O município de Pelotas, que completa 200 anos ano que vem, ganhou no dia 9 de agosto de 2011 presente antecipado - o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) deferiu a Indicação Geográfica dos Doces de Pelotas, resultado de um trabalho de cinco anos coordenado pelo Sebrae Nacional, Sebrae/RS, Embrapa, Prefeitura Municipal de Pelotas, Câmara de Dirigentes Lojistas de Pelotas (CDL) e a Associação dos Produtores de Doces de Pelotas.
A conquista da Indicação de Procedência, modalidade concedida pelo INPI, garantirá a exclusividade de 15 doces, entre finos e de frutas, cujas receitas remontam ao século 19. A característica do solo da região favoreceu o plantio de árvores frutíferas, como pêssegos, marmelos, entre outras, utilizadas em princípio para a produção de compotas e posteriormente para a fabricação de doces. Os tradicionais Doces de Pelotas são produzidos segundo um padrão de identidade e qualidade, sem que haja desvio da receita tradicional. "Com o selo poderemos proteger o produtor e dar garantia ao consumidor final de estar adquirindo um produto original e de qualidade", afirma a gerente da regional Sul do Sebrae/RS, Rosani Boeira Ribeiro.
Segundo a presidente da Associação dos Produtores de Doces de Pelotas, Maria Helena Jeske, o desafio é outro a partir de agora. "É uma alegria para todos nós essa conquista que junto traz a responsabilidade de cada empresa que compõe a associação trabalhar ainda mais para receber o selo e, principalmente, mantê-lo". Maria Helena explica que neste primeiro momento quem recebe o selo é a associação, mediante pagamento de taxa.
Após, um conselho regulador composto por duas associadas, um representante da Embrapa e outro da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), fará a inspeção das empresas levando em consideração determinados quesitos de produção e comercialização. "Se todas as normas e padrões forem atendidos o empreendimento recebe o selo". Porém, adianta a presidente, a primeira exigência é fazer parte da associação. Atualmente com 16 produtores de Doce, Maria Helena acredita que a chancela irá estimular que mais empreendimentos se interessem em fazer parte do grupo de associados..
"O município de Pelotas, que em breve completará 200 anos, recebe com festa essa conquista, resultado do esforço e da persistência de muitas entidades e lideranças da região. É um presente antecipado que a comunidade está recebendo", disse o prefeito Adolfo Fetter Júnior. Para ele, os doces são a marca da cidade, sejam os tradicionais, feitos artesanalmente, ou os industrializados, cujo carro chefe é o pêssego. "Com a Indicação de Procedência, a atividade que envolve milhares de pessoas desde a produção até a comercialização, se consolidará ainda mais como fonte de renda e desenvolvimento", concluiu.
Doces artesanais de Pelotas - Patrimônio cultural do RS, declarado pela Lei 11.919, de 6 de junho de 2003
A ORIGEM DO DOCE
Os doces foram introduzidos pelos portugueses por volta do século XIX e em Pelotas aproximadamente na década de 1860, quando começa o período de apogeu do município. De 1860 a 1890, os investimentos dos charqueadores foram intensos em atividades de cunho cultural que caracterizaram, durante anos, Pelotas como a cidade mais aristocrática do Rio Grande do Sul.
Os saraus, companhias teatrais e os recitais musicais tinham programações praticamente diárias no interior da arquitetura grandiosa de prédios e casarões. Os doces eram servidos nos intervalos desses saraus envolvidos em papéis de seda rendados e franjados. Sua produção era realizada de maneira caseira pelas mulheres e suas mucamas.
O açúcar utilizado nas mais variadas sobremesas era proveniente da região nordeste do Brasil em troca de charque. Temerosas pela escassez deste ingrediente essencial, as escravas passaram a diminuir a quantidade de açúcar na produção dos doces, transformação a qual trouxe um diferencial que agradou muito ao paladar dos consumidores da época.
Muitas receitas portuguesas trazidas pelos colonizadores e pelos navios transportadores do charque ainda são utilizadas pelas doceiras pelotenses. As transformações e criações de novas guloseimas agregaram ainda mais qualidade e valor aos produtos. Muito além do açúcar, dos ovos e da farinha, a arte de fazer o doce - e todo o universo geográfico, étnico e histórico tornam os doces de pelotas verdadeiras joias a serem apreciadas pelos mais apurados paladares.
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