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França: de polo progressista a conservador na Europa
Num dos seus mais extraordinários ensaios (O pensamento morno, London Review of Books, setembro de 2004),Perry Anderson traça o percurso intelectual e cultural da França, de polo progressista a bastião conservador na Europa. Afinal a França foi considerada, por Engels, como o laboratório de experiências politicas, o berço das grandes lutas emancipatórias contemporâneas, de 1789, passando por 1848 e pela Comuna de 1871, até chegar ao governo de Frente Popular e às barricadas de 1968.
Aí terminou o ciclo progressista da França, que começou um processo de direitização em todos os níveis – do intelectual e ideológico ao social e ao politico. Fator fundamental foi a passagem da classe operaria francesa, de classe que se representava essencialmente nos partidos comunista e socialista, a classe que passou, já há décadas, a votar pela extrema direita, primeiro partido na classe trabalhadora francesa.
Como foi possível essa mudança radical da classe operária francesa, da esquerda à extrema direita?
Dois fatores foram fundamentais: um, o desenlace da guerra fria, com o fim da URSS e seus efeitos sobre o PCF, com seu enfraquecimento como partido. Ao mesmo tempo, o PSF, depois do primeiro ano do governo de François Mitterrand, deu uma guinada e se somou à globalização neoliberal, de maneira subordinada ao eixo EUA-Grã Bretanha, dirigidos por Reagan e pela Thatcher. Como corolário, se rompeu a aliança histórica entre socialistas e comunistas, com a virada ideológica daquele e o isolamento deste. Assim, o eixo que atraia aos trabalhadores franceses se desfez, com consequências para a representação política da classe operária.
Por outro lado, a extrema direita passou a explorar, de forma intensa e efetiva, a imigracao, incentivando as tendências chovinistas e até mesmo racistas dos trabalhadores franceses. Se o primeiro fator foi importante, porque afetou a identidade política dos trabalhadores, este outro foi decisivo para que outra identidade assumisse aquele vazio. Diminuiu ainda mais o nível de sindicalização dos trabalhadores, para consolidar essa tendência
Há algumas décadas já que o partido majoritário na classe operaria francesa é a Frente Nacional, o partido da extrema direita, dirigida por Le Pen e agora pela sua filha. Uma mudança de proporções históricas e trágicas para a esquerda francesa e para a esquerda europeia e mundial, pelo que a França tinha representado ao longo do tempo e das grandes lutas que tiveram esse país como palco.
Agora, pela primeira vez, a extrema direita aparece como o partido mais forte nas pesquisas, seguido pela direita tradicional, com os socialistas em terceiro. As próximas eleições podem repetir – de maneira piorada – o cenário eleitoral de há dez anos, quando o primeiro ministro socialista, Leonel Jospin, ficou em terceiro lugar e a esquerda – tanto socialistas, como comunistas – votaram por Jacques Chirac, pela direita tradicional, no segundo turno, para impedir o triunfo da extrema direita.
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