terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

As 40 perguntas que a blogueira cubana Yoani Sánchez não irá responder




terça-feira, 19 de fevereiro de 2013






Por Salim Lamrani



Eis 40 perguntas que não serão feitas a Yoani Sánchez em sua turnê mundial, e se fossem feitas, jamais seriam respondidas pela famosa opositora cubana, que inicia pelo Brasil um giro global por mais de uma dezena de países.


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Heroína ou farsante?


1. Quem organiza e financia sua turnê mundial?
2. Em agosto de 2002, depois de se casar com o cidadão alemão chamado Karl G., abandonou Cuba, “uma imensa prisão com muros ideológicos”, para imigrar para a Suíça, uma das nações mais ricas do mundo. Contrariamente a qualquer expectativa, em 2004, decidiu voltar a Cuba, “barco furado prestes a afundar”, onde “seres das sombras, que como vampiros se alimentam de nossa alegria humana, nos introduzem o medo através do golpe, da ameaça, da chantagem”, onde “os bolsos se esvaziavam, a frustração crescia e o medo se estabelecia”. Que razões motivaram esta escolha?
3. Segundo os arquivos dos serviços diplomáticos cubanos de Berna, Suíça, e de serviços migratórios da ilha, você pediu para voltar a Cuba por dificuldades econômicas com as quais se deparou na Suíça. É verdade?
4. Como pôde se casar com Karl G. se já estava casada com seu atual marido Reinaldo Escobar?
5. Ainda é seu objetivo estabelecer um “capitalismo sui generis” em Cuba?
6. Você criou seu blog Generación Y em 2007. Em 4 de abril de 2008 conseguiu o Prêmio de Jornalismo Ortega e Gasset, de 15 mil euros, outorgado pelo jornal espanhol El País. Geralmente, este prêmio é dado a jornalistas prestigiados ou a escritores de grande carreira literária. É a primeira vez que uma pessoa com seu perfil o recebe. Você foi selecionada entre cem pessoas mais influentes do mundo pela revista Time (2008). Seu blog foi incluído na lista dos 25 melhores blogs do mundo pela cadeia CNN e pela revista Time (2008), e também conquistou o prêmio espanhol Bitacoras.com, assim como The Bob’s (2008). El País lhe incluiu em sua lista das cem personalidades hispano-americanas mais influentes do ano 2008. A revista Foreign Policy ainda a incluiu entre os dez intelectuais mais importantes do ano em dezembro de 2008. A revista mexicana Gato Pardo fez o mesmo em 2008. A prestigiosa universidade norte-americana de Columbia lhe concedeu o prêmio María Moors Cabot. Como você explica esta avalanche de prêmios, acompanhados de importantes quantias financeiras, em apenas um ano de existência?
7. Em que emprega os 250 mil euros conseguidos graças a estas recompensas, um valor equivalente a mais de 20 anos de salário mínimo em um país como França, quinta potencia mundial, e a 1.488 anos de salário mínimo em Cuba?
8. A Sociedade Interamericana de Imprensa, que agrupa os grandes conglomerados midiáticos privados do continente, decidiu nomeá-la vice-presidente regional por Cuba de sua Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação. Qual é seu salário mensal por este cargo?
9. Você também é correspondente do jornal espanhol El País. Qual é sua remuneração mensal?
10. Quantas entradas de cinema, de teatro, quantos livros, meses de aluguel ou pizzas pode pagar em Cuba com sua renda mensal?
11. Como pode pretender representar os cubanos enquanto possui um nível de vida que nenhuma pessoa na ilha pode se permitir levar?
12. O que faz para se conectar à Internet se afirma que os cubanos não têm acesso e ela?
13. Como é possível que seu blog possa usar Paypal, sistema de pagamento online que nenhum cubano que vive em Cuba pode utilizar por conta das sanções econômicas que proíbem, entre outros, o comércio eletrônico?
14. Como pôde dispor de um Copyright para seu blog “© 2009 Generación Y – All Rights Reserved”, enquanto nenhum outro blogueiro cubano pode fazer o mesmo por causa das leis do embargo?
15. Quem se esconde atrás de seu site desdecuba.net, cujo servidor está hospedado na Alemanha pela empresa Cronos AG Regensburg, registrado sob o nome de Josef Biechele, que hospeda também sites de extrema direita?
16. Como pôde fazer seu registro de domínio por meio da empresa norte-americana GoDady, já que isto está formalmente proibido pela legislação sobre as sanções econômicas?
17. Seu blog está disponível em pelo menos 18 idiomas (inglês, francês, espanhol, italiano, alemão, português, russo, esloveno, polaco, chinês, japonês, lituano, checo, búlgaro, holandês, finlandês, húngaro, coreano e grego). Nenhum outro site do mundo, inclusive das mais importantes instituições internacionais, como por exemplo as Nações Unidas, o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional, a OCDE ou a União Europeia, dispõem de tantas versões linguísticas. Nem o site do Departamento de Estado dos Estados Unidos, nem o da CIA dispõem de igual variedade. Quem financia as traduções?
18. Como é possível que o site que hospeda seu blog disponha de uma banda com capacidade 60 vezes superior àquela que Cuba dispõe para todos os usuários de Internet?
19. Quem paga a gestão do fluxo de mais de 14 milhões de visitas mensais?
20. Você possui mais de 400 mil seguidores em sua conta no Twitter. Apenas uma centena deles reside em Cuba. Você segue mais de 80 mil pessoas. Você afirma “Twitto por sms sem acesso à web”. Como pode seguir mais de 80 mil pessoas sem ter acesso à internet?
21. O site www.followerwonk.com permite analisar o perfil dos seguidores de qualquer membro da rede social Twitter. Revela a partir de 2010 uma impressionante atividade de sua conta. A partir de junho de 2010, você se inscreveu em mais de 200 contas diferentes do Twitter a cada dia, com picos que podiam alcançar 700 contas em 24 horas. Como pôde realizar tal proeza?
22. Por que cerca de seus 50 mil seguidores são na verdade contas fantasmas ou inativas? De fato, dos mais de 400 mil perfis da conta @yoanisanchez, 27.012 são ovos  e 20 mil têm características de contas fantasmas com uma atividade inexistente na rede (de zero a três mensagens mandadas desde a criação da conta).
23. Como é possível que muitas contas do Twitter não tenham nenhum seguidor, apenas seguem você e tenham emitido mais de duas mil mensagens? Por acaso seria para criar uma popularidade fictícia? Quem financiou a criação de contas fictícias?
24. Em 2011, você publicou 400 mensagens por mês. O preço de uma mensagem em Cuba é de 1,25 dólares. Você gastou seis mil dólares por ano com o uso do Twitter. Quem paga por isso?
25. Como é possível que o presidente Obama tenha lhe concedido uma entrevista, enquanto recebe centenas de pedidos dos mais importantes meios de comunicação do mundo?
26. Você afirmou publicamente que enviou ao presidente Raúl Castro um pedido de entrevista depois das respostas de Barack Obama. No entanto, um documento oficial do chefe da diplomacia norte-americana em Cuba, Jonathan D. Farrar, afirma que você nunca escreveu a Raúl Castro: “Ela não esperava uma resposta dele, pois confessou nunca tê-las enviado [as perguntas] ao presidente cubano. Por que mentiu?
27. Por que você, tão expressiva em seu blog, oculta seus encontros com diplomáticos norte-americanos em Havana?
28. Entre 16 e 22 de setembro de 2010, você se reuniu secretamente em seu apartamento com a subsecretaria de Estado norte-americana Bisa Williams durante sua visita a Cuba, como revelam os documentos do Wikileaks. Por que manteve um manto de silêncio sobre este encontro? De que falaram?
29. Michael Parmly, antigo chefe da diplomacia norte-americana em Havana afirma que se reunia regularmente com você em sua casa, como indicam documentos confidenciais da SINA. Em uma entrevista, ele compartilhou sua preocupação em relação à publicação dos cabos diplomáticos norte-americanos pelo Wikileaks: “Eu me incomodaria muito se as numerosas conversas que tive com Yoani Sánchez forem publicadas. Ela poderia sofrer as consequências por toda a vida”. A pergunta que imediatamente vem à mente é a seguinte: quais são as razões por que você teria problemas com a justiça cubana se sua atuação, conforme afirma, respeita o marco da legalidade?
30. Continua pensando que “muitos escritores latino-americanos mereciam o Prêmio Nobel de Literatura mais que Gabriel García Márquez”?
31. Continua pensando que “havia uma liberdade de imprensa plural e aberta, programas de rádio de toda tendência política” sob a ditadura de Fulgencio Batista entre 1952 e 1958?
32. Você declarou em 2010: “o bloqueio tem sido o argumento perfeito do governo cubano para manter a intolerância, o controle e a repressão interna. Se amanhã as suspenderem as sanções, duvido muito que sejam vistos os efeito”. Continua convencida de que as sanções econômicas não têm nenhum efeito na população cubana?
33. Condena a imposição de sanções econômicas dos Estados Unidos contra Cuba?
34. Condena a política dos Estados Unidos que busca uma mudança de regime em Cuba em nome da democracia, enquanto apoio as piores ditaduras do Oriente Médio?
35. Está a favor da extradição de Luis Posada Carriles, exilado cubano e ex-agente da CIA, responsável por mais de uma centena de assassinatos, que reconheceu publicamente seus crimes e que vive livremente em Miami graças à proteção de Washington?
36. Está a favor da devolução da base naval de Guantánamo que os Estados Unidos ocupam?
37. Você é favorável à libertação dos cinco presos políticos cubanos presos nos Estados Unidos desde 1998 por se infiltrarem em organizações terroristas do exílio cubano na Florida?
38. Em sua opinião, é normal que os Estados Unidos financiem uma oposição interna em Cuba para conseguir “uma mudança de regime”?
39. Em sua avaliação, quais são as conquistas da Revolução Cubana?
40. Quais interesses se escondem atrás de sua pessoa?

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Folha.com, 18/02/2013 - 13h01 

Yoani Sánchez enfrenta protestos pró-Cuba em Salvador e Recife


DE SÃO PAULO



Edmar Melo/EFE
 
Blogueira e ativista política cubana Yoani Sanchez é recebida com protesto ao desembarcar no aeroporto de Recife

A chegada da blogueira opositora cubana Yoani Sánchez ao Brasil foi marcada por protestos de manifestantes favoráveis ao regime comunista da ilha nos aeroportos de Salvador e do Recife, por onde ela começou sua viagem ao país nesta segunda-feira.

Uma das principais dissidentes do governo comandado pelo ditador Raúl Castro, Yoani saiu na tarde de domingo de Havana, fez conexão na Cidade do Panamá e chegou por volta da 0h30 na capital pernambucana. Esta é sua primeira viagem internacional desde 2008, quando voltou a Cuba e foi proibida de sair.
No Aeroporto Internacional dos Guararapes, ela passou pela primeira manifestação. Militantes de grupos socialistas leram uma carta aberta na qual diziam que o blog dela é um meio de desinformação e que faz uma campanha anti-Cuba. Eles também jogaram dólares falsos em direção à dissidente. 


Helia Scheppa/Reuters
 
Blogueira e ativista política cubana Yoani Sanchez é recebida com protesto ao desembarcar no aeroporto de Recife


No aeroporto, Yoani também foi recebida por Dado Galvão, diretor do documentário "Conexão Cuba Honduras", no qual é entrevistada, e cerca de dez pessoas, entre elas, o blogueiro cubano George Hernandez Fonseca, que vive no Pará.
Após o primeiro ato, ela conseguiu embarcar na parte sul do aeroporto e seguir em direção a Salvador, de onde partiu para Feira de Santana. Na cidade baiana, Yoani participará do lançamento do documentário de Dado Galvão, que foi adiado em diversas ocasiões a espera do visto da blogueira.


Edmar Melo/EFE
 
Blogueira e ativista política cubana Yoani Sanchez é recebida com protesto ao desembarcar no aeroporto de Recife 
 


DESVIO
Na chegada à capital baiana, um grupo de 20 pessoas vinculadas a ONGs de esquerda, organizações ligadas a Cuba e associações estudantis fizeram um ato de repúdio à presença da blogueira. "Yoani é uma liderança fabricada pela CIA", disse Caio Botelho, da UJS.
Os manifestantes chamaram Yoani de mercenária e gritaram palavras de ordem, como "Cuba sim, ianque não". Devido ao incidente, o grupo que viajava com a cubana foi orientado a seguir por uma porta alternativa no desembarque do Aeroporto Internacional Luís Eduardo Magalhães.


Edmar Melo/EFE
 
Blogueira e ativista política cubana Yoani Sanchez é recebida com protesto ao desembarcar no aeroporto de Recife

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Saídas da crise: projeto de nação ou 'país-merc​adoria'?

 
 

 

Saídas da crise: projeto de nação ou 'país-mercadoria'?

 
Por Saul Leblon


Quando foi eleito presidente do Chile, em janeiro de 2010, o bilionário Sebástian Piñera reacendeu a esperança conservadora na América Latina.

Sua vitória reluzia como a revanche diante de um colar de governos progressistas que asfixiavam o horizonte da direita regional.

Enfim, um presidente para chamar de seu. Um porta-voz moderno do dinheiro grosso.

Alguém talhado para fazer a ponte entre a inconclusa redemocratização chilena e o necessário arejamento das agendas apuradas no calabouço escuro da ditadura Pinochet.

Antes mesmo de Thatcher, o Chile foi militarmente capturado para ser a cozinha experimental do neoliberalismo.

Talvez fosse mais apropriada a metáfora 'açougue'.

Ali se sangrou, retalhou, picou e moeu uma nação até reduzi-la a uma massa disforme e vegetativa.

Dessa matéria-prima nasceu a primeira receita mundial bem sucedida do cardápio que decretaria o fim do capitalismo regulado, a partir dos anos 70.

O quitute indigesto foi enfiado goela abaixo de uma das sociedades mais democráticas do continente latino-americano.

Por isso mesmo exemplarmente esgoelada na sua tentativa de construir o socialismo pela via eleitoral.

O recado foi escrito com sangue na pele da esquerda latino-americana: 'a democracia promete mais do que os mercados estão dispostos a conceder'.

Mestres-cucas da direita regional e global aderiram em massa ao mutirão corretivo.

Piñera não serviu diretamente à ditadura mais sanguinária da AL.

Justamente por isso sua vitória em 2010 acendeu o entusiasmo conservador.

Porque pensava a economia como Pinochet, sem ter vestido diretamente o capuz negro.

Era a ponte palatável entre dois mundos, no caminho de volta a uma democracia bem comportada.

"É provável que se fortaleça na América do Sul uma "frente antichavista", integrada por Álvaro Uribe (Colômbia), Alan García (Peru) e o próprio Piñera".

O augúrio do editorial da Folha, de 22 de janeiro de 2010, externava essa aposta ansiosa.


O dote de mandatário-ponte servia ademais para espicaçar a viabilidade da jejuna e também recém-eleita presidenta brasileira, Dilma Rousseff.

Transcorridos três anos, Piñera rasteja a caminho de uma derrota sucessória antevista como inevitável, em novembro próximo.

O 'poste de Lula', como dizia Serra, ostenta mais de 70% de aprovação.

O que se passa?


O jornalismo que apostou na ressurgência neoliberal mostra-se estupefato. O Chile fez tudo como deve ser.

É a economia mais aberta da América Latina. O Estado é mínimo: a dívida do setor público é de apenas 11,5% do PIB (36% no Brasil).

A previdência foi privatizada. A proteção trabalhista é pífia.
A linha da desigualdade parece o eletrocardiograma de um morto: o índice de Gini chileno oscilou de 0,55 para 0,52 entre 1990 e 2009 (o do Brasil melhorou de 0,61 para 0,54).

Segundo a Cepal (dados citados pelo jornal Valor Econômico), entre 1990 e 2009, o investimento público na área social oscilou mediocremente no país: de 15,2% para 15,6% do PIB.

Até o México deu um passo maior no mesmo período: passou de 5,5% para 11,3% do PIB.

Na direitista Colômbia, o salto foi de 6,1% para 11,5%.

No Brasil, a ' gastança' avançou de 17,6% para 27,1% do PIB; na Argentina, de 18,6% para 27,8%.

O jornalismo conservador atribui à falta de 'traquejo' político do empresário-presidente, o paradoxo entre uma economia 'saudável' e a rejeição política esmagadora.

O raciocínio condescendente desdenha de uma lacuna-chave.

Piñera não foi programado para transformar a maçaroca econômica em uma Nação.

Por que teria apoio dos seus órfãos?

O Chile é uma equação de números enxutos.

Uma população de 17 milhões de pessoas, menor que a da cidade de São Paulo; um PIB em torno de US$ 250 bi (o paulistano fica em torno de US$ 220 bi).

Porém, mais que isso.

É um país simplificado por uma ditadura que decidiu exterminar fisicamente o estorvo ideológico e social no seu caminho: a classe trabalhadora organizada.

Uma parte foi sangrada nas baionetas de Pinochet.


A outra, exterminada estruturalmente pelos sacerdotes do laissez-faire.

Os Chicago's boys ergueram no Chile o altar-mor de sua religião nos anos 70.

E nele reduziram a economia às suas estritas 'vantagens comparativas'.

Um pomar de pêssego. Vinícolas. Uma mina de cobre .

Um país mercado. Que como tal não precisa de projeto nacional.

Um fluxo de mercadorias não requer formulação intelectual própria.

Logo, não precisa de universidade pública autônoma.

Um aglomerado de consumo não reclama cidadania.

Piñera tentou ser o cadeado moderno entre isso e uma redemocratização intrinsecamente tensa e limitada.

Os estudantes rechaçaram esse entendimento do que seja um 'Chile moderno' .

E carregaram para as ruas o inconformismo de décadas.

Condensaram o grito de 50 anos numa bandeira ao mesmo tempo simples e ferozmente ampla: 'ensino público, gratuito e de qualidade'.

Nada mais imiscível do que um povo reduzido a uma fila de supermercado e a bandeira do ensino público de qualidade.

O fracasso de Piñera não deve ser desfrutado com precipitações simplistas.

O jogo não acabou.

Dilma não tem mais traquejo em campo do que o presidente chileno.

O que Dilma tem de diferente é o fato de representar um esforço político deliberado de construir uma sociedade ao mesmo tempo próspera e justa no Brasil.

Esse vínculo foi extirpado do conceito de economia 'saudável' no Chile.

E não só ele.

A qualidade do desenvolvimento perseguido pelo Brasil ancora-se numa usina de irradiação de riqueza repudiada estruturalmente no Chile desde Pinochet: a industrialização.

Essa singularidade brasileira não é uma conquista dada .

É um projeto de país diariamente fuzilado e ameaçado pelos interesses que contraria --e que não são poucos, nem apenas locais.


Os embates tendem a se acirrar.

Num mundo estagnado, a pressão para entregar tudo aos detentores dos mercados globais, em voraz processo de reordenação, é cada vez maior.

Não por acaso Aécio Neves cercou-se de profissionais do ramo, rumo a 2014.


Resistir passou a exigir definições mais duras e mais profundas.

E linhas de passagem mais curtas e ousadas.

Um trecho do artigo desta semana de Luiz Gonzaga Belluzzo, no jornal Valor, expressa a tensão estrutural que espreme o espaço das escolhas e acomodações.

O conjunto acelera a clivagem entre a lógica que modelou o Chile, de Pinochet a Piñera, e a que tateia o Brasil, de Lula a Dilma; a Argentina, de Nestor a Cristina; a Venezuela, de Chávez a Maduro...

Nação ou 'país-mercadoria'? A ver.

Belluzzo com a palavra:

"As vantagens da China e de seus parceiros asiáticos não estão asseguradas. Não há repouso no capitalismo.

Depois da crise de 2008 e de suas consequências, os países que perderam posição na disputa competitiva da manufatura - sobretudo os Estados Unidos - acenam com uma nova rodada de inovações, aquelas que seriam classificadas de "poupadoras de mão de obra" pelos sábios que ainda utilizam funções de produção.

O economista chefe da General Eletric, Marco Annunziata e Kenneth Rogoff preconizam a iminência de um intenso movimento de automação baseado na utilização de redes de "máquinas inteligentes".
Nanotecnologia, neurociência, biotecnologia, novas formas de energia e novos materiais formam o bloco de inovações com enorme potencial de revolucionar outra vez as bases técnicas do capitalismo.

Todos os métodos que nascem dessa base técnica não podem senão confirmar sua razão interna: são métodos de produção destinados a aumentar a produtividade social do trabalho em escala crescente.

Sua aplicação continuada torna o trabalho imediato cada vez mais redundante. A autonomização da estrutura técnica significa que a aplicação da ciência torna-se o critério dominante no desenvolvimento da produção.
O jogo da grande empresa é jogado no tabuleiro em que a mobilidade do capital impõe conjuntamente a liberalização do comércio, o controle da difusão do progresso técnico (leis de patentes etc..) e o enfraquecimento da capacidade de negociação dos trabalhadores.

Assim, as "novas" formas de concorrência escondem, sob o diáfano véu da liberdade, o aumento brutal da centralização do capital, a concentração do poder sobre os mercados, a enorme capacidade de ocupar e abandonar territórios e de alterar as condições de vida das populações". (Luiz Gonzaga Belluzzo; Valor , 05-02)


Herdeiros de Goebbels, ministro de Hitler, hoje são bilionário​s

Folha.com, 06/02/2013

Herdeiros de Goebbels, ministro de Hitler, hoje são bilionários


DE SÃO PAULO



Uma investigação da Bloomberg mostrou que os "netos postiços" do ministro da propaganda de Adolf Hitler, Joseph Goebbels, atualmente possuem espólios bilionários.
A fortuna não veio de Goebbels, que foi o segundo marido da avó das crianças, Magda, mas do avô biológico, Guenther Quandt, dono de um império industrial que produziu armas e mísseis para o governo nazista.



Hulton - 1942/Arquivo
O ministro da propaganda de Hitler, Paul Joseph Goebbels (1897 - 1945)(à dir), com sua esposa Magda e seus seis filhos; posicionado de uniforme, no centro da imagem, Harald Quandt, filho do primeiro casamento de Magda com Guenther Quandt
O ministro da propaganda de Hitler, Paul Joseph Goebbels (à dir), com sua esposa Magda e seus seis filhos; posicionado de uniforme, no centro da imagem, Harald Quandt, filho do primeiro casamento de Magda


Segundo a reportagem, de 1940 a 1945, as fábricas de Quandt funcionaram com a mão de obra forçada de mais de 50 mil trabalhadores, como prisioneiros de guerra e de campos de concentração.
Após a guerra, Guenther Quandt foi julgado como um "Mitlaeufer", ou seja, um apoiador nazista que não estava formalmente envolvido nos crimes do regime.
Os filhos biológicos de Quandt, Herbert (que não era filho de Magda, mas do primeiro casamento de Guenther) e Harald, herdaram a fortuna do pai (morto em 1954), que tinha entre seus ativos a participação na manufatura alemã de carros Daimler. Mais tarde, eles compraram parte da BMW (Bayerische Motoren Werke).
A família de Herbert tornou-se a acionista majoritária da BMW após a década de 1960, quando ele evitou o colapso da empresa e investiu na criação de novos modelos. Já os descendentes de Harald tiveram uma participação menor nas ações da BMW, embora detenham hoje uma fortuna avaliada em ao menos 6 bilhões de dólares pela Bloomberg.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Espermas diminuem 50% em jovens que assistem muita TV


http://oglobo.globo.com/saude/espermas-diminuem-50-em-jovens-saudaveis-que-assistem-20-horas-de-tv-por-semana-7490941


Espermas diminuem 50% em jovens saudáveis que assistem a 20 horas de TV por semana

  • Em compensação, aqueles que fazem 15 horas de exercícios ou mais por semana têm contagem 73% maior
  • Qualidade do sêmen se deteriorou nas últimas décadas, segundo pesquisa

O Globo
Publicado: 05/02/13
 
 

TV demais diminui contagem de espermas mesmo em jovens saudáveis
Foto: AFP
TV demais diminui contagem de espermas mesmo em jovens saudáveisAFP

LONDRES - Homens saudáveis que assistem a mais de 20 horas de TV por semana têm quase metade da contagem de espermas em comparação com homens que assistem poucas horas de programação, indica um estudo publicado na revista on-line “British Journal of Sports Medicine”. Já aqueles que se exercitam por 15 horas ou mais por semana têm uma contagem 73% maior que aqueles que fazem poucos exercícios.
A qualidade do sêmen parece ter se deteriorado nas últimas décadas, embora o motivo não esteja claro, segundo os pesquisadores. Para descobrir se o sedentarismo era um dos fatores eles analisaram a qualidade do sêmen de 189 homens entre 18 e 22 anos entre 2009 e 2010, todos de Rochestes, no estado de Nova York, EUA.
No estudo os voluntários responderam sobre quantidade e intensidade dos exercícios semanais nos três meses anteriores e o número de horas passadas em frente à TV assistindo a DVDs, vídeos ou à programação no mesmo período. Eles também falaram sobre fatores que pudessem afetar a qualidade do esperma, incluindo problemas na saúde reprodutiva, dieta, níveis de estresse e tabagismo.
Mais da metade dos homens estava na faixa normal de peso e altura e três em cada quatro não fumavam. A prevalência de problemas na saúde reprodutiva era baixa.
A quantidade de atividades físicas (moderadas a vigorosas) semanais era de 5 a 14 horas, enquanto o tempo passado em frente à tela de TV variava de quatro a 20 horas. Homens mais fisicamente ativos (que faziam mais de 15 horas de exercícios físicos por semana) tinham mais tendência a uma dieta mais saudável que os que assistiam a muitas horas de TV e tiveram uma contagem de espermas 73% maior que os mais sedentários. Os exercícios no entanto não afetaram a mobilidade, formato ou volume da amostra.
Quando analisadas por intensidade de exercícios, os resultados mostraram que atividades leves não fizeram diferença na contagem de espermas, em qualquer frequência.
a TV teve resultado oposto: aqueles que assistiam a mais de 20 horas por semana tiveram a contagem de espermas 44% mais baixa que quem assistia por menos tempo, mas também não houve impacto na mobilidade, formato ou volume das amostras.
Os autores alertaram que a redução na contagem de espermas não necessariamente diminui a fertilidade masculina, mas as descobertas sugerem que um estilo de vida mais ativo pode aumentar a qualidade do sêmen.