há consenso sobre o número total de manifestantes na praça do parlamento. A polícia conta cerca de 60 mil pessoas, enquanto os sindicatos afirmam que há o dobro de participantes nos protestos.
— Eles ainda estão atacando a polícia com bombas incendiárias. Não acabou ainda— disse um porta voz da polícia de Atenas.
O porta-voz informou ainda que alguns manifestantes e policiais ficaram feridos, sem dar os números. Os meios de comunicação locais relataram dezenas de feridos.
Os parlamentares estão debatendo um projeto de lei que estabelece cortes nos gastos públicos de € 3,3 bilhões, que irão afetar salários, pensões e demissões em troca de um pacote de resgate de € 130 bilhões da UE e do FMI. Os manifestantes dizem que a população grega já teve que suportar a maior parte da carga dos cortes públicos e as altas de impostos decretados previamente para reduzir a enorme dívida do país.


Sábado, 11 de Fevereiro de 2012



Miguel A. Lopes/Lusa



Portugal vive maior protesto dos últimos 30 anos


Esquerda.net



Segundo a CGTP, a manifestação nacional contou com 300 mil pessoas e encheu a baixa de Lisboa durante a tarde de sábado. A central sindical vai reunir o Conselho Nacional na próxima quinta-feira e decidir aí novas formas de luta, tendo em conta a mobilização desta manifestação.

No seu primeiro discurso após tomar posse como secretário-geral da Intersindical, Arménio Carlos apontou baterias ao governo da troika. "De austeridade em austeridade, os sacrifícios sucedem-se sem fim à vista, o país definha economicamente e a pobreza alastra", declarou, acrescentando que "os pacotes sucessivos de austeridade e sacrifícios não criam riqueza. O país precisa que lhe tirem a corda da garganta".

Para que isso aconteça, Arménio Carlos defendeu a "renegociação da dívida em prazos, montantes e juros mas também a alteração de políticas que tenham como prioridade o crescimento económico, o emprego e a salvaguarda do interesse nacional". O líder da CGTP aproveitou para responder a Paulo Portas, que considera que a renegociação é passar uma mensagem de caloteiro para o exterior. "Caloteiro não é aquele que exige a renegociação da dívida para criar riqueza e emprego e criar condições para pagar aquilo que se deve. Caloteiro é aquele que se submete, que aceita o que lhe é imposto, sabendo de antemão que jamais em tempo algum com estas condições irá pagar aquilo que deve", declarou o sindicalista.

Para Francisco Louçã, esta manifestação foi "um sinal de dignidade, porque o país já percebeu uma coisa: é que o governo sussurra no ouvido dos ministros alemães que ditam a sorte de Portugal, mas não ouve as razões da maioria do povo português". "O governo e a troika dizem-nos o seguinte: mais facilidade de demissões, dias de trabalho gratuito, perdem o subsídio de natal e de férias e no fim há mais dívida e talvez um novo empréstimo para mais dívida ainda", acrescentou o dirigente bloquista presente no "Terreiro do Povo".

Sobre a visita da troika prevista para a próxima semana, Arménio Carlos lembrou que o acordo "é bom para eles", referindo-se aos milhares de milhões que o país é chamado a pagar só em juros e comissões, ao dinheiro posto à disposição da banca e aos favores feitos ao patronato, aos acionistas das empresas privatizadas e aos detentores das cadeias de distribuição. Para o líder da CGTP, "o povo português está a encher o Terreiro do Paço e a dizer ao Governo e às entidades patronais que aqui não há rendição".

No início do discurso, Arménio Carlos referiu-se às lutas dos trabalhadores gregos, "um povo que já marcou a história pela sua heroicidade, que não abdica de lutar por aquilo que tem direito" e aos trabalhadores espanhóis, que "anunciaram uma jornada de luta para contestar as medidas que o Governo anunciou para, tal como aqui, embaratecer os despedimentos".

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