Jornal do Brasil, 03/12/2010
Por Mauro Santayana
O soldado Manning pode estar iniciando processo de consciência do povo americano. Os e-mails do soldado Bradley Manning ao hacker Adrian Álamo – que o denunciou – revelam o drama de consciência do jovem diante dos horrores da guerra e da irresponsabilidade dos dirigentes do mundo. “Já não creio que haja pessoas boas e pessoas más. Há uma série de países que atuam sempre em favor de seus próprios interesses” diz a seu delator.
O pai de Manning, soldado americano, conheceu a mãe, do País de Gales, quando ali esteve servindo. Quando fez 13 anos, os pais se separaram, e Manning voltou à Inglaterra. Aos 16, deixou a escola e regressou aos Estados Unidos, onde trabalhou no balcão de uma pizzaria. Aos 18, alistou-se no Exército e, em seguida, foi designado analista da inteligência militar. É a biografia de uma pessoa comum.
O Pentágono busca desmoralizá-lo. Informa que ele sempre foi problemático, com sérios desvios de comportamento. Se assim fosse, como o teriam designado, ainda tão jovem, para analisar informações secretas? Relatórios mais recentes dizem que foi punido, rebaixado da classificação de “especialista” para a de simples soldado, depois de incidente com um colega de farda. Insinuam também que essa conduta deriva de sua condição de homossexual.
Homossexual, ou não, o diálogo com o ex-hacker Álamo, que se celebrizou em 2002, ao entrar no sistema digital do New York Times, revela um jovem de grande sensibilidade humana, com preocupação humanística universal, mas nem por isso menos patriótica. Depois de explicar que se trata de informação “muito vulnerável”, a que obteve ao baixar os documentos, o soldado confessa: “Bem, eu a mandei para o WikiLeaks. Deus sabe o que vai ocorrer a partir de agora. Espero que haja uma grande discussão mundial, com debates e reformas. Se não for assim – estamos condenados como espécie ”.
Sujeito a uma pena, que vai de 52 anos à prisão perpétua, Manning já divide a opinião pública de seu país – e do mundo, que manifesta apoio à coragem do rapaz, conforme se divulga. Os familiares dos mortos nas guerras do Iraque e do Afeganistão louvam o seu ato: os documentos vazados mostram a falta de razão para a brutalidade da guerra e a inutilidade do sacrifício dos jovens americanos na defesa de governos corruptos e sanguinários, mas convenientes para os negócios ianques.
Ontem comentávamos a sombra da paranoia que paira sobre a sociedade norte-americana. Mas é bom ressaltar a existência de outra América, que sempre procurou impor o bom-senso à grande nação. Houve excepcionais estadistas – a partir do próprio Washington – que tentaram afastar a república da aventura imperialista. Lincoln, ainda jovem político provinciano, se opôs à guerra contra o México, deflagrada pelo presidente Polk, em 1846, e, por isso, perdeu uma eleição. Em plena intoxicação expansionista do governo McKynley, no fim do século 19, foi fundada, sob a inspiração do ex-presidente Grover Cleveland, a Liga Americana Anti-Imperialista. Dela faziam parte personalidades eminentes da cultura, dos negócios e da política, como o grande industrial Andrew Carnegie, e intelectuais do nível de Mark Twain, Ambrose Bierce, John Dewey e William James, entre outros.
A Liga se opunha firmemente à anexação das colônias espanholas, ocupadas depois da vitória americana contra as tropas espanholas no Caribe. A guerra e a anexação foram insufladas pelos dois maiores donos de jornais, Hearst e Pullitzer. E as massas americanas, intoxicadas, apoiaram o partido do imperialismo.
O soldado Bradley Manning – essa é a esperança – ao revelar os papéis da guerra e os papéis da diplomacia dos Estados Unidos, pode estar iniciando processo de consciência do povo americano para que retome as advertências de presidentes como Washington e Eisenhower, em seus discursos de despedida do poder, e ajude a promover as reformas econômicas e políticas que a consciência ética reclama do mundo.
O pai de Manning, soldado americano, conheceu a mãe, do País de Gales, quando ali esteve servindo. Quando fez 13 anos, os pais se separaram, e Manning voltou à Inglaterra. Aos 16, deixou a escola e regressou aos Estados Unidos, onde trabalhou no balcão de uma pizzaria. Aos 18, alistou-se no Exército e, em seguida, foi designado analista da inteligência militar. É a biografia de uma pessoa comum.
O Pentágono busca desmoralizá-lo. Informa que ele sempre foi problemático, com sérios desvios de comportamento. Se assim fosse, como o teriam designado, ainda tão jovem, para analisar informações secretas? Relatórios mais recentes dizem que foi punido, rebaixado da classificação de “especialista” para a de simples soldado, depois de incidente com um colega de farda. Insinuam também que essa conduta deriva de sua condição de homossexual.
Homossexual, ou não, o diálogo com o ex-hacker Álamo, que se celebrizou em 2002, ao entrar no sistema digital do New York Times, revela um jovem de grande sensibilidade humana, com preocupação humanística universal, mas nem por isso menos patriótica. Depois de explicar que se trata de informação “muito vulnerável”, a que obteve ao baixar os documentos, o soldado confessa: “Bem, eu a mandei para o WikiLeaks. Deus sabe o que vai ocorrer a partir de agora. Espero que haja uma grande discussão mundial, com debates e reformas. Se não for assim – estamos condenados como espécie ”.
Sujeito a uma pena, que vai de 52 anos à prisão perpétua, Manning já divide a opinião pública de seu país – e do mundo, que manifesta apoio à coragem do rapaz, conforme se divulga. Os familiares dos mortos nas guerras do Iraque e do Afeganistão louvam o seu ato: os documentos vazados mostram a falta de razão para a brutalidade da guerra e a inutilidade do sacrifício dos jovens americanos na defesa de governos corruptos e sanguinários, mas convenientes para os negócios ianques.
Ontem comentávamos a sombra da paranoia que paira sobre a sociedade norte-americana. Mas é bom ressaltar a existência de outra América, que sempre procurou impor o bom-senso à grande nação. Houve excepcionais estadistas – a partir do próprio Washington – que tentaram afastar a república da aventura imperialista. Lincoln, ainda jovem político provinciano, se opôs à guerra contra o México, deflagrada pelo presidente Polk, em 1846, e, por isso, perdeu uma eleição. Em plena intoxicação expansionista do governo McKynley, no fim do século 19, foi fundada, sob a inspiração do ex-presidente Grover Cleveland, a Liga Americana Anti-Imperialista. Dela faziam parte personalidades eminentes da cultura, dos negócios e da política, como o grande industrial Andrew Carnegie, e intelectuais do nível de Mark Twain, Ambrose Bierce, John Dewey e William James, entre outros.
A Liga se opunha firmemente à anexação das colônias espanholas, ocupadas depois da vitória americana contra as tropas espanholas no Caribe. A guerra e a anexação foram insufladas pelos dois maiores donos de jornais, Hearst e Pullitzer. E as massas americanas, intoxicadas, apoiaram o partido do imperialismo.
O soldado Bradley Manning – essa é a esperança – ao revelar os papéis da guerra e os papéis da diplomacia dos Estados Unidos, pode estar iniciando processo de consciência do povo americano para que retome as advertências de presidentes como Washington e Eisenhower, em seus discursos de despedida do poder, e ajude a promover as reformas econômicas e políticas que a consciência ética reclama do mundo.
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