domingo, 22 de outubro de 2023

'Nada contra a guerra', por Janio de Freitas

https://www.poder360.com.br/opiniao/nada-contra-a-guerra/ Os acontecimentos políticos mais traumatizantes neste século foram derrotas impostas por 2 contingentes pequenos de civis contra duas das mais poderosas aglomerações de armamentos e militares já existentes – a Al Qaeda contra os Estados Unidos em 11 de setembro de 2001 e o Hamas contra Israel no recente 7 de outubro. As consequências do 1º incluíram de reviravoltas nos conceitos de segurança interna e de ameaça externa até alterações nos relacionamentos internacionais, com 3 guerras. Duas de ocupação, do Iraque e do Afeganistão pelos Estados Unidos, e uma invasão temporária, na Líbia, de ingleses e franceses com colaboração dos norte-americanos. A incerteza do futuro que se constrói em torno da guerra entre Israel e o Hamas é perturbadora, tantos são os formatos possíveis e os riscos perceptíveis. Até agora não se viu providência alguma da comunidade internacional para deter a progressão da tragédia e dos riscos. Muito ao contrário. A ida de Joe Biden a Israel, não importa o que tenha dito aos ouvidos inválidos de Netanyahu, submeteu-o a uma humilhação direta, na recusa dos governantes de Jordânia, Arábia Saudita e Egito de recebê-lo para a reunião agendada. Três aliados dos Estados Unidos, politicamente mais próximos dos “países ocidentais” que dos demais árabes. A inversão de atitude insinua uma recomposição do mundo muçulmano com influência no desenrolar da guerra e na distribuição mundial de poder. A capacidade de Biden para lidar com tal problema ficou evidenciada na semana anterior: pediu, como convinha, reação proporcional de Israel – e mandou os 2 maiores porta-aviões com uma esquadra contra o Hamas. O noticiário norte-americano atribuiu a suspensão do encontro na Jordânia ao ataque, com mais de 470 mortes, a um hospital da Faixa de Gaza. Biden avalizou a explicação oficial de Israel, de que foi “um foguete da Jihad Islâmica que errou o alvo”. Para isso, Israel precisaria saber qual era o alvo pretendido, sem êxito, pelos lançadores árabes. Além disso, levantamento do Washington Post encontrou 11 ataques a hospitais por Israel nos atuais bombardeios. O jornal O Globo identificou, até 4ª feira (18.out.2023), “57 ataques em unidades de saúde, com danos a 26 hospitais”, “sem contar o Hospital Al-Ahli”. Afinal de contas, bombardear um hospital não pode ser problemático para quem decide cortar a água, a eletricidade, alimentos e medicamentos de hospitais e de mais 2,3 milhões de seres humanos. A resolução proposta pelo Brasil ao Conselho de Segurança da ONU, para evitar o “iminente colapso humanitário” citado pela Organização Mundial da Saúde, teve a sabedoria de propor apenas uma “pausa humanitária”, e não uma improvável trégua. Seria o bastante para a entrada da centena de caminhões com ajuda paralisados no Egito, às portas da Faixa de Gaza. Os Estados Unidos foram o único país a vetar a resolução. É quase inacreditável. E a desumanidade foi ainda enfeitada pelo cinismo da alegação: apesar de crítica ao ataque do Hamas, a proposta não ressaltava o direito de defesa de Israel. Isso não estava em questão. A causa e o objetivo da proposta brasileira, assim como o tema em discussão no conselho, era uma fórmula de socorro humanitário aos submetidos à falta do mais vital. E ainda: bombardeio a áreas civis não defende Israel. A nota da embaixada israelense no Brasil tem o bom-senso de reconhecer que “deve ser feita uma forte separação entre a organização terrorista Hamas e os palestinos”. É o que falta Israel fazer.

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