segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Achille Lollo, de Roma: Direita utiliza o caso Battisti

Que maravilha de cidadãos estes que querem a cabeça de Battisti, não? E aqui, o PIG tenta inculcar na população a ideia de que Battisti não é e nem será perseguido político por lá.

Além disto, podemos ver na matéria abaixo como a maioria dos italianos não está nem aí para o Battisto e quais os verdadeiros interesses para que os PIGs brasileiro e italiano - eles também tem o seu - façam esta onda toda.



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Segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Direita utiliza o caso Battisti para ofender o Brasil

Achille Lollo, de Roma, Itália
 
Em 2006, o filósofo franceses Bernard Henry Lévy, ao comentar a ousadia do governo italiano em exigir do presidente Sarkozy a anulação da Doutrina Mitterrand – que oferecia o refugio aos italianos que deixavam a luta armada – e, assim, obter a extradição de Cesare Battisti, redigia uma carta aberta onde pedia aos italianos ”...para que virem a página dos Anos de Chumbo ou pelo menos que pensem neles sem vingança e com um sentimento de igualdade, tentando de não cair na terrível lógica do bode expiatório...” O apelo de Levy e de tantos outros intelectuais franceses, tais como Philippe Solliers e Daniel Pennac, obteve o efeito contrário. Na Itália ficou vigente o conceito do “Direito do Estado” em perseguir quem se levantou contra o chamado “Estado de direito”.       
Protestos
O protesto, que aconteceu ontem, em frente a embaixada brasileira em Roma, foi realizado por 168 pessoas, na realidade funcionários de partidos de direita e de movimentos de extrema direita que integram a aliança governamental de Berlusconi. Os fotógrafos registraram, também, a presença de uma dezena de nazi-fascistas que saudavam com um “Heil Hitler” os manifestantes ligados, principalmente, ao movimento de extrema-direita fascista “Movimento per l' Itália” (Movimento para a Itália) de Daniela Santanchè (atualmente deputada no partido de Berlusconi, PDL), ao partido neofascista “Destra” (Direita) do vereador romano Francesco Storace.
Em Milão, os 85 militantes do partido racista “Lega Nord” (Liga Norte) de Ugo Bossi, que se juntaram diante do Consulado brasileiro não perderam a ocasião para manifestar seu desprezo para com os imigrantes, sobretudo os negros africanos e latino-americanos, apresentando um cartaz que chamava o presidente Lula de “Veado”. Uma violência verbal gravíssima, não só pela vulgaridade fundamentalmente racista, mas também porque a mesma foi feita por militantes e funcionários de um partido que integra o governo italiano. Vulgaridade gratuita que foi, também, reproduzida em diversos jornais e páginas da internet além de ser veiculada em todos os canais das televisões de Berlusconi e também nos canais da televisão pública (RAI) controlados pelos homens do governo.
O pôster
O principal jornal italiano “Il Corriere della Sera” não pode evitar os milhares de pôsteres que apareceram na cidade de Roma em favor da decisão do presidente Lula. Milhares de pôsteres foram colados no centro da cidade de Roma e em particular em todas as ruas que davam acesso a Praça Navona onde está localizada a embaixada brasileira.
No pôster - assinado com um simples “Militant” - estava escrito em vermelho: Battisti livre, libertemos os anos 70. A perseguição acabou. A inquisição perdeu. Graças a determinação e a coragem do presidente brasileiro Lula, os carcereiros do capital, pelo menos dessa vez ficaram de mãos vazias!




























Os jornais conservadores ligados ao governo ou de propriedade da família Berlusconi censuraram a notícia sobre o pôster do www.militant tentando apresentar os limitados protestos realizados em Roma, Milão e Turim contra a negada extradição a Cesare Battisti, como um acontecimento nacional que movimentou milhões de italianos.
Na realidade, apesar do bombardeio midiático, 95% dos italianos ignoraram a verborragia do Ministro da Defesa, o neofascista La Russa (1) por estarem mais preocupados com o aumento do desemprego e, sobretudo, dos preços, em particular da gasolina, do diesel, dos seguros de carros e de quase todos os alimentos. Aumentos que o governo Berlusconi autorizou a partir de um janeiro sem nenhuma publicidade.
Até parece que toda essa campanha midiática promovida pela maioria dos jornais – inclusive o “progressista” La Repubblica, pretende alcançar três objetivos: 1) desviar a atenção da classe média, cada vez mais aflita com a multiplicação da violência urbana e a de origem mafiosa; 2) voltar à lógica do anticomunismo mais ortodoxo para reconquistar a confiança dos setores populares no momento em que a crise econômica ataca a ocupação e a FIAT quer promover o cancelamento de quase todos os direitos trabalhistas; 3) Usar o ataque diplomático contra o Brasil com o caso Battisti, para permitir ao governo Berlusconi readquirir uma imagem de autoridade no contexto internacional, gravemente abalada pelas revelações de WikiLeaks e as continuas mortes de soldados italianos no Afeganistão.
Chantagem comercial em troca de Battisti?
No dia 5, Stefano Stefani, deputado da Liga Norte e presidente da comissão para as relações exteriores da Câmara dos Deputados, anunciava que “...todos os partidos apoiavam a proposta da Liga Norte de não ratificar no próximo dia 10 o acordo militar com o Brasil...”, pelo qual as indústrias italianas teriam ganhado cinco bilhões de Euros com a venda de equipamentos militares. Além disso, o Stefani garantia que “a Liga Norte irá pedir que o decreto lei sobre o acordo militar com o Brasil volte ser analisado pela Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados...” Uma forma de bloquear a venda dos equipamentos militares até a entrega do pobre Battisti.
Por sua parte Maurizio Gasparri, porta-voz dos senadores do partido de Berlusconi (PdL), quebrando a diplomacia ameaçava abertamente que ““...o governo italiano devia usar o acordo militar para obter de volta o “terrorista Cesare Battisti...”.
Achando que o Brasil é uma república de bananas, Italo Bocchino, líder na Câmara dos Deputados do grupo Futuro e Liberdade (uma tendência do PdL criada pelo ex-neofascista Gianfranco Fini) acredita que “...para salvaguardar a tutela da dignidade nacional italiana, o primeiro ministro, Silvio Berlusconi, deveria ir imediatamente ao Brasil para informar Dilma Roussef da ruptura das relações comerciais entre os dois países....”
É evidente que, diante disso, os setores industriais criticaram os responsáveis do PdL, dos Ministérios da Indústria e das Relações Exteriores por querer romper relações onde o principal beneficiário é a Itália. Por isso o primeiro-ministro, Silvio Berlusconi e seu Ministro das Relações Exteriores, Marco Frattini, tiveram que pedir desculpa explicando que não era bem assim e que as relações comerciais com o Brasil não sofrerão mudanças.
Certo é que a transferência da aprovação pela Câmara dos Deputados dos termos do acordo militar com o Brasil, passou de dia 10 para dia 31 de janeiro, é já uma mera chantagem. De fato, nessas duas semanas o governo italiano pretende apresentar um novo pedido ao relator do Tribunal Superior, Gilmar Mendes, de forma que seja impedida a soltura de Battisti e reaberto ocaso para destituir de fundamentos jurídicos a decisão de Lula.
Em função disso, o Ministro Frattini e o próprio Berlusconi pretendem transferir na Comissão da União européia o caso Battisti com o objetivo de obter uma condenação do Brasil e com isso abrir um processo contra o governo brasileiro no Tribunal Internacional de L' Aja.
Uma estratégia chantagista que Berlusconi e Frattini pretendem levar a cabo. Mesmo o porta-voz da Comissão de Justiça da União Européia, Michael Mann, já tendo declarado que “... a questão da negada extradição de Cesare Battisti é uma questão meramente bilateral, do momento que no processo de extradição não está prevista a competência da Comissão da União Européia e, também, porque não existe um acordo de extradição entre Brasil e União Européia...

Achille Lollo é jornalista italiano, autor do vídeo “Quadrante informativo”.

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