A crise e a sua pergunta mais incômoda
Por Saul Leblon
O presidente mundial do HSBC, o inglês Stuart Gulliver, mandou demitir 30 mil funcionários do banco em 2011; cerca de 11 mil já foram para o olho da rua, atesta a agencia Bloomberg em despachos desta 2ª feira. O negócio funcionou, claro: a exploração funciona. O banco deu lucros de R$ 28,6 bilhões em plena crise, 27,6% mais do que em 2010; Gulliver foi regiamente recompensado pelos acionistas. Satisfeitos com os dividendos, autorizaram pagar ao centurião entre bônus novos e atrasados, mais salários e gratificações, a bagatela de RS 17,8 milhões.
Passados quatro anos da explosão da ordem neoliberal, a ciranda da fortuna que ela consagrou continua a girar impunemente. A engrenagem liga o apetite pantagruélico dos acionistas à cobiça de CEOs, como Gulliver, que recorrem ao vale-tudo de demissões maciças a negócios temerários, como a bolha das subprimes, para atingir 'metas' que nem de longe são as da sociedade ou as do desenvolvimento equilibrado.
No Brasil, a banca elevou em 316% seus lucros entre 2002 e 20112. A inflação do período foi de 55%. Cá, como lá, gullivers e acionistas lambuzaram-se à tripa forra, mas não baixaram a guarda: no ano passado, seu destacamento nativo municiou a mídia e partidos amigos de sólidos 'argumentos' para vetar o imposto de 0,01% sobre operações financeiras, cuja receita seria destinada a afrouxar os gargalos da saúde pública.
Os números, as metas e os métodos repisam a grande pergunta da crise que a mídia conservadora, a plutocracia e mesmo parte da esquerda fingem não ouvir: 'por que um serviço público essencial como o provimento do crédito à economia, bem como a administração financeira da riqueza social, deve continuar nas mãos dos Gullivers & Cia, em detrimento de milhões de lilliputianos urbi et orbi? Curto e grosso: o que mais precisa acontecer para as forças progressistas assumirem a estatização do sistema financeiro como um requisito de superação da desordem neoliberal?
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