Blog Junho, 10/07/2017
A Revolução na Finlândia
Por
Eric Blanc
No último século, histórias sobre a revolução de 1917
geralmente focaram-se em Petrogrado e nos socialistas russos. Mas o Império Russo era predominantemente
composto por não-russos – e os levantes na periferia imperial eram,
frequentemente, tão explosivos quanto os do centro.
A queda do czarismo em fevereiro de 1917 desencadeou uma
onda revolucionária que imediatamente engoliu toda a Rússia. A Revolução
Finlandesa, que um estudioso definiu como “a
mais nítida guerra de classes na Europa do século XX”, talvez tenha sido
a mais excepcional dessas insurgências.
A exceção
finlandesa
Os finlandeses eram uma nação diferente de todas as
outras que estavam sob o domínio czarista. Pertencente
à Suécia até 1809, quando foi anexada pela Rússia, a Finlândia tinha autonomia
governamental, liberdade política e, com o passar do tempo, até mesmo um
parlamento próprio com eleições democráticas. Ainda que o czar tentasse
limitar essa autonomia, a vida política
de Helsínque lembrava mais Berlim do que Petrogrado.
Numa época em que os socialistas de toda a Rússia
imperial eram obrigados a organizar-se em partidos clandestinos e eram
perseguidos pela polícia secreta, o
Partido Social Democrata Finlandês (Finnish Social Democratic Party -
SDP) atuava de forma aberta e legal. Como a social-democracia alemã, de
1899 em diante, os finlandeses construíram um partido operário massivo e uma
densa cultura socialista, com os seus próprios auditórios, grupos de mulheres
trabalhadoras, coros e associações desportivas.
Politicamente, o movimento operário finlandês estava
comprometido com uma estratégia de orientação parlamentar, educando e
organizando pacientemente os trabalhadores. Inicialmente a sua política era
moderada: falar de revolução era raro e a colaboração com liberais era comum.
Mas o SDP era singular entre os grandes partidos
socialistas de massas da Europa, pois ele tornou-se mais militante nos anos
anteriores à Primeira Guerra Mundial. Se a Finlândia não fosse parte do império
czarista, é provável que a social democracia finlandesa tivesse seguido um
caminho moderado semelhante ao de outros partidos socialistas da Europa
Ocidental, nos quais os radicais foram cada vez mais marginalizados pela
integração parlamentar e pela burocratização do partido.
Contudo, a participação da Finlândia na Revolução de 1905
acabou por levar o partido mais para a esquerda. Durante a greve geral de
novembro de 1905, um líder socialista finlandês viu-se maravilhado com o
levante:
“Vivemos numa
época maravilhosa… Povos que suportavam o fardo da escravidão com conformismo e
humildade de repente libertaram-se do seu jugo. Comunidades que até agora
comiam casca de pinheiro, estão a exigir pão”.
Na esteira da Revolução de 1905, parlamentares
socialistas moderados, dirigentes sindicais e funcionários tornaram-se minoria
no PSD. Procurando implementar a orientação formulada pelo teórico marxista
alemão Karl
Kautsky, a partir de 1906, a maioria do partido fundiu as suas
táticas legalistas e o seu foco parlamentar com uma política incisiva voltada
para a luta de classes. “O ódio de classe deve ser celebrado, ele é uma virtude”,
dizia uma publicação do partido.
O SDP anunciou que somente um movimento operário
independente poderia avançar em direção aos interesses dos trabalhadores,
defender e até mesmo expandir a autonomia finlandesa em relação à Rússia, e
ganhar assim total democracia política. Uma revolução socialista seria, com o
tempo, a ordem do dia, mas até lá o partido deveria fortalecer-se
cautelosamente e evitar conflitos prematuros com a classe dominante.
Essa estratégia de social democracia revolucionária – com
a sua mensagem militante e com o seu método sem pressa, mas sem pausa – teve um
sucesso espetacular na Finlândia. Em
1907, mais de cem mil trabalhadores já se tinham filiado ao partido, tornando-o
na maior organização per capita no mundo. Em julho de 1916, a social democracia
finlandesa entrou para a História ao tornar-se o
primeiro partido socialista a conquistar uma maioria parlamentar. Contudo,
devido aos anos recentes de “russificação”, a maior parte do poder estatal na
Finlândia estava sob controlo da administração russa. Somente em 1917, o SDP
enfrentou os desafios de manter uma maioria parlamentar socialista numa
sociedade capitalista.
Os primeiros meses
As notícias da insurreição de fevereiro na vizinha
Petrogrado foram recebidas com surpresa na Finlândia. Mas assim que os rumores
se confirmaram, os soldados russos que estavam estacionados em Helsínque
amotinaram-se contra os seus oficiais, como descrevia uma testemunha:
“Pela manhã,
soldados e marinheiros marcharam pelas ruas com bandeiras vermelhas, parte
deles em desfiles cantando a Marselhesa, parte em grupos separados,
distribuindo fitas e pedaços de pano vermelhos. Patrulhas de marinheiros de
baixa patente armados vaguearam por toda a cidade desarmando todos os oficiais,
que, ao menor sinal de resistência ou recusa em aceitar o símbolo vermelho,
eram mortos e deixados caídos no local”.
Os administradores russos foram expulsos, os soldados
russos estacionados declararam a sua lealdade ao Soviete de Petrogrado e a
força policial finlandesa foi destruída por baixo. O escritor conservador Henning Söderhjelm,
ao comentar a revolução em 1918 – uma expressão valiosíssima da visão das
elites finlandesas –, lamentava a perda do monopólio estatal da violência:
“A destruição
total da polícia era a política expressa do SDP. A força policial, que tinha
sido eliminada pelos soldados russos logo no início da revolução, nunca mais
voltou a existir. O 'povo' não confiava nessa instituição e, no seu lugar,
foram estabelecidas milícias locais para a manutenção da ordem, compostas por
homens que deviam pertencer ao Partido Trabalhista”.
O que deveria substituir a antiga administração russa?
Alguns radicais pressionaram por um Governo Vermelho, mas eles eram minoria.
Como nas outras partes do Império, em março a Finlândia foi tomada por um apelo
à “unidade nacional”. Esperando alcançar ampla autonomia em relação ao novo
governo provisório da Rússia, uma ala de
dirigentes moderados do SDP rompeu com a antiga posição do partido e uniu-se a
um governo de coligação com liberais finlandeses. Diversos radicais socialistas
denunciaram a manobra como “traição” e flagrante violação dos princípios
marxistas do SDP. Outros líderes importantes, no entanto, aceitaram a entrada
no governo para evitar uma divisão no partido.
A lua de mel política durou pouco. O novo governo de
coligação entrou rapidamente no fogo cruzado da luta de classes quando uma
agitação sem precedentes irrompeu nos locais de trabalho, ruas e áreas rurais
da Finlândia. Alguns socialistas finlandeses concentraram esforços na
construção de milícias operárias armadas. Outros promoveram greves, militância
sindical e ativismo nas fábricas. Söderhjelm descreveu a dinâmica:
“O proletariado deixou de implorar e rogar, agora reivindica
e exige. Acredito que o operário, especialmente o mais bruto, nunca se
sentiu tão empoderado como na Finlândia de 1917”.
Inicialmente, a elite finlandesa teve esperança que a
entrada dos socialistas moderados no governo de coligação obrigasse o SDP a
abandonar a sua linha de luta de classe. Söderhjelm lamentou que essa esperança
tenha sido frustrada:
“O domínio da turba desenvolveu-se com rapidez
inesperada. (…) A culpa, acima de tudo, é da tática do Partido Trabalhista. (…)
Ainda que o Partido Trabalhista tenha observado uma certa dignidade na sua
conduta mais oficial, continuou a sua política de agitação contra a burguesia
com um zelo incansável”.
Enquanto os socialistas moderados do novo governo, assim
como os seus aliados trabalhistas, procuravam arrefecer a insurgência popular,
a extrema esquerda do partido reivindicava sistematicamente que rompessem com a
burguesia. Oscilando entre os dois polos socialistas, existia uma corrente
amorfa ao centro que garantia um apoio limitado à nova administração. E apesar
de a maior parte dos dirigentes do SDP continuarem a priorizar a arena
parlamentar, a maioria do partido apoiava – ou pelo menos acatava – a onda que vinha
de baixo.
Diante da inesperada vaga de resistência, a burguesia
finlandesa foi se tornando cada vez mais beligerante e intransigente. O
historiador Maurice
Carrez observa que a elite
finlandesa nunca se resignou a “compartilhar o poder com uma formação política
vista por ela como o diabo encarnado”.
A polarização de
classe
A implosão do governo de coligação finlandês começou no
verão. Em agosto, o abastecimento de alimentos do império russo entrou em
colapso e o espectro da fome apossou-se dos trabalhadores finlandeses.
Protestos por comida eclodiram no início daquele mês e a organização do SDP de
Helsínque denunciou a recusa do governo em tomar medidas decisivas para lidar
com a crise. “As massas de trabalhadores famintos logo perderam a confiança no
governo de coligação”, notou Otto Kuusinen, o principal teórico de esquerda do
SDP, que fundaria o movimento comunista finlandês no ano seguinte.
A intransigência socialista na luta pela libertação
nacional intensificou ainda mais a polarização de classe. Socialistas
finlandeses lutavam arduamente para acabar com a interferência do governo russo
nos assuntos internos da nação. Conquistando a independência, esperavam fazer
uso da sua maioria parlamentar – e do controlo das milícias operárias – para
avançar rumo a um ambicioso programa de reformas sociais e políticas.
Em julho, um líder socialista explicou que “até agora fomos obrigados a lutar em duas
frentes – contra a nossa própria burguesia e contra o governo russo.
Para que a nossa guerra de classes seja bem-sucedida, se quisermos unificar as
nossas forças numa frente só, contra a nossa própria
burguesia, precisamos de independência, para a qual Finlândia já está pronta”.
Pelas suas próprias razões, os conservadores e liberais
finlandeses também queriam fortalecer a autonomia nacional. Mas não estavam
dispostos a recorrer a métodos revolucionários para atingir esse objetivo - nem
apoiavam, em geral, o esforço do SDP pela independência plena.
O choque
inevitável veio em julho. A maioria socialista no parlamento propôs o histórico
projeto de lei valtalaki (Lei do Poder), que proclamou
unilateralmente a plena soberania finlandesa. Merecendo a intensa oposição da minoria conservadora, o projeto foi
aprovado a 18 de julho. O governo provisório russo, liderado por Alexander Kerensky,
rejeitou de imediato a validade do valtalaki e ameaçou ocupar
a Finlândia caso a sua decisão não fosse respeitada.
Quando os socialistas finlandeses se recusaram a recuar
ou renunciar ao valtalaki, os
liberais e conservadores aproveitaram o momento. Na esperança de isolar o SDP e
reconquistar a maioria, apoiaram cinicamente e legitimaram a decisão de
Kerensky numa manobra para dissolver o parlamento democraticamente eleito.
Novas eleições foram convocadas e partidos de direita ganharam uma exígua
maioria.
A dissolução do parlamento finlandês marcou um ponto de
inflexão decisivo. Até àquele momento, havia entre a classe trabalhadora e os
seus representantes esperança de que o parlamento podia ser usado como um meio
para a emancipação social. Kuusinen explicou que
“A nossa burguesia
não tinha um exército, não contava sequer com uma força policial. (…) Por
isso, parecia que tínhamos toda razão em nos mantermos no já vencido trajeto da
legalidade parlamentar, na qual, aparentemente, a social democracia poderia
conseguir uma vitória atrás da outra”.
Mas para um número crescente de trabalhadores e
dirigentes do partido tornava-se evidente que o parlamento tinha perdido a sua
utilidade.
Os socialistas denunciaram o golpe antidemocrático e
criticaram o conluio da burguesia com o Estado russo contra os direitos
nacionais da Finlândia e as instituições democráticas. De acordo com o SDP, a nova eleição parlamentar era ilegal,
tendo sido vencida graças a fraudes eleitorais generalizadas. Em meados de
agosto, o partido ordenou a renúncia de todos os seus membros do governo. Não menos significativo é o facto de os
socialistas finlandeses terem-se aliado cada vez mais aos Bolcheviques, o único
partido russo a apoiar a sua luta pela independência. Todas as forças do
tabuleiro haviam lançado as suas fichas e a Finlândia, até então pacífica,
precipitava-se para uma explosão revolucionária.
A luta pelo poder
Em outubro, a crise que assolava todo o império russo
tinha chegado ao seu ponto de ebulição. Trabalhadores finlandeses da cidade e
do campo furiosamente exigiam que os seus líderes tomassem o poder. Choques
violentos começaram a borbulhar pela Finlândia. Ainda assim, muitas das
lideranças do SDP continuavam a acreditar que o momento revolucionário poderia
esperar até que a classe trabalhadora estivesse melhor organizada e armada.
Outros, por sua vez, temiam abandonar a arena parlamentar. Nas palavras do
líder socialista Kullervo Manner, em fins de outubro:
“Não podemos
evitar a revolução por muito tempo… a fé no valor das ações pacíficas está
perdida e a classe trabalhadora começa a confiar apenas na sua própria força…
se estivermos equivocados quanto à rápida aproximação da revolução, eu ficaria
muito contente”.
Depois de os Bolcheviques conquistarem o poder no fim de
outubro, parecia que a Finlândia seria a próxima da fila. Privada do apoio
militar do Governo Provisório russo, a elite finlandesa estava perigosamente
isolada. A maioria dos soldados russos – eram dezenas de milhares estacionados
na Finlândia – apoiavam os Bolcheviques e o seu apelo à paz. “A onda vitoriosa
do bolchevismo dará combustível para a engrenagem socialista, e eles
seguramente serão capazes de colocá-la em marcha”, observava um liberal
finlandês.
A base do SDP e os
Bolcheviques em Petrogrado imploraram às lideranças socialistas que tomassem o
poder imediatamente. Mas a direção do partido prevaricou. Ninguém podia ter
certeza se o governo Bolchevique poderia durar mais do que alguns dias. Os socialistas moderados apegaram-se à
esperança de encontrar uma solução parlamentar pacífica, enquanto alguns
radicais defendiam que a tomada do poder era não apenas possível, mas também
urgentemente necessária. A maioria dos dirigentes hesitavam entre as duas
opções. Kuusinen recorda a indecisão do
partido nesse momento crítico: “Nós,
social-democratas, ‘unidos com base na luta de classes’, oscilamos primeiro
para um lado, depois para o outro, tendendo fortemente para a revolução
primeiro, mas só para depois recuar novamente no momento seguinte”.
Incapazes de chegar a um acordo quanto a um levante
armado, o partido acabou por, em vez disso, convocar uma greve geral para 14 de
novembro em defesa da democracia contra a burguesia, pelas necessidades econômicas
urgentes dos trabalhadores e pela soberania finlandesa. A resposta da base foi avassaladora – foi de facto muito além do
esperado diante do cauteloso apelo à greve.
A Finlândia parou.
Organizações locais do SDP e a Guarda
Vermelha tomaram o poder em diversas cidades, ocupando locais estratégicos e
prendendo os políticos burgueses.
Parecia que esse padrão insurrecional se repetiria
brevemente em Helsínque. Em 16 de
novembro, o Conselho da Greve Geral votou pela tomada do poder. Mas quando
sindicatos e dirigentes socialistas moderados criticaram a decisão e
renunciaram ao órgão, o Conselho voltou atrás no mesmo dia. “Já que uma
minoria tão expressiva está em desacordo, o Conselho não pode começar agora a
tomar o poder para as mãos dos trabalhadores, mas continuará a pressionar ainda
mais a burguesia”. Logo em seguida a
greve foi desmobilizada.
O historiador finlandês Hannu Soikkanen destaca que a greve de novembro foi uma enorme
oportunidade perdida:
“Há poucas dúvidas de que esse foi o melhor momento para as organizações
de trabalhadores tomarem o poder. A pressão das bases era enorme, e a
vontade de lutar estava no auge (...) A
greve geral convenceu a burguesia, com poucas exceções, do contundente perigo
representado pelos socialistas. Usaram esse tempo até o início da guerra civil
para se organizarem em torno de uma liderança firme”.
Apontando a hesitação do SDP em voltar-se para a ação de
massas, Anthony
Upton argumentou que “os revolucionários
finlandeses foram, em geral, os mais infelizes revolucionários da História”.
Essa afirmação, contudo, faria sentido se a nossa história terminasse em
novembro, mas os eventos seguintes mostram que o coração revolucionário da
social democracia finlandesa prevaleceu.
Após a greve
geral, os trabalhadores frustrados procuraram armas e voltaram-se para a ação
direta. De forma semelhante, a burguesia preparou-se para a guerra civil,
criando a sua milícia chamada “Guarda Branca” e pedindo apoio militar ao
governo alemão.
Apesar do acelerado colapso na coesão social, muitos
líderes socialistas continuaram com as infrutíferas negociações parlamentares.
Só que dessa vez a ala esquerda do SDP enrijeceu a sua posição e declarou que
não iria mais adiar a ação
revolucionária, pois isso só levaria ao desastre. Após uma longa série de
batalhas internas em dezembro e janeiro de 1918, os radicais finalmente
venceram a disputa interna.
Em janeiro, as palavras revolucionárias do SDP foram
finalmente traduzidas em ações. Para
sinalizar o início da insurreição, os líderes partidários acenderam uma
lanterna vermelha, na noite de 26 de janeiro, na torre do Salão dos
Trabalhadores de Helsínque. Nos dias
seguintes, os social-democratas e as suas organizações sindicais tomaram o
poder facilmente nas grandes cidades da Finlândia – o norte rural, em
contrapartida, permaneceu nas mãos da elite dominante.
Os insurgentes da Finlândia lançaram uma proclamação
histórica anunciando que a revolução era necessária já que a burguesia
finlandesa, em conluio com o imperialismo estrangeiro, tinha dado um “golpe”
contrarrevolucionário contra a democracia e contra as conquistas dos
trabalhadores:
“A partir de
agora, o poder revolucionário na Finlândia pertence à classe trabalhadora e às
suas organizações (…) A revolução proletária é nobre e severa (…) severa para
os insolentes inimigos do povo, mas pronta para ajudar os oprimidos e
marginalizados”.
Embora o recém-estabelecido Governo Vermelho tenha
tentado inicialmente traçar uma rota política relativamente cautelosa, a Finlândia rapidamente se afundou numa
sangrenta guerra civil. A demora na tomada do poder
custou caro à classe trabalhadora finlandesa, porque grande parte das
tropas russas já tinham regressado ao seu país em janeiro. A burguesia
aproveitou os três meses desde a greve de novembro para organizar as suas
tropas na Finlândia e na Alemanha.
No
total, vinte e sete mil revolucionários finlandeses
foram mortos na guerra. E depois de a direita destruir a República Socialista
Operária Finlandesa em abril de 1918, mais oitenta mil trabalhadores e
socialistas foram enviados para campos de concentração.
Não há consenso entre os historiadores sobre um possível
triunfo da revolução finlandesa caso tivesse começado mais cedo e tomado uma
postura mais ofensiva nos campos político e militar. Alguns argumentam que o real fator decisivo foi a intervenção militar
imperialista da Alemanha em março e abril de 1918. Kuusinen segue essa
lógica no seu balanço:
“O imperialismo alemão
deu ouvidos aos lamentos dos nossos burgueses e ofereceu-se prontamente para
engolir a recém-conquistada independência que, a pedido dos social-democratas
finlandeses, tinha sido concedida pela República Soviética da Rússia. O sentimento nacional da burguesia não
sofreu nenhum arranhão nesse episódio; o jugo do imperialismo estrangeiro não
lhe causava terror naquele momento em que parecia que a sua “pátria” estava a
ponto de se tornar a pátria dos trabalhadores. A
burguesia estava disposta a sacrificar um povo inteiro ao grande bandido
alemão, desde que pudesse manter para si a indigna função de capataz”.
As lições
aprendidas
O que devemos
aprender com a Revolução Finlandesa? Obviamente, ela mostra-nos que a revolução operária não foi apenas um fenómeno
localizado no centro da Rússia. Mesmo na Finlândia, parlamentar e pacífica,
a classe trabalhadora progressivamente convenceu-se de que apenas um governo
socialista poderia oferecer uma saída para a crise social e opressão nacional.
E nem os Bolcheviques foram o único partido do império
capaz de levar os trabalhadores ao poder.
Em muitos aspetos, a experiência do
SDP finlandês confirma a ideia tradicional da revolução defendida por Karl Kautsky:
mediante uma paciente educação e organização classista, os socialistas
conquistaram maioria no parlamento, levando a direita a dissolver tal
instituição, facto que acabou por gerar a revolução conduzida pelos
socialistas.
A preferência do partido por uma estratégia parlamentar
defensiva não o impediu, em última instância, de acabar por derrubar o poder
capitalista e avançar em direção ao socialismo. Em contraste, a burocratizada
social-democracia alemã – que há muito abandonara a estratégia de Kautsky –
sustentou ativamente o poder capitalista em 1918-19 e reprimiu violentamente
aqueles que lutaram para derrubá-lo.
Contudo, a Revolução Finlandesa mostra-nos não só os
pontos fortes, mas também as potenciais
limitações da social-democracia revolucionária: hesitação
em abandonar a arena parlamentar, subestimação da ação de massa e, por fim, uma
tendência a ceder aos socialistas moderados em nome da unidade do partido.
Tradução de Ivony
Lessa e Lígia
Artigo
publicado originalmente na revista Jacobin (link is external).
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