segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O maior vencedor

http://fernandorodrigues.blogosfera.uol.com.br/2012/10/29/lula-e-maior-vencedor-em-2012/

UOL, 29/10/2012

Lula é maior vencedor em 2012


Fernando Rodrigues


O saldo das eleições municipais em 5.568 cidades mostra apenas dois partidos relevantes com um acréscimo de prefeituras: o PT e o PSB. Mas os petistas são os maiores vencedores por terem reconquistado a cidade de São Paulo. E no universo do Partido dos Trabalhadores é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quem mais faturou.
(abaixo, um post com uma relação de quem ganha e quem perde em 2012)
A vitória de Fernando Haddad contra o tucano José Serra foi arquitetada única e exclusivamente por Lula. Por causa do seu “dedaço”, o ex-presidente da República de 2003 a 2010 foi contestado por parte do establishment petista. Não se importou. Escanteou um nome natural para essa disputa, que era o da senadora (hoje ministra da Cultura) Marta Suplicy (PT-SP).
Mesmo quando o projeto teimava em não decolar, Lula não arredou pé. Pressionou a presidente Dilma Rousseff a entrar na campanha de Haddad de maneira explícita quando o petista estava ainda em terceiro lugar. Foi uma manobra arriscada. Haddad registrava o pior desempenho nas pesquisas entre todos os candidatos do partido nas últimas décadas na capital paulista.
Ao final, Lula provou que estava certo. Acabou emprestando também a Dilma uma parte da vitória. Ao atender aos apelos de seu antecessor, a atual ocupante do Planalto contrariou o discurso de que estaria muito distante do “PT de raiz”.
Dilma se engajou. Gravou depoimentos, subiu em palanques e até cantarolou jingles. Por ocasião do 7 de Setembro, fez um discurso à nação no qual atacou o governo do tucano Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Incendiou a militância petista nas redes sociais.
A presidenta da República sai do processo mais petista do que entrou –ela começou sua vida partidária no PDT do Rio Grande do Sul, seguidora de Leonel Brizola (1922-2004). Nunca houve risco real de o PT negar a legenda a Dilma para que ela dispute a reeleição em 20914. Mas agora o caminho se tornou muito mais suave.
É claro que o PT também sofreu derrotas. Campinas, Salvador, Fortaleza e Diadema, para citar 4 municípios relevantes. Mas mesmo esses reveses ficam minimizados diante da vitória em São Paulo.

PSB

É possível encontrar em algumas análises a interpretação de que Eduardo Campos é um dos grandes vencedores desta eleição, ao lado do PT e de Lula. É uma interpretação correta. Só que não são vitórias com a mesma octanagem.
Campos e o seu PSB ainda representam um grupo político muito menos sólido do que Lula e o petismo.
No mais, o PSB conseguiu bons resultados no Sul e no Sudeste. Ocorre que ainda está longe de ser uma agremiação com militância estabelecida nessas regiões do país.
Tudo considerado, é claro que Eduardo Campos tem interesse em ser presidente da República. Mas só será candidato em 2014 em condições muito especiais que não existem neste momento –uma derrocada completa da economia e uma queda brusca na popularidade de Dilma.
O cenário ainda mais provável para o PSB e para Eduardo Campos é que acabem ficando no governo Dilma “acumulando forças”, como se dizia antigamente. Sua maior aposta pode ser em 2018.

sábado, 27 de outubro de 2012

Como reconhecer uma mulher-bom​ba...

O mundo está cada vez mais violento e os atentados terroristas estão virando ações corriqueiras.
Grupos extremistas agora usam mulheres
em seus ataques a trens, ônibus e aeronaves.
Você se considera preparado(a)?
Você saberia identificar uma mulher-bomba?
Não??!
É fácil....
Comece tentando localizar o pavio...
 

Se encontrar o pavio, coooorrrrrrraaaa !

domingo, 21 de outubro de 2012

Fidel Castro, vivo ou morto, já consolidou a revolução mundial

Imagem inline 1

Jornal Correio do Brasil - Notícias online

21/10/2012

Fidel Castro, vivo ou morto, já consolidou a revolução mundial

 

Por Gilberto de Souza - do Rio de Janeiro



Fidel Fidel, sorridente e com um largo chapéu habanero, em um passeio pela capital cubana


Ninguém fica para semente. O comandante guerrilheiro Fidel Castro não foge à regra. Uma hora dessas ele fechará os olhos para sempre e dormirá o sono dos heróis da Revolução Cubana, ao lado de Ernesto Che Guevara, Camilo Cienfuegos e tantos outros. A vida de Fidel, que se segura por um fio de seda, o mesmo com o qual é tecido o destino desta nação que se levantou do domínio mais aviltante, nos tempos em que os EUA tratavam Cuba como o quintal sujo e pervertido da escória capitalista norte-americana, para a posição de liderança absoluta em áreas como a Saúde e a Educação, marcos que o comunismo fundou em uma das sociedades mais cultas e avançadas da Terra.
Mesmo que Fidel morra hoje, sua missão já estará mais do que cumprida. Líder inconteste de gerações inteiras de revolucionários, desde a Sierra Maestra ao Bico do Papagaio, das ruas de Santa Luzia às avenidas paulistanas, cariocas, chilenas, de Buenos Aires, Montevidéu, Caracas, Berlim, Paris e tantas outras cidades onde se luta contra a opressão do capital internacional, o intelectual que o habita, ante o militar rigoroso, faz de Fidel Castro uma daquelas lendas que jamais deixarão de existir na memória humana. O mito que o eterniza está maior do que a frágil silhueta do ancião sorridente, com o largo chapéu de palha, em um de seus longos passeios pela bela Havana. Fidel é querido, respeitado, honrado por seus conterrâneos.
E goza de boa saúde, ao contrário do que afirmam os aliados do Tio Sam na América Latina, seja o tal membro da Academia Brasileira de Letras com uma coluna no principal diário conservador carioca, ou seu boquirroto equivalente venezuelano, ambos especializados em predizer a morte alheia que não se concretiza. Longe do mau agouro destes oráculos de aluguel, bem pagos pela companhia central de inteligência do império, Fidel segue adiante com a vida de quem percorreu cada palmo da Ilha na qual plantou a semente da utopia. Que floresce. E se internacionaliza. A crise do capitalismo mundial prova, dia após dia, que outra realidade é necessária, sem a ganância, o egoísmo e a estupidez que marcaram o desenvolvimento dos povos ocidentais até hoje, sob a lança e os canhões do laissez-faire.
Fidel talvez não veja o dia em que, pela vontade da imensa maioria humana, a derrocada dos meios de sustentação do capitalismo dará lugar à solidariedade entre os povos e o fim de males como a fome, o desabrigo, a discriminação racial, sexual, de classes. Na verdade, nem precisa estar aqui para ver tudo isso se realizar. Quando o último sopro se esvair e o corpo sem vida do homem restar para a derradeira viagem de volta ao pó, a luta de toda uma vida estará imortalizada no exemplo, na biografia, na História. Os sibilos dessa gente que ainda se dobra aos interesses de uns poucos, poderosos somente na medida de suas posses, então dará lugar ao silêncio solene que antecede os brados de independência nas gargantas da maioria, seja nas urnas ou a ocupar as praças, os campos e as cidades.
Talvez na semana que vem, ou na outra, um desses arautos da mediocridade acerte no prognóstico e anuncie a morte do líder cubano. Terá apenas informado aos seus leitores que morre o homem, fica o mito. E será tão imenso o espectro do barbudo com um puro entre os dentes e o fuzil de combate a atormentar o sono revolto dos injustos, que lhes será mais prático abreviarem a estada e depor as armas, sem demora, para que o novo tempo nasça em paz.
Gilberto de Souza é jornalista, editor do Correio do Brasil.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Zé Bolinha-de-Papel se irrita com repórteres

Imagem inline 1


http://eleicoes.uol.com.br/2012/noticias/2012/10/17/serra-se-irrita-com-perguntas-e-sugere-que-reporter-do-uol-trabalhe-para-haddad.htm



UOL, 17/10/2012

Serra se irrita com perguntas e sugere que repórter do UOL trabalhe para Haddad


Do UOL, em São Paulo



Pelo segundo dia consecutivo, o candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, José Serra, se irritou com perguntas feitas pela reportagem do UOL e sugeriu que a jornalista Débora Melo, que acompanha a campanha do tucano, trabalhe para a campanha de Fernando Haddad (PT), rival do candidato na disputa.
Nesta terça-feira (16), Serra se irritou com a pergunta da reportagem sobre o material anti-homofobia distribuído em escolas estaduais, em 2009, quando o tucano era governador do Estado. O material é semelhante ao chamado "kit gay" do MEC (Ministério da Educação), que é alvo de criticas de Serra e foi elaborado na gestão de Haddad na pasta.
"Vai lá com o Haddad e trabalha com ele. É mais eficiente", disse o candidato ao ser questionado sobre o fato de concordar ou não com ações de combate à homofobia em escolas.
No dia anterior, Serra também se irritou após a jornalista perguntar se o tom agressivo do programa do tucano na TV e no rádio se justifica pelo fato de Serra estar atrás de Haddad nas pesquisas. "Vai lá para o Haddad. É a pauta dele. Você não precisa trabalhar para ele. Ele já tem bastante assessores. Não precisa ter uma assessora a mais para ele. Vai lá direto", disse o tucano.
O candidato do PSDB também mostrou irritação durante entrevista à rádio "CBN", na manhã de terça (16), com a pergunta feita pelo jornalista Kennedy Alencar sobre a semelhança entre a cartilha anti-homofobia elaborada durante a gestão do PSDB no governo do Estado, e o material feito pelo MEC. Serra foi irônico com o jornalista.
"Eu sei que você tem suas preferências políticas, mas modere-se, Kennedy. Você está na CBN, não pode fazer campanha eleitoral aqui", disse Serra.
.....
UOL, 17/10/2012 19h00


Ibope: Haddad amplia vantagem e vai a 49%; Serra tem 33% das intenções de voto

 

Do UOL, em São Paulo

Pesquisa Ibope sobre a disputa pela Prefeitura de São Paulo no segundo turno, divulgada nesta quarta-feira (17), aponta a liderança do candidato do PT, Fernando Haddad, com 49% das intenções de voto. O candidato do PSDB, José Serra, aparece com 33%.
Essa é a segunda pesquisa divulgada pelo Ibope sobre o segundo turno em São Paulo e a primeira após a retomada do horário eleitoral no rádio e na TV, que voltou a ser transmitido na última segunda-feira (15) . Na pesquisa anterior, divulgada no dia 11 de outubro, Haddad aparecia com 48%, contra 37% de Serra. 
Dos entrevistados, 13% informaram que vão votar em branco ou nulo, e outros 5% não decidiram em quem votar. A margem de erro é de três pontos percentuais, para cima ou para baixo.
A pesquisa Ibope, que foi contratada pela "TV Globo", ouviu 1.204 eleitores entre os dias 15 e 17 deste mês e foi registrada no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) com o número SP-01864/2012.
Pesquisa Datafolha divulgada no dia 10 mostrou Haddad com 47%, e Serra com 37%.
A apuração no primeiro turno em São Paulo terminou com Serra com 30,75% dos votos (1.884.849) e Haddad com 28,98% (1.776.317 votos).

Campanha

Nesta quarta-feira,  para rebater as críticas de Serra à sua gestão à frente do Ministério da Educação, Haddad disse que o tucano reclamou da aprovação do piso nacional do magistério, em 2008 e apoiou recursos judiciais de governadores contra a medida.
“Ele [Serra] tem desinformado a população. Nos bastidores, ele lutou muito contra a aprovação do piso nacional do magistério, chegou a me ligar reclamando da lei que foi aprovada no Congresso Nacional", afirmou Haddad após visita ao Sindicato dos Eletricitários e Sindicato dos Engenheiros, na região central de São Paulo.
Serra, que fez campanha em Heliópolis, na zona sul da capital, negou que tenha ligado para o petista.
"É mentira dele. Aliás, o Haddad propôs o piso nacional do magistério para a cidade de São Paulo porque ele ignora que o piso na cidade de São Paulo é muito mais alto do que o piso nacional", disse.
Na ocasião, Serra ainda se recusou a responder sobre suas propostas para combate à homofobia na cidade.
“Eu não vou entrar nesse tema agora, senão vira pauta permanente, imposta pela imprensa. E depois os adversários dizem que fui eu que botei na pauta”, disse.

"Você bate no saco mas pensa no animal que carrega o saco”



MONTBLÄAT - 438 , 17 de setembro de 2012
 
 

Manter viva a causa do PT: para além do “mensalão”
 
 
Leonardo Boff
 
 
Há um provérbio popular alemão que reza: “você bate no saco mas pensa no animal que carrega o saco”. Ele se aplica ao PT com referência ao processo do “Mensalão”. Você bate nos acusados, mas tem a intenção de bater no PT. A relevância espalhafatosa que o grosso da mídia está dando à questão mostra que o grande interesse não se concentra na condenação dos acusados, mas através de sua condenação, atingir de morte o PT.
De saída quero dizer que nunca fui filiado ao PT. Interesso-me pela causa que ele representa, pois a Igreja da Libertação colaborou na sua formulação e na sua realização nos meios populares. Reconheço com dor que quadros importantes da direção do partido se deixaram morder pela mosca azul do poder e cometeram irregularidades inaceitáveis.
Muitos sentimo-nos decepcionados, pois depositávamos neles a esperança de que seria possível resistir às seduções inerentes ao poder. Tinham a chance de mostrar um exercício ético do poder na medida em que este poder reforçaria o poder do povo que assim se faria participativo e democrático. Lamentavelmente houve a queda. Mas ela nunca é fatal. Quem cai, sempre pode se levantar. Com a queda não caiu a causa que o PT representa: daqueles que vem da grande tribulação histórica sempre mantidos no abandono e na marginalidade.
Por políticas sociais consistentes, milhões foram integrados e se fizeram sujeitos ativos. Eles estão inaugurando um novo tempo que obrigará todas as forças sociais a se reformularem e também a mudarem seus hábitos políticos.
Por que muitos resistem e tentam ferir letalmente o PT?
Há muitas razões. Ressalto apenas duas decisivas.
A primeira tem a ver com uma questão de classe social.
Sabidamente temos elites econômicas e intelectuais das mais atrasadas do mundo, como soia repetir Darcy Ribeiro. Estão mais interessadas em defender privilégios do que garantir direitos para todos. Elas nunca se reconciliaram com o povo.
Como escreveu o historiador José Honório Rodrigues (Conciliação e Reforma no Brasil) elas “negaram seus direitos, arrasaram sua vida e logo que o viram crescer, lhe negaram, pouco a pouco, a sua aprovação, conspiraram para colocá-lo de novo na periferia, no lugar que continuam achando que lhe pertence”.
Ora, o PT e Lula vêm desta periferia. Chegaram democraticamente ao centro do poder. Essas elites tolerariam Lula no Planalto, apenas como serviçal, mas jamais como Presidente. Não conseguem digerir este dado inapagável. Lula presidente representa uma virada de magnitude histórica. Essas elites perderam. E nada aprenderam. Seu tempo passou. Continuam conspirando, especialmente, através de uma mídia e de seus analistas, amargurados por sucessivas derrotas como se nota nestes dias, a propósito de uma entrevista montada de Veja contra Lula. Estes grupos se propõem apear o PT do poder e liquidar com seus líderes.
A segunda razão está em seu arraigado conservadorismo. Não quererem mudar, nem se ajustar ao novo tempo. Internalizaram a dialética do senhor e do servo. Saudosistas, preferem se alinhar de forma agregada e subalterna, como servos, ao senhor que hegemoniza a atual fase planetária: os USA e seus aliados, hoje todos em crise de degeneração. Difamaram a coragem de um presidente que mostrou a autoestima e a autonomia do país, decisivo para o futuro ecológico e econômico do mundo, orgulhoso de seu ensaio civilizatório racialmente ecumênico e pacífico. Querem um Brasil menor do que eles para continuarem a ter vantagens.
Por fim, temos esperança. Segundo Ignace Sachs, o Brasil, na esteira das políticas republicanas inauguradas pelo do PT e que devem ser ainda aprofundadas, pode ser a Terra da Boa Esperança, quer dizer, uma pequena antecipação do que poderá ser a Terra revitalizada, baixada da cruz e ressuscitada. Muitos jovens empresários, com outra cabeça, não se deixam mais iludir pela macroeconomia neoliberal globalizada. Procuram seguir o novo caminho aberto pelo PT e pelos aliados de causa. Querem produzir autonomamente para o mercado interno, abastecendo os milhões de brasileiros que buscam um consumo necessário, suficiente e responsável e assim poderem viver um desafogo com dignidade e decência. Essa utopia mínima é factível. O PT se esforça por realizá-la. Essa causa não pode ser perdida em razão da férrea resistência de opositores superados porque é sagrada demais pelo tanto de suor e de sangue que custou.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

A vanguarda da barbárie


Imagem inline 2
 
 
Terça-Feira, 16 de Outubro de 2012
 
 

PSDB: vanguarda da barbárie
 
 
Luiz Marques
 
 
A obra legada pelo filósofo da democracia direta, J. J. Rousseau (1712-1778), O contrato social, comemora 250 anos. O último capítulo interessa, hoje, graças à incorporação da religião como elemento central da política pelo Tea Party, a ala conservadora de extrema-direita do Partido Republicano nos Estados Unidos, e agora pelo PSDB no Brasil. Não à toa, o movimento inaugural da candidatura de José Serra no segundo turno das eleições foi reunir-se com o pastor radialista Silas Malafaia e o pastor Jabes Alencar, membro do Conselho de Pastores de São Paulo (Saul Leblon, “Malafaia: o procônsul de Serra para 'os bons costumes'”, Carta Maior, 11/out).

Sem um programa que interpele a população, o tucano quer promover o apagão das consciências com o auxílio de batedores medievais, acusando (sic) o petista Fernando Haddad de “apoiar ativistas gays” e propor um “kit gay” às escolas no Ministério da Educação. Se as desregulamentações neoliberais sinalizaram o surgimento de uma sociedade pós-contratual, o recurso a um código moralista nos processos políticos para demarcar território aprofunda o retrocesso civilizacional inspirado no Consenso de Washington. “A ação política é revestida de valores... que é uma coisa que ameaçou sair de moda, e felizmente com o STF voltou à moda”, discursou Serra ao conhecer o resultado das urnas em São Paulo. Do fetichismo da globalização, dos ajustes fiscais e das privatizações ao fetichismo da família, da propriedade e da tradição.

Ao apagar a fronteira entre a vida privada e a vida pública, bem como introduzir dogmas na jurisdição da política, a direita brasileira busca afastar do debate eleitoral os avanços obtidos pelo governo Lula / Dilma. O objetivo é retirar de cena o modelo atual de desenvolvimento com justiça social, liderado pelo PT. Pouco importa que o preço seja a substituição do sistema político por um sistema teológico para o qual a tolerância é uma fraqueza, e não um princípio de convivialidade em favor dos direitos humanos. A opção joga no lixo o Estado moderno (laico, por definição) e os alicerces da nação (respeito às diferenças) em um país continental, cuja força e encanto decorrem de sua diversidade cultural. Na defesa do projeto de classe a que serve a social-democracia serrista, o rentismo, setor mais beneficiado com os índices elevados da taxa Selic que aumentam a dívida pública e diminuem os recursos para investimentos sociais, - vale tudo. Não há limites às táticas para assegurar os interesses do capital financeiro.

O PSDB estimula um despotismo comportamental que transfere a autonomia dos indivíduos de decidir sobre o seu corpo para uma esfera de heteronomia, em nome de um padrão dominante. Ademais, insinua a prevalência da autoridade clerical sobre a autoridade civil, como se a pluralidade da vontade geral coubesse em uma única linha de pensamento.

A religião que tutela o homem não deve se confundir com a Constituição que rege a vida do cidadão. A primeira remete a um culto interior de Deus e aos preceitos contidos no imperativo categórico kantiano de tratar as pessoas sempre como um fim em si mesmo e não como um meio. A segunda estabelece a igualdade frente ao Estado, independente de gênero, etnia, ideologia ou orientação sexual. A liberdade e a tolerância religiosa são conquistas da democracia caras aos fundadores do liberalismo clássico, a exemplo de John Locke (1632-1704). Para a reação neoliberal, porém, aqueles valores submetem-se antes à acumulação capitalista e à luta pelo poder.

Quando a religião (a cruz) sobrepõe-se ao aparelho estatal (a águia, metáfora herdada dos romanos), ela torna-se tirânica e má por dilacerar a sociabilidade e incentivar a execração pública dos acusados de desvio de conduta. “Tudo quanto rompe a unidade social nada vale; todas as instituições que põem o homem em contradição consigo mesmo não servem para coisa alguma”. Em resumo: “Quem quer que ouse dizer: 'Fora da igreja não há salvação', deve ser banido do Estado, a menos que o Estado não seja a Igreja e o príncipe não seja o pontífice”, ensinou Rousseau. A laicidade do Estado é o que garante a equanimidade entre todos e pavimenta a civilização.

Sobre a subjetividade que move o tucanato, vale lembrar a atitude que separa a hipocrisia do cinismo. O hipócrita age com dissimulação. O cínico engana sem disfarçar as manipulações em proveito próprio. Serra e os arrivistas da mídia que fazem o trabalho sujo para a Casa Grande pertencem ao último grupo. Não se preocupam em ocultar, atrás do falso moralismo, o ódio à Senzala e seus representantes no espectro partidário. Ecoam os setores resistentes às mudanças que compartilharam os aeroportos, então exclusivos, e valorizaram o salário das funcionárias domésticas em uma conjuntura de pleno emprego, para citar itens do cotidiano. Cabe às organizações populares combinarem a denúncia da desfaçatez ultradireitista com iniciativas que reafirmem a luta pela modernização dos costumes, sob a guarda do Estado Democrático de Direito. Vade retro!

Luiz Marques é professor de Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Sabotando o próprio passado


Serra sabota até o próprio passado
 
Por Saul Leblon
 
 
A 12 dias das urnas do 2º turno, e somente depois de escancarada a omissão, o tucano José Serra lançou seu programa de governo. O evento entre amigos, em uma livraria em SP, foi quase um programa de lazer tucano, uma encenação política filmada para tapar o buraco mais corrosivo de uma propaganda eleitoral: a credibilidade.

Em meio ao contravapor das pesquisas, o tucano enfrenta um desgaste de fundo. Quanto mais se expõe, mais se configura o teor de uma trajetória em que as dissimulações se sucedem, como as cascas de uma cebola.

Essa é a grande dificuldade dos seus marqueteiros: hoje o tucano compõe aos olhos da população um personagem cada vez mais desconectado de sua fala; as atitudes ecoam mais alto do que a voz e desautorizam as promessas.

O acúmulo tende a consolidar uma imagem que se move de forma autônoma.À revelia do arsenal publicitário calcifica-se o perfil de um político que sabota até o próprio passado na busca sôfrega pelo poder.

Mudar isso é como enxugar o chão com a torneira aberta.

Carrega-se na maquiagem aqui, arruma-se um beijo inverossímil ali. Em seguida, a realidade irrompe como um vento inoportuno a sabotar o controle do incêndio.

O 'progressista', descobre-se mais adiante, teve atuação regressiva nas votações relativas ao direito do trabalhador, segundo levantamento do DIAP.

O 'desenvolvimentista', soube-se de fonte insuspeita, foi um dos mais empenhados defensores das grandes privatizações do ciclo tucano, caso da Vale do Rio Doce, por exemplo. Testemunho de FHC nas eleições de 2010.

O propalado 'arrojo administrativo' reduz-se ao cacarejar de galinha velha: faz barulho mas não bota
. Juntos, Serra/Kassab completaram oito anos de um condomínio administrativo que objetivamente destratou SP; agora recolhe o saldo de uma rejeição estrondosa: 45% da cidade reprova a gestão consorciada.

No episódio mais recente, do 'kit anti-homofóbico, cairam as cascas da cebola que ostentavam as credenciais do liberal. Emergir o oportunista da intolerância, abraçado a um savonarola dos 'bons costumes'. Um intercurso explicito entre o obscurantismo e o o vale tudo pelo voto.

Depois de alvejar a iniciativa do MEC, Serra foi obrigado a admitir, desmascarado mais uma vez: em 2009, quando governador, distribuiu material muito semelhante ao professorado estadual de SP.A semelhança é compreensível: o material nos dois casos foi produzido pela mesma instituição, a ONG Ecos.

Palavras de um dos integrantes da equipe que participou do projeto: "A Ecos sempre trabalhou na gestão do Serra; ele está cuspindo no pote que comeu. O material que fizemos para o MEC tem 80% do material do Estado de São Paulo. É um absurdo se utilizar do preconceito para ganhar voto" (Toni Reis, presidente da ABGLT).

Avulta nesse episódio a caricatural disposição de alhuém disposto a dilapidar o próprio currículo: Serra atacar o programa do próprio Serra no desespero eleitoral. Compare o tucano de agora, agarrado ao pastor Malafaia, com esse outro, que tomou as seguintes medidas, lembradas por Antonio Lassance, colunista de Carta Maior:

a) em 2005, ele criou a Coordenadoria de Assuntos da Diversidade Sexual em São Paulo; depois, instituiu a Comissão a Comissão Processante Especial para apuração de atos Discriminatórios a que se refere a Lei n° 10.948/2001, destinada a receber, analisar e mandar punir atos anti-homofóbicos;

b) também em 2005, Serra criou o Conselho Municipal em Atenção à Diversidade Sexual e o Centro de Referência e Combate à Homofobia;

c) em 2006, criou o GRADI – Grupo de Repressão a Delitos de Intolerância a DECRADI – Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, para o controle e repressão dos grupos homofóbicos.


Em resumo, quando o interesse era disputar o espaço LGBT com a petista Marta Suplicy, Serra não criou apenas um kit anti-homofobia, mas armou um elogiável rede da tolerância em SP. Agora, dá guinada na direção oposta e salta para os braçs dos malafaias, supostamente puxadores do voto evangélico.O evento tardio desta 2ª feira em torno do 'programa' para a cidade ressente-se desse vício congênito à natureza política de Serra: a simulação, irma gêmea do vale tudo.

O que se divulgou foi um adereço de mão de fantasia eleitoral, no qual nem o candidato acredita.

Passa-se ao largo da oportunidade preciosa de discutir São Paulo para valer, estendendo aos moradores da cidade o direito elementar de escrutinar seus problemas e elevar a consciência dos requisitos políticos para equacioná-los.

Não há rigor técnico algum na rudimentar listagem tardia das propostas mal-ajambradas pelo tucano. O que é feito para não valer pode elidir metas, omitir cronogramas e abstrair custos.

Em resumo, prescindir dos requisitos que lhe dariam veracidade e transparência compatível com a sua eventua fiscalização pela cidadania.

O simulacro do conjunto foi resumido na descrição de um item por insuspeita fonte: "Em um dos poucos momentos em que dedicou sua fala às próprias propostas, Serra lembrou a promessa de construir 30 AMAs (Assistência Médica Ambulatorial)". (...) "Mas não a ponto de detalhar onde vamos fazer..." (ressalvou o tucano). "Isso seria impossível" (UOL, 16-10).

O modelar descompromisso se repete em outros tiros a esmo, como a promessa de implantar '30 parques' na cidade (onde? como?com que verba?); ou instalar mais cinco mil novos pontos de luz ou ainda a etérea menção uma deficiência escandalosa da gestão de seu apadrinhado, que não dedicou a ela um centímetro adicional de asfalto: 'expandir a rede de corredores de ônibus'. Assim, em quatro palavras, desincumbe-se o tucano da grave distopia do transporte em São Paulo, como se fosse algo tangencial, passível de tratamento genérico e ligeiro. Vai por aí o seu crepuscular 'programa de governo'.

O conjunto exala o peso e a contundência de uma bolinha de papel eleitoral. Mais que isso, reforça uma percepção que se calcifica: Serra é o principal testemunho contra Serra.
A postura professoral ancorada em boutades é quase ofensiva; a soberba incontrolável das sobrancelhas em pinça denuncia a impaciência de quem ouve por obrigação.

Quando tenta transparecer humildade, o tucano exala condescendência
; o tom do discurso é sempre o mais revelador: ao tentar ser simpático é notório que está sendo falso.O anti-sindicalismo udenista de Serra explode ao primeiro conflito social, assim como o recorte antidemocrático irrompe à primeira pergunta embaraçosa de jornalista não embarcado na vassalagem midiática.

O higienismo social desse conjunto sequer é dissimulado - e olha que estamos falando de um dissimulador experimentado.

É difícil demover as consequências eleitorais dessa sedimentação ancorada na percepção intuitiva da cidade, saturada de dissimulações rotas, convicções esfarrapadas e do vale tudo das conveniências.

São Paulo é o grande bunker logístico do conservadorismo brasileiro.

A rejeição a um dos principais quadros desse aparato precisa acumular muito vapor na fornalha para romper uma blindagem arrematada com a solda dupla do jornalismo cúmplice.

O maior trunfo de Haddad hoje é esse discernimento em curso na opinião pública.

Trata-se de iluminá-lo cuidadosamente: Serra é impermeável a qualquer valor ou compromisso que não atenda ao seu exclusivo interesse pessoal
. No seu arquivo biográfico, o interesse da população ocupa olugar da prateleira subalterna. E essa hierarquia se adensa nos episódios caricaturais da campanha municipal de 2012.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Os fatos são subversivo​s

O PT e os teimosos fatos
 
Elvino Bohn Gass
 
 
Um dos bons debates que se trava no Brasil atual diz respeito ao comportamento dos grandes veículos de comunicação. Discussão que só não se amplia porque é interditada por quem mais poderia se beneficiar dela, a própria mídia. Em alguns países, contudo, esta contenda fez nascer mecanismos de controle público tão positivos que, recentemente, grandes conglomerados de mídia fecharam suas portas porque, simplesmente, não cumpriam o dever de informar.
Se a imprensa trabalha com fatos, é adequado que a analisemos a partir daquilo que deveria ser sua matéria-prima: os fatos.
A eles, então:

Dias antes do primeiro turno da eleição municipal, o colunista Josias de Souza, da Folha de São Paulo, afirmava: “...Serra e Haddad subestimaram Russomano; custaram a perceber que ele era mais do que se havia imaginado...”.

O fato: Russomano ficou fora do segundo turno. Para ficar no mesmo verbo, a Folha subestimou os vencedores do primeiro turno.

No jornal Estado de São Paulo, Dora Kramer sentenciava: “...Lula não é mais aquele, sua liderança se esvai e sua influência míngua...” O mesmo Estadão, em editorial do dia 30 de setembro, sob o sugestivo título “Lula está definhando?” via o seguinte cenário: “...o esfarelamento petista nas eleições municipais, resultante da mão pesada de Lula...” E no Globo, Merval Pereira previa: “...a mais complicada eleição paulistana pode acabar deixando de fora da disputa Fernando Haddad, o candidato que o ex-presidente tirou do bolso de seu colete, outrora considerado milagreiro. Terá sido a primeira vez em que o PT não disputará o segundo turno na capital paulista, derrota capaz de quebrar o encanto que se criou em torno das qualidades quase mágicas do líder operário tornado presidente...”

Tivemos, também, Cláudio Humberto, categórico: “...apadrinhado de Lula, Haddad esperava atropelar Serra com a entrada da presidente Dilma e de Marta Suplicy na campanha. Deu chabu...” e “...o comando petista acha que Haddad empacou porque o escândalo do mensalão virou campeão de audiência no horário eleitoral gratuito...”. Mais: Marco Antonio Villa garantia: “...o grande perdedor é o Lula. Até agora, ele fracassou em suas principais movimentações. Se a candidata fosse Marta Suplicy em São Paulo, ela estaria no segundo turno...”

O fato: o candidato de Lula na maior cidade do país, São Paulo, começou a corrida eleitoral com 2% nas pesquisas, nunca havia disputado uma eleição e era desconhecido de boa parte da população. Lula o tomou pela mão e saiu pelas ruas de São Paulo. Haddad recebeu 1 milhão e 700 mil votos, foi para o segundo turno e as pesquisas, agora, o apontam como favorito com 47% das intenções de voto.
De novo, o Estadão. Duas semanas antes da eleição, José Roberto Toledo prenunciava: “...um resultado possível a sair das urnas é o PT, desgastado pelas condenações do mensalão, perder espaço nas capitais...” De novo, o Globo. Na semana que antecedeu o pleito Ricardo Noblat lançava enquete para saber os motivos pelos quais “...pesquisas mostram o PT fraco nas capitais...” Nestes jornalões, ganharam destaque, ainda, as falas de João Ubaldo Ribeiro “...ele [Lula] insistirá e talvez ainda o vejamos perder outra eleição em São Paulo. Não a do Haddad, que aparentemente já perdeu....” e de Fernando Gabeira “...ao longo de minhas viagens observei que o mensalão não havia afetado as eleições municipais. Mas o processo está em curso. Algumas cidades já estão afetadas, como São Paulo e Curitiba. Nesta ocorre algo bastante irônico: o candidato Gustavo Fruet (PDT) é acusado de ter o apoio do PT e por isso perde votos...”

Sentiu falta de Veja? Ei-la no twitter: “...derrocada do PT e disputas acirradas marcam eleições...”

O fato: O PT saiu da eleição como o campeão absoluto em número de votos: 17 milhões e 300 mil, quase um milhão a mais do que em 2008, quando fez 16 milhões e 500 mil. E das cidades onde há segundo turno, o PT foi o partido que mais obteve vitórias – 8 (oito) – seguido pelo PSDB e PSB que obtiveram 5 (cinco) cada um. Tomando-se apenas as Capitais, incluindo São Paulo com Haddad, o Partido dos Trabalhadores venceu numa e está no segundo turno em outras sete. A propósito, Fruet está no segundo turno em Curitiba.

A esta imprensa cuja bola de cristal só projeta o que diminui o PT, sempre sobrará o recurso de lançar mão do velho ditado “Cabeça de juiz, fralda de bebê e urna, reservam sempre uma surpresa”. Sejamos honestos: não é este o caso. Até porque, premida, agora, pela realidade dos fatos (ah, os teimosos fatos...) a mesma imprensa nos apresenta manchetes do tipo: “PT resiste a ataques sobre mensalão e reacende força de Lula nas eleições” ou “Peso do mensalão nesta eleição foi próximo de zero” ou ainda “PMDB é campeão em número de prefeitos, PT vence em total de votos”.

Para Luís Nassif, tudo isto compõe “um retrato que seria-cômico-se-não-fosse-trágico de ‘especialistas` que não conseguem entender seu país e seu povo, porque não têm o menor interesse em fazê-lo – só em participar do jogo político, da maneira mais escancarada possível.”

Já o historiador inglês Timothy Garton Ash, em seu livro “Os fatos são subversivos”, afirma que se o parlamento britânico soubesse a verdade (os fatos) sobre o Iraque – que o país de Saddam não possuía armas nucleares - muito provavelmente não teria autorizado o governo da Inglaterra a juntar forças com os Estados Unidos para aquela invasão genocida.

Nassif está corretíssimo. Mas penso que a formulação de Ash, por ser tão cínica quanto boa parte de nossa imprensa, é ainda mais adequada para a análise das previsões catastróficas sobre o desempenho do PT na eleição. Nenhuma delas se realizou porque o povo não pensa e não sente como a imprensa. Mas não se assuste se, na vã tentativa de se justificar, você acabe por ler algo que tente nos fazer crer que os fatos é que são subversivos.

(*) Deputado Federal PT/RS, Secretário Nacional Agrário e vice-líder da bancada do PT na Câmara.

sábado, 13 de outubro de 2012

Os tucanos, do começo ao fim

Imagem inline 1
 
 
 
 
 
Os tucanos, do começo ao fim
 
 
Por Emir Sader
 
 
Os tucanos nasceram de forma contingente na política brasileira, apontaram para um potencial forte, tiveram sucesso por via que não se esperava, decaíram com grande rapidez e agora chegam a seu final.

Os tucanos nasceram de setores descontentes do PMDB, basicamente de São Paulo, com o domínio de Orestes Quercia sobre a secção paulista do partido. Tentaram a eleição de Antonio Ermirio de Morais, em 1986, pelo PTB, mas Quércia os derrotou.

Se articularam então para sair do PMDB e formar um novo partido que, apesar de contar com um democrata–cristão histórico, Franco Montoro, optou pela sigla da social democracia e escolheu o símbolo do tucano, para tentar dar-lhe um caráter brasileiro.

O agrupamento foi assim centralmente paulista, incorporando a alguns dirigentes nacionais vinculados a esse grupo, como Tasso Jereisatti, Alvaro Dias, Artur Virgilio, entre outros. Mas o núcleo central sempre foi paulista – Mario Covas, Franco Montoro, FHC .

A canditadura de Covas à presidência foi sua primeira aparição pública nacional. Escondido atrás do perfil de candidatos como Collor, Lula, Brizola, Uysses Guimaraes, Covas tentou encontrar seu nicho com um lema que já apontava para o que terminariam sendo os tucanos – Por um choque de capitalismo.

O segundo capítulo da sua definição ideológica veio no namoro com o governo Collor, que se concretizou na entrada de alguns tucanos no governo - Celso Lafer, Sergio Rouanet. Se revelava a atração que a “modernização neoliberal” tinha sobre os tucanos. O veto de Mario Covas impediu que os tucanos fizessem o segundo movimento, de ingresso formal no governo Collor - o que os teria feito naufragar com o impeachment e talvez tivesse fechado seu posterior caminho para a presidência.

Mas o modelo que definitivamente eles seguiram veio da Europa, da conversão ideológica e política dos socialistas franceses no governo de Mitterrand e no governo de Felipe Gonzalez na Espanha. A social democracia, como corrente, optava por uma adesão à corrente neoliberal, lançada pela direita tradicional, à que ela aderia, inicialmente na Europa, até chegar à América Latina.

No continente se deu um fenômeno similar: introduzido por Pinochet sob ditadura militar, o modelo foi recebendo adesões de correntes originariamente nacionalistas - o MNR da Bolívia, o PRI do México, o peronismo da Argentina – e de correntes social democratas – Partido Socialista do Chile, Ação Democrática da Venezuela, Apra do Peru, PSDB do Brasil.

Como outros governantes das correntes aderidas ao neoliberalismo – como Menem, Carlos Andres Peres, Ricardo Lagos, Salinas de Gortari -, no Brasil os tucanos puderam chegar à presidência, quando a América Latina se transformava na região do mundo com mais governos neoliberais e em suas modalidades mais radicais.

O programa do FHC era apenas uma pobre adaptação do mesmo programa que o FMI mandou para todos os países da periferia, em particular para a América Latina. Ao adotá-lo, o FHC reciclava definitivamente seu partido para ocupar o lugar de centro do bloco de direita no Brasil, quando os partidos de origem na ditadura – PFL, PP – tinham se esgotado. (Quando o Collor foi derrubado, Roberto Marinho disse que a direita já não elegeria mais um candidato seu, dando a entender que teriam que buscar alguém fora de suas filas, o que se deu com FHC.)

O governo teve o sucesso espetacular que os governos neoliberais tiveram em toda a América Latina no seu primeiro mandato: privatizações, corte de recursos públicos, abertura acelerada do mercado interno, flexibilização laboral, desregulamentações. Contava com 3/5 do Congresso e com o apoio em coro da mídia. Como outros governos também, mudou a Constituição para ter um segundo mandato.

Da mesma forma que outros, conseguiu se reeleger, já com dificuldades, porque seu governo havia projetado a economia numa profunda e prolongada recessão. Negociou de novo com o FMI, foi se desgastando cada vez mais conforme a estabilidade monetária não levou à retomada do crescimento econômico, nem à melhoria da situação da massa da população e acabou enxotado, com apoio mínimo e com seu candidato derrotado.

Aí os tucanos já tinham vivido e desperdiçado seu momento de glória. Estavam condenados a derrotas e à decadência. Se apegaram a São Paulo, seu núcleo original, desde onde fizeram oposição, muito menos como partido – debilitado e sem filiados – e mais como apêndice pautado e conduzido pela mídia privada.

Derrotado três vezes sucessivas para a presidência e perdendo cada vez mais espaços nos estados, o PSDB chega a esta eleição aferrado à prefeitura de São Paulo, onde as brigas internas levaram à eleição de um aliado, que teve péssimo desempenho.

Os tucanos chegam a esta eleição jogando sua sobrevivência em São Paulo, com riscos graves de, perdendo, rumarem para a desaparição politica. Ninguém acredita em Aécio como candidato com possibilidade reais de vencer a eleição para a presidência, menos ainda o Alckmin. Vai terminando a geração que deu à luz aos tucanos como partido e protagonizaram seu auge – o governo FHC – que, pela forma que assumiu, teve sucesso efêmero e condenou – pelo seu fracasso e a imagem desgastada do FHC e do seu governo – à desaparição politica.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Mulheres relatam abusos cometidos por médico



 
 
09/10/2012 - 04h08
 
Mulheres relatam abusos cometidos por médico
 

CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO
 

M., 24, tem pesadelos recorrentes com exame de toque vaginal. Há dois meses, toma antidepressivos e frequenta psicólogo. E se esforça para esquecer da primeira consulta ginecológica.
M. e a mãe L., 49, foram as primeiras de um grupo de 11 mulheres que relataram à polícia terem sido vítimas do médico Rogério Pedreiro, 48, preso em 31 de agosto. O caso corre sob sigilo. A Folha falou com cinco delas.
Em depoimento, o médico, que atuava como ginecologista e ultrassonografista, negou as acusações. Disse que foram exames e consultas normais. Ele segue preso.
A arrumadeira Almira da Rocha Oliveira, 43, reconheceu Pedreiro ao vê-lo em uma reportagem na TV e foi à delegacia denunciá-lo. "Enfim, confirmei minhas cismas."
Ela -a única que autorizou a divulgação do nome e imagem- diz que frequentava a clínica do médico, em Moema (zona sul), desde 2009.
Almira fez, com ele, cinco exames de ultrassom transvaginal para monitorar miomas. "Em todas as vezes, ele perguntou se eu sentia prazer quando colocava o aparelho. Era esquisito, mas eu pensava: 'Alzira, abre a cabeça. É pergunta de médico'."
Ela diz ter estranhado o fato de o médico não usar luvas e nem fornecer avental às pacientes durante o exame.
O relato da vendedora V., 35, é semelhante. Ela diz que, em 2004, procurou o médico porque queria engravidar.
"Durante o exame de toque vaginal, ele perguntou se eu sentia prazer quando ele me tocava. Respondi que não."
V. conta que, no início, pensou ser uma pergunta "normal". Mas, ao voltar 15 dias depois para fazer um ultrassom, a situação se repetiu.
"Ele colocou o aparelho na vagina, ficou mexendo com a mão e perguntando se eu sentia prazer. Respondi brava: 'Não estou sentindo nada'. Ele parou na hora."
Depois disso, só vai à "ginecologista mulher".
Em 2006, a atendente J., 29, procurou o médico para fazer um ultrassom transvaginal. "No exame, ele perguntou se eu sentia prazer fácil. Fiquei sem graça e disse que, se fosse com o meu marido, eu sentia. Ele colocou o aparelho e perguntou: 'E assim?' Eu disse: 'Tá machucando'. Aí ele parou. Não voltei mais."
EXAME DEMORADO
M. e a mãe se consultaram com Pedreiro no mesmo dia, 18 de junho. A primeira a entrar na sala foi a mãe. "No exame de toque vaginal, ele ficou, ficou [com o dedo na vagina]. Nunca fiz um exame tão demorado", diz L.
Já M. relata que, ao entrar na sala do médico, levou uma bronca pela demora em procurar um ginecologista.
"Primeiro, ele colocou o dedo na vagina e ia apalpando aqui embaixo [região pélvica]. Depois, pegou no meu braço e disse: 'Você tem bastante hormônio. Não sente vontade de se masturbar?'". M. saiu da sala e não falou nada para a mãe. "Fiquei com vergonha."
Dias depois, comentou com uma amiga. "Ela disse que ginecologista não fala essas coisas." Foi aí que M. contou para os pais. "Ela sentia desespero, culpa, raiva. Ficou agressiva", lembra a mãe.
O pai relata que quase "perdeu a cabeça". "Pensei em invadir o consultório e quebrar a cara dele." A mãe diz que a família não quer indenização. "Só que ele pague pelo o que fez", afirma.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Povo venezuelan​o derrota a oligarquia e o imperialis​mo

Segunda-Feira, 08 de Outubro de 2012

Povo venezuelano derrota a oligarquia e o imperialismo


Luciano Wexell Severo*


Caracas - Na madrugada de segunda-feira, 8 de outubro, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela anunciou a nova vitória de Hugo Chávez. O resultado eleitoral confirmou todas as previsões e demonstrou um aumento do apoio popular ao processo venezuelano de transformações sociais. Segundo o primeiro boletim do CNE, com 90% das urnas apuradas, Chávez obteve 7.440.082 (54,4%). O povo venezuelano escreveu outra bela página de sua história ao derrotar o candidato da oligarquia, dos grandes meios de comunicação e do imperialismo norte-americano. E isso seria memorável ainda que fosse por um voto. Mas a vitória foi por mais de um milhão de votos. A abstenção foi de apenas 19,1%, uma das mais baixas das últimas décadas. O principal opositor Capriles Radonski, do Movimiento Primero Justicia (MPJ), fez 6.151.544 votos (45%).

O objetivo deste artigo é chamar a atenção para o avanço da participação política e demonstrar que há uma tendência crescente de ampliação do apoio popular a Chávez desde a sua primeira eleição em 1998. Isto ocorre apesar da campanha dos grandes meios de comunicação do país contra o processo de mudanças. Há uma vertente de opinião no Brasil, uma farsa inventada pela Folha, pelo Globo, pela Veja, pelo Estadão, pela Zero Hora, de que Chávez tem a supremacia dos meios de comunicação. É uma afirmação patética. Na Venezuela, os grandes meios de televisão, rádios, jornais e revistas ainda seguem nas mãos da elite apátrida, liberal e pró-americana, exatamente como o Partido da Mídia Golpista (PIG) no Brasil. Em 13 anos, o país vizinho teve diversas eleições e referendos de consulta aberta. O atual presidente disputou e ganhou as contendas de 1998, 2000, 2006 e agora 2012.

Em 1998, Chávez enterrou o chamado Pacto de Punto Fijo. A pesar da resistência da oligarquia venezuelana, que naquele momento ainda concentrava o poder sobre a empresa Petróleo de Venezuela S.A. (PDVSA), vieram abaixo 40 anos de alternância dos partidos Ação Democrática (AD) e Comitê de Organização Política Eleitoral Independente (COPEI) no Palácio de Miraflores. Chávez ganhou as eleições com 56,2% (3.674.021 de votos) contra um 43,8% (2.864.343 de votos) dos demais candidatos.

Poucos meses depois, o mandatário cumpriu uma de suas antigas propostas e convocou um referendo popular sobre a possibilidade de eleger uma Assembleia Constituinte com funções de elaborar uma nova Carta Magna. Esse referendo foi aprovado em abril de 1999 com 87,7% (3.630.666 de votos). Posteriormente foi convocada uma eleição para a Assembleia Nacional Constituinte, quando os partidários de Chávez obtiveram 66% dos votos e elegeram 90% dos parlamentares. Em dezembro do mesmo ano, o projeto de Constituição foi submetido a um novo referendo e aprovado com 71,8%, equivalentes a 3.301.475 de votos.

A seguir, foram convocadas para julho de 2000 as chamadas mega-eleições gerais, ocasião na qual Chávez foi novamente vencedor, desta vez sob a Constituição de 1999, com 59,8% (3.757.773 de votos). O Polo Patriótico, bloco chavista, conquistou 58% dos cargos da nova Assembleia Nacional. Os eleitores demostraram novamente seu rechaço aos partidos políticos tradicionais, que obtiveram resultados bastante modestos: AD alcançou 33 deputados (16,1% dos votos) e COPEI elegeu seis (5,3%). Pela primeira vez na sua história, os dois partidos juntos alcançaram somente 21,4% do total de votos.

A Constituição da República Bolivariana da Venezuela é uma da poucas do mundo que estabelece a possibilidade de suspender membros do Poder Executivo no meio do mandato. Este instrumento criou uma oportunidade sem precedentes para que uma parcela insatisfeita da população, 20% dos eleitores, possa convocar referendos com o objetivo de interromper mandatos e convocar novas eleições. Amparado nessa norma, em agosto de 2004 foi realizado um referendo que ratificou Chávez na Presidência com 5.800.629 de votos (59,1%) contra 3.989.008 de votos (40,6%).

Em dezembro de 2005 foram realizadas eleições parlamentárias. Frente à visível vitória das forças bolivarianas, a oposição intensificou, através de seus meios comunicacionais, uma campanha contra o Poder Eleitoral, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e suas regras. O grupo opositor reivindicou a eliminação das máquinas que captam digitais, exigiu que se contassem os votos manualmente um a um e quase pediu 500 mil votos de vantagem antes de abrir a primeira urna. Consciente da sua derrota e decidida a não reconhecê-la, a oposição fez uma manobra bastante trapalhada: fugiu dos sufrágios, alegando insegurança e falta de garantias de eleições limpas. Depois, os derrotados acusaram o governo de concentrar 100% dos deputados da Assembleia Nacional, do Parlamento Latino-americano e do Parlamento Andino.

Nas eleições presidenciais de 2006, a margem de votos pró-Chávez continuou ampliando-se. O candidato bolivariano obteve 7.309.080 votos (62,8%) enquanto a oposição somou 4.321.072 votos (37,2%). O candidato opositor com mais votos foi o então governador do estado Zulia -e hoje fugitivo da Justiça, Manuel Rosales, que obteve 36,9%. Rosales havia sido membro do partido Ação Democrática (AD), mas em 1999 fundou a agrupação “Un Nuevo Tiempo”. No dia 12 de abril de 2002, quando ocorreu o golpe de Estado na Venezuela, foi ao Palácio para assinar o decreto de posse do empresário golpista Pedro Carmona, O Breve.

Em 2007, 2008 e 2009 foram realizadas outras três eleições que podem enriquecer esta análise. É importante notar as grandes diferenças entre eleições presidenciais, sufrágios regionais e referendos nacionais. É evidente que a participação tende a ser muito mais ampla nas presidenciais. Além disso, nesses casos se expressa efetivamente o apoio ou o repúdio a um candidato específico, enquanto que nas demais, estas vontades não se refletem de forma totalmente clara e absoluta. Nos processos regionais, por exemplo, pode ser que os cidadãos não associem um determinado candidato bolivariano com a figura de Chávez e com a Revolução. Quer dizer, há estados e municípios nos quais o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) perdeu a eleição sem que isso signifique que Chávez perderia se fosse candidato.

A proposta de Reforma Constitucional de 2007 foi a primeira e única derrota eleitoral de Chávez. De maneira pouco planificada, o governo tentou aproveitar o elevado índice de popularidade do projeto bolivariano para queimar etapas. Propôs a modificação de 69 dos 350 artigos da Carta Magna de 1999. A iniciativa foi derrotada: 50,7% (4.379.392 de votos) contra 49,3% (4.504.354 de votos). Uma diferença de menos de 125 mil votos em um universo de quase 17 milhões de aptos a votar. A expectativa da oposição estava sustentada nesta vitória apertada contra a Reforma, não exatamente contra Chávez. Por um lado, a oposição apoiada pelos grandes meios de comunicação e pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos relacionou sua magra vitória na Reforma com um suposto rechaço a Chávez. Por outro lado, é possível supor que quase 3 milhões de partidários de Chávez não associaram a Reforma com o presidente. A abstenção foi de 45% e podemos dizer que nesse dia muitos chavistas simplesmente não foram votar.
Em novembro de 2008, ocorreram novas eleições regionais, em 22 dos 23 estados e em 327 prefeituras venezuelanas. O processo confirmou, de novo, a ampla supremacia das forças bolivarianas. Ainda que o voto continue sendo optativo no país, não obrigatório, o sufrágio apresentou um índice de abstenção de 35%, um dos menores da história das disputas regionais. Havia 16.699.576 inscritos no registro eleitoral, número que aumentou muito desde 2003, com a chamada Misión Identidad. No período do Punto Fijo muitos pobres não tinham documentos, o que reduzia a abstenção e encobria a pobreza, o analfabetismo e outros indicadores econômicos e sociais.

Os resultados pós-2008 demonstram que o mapa nacional continuou pintado de vermelho, agora com o PSUV como principal agremiação: ganhou em 17 dos 22 estados em disputa (77,3% do total) e em 265 das 327 prefeituras (81% do total). A base de apoio a Chávez superou os 5,7 milhões de votos. Outra vez vale recordar que uma coisa é votar por um candidato do partido de Chávez e outra coisa, distinta, é votar por Chávez. A oposição (UNTC e MPJ, acompanhados pelos cacos de AD, COPEI, URD, MAS, Causa Я e Podemos) manteve mais ou menos o mesmo número de votos dos últimos processos eleitorais (4,5 milhões em 2007).

Ainda sobre as eleições de 2008, cabe ressaltar que a oposição conservou o poder nos estados de Nueva Esparta (Ilha Margarita) e Zulia, além de ter conquistado os importantes estados Miranda, Carabobo e Táchira (os últimos dois por uma margem muito pequena de votos), assim como a Prefeitura de Caracas. Há outros seis pontos importantes: 1) o ex-vice-presidente da República e governador Diosdado Cabello foi derrotado no estado Miranda por Henrique Capriles Radonski; 2) o ex-ministro Aristóbulo Istúriz perdeu as eleições da Alcaldía Mayor de Caracas para Antonio Ledezma (ex-membro do partido AD); 3) o ministro Jesse Chacón foi derrotado no bairro popular de Petare para um candidato do MPJ (ambos tiveram muito menos votos que as abstenções); 4) 55,3% dos votos totais da oposição são provenientes dos estados Zulia, Carabobo, Miranda e Caracas (as áreas de maior produção industrial); 5) os estados Zulia e Táchira têm alta relevância geopolítica por ter cerca de 700 quilômetros de fronteira com a Colômbia; e 6) Manuel Rosales, o fugitivo, ganhou com um 60% a prefeitura de Maracaibo, que antes era governada pelo PSUV.

Esses são elementos que apontam alguns problemas para o governo. Mas apesar dos tropeços, o resultado expôs uma vitória de Hugo Chávez e das forças nacionalistas. Um dos primeiros acontecimentos posteriores ao triunfo foi o resgate da discussão sobre a reeleição presidencial. O tema era crucial para a continuidade do processo sob a liderança de Chávez. O artigo 230 da Constituição de 1999 previa que: “O período presidencial é de seis anos. O presidente da República pode ser reeleito de imediato e uma só vez para um novo período”. A Assembleia Nacional aprovou e o Conselho Nacional Eleitoral convocou um referendo popular para a aprovação ou não de uma Emenda Constitucional. A proposta foi ampliada, ampliando a possibilidade de reeleição também para governadores, prefeitos e deputados (nacionais e regionais).

Em fevereiro de 2009, 6.310.482 venezuelanos votaram pelo “Sim”, que obteve 54,8% dos votos válidos. O “Não”, que aglutinava os partidários da oposição, alcançou 5.193.839 de votos (45,1%). Enquanto Chávez obteve 7,3 milhões de votos nas eleições presidenciais de 2006, sua proposta para poder postular-se à reeleição por tempo indefinido teve 6,3 milhões. Esse resultado pode ser interpretado de diversas formas. Uma é que havia gente que apoiava Chávez mas não estava de acordo com a possibilidade de reeleição indefinida. Outra conclusão possível é que muitos partidários de Chávez não tenham dado a devida importância ao referendo e à proposta de reeleição. Uma terceira interpretação, assumida pela oposição, argumenta que entre 2006 e 2009 Chávez perdeu cerca de 1 milhão de seguidores.

A nova vitória do presidente, agora em 2012, amplia o horizonte das transformações estruturais da Venezuela. O governo fortaleceu o papel do Estado na economia, com maior poder para planificar e executar políticas, buscando interferir –com crescente participação popular– nos principais meios de produção. Internamente, o dinheiro do petróleo tem financiado um processo de diversificação produtiva e de fortalecimento do mercado interno, um esforço por uma industrialização soberana, a criação de novas empresas básicas e a execução de importantes obras de infraestrutura.

Paulatinamente, os recursos que antes eram canalizados para as companhias petroleiras ou para contas bancárias da elite privilegiada, foram transformados em ferramenta do Estado para combater a pobreza e a economia rentista, improdutiva e importadora. Externamente, os recursos do petróleo foram utilizados como instrumento para a integração latino-americana e caribenha, assim como para o impulso à construção de um mundo multipolar. A Venezuela assumiu uma nova posição em suas relações internacionais: tenta diversificar sua produção e suas exportações; diversificar as origens e os destinos do intercâmbio, não dependendo comercialmente de um só país comprador ou um só país provedor.

A vitória de Chávez abre as portas, pelo menos até 2019, para um longo caminho rumo à consolidação de um país independente, soberano e industrializado. O grande espetáculo democrático de todos os venezuelanos deveria ser suficiente para abrir os olhos dos desinformados. Deveria ser suficiente para ridicularizar aos grandes meios de comunicação do Brasil e do mundo, que negam o inegável. Ganhou Chávez, de novo. Ganhou a democracia na Venezuela. Os derrotados são a elite liberal e privatizadora, as transnacionais do petróleo e do gás, os poderosos meios de comunicação. Junto aos perdedores, por trás deles, estão a CIA e o Departamento de Estado dos Estados Unidos.

(*) Professor de Economia, Integração e Desenvolvimento na Universidade Federal da Integração Latino-Americana, Brasil. Doutorando em Economia Política Internacional na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Autor do livro “Economía venezolana 1899-2008, La lucha por el petróleo y la emancipación”, publicado pelo Ministério de Cultura da Venezuela.

Virada em São Paulo Vitória em Caracas

 
 
VIRADA EM SÃO PAULO; VITÓRIA EM CARACAS: O ELEITOR RESOLVEU 'METER O BICO'

 
Foi um domingo para não esquecer. A história rugiu, rangeu e se mexeu; repôs certas correlações entre a nervura social e o voto; entre o discernimento popular e o legado histórico de projetos e propostas antagônicas. As urnas falaram e como é natural, em escrutínios municipais marcados por peculiaridades locais, emitiram vereditos ecumênicos. Mas certas linhas se destacaram. Ali onde a natureza da disputa incorporou a tensão do conflito entre dois grandes blocos de interesses contraditórios - não apenas no âmbito local, mas nacional e também no plano da crise global - a resposta do voto desautorizou o prognóstico conservador. Ou seria melhor dizer a torcida e, em alguns casos, a quase fraude?
O domingo mostrou que o mundo seria perfeito para o conservadorismo se a democracia pudesse ser resolvida à frio. No campo das ilações, digamos, tão a gosto de certas togas e dos interesses aos quais elas se oferecem ao desfrute, sendo por eles obscenamente desfrutadas. Se bastassem as ilações do Datafolha, por exemplo, Serra iniciaria hoje um passeio pelo segundo turno para desmontar o frágil Russomano. O Datafolha modelou esse cenário e insistiu nele até o último instante, reservando a Haddad uma 3ª colocação algo desanimadora (quem é que gosta de votar em quem vai perder?). Súbito, em 24 horas, o candidato do PT saltou dos 19% que lhe eram atribuídos pelo instituto dos Frias e encostou nos 29%. Como um instituto que se pretende isento não capta um migração de votos dessas proporções? Se Haddad fosse um furacão e o Datafolha um serviço de meteorologia, que destino caberia aos responsáveis por tão clamorosa falha?
As ilações - engajadas - tampouco se revelaram pertinentes na tarefa de derrotar Chávez neste domingo. Maciçamente apresentado como uma ruína política pelo jornalismo conservador - incluindo-se os mervais brasileiros - o 'autoritário' Chávez venceu Henrique Capriles, num pleito limpo, por uma diferença superior a mais de um milhão de votos (54% a 44%).Um domingo, portanto, memorável em que o eleitor resolveu 'meter o bico' em São Paulo, em Caracas e outras praças, para horror dos Serras, Aécios e Capriles, que não suportam 'estrangeiros' em seus currais. O impacto dessas transgressões, ademais de desautorizar e desqualificar pesquisas e colunistas que agora terão que explicar seus malabarismos de campanha e boca de urna, mais uma vez, inclui também uma advertência às candidaturas de esquerda que seguem para o 2º turno: é hora de vestir a camisa do bloco progressista ao qual pertencem, se quiserem obter os votos que - tradicionalmente - a eles se destinam.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Historiado​r Eric Hobsbawm morre aos 95 anos

UOL, 01/10/2012 08h14

Historiador Eric Hobsbawm morre aos 95 anos

Do UOL, em São Paulo



Tuca Vieira/Folhapress
O historiador Eric Hobsbawm (1917-2012)
O historiador Eric Hobsbawm (1917-2012)

O historiador Eric Hobsbawm morreu na manhã desta segunda-feira (1º), aos 95 anos, de acordo com a família. O historiador marxista e escritor estava internado no hospital Royal Free, em Londres, depois de um longo período doente.
"Ele morreu de pneumonia nas primeiras horas da manhã, em Londres", afirmou a filha do historiador, Julia Hobsbawm, em comunidado. "Sua falta será sentida não apenas pela sua mulher há 50 anos, Marlene, e seus três filhos, sete netos e um bisneto, mas também pelos milhares de leitores e estudantes em todo o mundo."
Nascido em 1917, na Alexandria, no Egito, Hobsbawm se tornou conhecido por obras como a "História do século 20" e "A Era dos Extremos", traduzida para mais de 40 idiomas.
Filho de pai britânico e de mãe austríaca, mudou-se para Viena quando tinha dois anos, e depois para Berlim. Aos 14 anos, ingressou no Partido Comunista.
Tornou-se membro da Academia Britânica, em 1978, e foi premiado com a Ordem dos Companheiros de Honra, em 1998.
Seu último livro foi "Como Mudar o Mundo - Marx e o Marxismo", lançado em 2011.
O intelectual estudou na Universidade de Cambridge e em 1947 se tornou professor na universidade londrina de Birkbeck, onde colaborou durante anos até chegar a sua presidência.
Também foi professor convidado na Universidade de Stanford, no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e na Universidade de Corne. (Com agências)