domingo, 29 de janeiro de 2012
A atual crise do capitalismo sintetizada em tira de Bill Watterson
Nesta tira, dos anos 1990, Watterson já preconizava a crise que agravaria a credibilidade e abalaria os pilares do capitalismo em 2008, no mundo inteiro.
Lucros exorbitantes, demandas irreais, bônus milionários aos grandes executivos e, se tudo der errado, subsídios do Estado para sobreviver... Receita infalível dos CEO's das empresas globais.
Conforme publicado no Ig esta semana, tais disparates continuam se intensificando e gerando uma descrença cada vez maior sobre as grandes corporações por parte das pessoas:
"...O total médio pago aos executivos-chefes cresceu 33% em 2010, enquanto os valores de mercado médios das companhias cresceram 24%, de acordo com o Instituto de Pesquisa para Políticas Públicas. Um estudo feito pela London School of Economics descobriu que um aumento de 10% no valor de mercado de uma empresa geralmente era seguido de uma alta de 3% no pagamento do executivo-chefe, mas de um aumento de apenas 0,2% no pagamento dos trabalhadores comuns.
(...)Em 2010, o pagamento a executivos das 100 principais companhias britânicas listadas cresceu uma média de 49%, em comparação com o 2,7% do trabalhador comum, de acordo com um estudo do think tank High Pay Commission. Na gigante British Petroleum, por exemplo, o ex-CEO Tony Hayward ganhou 63 vezes o valor do funcionário comum em 2010, o ano em que deixou a empresa. Em 1979, seu pagamento era somente 16,5 vezes maior, segundo a comissão."
Watterson já era um descrente convicto durante a administração Clinton, que não conteve os avanços dos maiores conglomerados em direção ao governo e da desregulação do mercado, acentuado no mandato de Bush filho, o que acelerou a eclosão da crise no final da década passada.
Watterson disse não a "patenteação" de sua obra
A última tira de Calvin and Hobbes foi publicada em 31 de dezembro de 1995, Watterson não se enquadrava nos comportamentos padrões de personalidades muito conhecidas, recusava-se a autografar suas produções pelo fato de muitas pessoas a comercializarem por um valor absurdo depois. Formado em Ciências Políticas, muitos do discurso presente nas idéias de Calvin vinham de suas críticas a sociedade americana.
O autor ainda lutou contra a pressão de editores para comercializar no varejo seu trabalho, recusava-se a vender suas criações, dizendo que colar imagens de Calvin e Hobbes em canecas, adesivos e camisetas as reduziriam a meras peças comerciais.
Terça-Feira, 31 de Janeiro de 2012
Marcelo Justo
Londres - A temporada de bonificações dos banqueiros começou com toda força no Reino Unido. Na primeira rodada de anúncios de pagamentos especiais a diretores e executivos do sistema financeiro, a oposição trabalhista e a pressão pública comemoraram uma vitória, forçando o diretor do Royal Bank of Scotland (RBS) a renunciar a sua bonificação anual de quase um milhão de libras (mais de um milhão e meio de dólares).
O diretor executivo do RBS, Stephen Hester, ganhou mais de 11 milhões de libras (cerca de 20 milhões de dólares) desde que assumiu seu cargo há três anos. O salário de 1.200.000 libras anuais foi complementado com ações, pagamentos adicionais e toda parafernália financeira de que gozam os banqueiros. Em um país que se encaminha para a segunda recessão em três anos, com um desemprego de 8,4% e um governo que proclama a austeridade como virtude social, somar a esse salário paradisíaco uma bonificação era uma bofetada.
A coalizão conservadora-liberal democrata argumentou que não podia intervir nos assuntos internos do banco apesar de o estado deter 83 % de suas ações, adquiridas em outubro de 2008 para evitar o colapso do RBS e o efeito dominó sobre o resto do sistema financeiro. Em meio ao clamor público, o líder da oposição trabalhista, Ed Milliband, apertou fundo o acelerador e promoveu uma votação da Câmara dos Comuns sobre o tema. Diante do eminente enfrentamento com o parlamento, Hester recuou na noite de domingo.
Nesta segunda-feira o governo britânico tentou se aferrar a sua linha dizendo que não ia intervir no pagamento feito a outros executivos do RSB. “Não é nossa função dirigir o que os bancos fazem. Os executivos estão fazendo muito bem seu trabalho”, assinalou um porta-voz de Downing Street. Com uma queda do valor das ações do banco de 36% no ano passado e demissões de mais de 11 mil empregados, esta avaliação oficial não é a mesma que faz a opinião pública.
Consciente desta brecha, os trabalhistas tentam maximizar o ganho político assinalando que o debate sobre o salário dos executivos recém começava. “O salário de Stephen Hester é 46 vezes maior que o de um empregado médio”, disse o porta-voz trabalhista de assuntos financeiros, Chuka Umunna.
A comparação com a bonificação é mais demolidora ainda que a do salário. As 963 mil libras que ia receber Hester equivalem ao salário de 36 enfermeiras ou 20 professores com antiguidade ou ao de 23 maquinistas de trens ou 10 embaixadores. A isto se soma que o estado ajudou o setor financeiro com cerca de dois trilhões de dólares, o equivalente a 85% do Produto Interno Bruto, daí se compreende porque a opinião pública esteja levantando as armas.
O caso Stephen Hester é um round preparatório do que acontecerá em fevereiro, quando se anunciará o restante das bonificações aos banqueiros. No ano passado tais pagamentos se situaram em torno de 12,5 bilhões de libras (20 bilhões de dólares), mas ao que parece se tratava de um ano de vacas magras. Segundo boatos da imprensa local, um dos mais polêmicos banqueiros, o diretor do Barclays, Bob Diamond, fará jus ao seu sobrenome embolsando este ano 10 milhões de libras, um terço a mais que em 2011.
O argumento dos banqueiros é que seus salários “dependem do mercado internacional” e que só se consegue o “top talent” pagando essas cifras, deixando de lado que foi este “top talent” o que afundou o Reino Unido e o mundo no marasmo financeiro de 2008 e sua onda expansiva, hoje presente na crise da dívida soberana.
Um estudo da “New Economic Foundation” (NEF) de Londres encontrou uma extraordinária disparidade entre o salário que recebiam diferentes trabalhos e seu valor social. Segundo o NEF, o pessoal de limpeza de hospital gerava 10 libras de trabalho socialmente avaliável (definido por sua contribuição ao bem estar social e à produtividade nacional) por cada libra que recebia como salário. Algo similar acontecia com outro trabalho pouco remunerado: a reciclagem. Em relação aos banqueiros, o modelo do NEF encontrava que, por cada libra que ganhavam, destruíam sete libras de valor social e econômico, façanha só superada pelos executivos de publicidade, que eliminavam 11 libras por cada libra que ingressavam em sua conta.
Tradução: Libório Junior
Bonificações milionárias a banqueiros causam protestos na Inglaterra
Marcelo Justo
Londres - A temporada de bonificações dos banqueiros começou com toda força no Reino Unido. Na primeira rodada de anúncios de pagamentos especiais a diretores e executivos do sistema financeiro, a oposição trabalhista e a pressão pública comemoraram uma vitória, forçando o diretor do Royal Bank of Scotland (RBS) a renunciar a sua bonificação anual de quase um milhão de libras (mais de um milhão e meio de dólares).
O diretor executivo do RBS, Stephen Hester, ganhou mais de 11 milhões de libras (cerca de 20 milhões de dólares) desde que assumiu seu cargo há três anos. O salário de 1.200.000 libras anuais foi complementado com ações, pagamentos adicionais e toda parafernália financeira de que gozam os banqueiros. Em um país que se encaminha para a segunda recessão em três anos, com um desemprego de 8,4% e um governo que proclama a austeridade como virtude social, somar a esse salário paradisíaco uma bonificação era uma bofetada.
A coalizão conservadora-liberal democrata argumentou que não podia intervir nos assuntos internos do banco apesar de o estado deter 83 % de suas ações, adquiridas em outubro de 2008 para evitar o colapso do RBS e o efeito dominó sobre o resto do sistema financeiro. Em meio ao clamor público, o líder da oposição trabalhista, Ed Milliband, apertou fundo o acelerador e promoveu uma votação da Câmara dos Comuns sobre o tema. Diante do eminente enfrentamento com o parlamento, Hester recuou na noite de domingo.
Nesta segunda-feira o governo britânico tentou se aferrar a sua linha dizendo que não ia intervir no pagamento feito a outros executivos do RSB. “Não é nossa função dirigir o que os bancos fazem. Os executivos estão fazendo muito bem seu trabalho”, assinalou um porta-voz de Downing Street. Com uma queda do valor das ações do banco de 36% no ano passado e demissões de mais de 11 mil empregados, esta avaliação oficial não é a mesma que faz a opinião pública.
Consciente desta brecha, os trabalhistas tentam maximizar o ganho político assinalando que o debate sobre o salário dos executivos recém começava. “O salário de Stephen Hester é 46 vezes maior que o de um empregado médio”, disse o porta-voz trabalhista de assuntos financeiros, Chuka Umunna.
A comparação com a bonificação é mais demolidora ainda que a do salário. As 963 mil libras que ia receber Hester equivalem ao salário de 36 enfermeiras ou 20 professores com antiguidade ou ao de 23 maquinistas de trens ou 10 embaixadores. A isto se soma que o estado ajudou o setor financeiro com cerca de dois trilhões de dólares, o equivalente a 85% do Produto Interno Bruto, daí se compreende porque a opinião pública esteja levantando as armas.
O caso Stephen Hester é um round preparatório do que acontecerá em fevereiro, quando se anunciará o restante das bonificações aos banqueiros. No ano passado tais pagamentos se situaram em torno de 12,5 bilhões de libras (20 bilhões de dólares), mas ao que parece se tratava de um ano de vacas magras. Segundo boatos da imprensa local, um dos mais polêmicos banqueiros, o diretor do Barclays, Bob Diamond, fará jus ao seu sobrenome embolsando este ano 10 milhões de libras, um terço a mais que em 2011.
O argumento dos banqueiros é que seus salários “dependem do mercado internacional” e que só se consegue o “top talent” pagando essas cifras, deixando de lado que foi este “top talent” o que afundou o Reino Unido e o mundo no marasmo financeiro de 2008 e sua onda expansiva, hoje presente na crise da dívida soberana.
Um estudo da “New Economic Foundation” (NEF) de Londres encontrou uma extraordinária disparidade entre o salário que recebiam diferentes trabalhos e seu valor social. Segundo o NEF, o pessoal de limpeza de hospital gerava 10 libras de trabalho socialmente avaliável (definido por sua contribuição ao bem estar social e à produtividade nacional) por cada libra que recebia como salário. Algo similar acontecia com outro trabalho pouco remunerado: a reciclagem. Em relação aos banqueiros, o modelo do NEF encontrava que, por cada libra que ganhavam, destruíam sete libras de valor social e econômico, façanha só superada pelos executivos de publicidade, que eliminavam 11 libras por cada libra que ingressavam em sua conta.
Tradução: Libório Junior
A 'recuperação' e o buraco do desemprego
Por Saul Leblon
"A produção industrial norte-americana cresceu 15% desde o fundo do poço da recessão em 2009. A produtividade, porém, respondeu por quase todo o avanço no período, com crescimento de 10,7%. A jornada de trabalho mais longa fez quase todo o resto. O nível de emprego na indústria ficou virtualmente estável" (Dow Jones). O emprego que cresce nos EUA - como agora em janeiro, com a festejada abertura de 234 mil vagas - é de má qualidade com baixos salários.
Para retornar aos níveis pré-crise, a economia norte-americana precisaria gerar seis milhões de vagas. Para retornar ao pleno emprego, precisaria vencer uma fatura de 12,7 milhões de desempregados. No ritmo atual isso demandaria mais de quatro anos, sem considerar o acréscimo anual de braços que chegam ao mercado.
Segundo a OIT, um em cada três trabalhadores do mundo encontra-se hoje desempregado ou vive na pobreza; isso equivale um contingente de 1,1 bilhão de pessoas. Nesta década será preciso criar mais de 600 milhões de vagas para enxugar o estrago causado pela crise e absorver as novas levas à procura de trabalho. A receita atual do FED de privilegiar o apoio à banca, e a 'contração fiscal expansiva', predominante na Europa - um neoliberalismo de guerra induzido a ferro e fogo por Angela Merkel - não tem a mínima chance de atender a essa demanda.
A maior vítima do ocaso do emprego nas economias ricas é a juventude. Na Espanha, na Grécia e na Itália as taxas de desemprego entre os jovens oscilam em torno de 48%: praticamente a metade da atual geração está fora do mercado de trabalho e tem poucas esperanças de ser incorporada um dia. Na Inglaterra, essa geração à deriva já forma um exército superior a um milhõa de pessoas. Não por acaso, 80% dos participantes dos saques de agosto de 2011, em Londres, tinham menos de 25 anos.
No Egito em chamas, os jovens na faixa dos 15 aos 24 anos formam a maioria da população: o desemprego entre eles é da ordem de 25% a 30%. Sem trabalho e sem democracia, resta a revolta, que se derrama para as demais esferas da vida social: as ruas, as escolas, as torcidas organizadas, os estádios de futebol. É muito vapor na fornalha da insatisfação. Explosões são inevitáveis
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