Carta Maior, 24/10/2013
Pré-sal, o discurso que Aécio não fez e engoliu
Redação
Aécio Neves ocupou a tribuna do Senado na terça (22) para fazer um duro discurso contra o leilão do pré-sal. Na quinta-feira da semana anterior (17), ele havia se encontrado com seu mentor intelectual, o ex-presidente FHC, e seu mentor de bate-pau, Tasso Jereissati, para discutir a campanha, chorar as mágoas contra José Serra e definir estratégias.
Aécio foi cobrado a ser mais duro e assertivo do que o usual e centrar fogo na crítica à política econômica. Um dos pontos altos desta semana deveria ser a crítica ao leilão de Libra. O triunvirato tucano ali reunido definiu a linha: bater no leilão, sem dó nem piedade, e criticar seu resultado.
O problema é que, com base nas informações que tinha em mãos, a conclusão foi a de que a crítica certeira seria ao chavismo do governo do PT e do quanto isso estava se encaminhando para contaminar a economia do país. Explique-se: até antes do leilão, a aposta que se fazia era a de que Libra seria arrematada por consórcio formado exclusivamente pela Petrobrás em aliança com os chineses. Ou seja, seria uma exploração 100% estatal.
O carimbo da crítica ao chavismo havia sido recém ressuscitado por Marina Silva e daria boas manchetes para a semana, além de fornecer uma imagem que assusta o empresariado. É o discurso que desce redondo em financiadores de campanha, que são também os grandes financiadores da mídia.
Só tinha um problema: a estratégia brilhante estava baseada em um palpite infeliz. O consórcio vencedor do leilão acabou sendo formado pela Petrobrás (em 40%), duas estatais chinesas, a CNPC e a CNOOC (10% cada), a anglo-holandesa Shell (20%) e a francesa Total (20%).
Aécio teve que engolir o discurso preparado, que deve agora estar no lixo, a caminho de uma usina de material reciclável. Às pressas, uma nova peça retórica teve que ser escrita para o dia seguinte. Daí saiu o arremedo de nacionalismo para que se "reestatize a Petrobras".
A linha destoou da que o alto tucanato gostaria de atacar, enfatizando a rejeição ao modelo de partilha e ao fato de o leilão ter tido apenas um concorrente.
Pesou aí a relação estreitada recentemente entre Aécio e Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força Sindical, a quem o mineiro deve favores pela criação do partido Solidariedade. Paulinho convenceu Aécio de que era hora de se aproveitar do ruído sindical provocado entre os petistas e dentro da CUT com o leilão. Esse Paulinho é o mesmo citado no livro de Palmério Dória ("O Príncipe da Privataria") pedindo financiamento de campanha a Benjamin Steinbruch em troca do "favor" que fez ao grupo que arrematou a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN):"eu lhe dei a CSN" - teria dito ele a Steinbruch, conforme o relato de Dória.
Aécio prometeu que, em um governo do PSDB, a Petrobras seria regida pela meritocracia, ou seja, por técnicos, e não por indicações políticas. Não comentou nada sobre o que faria com a Agência Nacional de Petróleo (ANP), que FHC fez questão de confiar a seu próprio genro, à época, David Zylbersztajn, num claro exemplo de como funciona a meritocracia em governos tucanos. Também não disse se a gestão do metrô de São Paulo é um bom exemplo desse tipo de meritocracia.
O carimbo do chavismo fica para uma outra oportunidade; ou, quem sabe, para um discurso de Marina Silva.
Aécio foi cobrado a ser mais duro e assertivo do que o usual e centrar fogo na crítica à política econômica. Um dos pontos altos desta semana deveria ser a crítica ao leilão de Libra. O triunvirato tucano ali reunido definiu a linha: bater no leilão, sem dó nem piedade, e criticar seu resultado.
O problema é que, com base nas informações que tinha em mãos, a conclusão foi a de que a crítica certeira seria ao chavismo do governo do PT e do quanto isso estava se encaminhando para contaminar a economia do país. Explique-se: até antes do leilão, a aposta que se fazia era a de que Libra seria arrematada por consórcio formado exclusivamente pela Petrobrás em aliança com os chineses. Ou seja, seria uma exploração 100% estatal.
O carimbo da crítica ao chavismo havia sido recém ressuscitado por Marina Silva e daria boas manchetes para a semana, além de fornecer uma imagem que assusta o empresariado. É o discurso que desce redondo em financiadores de campanha, que são também os grandes financiadores da mídia.
Só tinha um problema: a estratégia brilhante estava baseada em um palpite infeliz. O consórcio vencedor do leilão acabou sendo formado pela Petrobrás (em 40%), duas estatais chinesas, a CNPC e a CNOOC (10% cada), a anglo-holandesa Shell (20%) e a francesa Total (20%).
Aécio teve que engolir o discurso preparado, que deve agora estar no lixo, a caminho de uma usina de material reciclável. Às pressas, uma nova peça retórica teve que ser escrita para o dia seguinte. Daí saiu o arremedo de nacionalismo para que se "reestatize a Petrobras".
A linha destoou da que o alto tucanato gostaria de atacar, enfatizando a rejeição ao modelo de partilha e ao fato de o leilão ter tido apenas um concorrente.
Pesou aí a relação estreitada recentemente entre Aécio e Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força Sindical, a quem o mineiro deve favores pela criação do partido Solidariedade. Paulinho convenceu Aécio de que era hora de se aproveitar do ruído sindical provocado entre os petistas e dentro da CUT com o leilão. Esse Paulinho é o mesmo citado no livro de Palmério Dória ("O Príncipe da Privataria") pedindo financiamento de campanha a Benjamin Steinbruch em troca do "favor" que fez ao grupo que arrematou a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN):"eu lhe dei a CSN" - teria dito ele a Steinbruch, conforme o relato de Dória.
Aécio prometeu que, em um governo do PSDB, a Petrobras seria regida pela meritocracia, ou seja, por técnicos, e não por indicações políticas. Não comentou nada sobre o que faria com a Agência Nacional de Petróleo (ANP), que FHC fez questão de confiar a seu próprio genro, à época, David Zylbersztajn, num claro exemplo de como funciona a meritocracia em governos tucanos. Também não disse se a gestão do metrô de São Paulo é um bom exemplo desse tipo de meritocracia.
O carimbo do chavismo fica para uma outra oportunidade; ou, quem sabe, para um discurso de Marina Silva.
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