quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Economia e Moralidade


11 de janeiro de 2011 | 15h42

Economia e Moralidade


Paul Krugman

Mark Thoma me direcionou para Eric Schoeneberg, que afirma que a direita está vencendo os debates econômicos porque as pessoas acham, erroneamente, que existe algo inerentemente moral nos resultados do livre mercado. Minha opinião é que esta é apenas uma parte da história: existe mais do que um pouco de Ayn Randismo na direita, mas há também o apelo da simplicidade: o “goldbugismo” (investimentos apenas em ouro) é intelectualmente fácil, o keynesianismo é intelectualmente difícil, como se observou pela incapacidade de muitos economistas treinados o assimilarem.
Mas Schoeneberg está certo quanto à tendência de se atribuir um valor moral a valores do mercado e à necessidade de um exemplo contrário. Vou pensar a respeito. Mas, neste momento, permita-me descrever como vejo a distribuição de renda nos Estados Unidos em termos de justiça, ou da sua ausência.
A primeira coisa que preciso dizer é que o nosso sistema não recompensa o trabalho duro, em parte. Os demais fatores permanecendo iguais, o fato é que quem trabalha mais vai ganhar mais.
Mas muitos fatores, na verdade, não são nem remotamente iguais. Hoje, os EUA são a nação avançada com o mínimo de mobilidade social (pdf), salvo talvez a Grã-Bretanha. O acesso a boas escolas, a um bom sistema de saúde e a oportunidades de emprego depende muito de você escolher os pais certos.
Assim, quando ouvimos os conservadores falarem que a nossa meta deve ser a igualdade de oportunidades, não a igualdade de renda, a primeira resposta deve ser que, se eles realmente acreditam em igualdade de oportunidades, deveriam ser a favor de mudanças radicais na sociedade americana.
Porque a nossa sociedade, na verdade, não produz oportunidades iguais (em parte porque produz rendas desiguais). Diga-me como você vai gerar uma enorme melhora de qualidade das escolas públicas, como vai prover um sistema de saúde universal (para os pais, como também para os filhos, porque pais doentes prejudicam as perspectivas dos filhos) e então vamos voltar a falar sobre o assunto.
Agora, a desigualdade de oportunidades é apenas uma razão da desigualdade de renda que observamos. Até que ponto o esforço individual está refletido nela, como também o talento e até mesmo a pura sorte? Nenhuma pessoa sensata pode negar que há muita sorte envolvida nisso. Os titãs de Wall Street, sem dúvida, são sujeitos inteligentes (embora, conversando com alguns deles, você pode se surpreender…), mas com certeza existem pessoas também inteligentes que, por alguma razão, jamais tiveram a chance de abocanhar somas vultosas como eles.
Portanto a economia não é uma questão de moralidade; a ordem econômica e social que temos não representa uma adoção de princípios morais profundos.
O que não significa que a ordem que temos deve ser eliminada; a busca da Utopia, da perfeita justiça econômica, já provou ser um caminho para o inferno, enquanto que o capitalismo do Estado Previdência – uma economia de mercado com suas imperfeições atenuadas por uma forte rede de proteção social – produziu as sociedades mais decentes que já vimos. Mas a questão é que quem afirma que a transferência de alguma renda dos mais afortunados da sociedade para os menos é uma grande injustiça está fechando os olhos para a realidade muito clara de como o mundo funciona.

Professor de Princeton e colunista do New York Times desde 1999, Krugman venceu o prêmio Nobel de economia em 2008

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