Enviado por Luis Nassif, sex, 03/12/2010 - 09:30 Coluna Econômica
A estratégia de Lula consistiu em criar contrapontos permanentes em seu governo, de maneira a montar um leque amplo de apoios e reduzir pontos de tensão.
Na frente externa, por exemplo, através do chanceler Celso Amorim, de Samuel Pinheiro Guimaraes (e do assessor especial Marco Aurélio Garcia) o Itamaraty mantinha uma atitude de independência em relação aos Estados Unidos. O contraponto era exercido pelo Ministro da Defesa Nelson Jobim.
O mesmo ocorreu na frente interna, entre o espaço aberto aos movimentos populares e eventuais resistências nas Forças Armadas. Numa ponta Paulo Vanucchi, dos direitos humanos; na outra, o próprio Jobim, verbalizando reclamações das Forças contra o Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH) mas, assim procedendo, esvaziando qualquer manifestação de insubordinação.
Ontem, o jornal "Folha de S. Paulo" anunciou a intenção do governo Dilma Rousseff de indicar Antonio Patriota, ex-embaixador brasileiro nos EUA, como Ministro das Relações Exteriores. Confirmada, a decisão poderá comprometer o protagonismo internacional brasileiro.
Dada a exuberância de Amorim, o substituto teria enormes dificuldades em manter o protagonismo atual da diplomacia brasileira. Mas a Patriota, pelas informações, faltam alguns atributos indispensáveis.
É visto como um diplomata eficiente, mas não um "policy maker", um homem capaz de definir políticas institucionais. E os desafios são amplos e diversificados.
Internacionalmente, manter a liderança brasileira sobre emergentes nos fóruns internacionais. É um espaço conquistado em parte graças à melhoria da percepção sobre o Brasil e à exuberância de Lula e Amorim. Mas principalmente devido à capacidade de Amorim de formular uma estratégia de protagonismo para cada situação vivida – da Rodada Uruguai, na OMC (Organização Mundial do Comércio) às reuniões do G20.
Além disso, preservar o espaço conquistado na América Latina, tendo que conviver com vizinhos espaçosos, como Hugo Chaves, Cristina Kirchner.
Até pode ser que Patriota seja o mais capacitado, na hipótese difícil de substituir Amorim. Mas é evidente o esforço articulado de alguns setores anti-Amorim para emplacar Patriota.
Ontem, o jornal "Folha de São Paulo" anunciou a indicação de Patriota. Era balão de ensaio. À tarde, O Globo anunciou que Patriota havia sido "aplaudido pelo Ministério das Relações Exteriores". Na verdade, o aplaudo foi de um diplomata aposentado, Jerônimo Moscardo.
Outro desafio relevante do próximo governo será a definição das armas para combater as expectativas do mercado – de que a inflação está em alta. A maior parte da alta é de preços de alimentos, influenciados pelas cotações internacionais – portanto, sem nenhuma relação com suposto aumento da demanda, que é onde alta de juros pode influenciar.
Dependendo da resposta do Banco Central, poderá se conferir o estilo de Dilma na política econômica.
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São Paulo, sexta-feira, 03 de dezembro de 2010
Próximo a Amorim, Patriota deslanchou sob Lula
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
JULIANA ROCHA
DE BRASÍLIA
Saudado como futuro ministro das Relações Anteriores na 3ª Conferência Brasileiros no Mundo, o diplomata Antônio de Aguiar Patriota começou sua trajetória rumo ao cargo em 1994, quando ele foi para Nova York, sob as ordens do então embaixador na Organização das Nações Unidas, Celso Amorim.
Amorim gostou daquele jovem conselheiro que ele considerou inteligente e aplicado e fora primeiro de turma no Instituto Rio Branco.
Essa primeira impressão consolidou-se no posto seguinte de Patriota, em Genebra, onde Amorim acumulava duas funções: era embaixador junto ao governo da Suíça e à OMC (Organização Mundial do Comércio).
Próximo a Amorim, Patriota -cuja nomeação para ministro foi antecipada pela Folha ontem- deslanchou a carreira no governo Lula.
No primeiro mandato, tornou-se chefe de gabinete do ministro e depois subsecretário de Política. No início de 2007, assumiu a embaixada em Washington -posto mais cobiçado da diplomacia.
Tinha 52 anos e jamais havia sido embaixador. Na volta ao Brasil, em outubro de 2009, ascendeu para a Secretaria Geral do Itamaraty, segundo cargo da hierarquia.
Filho do embaixador Antônio Patriota, o futuro chanceler nasceu no Rio de Janeiro e passou infância e juventude entre Europa, Ásia, América do Sul e EUA.
Casado com a americana Tania, com inglês tão fluente que seus colegas costumam dizer que ele "não tem sotaque", vai ser difícil classificá-lo de "antiamericanista". Ainda mais depois da embaixada em Washington.
Patriota conheceu Tania quando estudava filosofia em Genebra, onde os dois acompanhavam os pais diplomatas. São casados há três décadas e têm dois filhos, Miguel e Thomas.
Enquanto o marido ocupava a embaixada em Washington, ela trabalhava no Fundo de Populações da ONU no Haiti. No dia do terremoto, os dois passaram 12 horas sem comunicação. Hoje, ela serve na Colômbia.
Sua escolha para o cargo, aos 56 anos, conclui o que Amorim se orgulha de ter começado: uma renovação dos quadros de comando da política externa brasileira.
Em discurso ontem no Rio de Janeiro, Patriota disse que não prevê grandes mudanças no Itamaraty.
Colaborou a Sucursal do Rio
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