A clássica foto do último helicóptero a abandonar a embaixada dos EUA no Vietnam do Sul em abril de 1975.
Os vietcongues estavam tomando Saigon...
O desespero dos que não conseguiam uma vaga.
Viomundo, 26 de fevereiro de 2012
Afeganistão: Ainda não é o helicóptero no telhado da embaixada
Por Heloisa Villela, de Washington
Ainda não é o helicóptero norte-americano deixando, às pressas, o telhado da embaixada em Cabul, como naquela fuga histórica do Vietnã. Mas os sinais apontam nessa direção. Mais uma invasão desastrosa que as manifestações nas ruas do Afeganistão, agora, e a morte de dois oficiais norte-americanos, dentro de uma área segura de Cabul (o Ministério do Interior), evidenciam: a guerra não tem futuro e a ocupação não tem resultado positivo possível.
Um homem ainda não identificado disparou e matou os dois militares norte-americanos que fazem parte de um exército de “conselheiros”. Militares ocidentais que “ensinam” aos afegãos as táticas e estratégias necessárias para assumir o controle da segurança no país. Parece que os alunos estão, primeiro, tentando expulsar o invasor.
Imediatamente, o comando da OTAN retirou dos ministérios e representações governamentais todos os seus “conselheiros”. Os únicos afegãos que têm acesso à sala onde os norte-americanos foram mortos são tradutores.
Agora, quem é o estrangeiro que está seguro no país? Centenas dos tais conselheiros foram chamadas de volta às bases militares até a situação se acalmar. No New York Times, todo cuidado para não transformar a tensão em disputa entre afegãos e norte-americanos. É engraçado… As matérias se referem sempre às tropas da OTAN enquanto, nas ruas, os gritos são de “Morte aos norte-americanos”. Alguém duvida que Washington comanda essa missão?
É a mania por aqui: mudar a maneira de falar de algo para ver se a realidade se acomoda ao novo vocabulário.
Em maio, o presidente Barack Obama anuncia, em Chicago, durante reunião da OTAN, a estratégia de retirada do Afeganistão. A guerra que ele transformou no grande conflito militar do governo Obama terá, finalmente, um calendário rumo ao fim. E agora, dizem os especialistas dos jornais norte-americanos, quanto mais rápido as tropas deixarem o Afeganistão, melhor.
Porém, Obama fica com um dilema. Se sair correndo demais, pode deixar uma impressão ruim. Mas tem um trunfo para apresentar ao eleitorado. Aconteça o que acontecer no Afeganistão daqui em diante, foi o governo Obama que encontrou e executou Osama Bin Laden. Por mais ilegal que se possa considerar a operação e a execução de um possível prisioneiro sem julgamento, para os norte-americanos não importa. Eles se sentiram vingados e, durante algumas semanas, Obama até experimentou uma alta nos índices de popularidade. Como político esperto que é, ele sabe que o caos no Afeganistão não vai atrapalhar o resultado das urnas. Especialmente se ele puder posar ao lado de soldados a caminho de casa e, mais para o fim do ano, perto das eleições, divulgar as fotos de Bin Laden morto. Um assunto que está sendo discutido nos corredores da Casa Branca.
Há dez anos, os norte-americanos invadiram o Afeganistão e celebraram a queda dos Talibã. Agora, nas ruas, a bandeira do Talibã reaparece, em várias manifestações de ódio aos invasores que urinam sobre os cadáveres do inimigo, colecionam dedos de rebeldes, lançam mísseis em festas de casamento, matam homens, mulheres e crianças. E o que funcionou como gota d’água: queimam o livro sagrado. Foi assim que a revolta começou na semana passada: várias cópias do Corão foram encontradas, queimadas, no lixo da maior base militar norte-americana no país.
É apenas a confirmação da face tão conhecida do império. Depois de uma década em país alheio, a incapacidade de compreender a cultura e os costumes do outro mais uma vez traz problemas para a superpotência. A ideia de que apenas força militar bastaria para controlar outro país mais uma vez vai para o ralo, se juntar a tantas outras iniciativas historicamente desastradas.
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