quarta-feira, 30 de novembro de 2016

A fuga de Moro


http://www.revistaforum.com.br/2016/11/30/leandro-fortes-moro-esta-fugindo/




Revista Forum, 30/11/16
 


Moro está fugindo
 
Por Leandro Fortes
 

A Operação Lava Jato, dentro de um contexto social e político honesto, teria sido um presente para o Brasil. Acho que ninguém discorda de que, um dia, seria necessário acabar com a cultura da corrupção que sempre ligou empreiteiros e políticos brasileiros.

O fato é que, em pouco tempo, foi fácil perceber que as decisões e ações demandadas pelo juiz Sérgio Fernando Moro estavam eivadas de seletividade. Tinham como objetivo tirar o PT do poder, desmoralizar o discurso da esquerda e privilegiar aqueles que, no rastro da devastação moral levada a cabo pelo magistrado, promoveram a deposição da presidenta Dilma Rousseff.

Hoje, graças à Lava Jato, a economia nacional está devastada, o Estado de Direito, ameaçado, e o poder tomado por uma quadrilha que fez do Palácio do Planalto uma pocilga digna de uma republiqueta de bananas de anedota.

Agora, quando os grupos golpistas ligados ao PSDB e PMDB começam a ser atingidos pela mesma lama que a Lava Jato pensou em represar apenas para o PT, o juiz Moro pensa em tirar um ano sabático, nos Estados Unidos.

Isso, obviamente, não pode ser uma coisa séria.

Um juiz de primeira instância destrói a economia e o sistema político de um país, deixa em ruínas 13 anos de avanços sociais, estimula o fascismo, divide a nação e, simplesmente, avisa que vai tirar férias de um ano?

Não se enganem: o que está havendo é uma fuga planejada.

E precisamos saber o porque, antes que ela seja consumada.

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Fidel, a felicidade guerreira latino-americana vai para o Orun







Opera Mundi, 28/11/16




Eu nunca fui a Cuba, mas guardo saudades dela



Por Valério Arcary




Milhões entre os melhores militantes da causa socialista se emocionam com a morte de Fidel. A vida me ensinou que quando os nossos choram, é importante demonstrar respeito. Respeito não é reverência. Respeito é consideração. Permanecer indiferente a esta reação seria uma arrogância perigosa.

O ódio contra Fidel e contra Cuba é expressão de um ódio social contra o igualitarismo, a fraternidade, a solidariedade, que são o coração da luta dos trabalhadores. Querem enterrar o símbolo que a revolução cubana foi para mais de uma geração. Porque Cuba provou que a revolução permanente, a simultaneidade, em um processo ininterrupto e acelerado de uma revolução democrática, uma revolução anti-imperialista, uma revolução agrária, uma revolução negra, com uma revolução anticapitalista era possível. Uma façanha histórica imensa.

Na hora do adeus é preciso ter perspectiva de classe.

Ouvi o ameaçador “Vai para Cuba”, pela primeira vez, no dia 20 de Junho de 2013, na Paulista. Era ecoado por uma coluna de extrema direita de algumas centenas de seguidores furiosos, coléricos, enraivecidos. Agora o ódio dos que nos ameaçam, insolentes, desassombrados, e defendem, descaradamente, o egoísmo, a desigualdade, e a competição se volta contra Fidel.

Tanto ódio assim precisa ser explicado. A razão é terrível, mas é simples. A pequena ilha de Cuba realizou proezas sociais fantásticas. Demonstrou que as relações sociais pós-capitalistas, apoiadas na socialização da propriedade, no planejamento, e no monopólio do comércio exterior, o tripé de uma estratégia socialista, eram superiores ao capitalismo. Cuba não pode ser comparada com países que já estavam, nos anos sessenta, em estágios de desenvolvimento histórico superior. Isso é anacrônico. Cuba merece ser comparada com aquelas nações que emparelhavam com ela quando Batista estava no poder: Guatemala, Honduras, Nicarágua e El Salvador. Ainda lembro de um episódio que me impressionou pela altivez. Quando o Papa polonês visitou Cuba, em 1998, um cartaz anunciava: Milhões de crianças dormirão hoje na rua. Nenhuma delas é cubana”. Eu, que nunca fui castrista, senti orgulho.

Fidel será castigado hoje, talvez mais do que nunca, com a acusação de que foi um ditador implacável. Aqueles que lutamos pelo socialismo devemos ser conscientes do significado deste ódio de classe: querem enterrar com Fidel a esperança que Cuba representou. Nós queremos que aquela inspiração, personificada no exemplo internacionalista de Che Guevara, renasça.

Conheci Fidel Castro quando ele veio ao Brasil em 1990. Eu era membro da executiva nacional do PT, e uma reunião especial foi organizada no Anhembi. Luiza Erundina era a prefeita de São Paulo. Não éramos mais do que umas poucas dezenas. Fidel impressionava pelo gigantismo de sua personalidade: força de caráter, rapidez de pensamento, intensidade emocional, tudo parecia autêntico.

Eu nunca fui a Cuba. Mas a ilha da revolução sempre viveu dentro de mim.

Na hora do adeus, quero guardar essa saudade para sempre.

http://www.revistaforum.com.br/quilombo/2016/11/26/fidel-a-felicidade-guerreira-latinoamericana-vai-para-o-orun/




Revista Forum, 26/11/16



Fidel, a felicidade guerreira latino-americana vai para o Orun



Por Dennis de Oliveira*




O ex-presidente de Cuba, Fidel Castro, faleceu na madrugada do dia 26 de novembro aos 90 anos. O líder cubano foi um verdadeiro ícone não só da revolução latino-americana, mas principalmente da resistência popular ao imperialismo norteamericano.

Parte do ódio da direita a sua pessoa decorre da sua trajetória vitoriosa. A pequena ilha derrotou o imperialismo estadunidense que tudo fez e faz tanto para assassinar o líder cubano como para derrubar o socialismo naquele país. No fim, depois de muito tempo, as relações dos EUA com Cuba começam a se distender.

O Estado socialista de Cuba auxiliou vários processos de independência em países africanos, como Angola e Moçambique, com envio de médicos para aqueles países assolados pela guerra civil insuflada pelo imperialismo e pelo então regime do apartheid que vigorava na África do Sul. Mais recentemente estabeleceu relações comerciais fortes com os seus vizinhos latino-americanos, em especial as democracias populares de Venezuela e Bolívia.

Estas ações internacionais de Cuba se pautavam não pelo “treinamento de tropas armadas” como costumam ser as relações do imperialismo, mas na transferência de tecnologias da área social, como envio de profissionais da área da saúde especializados em medicina preventiva e realizada em condições desfavoráveis; exportação de métodos de alfabetização massiva e treinamentos em modalidades esportivas, entre outros.

Era uma ação geopolítica? Sim, mas centrada no desenvolvimento social e humano e não na manutenção de privilégios ou de interesses de corporações.

Nas suas obras analíticas sobre as revoluções iluministas na França, Karl Marx apontava que o conceito de liberdade e igualdade das democracias burguesas se pautavam na perspectiva do indivíduo isolado, dos interesses individuais. Interessante é que toda a concepção de sociedade democrático-burguesa parte do pressuposto de que os interesses individuais são o ponto de partida para se buscar uma pactuação. Não é à toa que todos os contratos jurídicos começam sempre assim: Dizem de um lado, fulano de tal, e do outro, sicrano… O que isto significa? Que na ordem burguesa, os indivíduos são adversários, têm interesses diferentes que só podem ser mediados por normas.

É por esta razão que os “analistas políticos” burgueses não conseguem compreender o sistema político socialista de Cuba. Isto porque, ao contrário de uma “democracia capitalista”, a ordem socialista não parte dos interesses individuais e sim dos coletivos. Daí então que democracia no socialismo parte primeiramente de garantir os direitos básicos para toda a população. Não é à toa, então, que o elemento central desta ordem social implantada em Cuba são os inegáveis avanços sociais em uma ilha que até 1959 era um prostíbulo e cassino dos Estados Unidos.

Se esta ordem social tem como pressuposto garantir os interesses coletivos, a gestão do Estado deve ser feita a partir de processos de discussão coletivos. As eleições em Cuba são realizadas de forma radicalmente diferente dos países capitalistas. As assembleias locais, provinciais e a nacional são formadas por parlamentares eleitos e cujas candidaturas são debatidas e escolhidas em reuniões que começam desde a base (nos comitês de defesa da revolução que estão nos bairros). São candidaturas escolhidas, portanto, a partir de discussões coletivas e não a partir de interesses privados, como ocorrem cada vez mais nas eleições das “democracias” burguesas. Democracia burguesa que acaba de eleger, nos EUA (o exemplo de “democracia” para a grande mídia) um protonazista e, pior, que ganhou a eleição mesmo tendo menos votos que a sua concorrente!

Acompanhei de perto vários destes processos no fim dos anos 1990. Os sistemas públicos de comunicação em Cuba transmitiam mesas redondas, debates, entre outros. É evidente que este sistema longe está da perfeição e tem vários problemas. Algumas temáticas são ainda pouco compreendidas na ilha, como, por exemplo, as relações raciais que só mais recentemente começaram a ser pautadas nos debates públicos (já que ainda se acreditava que o racismo é automaticamente superado pela luta de classes).

Ainda assim, é inegável o papel importantíssimo que Fidel Castro teve na luta contra o racismo no mundo. Desde o apoio às lutas pela independência de países africanos e mesmo apoiando o ativismo negro nos EUA.

É inegável que esta experiência cubana aponta uma alternativa de ordenamento social distinto. Também demonstra que é possível, sim, uma nação latino-americana, do Terceiro Mundo, ter autonomia e não se submeter ao imperialismo. E que é possível estabelecer uma geopolítica centrada no humano e não nos interesses particulares. Fidel Castro foi o grande líder de todo este processo histórico.


*Professor da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP).

Neofascismo nas redes sociais






Observatório da Imprensa, 28/11/16


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Neofascismo nas redes sociais



Por Moisés dos Santos Viana*



Na última segunda-feira (21/11), o programa Encontro com Fátima Bernardes produziu uma enquete entre os telespectadores que repercutiu nas redes sociais: “Quem eles salvariam primeiro? Um policial levemente ferido ou um traficante em estado grave”. Na internet surgiu uma onda de respostas prontas, socorristas e médicos se manifestaram e se posicionaram escolhendo a polícia com a hashtag #EuEscolhoPoliciais. Além dos profissionais da saúde, muitos leigos reafirmaram previamente a escolha. O que isso significa?

Não é de interesse aqui discutir código ético ou mesmo legislação. O dilema ético dos médicos, que pode se desdobrar em questão jurídica ou não, é outra problematização. E o médico pode, sim, negar o atendimento a quem ele quiser, dado a tendência das escolhas médicas já previstas pelo código deontológico que prevê essas escolhas e por isso já é discutido pelos profissionais da área: “O médico deve exercer a profissão com ampla autonomia, não sendo obrigado a prestar serviços profissionais a quem ele não deseje, salvo na ausência de outro médico, em casos de urgência, ou quando sua negativa possa trazer danos irreversíveis ao paciente” (art. 7 do CEM); e é também previsto no Código Civil Brasileiro, art. 186: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. Como aquela pediatra que se negou a atender a filha de uma petista no Rio Grande do Sul. O presidente dos sindicato deu-lhe razão.

As consequências desse ato no campo médico é outra questão. O que interessa é o fenômeno da comunicação que o programa de Fátima Bernardes desencadeou. Por isso, tem-se as questões desse escrito: Qual o clima comunicacional para iniciar a polêmica? Que perfil político-cultural-social deriva do discurso neofascista nas redes sociais?


O clima da falsa polêmica

No cotidiano, deve-se perguntar: quem é o “bandido”? Claro que o termo bandido é um eufemismo de criminoso, um termo jurídico. Nos processos modernos, imputar crime a alguém exige processos por sujeitos diferentes: um prende, um acusa e outro julga. Isso é o processual penal. Então, dizer que alguém é “bandido” não está apenas na esfera da ética, mas na esfera jurídica. Daí, não é possível ser professor, policial, promotor e juiz em uma sociedade moderna. Mas estamos no Brasil, onde a modernidade é um conceito mal compreendido até nas universidades, e que parece ter passado da “barbárie à decadência sem ter conhecido a civilização”, como disse alguém. Aqui o clientelismo das instituições beira a Idade Média europeia e a teocracia, das piores.

A polêmica da TV Globo, é claro, fortalece o clima de fechamento social. Alguns falam em nova direita ou guinada à direita da sociedade após uma falsa refrigeração a partir de 1988 com a abertura democrática, a farsa da saída dos militares do poder e retomada da plutocracia conservadora e retrógrada. A polêmica é típica da classe média e sua ideia de sociedade. Um distopia moral das relações sociais a serviço da elite rentista.

Recentemente, uma pesquisa apontou que a maior parte da população pesquisada concorda com o adágio “Bandido bom é bandido morto. O clima de classificação do “bandido” passa pelo ladrão de galinha, pelo estuprador e vai ao político corrupto. Mas também passa pelo estereótipo, pelo racismo, pelo preconceito e neofascismo que orienta as mentes mais diversas nas redes sociais. Esse neofascismo classifica o que é “bandido”. Em um país cuja morte de jovens negros nas periferias por agentes do Estado é algo sistematicamente planejado, policiais e grupos de extermínio matam e tomam proporções alarmantes e barbarizam a vida cotidiana,segundo pesquisa do Mapa da Violência.

Esse clima é capitaneado pelos meios de comunicação e seus programas sensacionalistas, que moldam o termo “bandido” na estética classe média com sua “moralidade bate panela”. Como uma palavra maldita a ser usado para materialização e banalização do mal. Tudo que é diferente da estética “classe média” e sua conduta moral é “bandido”. É nos meios de comunicação que a dicotomia rasa da falsa oposição de “cidadão de bem” x “bandido” torna-se discurso e por fim política. Uma retroalimentação da violência em linchamentos públicos ou mesmo barbárie em uma sociedade estruturalmente injusta, racista e problemática. Segundo essa “moralidade bate panela”, o criminoso é o inimigo do Estado, mas o crime é segundo a classificação das redes sociais (polícia, promotor e juiz).


O clima neofascista nas redes

O clima neofascista, que legitima a violência do Estado, alimenta a violência dos criminosos, pois sugere ações de combate ao crime de forma ostensiva, elege falsas prioridades e aumenta e beligerância em prol da indústria de armas que lucra na guerra civil brasileira não declarada.

Nas redes sociais, as pessoas se apresentam extremamente condicionadas por um ódio ao “bandido”. Por exemplo, professores se expõem posicionando-se radicalmente, pedindo a morte do “bandido”, caso eles fossem o médico. O discurso fascista se repete em uma farsa cruel que beira o racismo e o nazismo. Se fosse no passado, o “bandido” seriam os judeus ou comunista, e hoje é o negro, o pobre como seres inferiores, por isso mesmo um “criminoso” por natureza como prescrição das teorias mais sórdidas.

Por sua vez, o clima neofascista faz surgir figuras de extrema-direita que, tomadas por um discurso de ódio, alimentam o imaginário do dito “cidadão de bem”, sujeitos tomados de complexos atávicos, que repetem na time line: “O bandido bom é bandido morto”, negando qualquer processo civilizatório, criando seus bodes expiatórios, tentando se integrar com o ódio, negando a retomada da busca pelo real motivo do crime, o real motivo da macro violência no Brasil: a desigualdade social, a injustiça social e o racismo.

O discurso neofascista toma conta das redes sociais sem pudor. É sofisticação em uma estética racista e classista e envolve jovens, adolescentes e formadores de opinião, líderes religiosos e agentes públicos de alta remuneração, bem como representantes da classe média servil. Deixa de ser de ser uma questão ética-moral e passa a ser institucionalmente um problema político-cultural a medida em que se envolve em um elemento jurídico, passa a ser norma e práxis institucional. Tudo isso no processo social à la brasileira. O neofascismo eclode em uma crise institucional sem precedente beirando uma declaração explícita de guerra civil.

O combo do subdesenvolvimento brasileiro é um campo fértil para o fascismo. O obscurantismo religioso junto ao aparelhamento do Estado pela classe média e elite brasileira permitem mais do que tudo a construção da farsa e a eleição de bodes expiatórios que se transformam em imagens bem qualificadas do ódio. O “bandido” está aí, pulverizado no imaginário do “cidadão de bem”.

Ele está vindo aí para motivar os justiceiros. O que se tem nas redes sociais é uma possibilidade de perceber que no Brasil não há paz, mas um conjunto de sujeitos sociais extremamente alinhados a um imaginário de classificação “cidadão de bem” cuja oposição “bandido” se faz como resgate da sociedade miserável que se torna o Brasil ou que sempre foi.


*Jornalista e professor de Jornalismo

Na morte de Fidel


domingo, 27 de novembro de 2016

Cuba: de cassino a País; Brasil: de País a cassino






Brasil 247, 27/11/16



Cuba: de cassino a País. Brasil: de País a cassino



Por Marcelo Zero




Pouco antes da revolução cubana, Arthur M. Schlesinger, Jr., historiador, ganhador do Prêmio Pulitzer, foi encarregado pelo presidente Kennedy de fazer uma análise da situação na ilha.

Disse ele sobre Havana: “Me horrorizou a maneira como esta adorável cidade tinha se transformado desgraçadamente em um grande cassino e prostíbulo para os homens de negócios norte-americanos. Meus compatriotas caminhavam pelas ruas, se deitavam com garotas cubanas de 14 anos e jogavam fora moedas só pelo prazer de ver os homens chafurdando na sarjeta para recolhê-las”.

A conclusão da análise dizia simplesmente o seguinte: “A corrupção do governo, a brutalidade da polícia, a indiferença em relação às demandas da população por educação, saúde, habitação e por justiça social e econômica constituem-se num convite aberto à revolução.

Obviamente, Schlesinger estava corretíssimo. Totalmente equivocados estavam os que descreviam a Cuba de Batista como um paraíso na Terra, como faz até hoje a propaganda anticastrista.

Schlesinger não estava só. O próprio presidente John F. Kennedy, que foi crítico a Batista em seu final, declarou, em tom de autocrítica, que: “Penso que não existe um país no mundo, incluindo os países sob domínio colonial, onde a colonização econômica, a humilhação e a exploração foram piores que as que aconteceram em Cuba, devido à política do meu país, durante o regime de Batista.”

No campo político, Fulgencio foi um ditador sanguinário. Quem diz isso não são os comunistas ou os “bolivarianos”. Foi John Kennedy que afirmou que: Nosso fracasso mais desastroso foi a decisão de dar status e apoio a uma das mais sangrentas e repressivas ditaduras na longa história da repressão latino-americana. Fulgencio Batista assassinou 20 mil cubanos em 7 anos uma proporção maior da população cubana que a proporção de norte-americanos que morreram nas duas guerras mundiais – e transformou  Cuba em um Estado policial total.”

Na época, Cuba tinha apenas cerca de 6 milhões de habitantes. Esse número de mortos equivaleria, no Brasil de hoje, a 700 mil pessoas. Ou seja, se fosse no Brasil atual, Batista teria assassinado 100 mil pessoas por ano.

A tortura era generalizada e a repressão era brutal. Os opositores ao regime eram sistematicamente assassinados e a imprensa estava totalmente censurada. Juízes eram intimidados e até mesmo médicos cubanos foram assassinados pelo regime simplesmente porque trataram de rebeldes feridos.

No campo econômico, Batista transformou um país relativamente próspero para os padrões latino-americanos da época numa economia dependente e em ruínas.

Segundo Salim Lamrani, Doutor em Estudos Ibéricos e Latino-americanos da Universidade Paris, durante dois terços do reinado de Batista não houve crescimento. A dívida da nação passou de 300 milhões de dólares, em março de 1952, para 1,3 bilhão, em janeiro de 1959. O déficit orçamentário alcançou os 800 milhões de dólares. Além disso, as reservas monetárias caíram de 448 milhões de pesos, em 1952, para 373 milhões, em 1958. Essas reservas, frise-se, foram roubadas por Batista e seus comparsas na fuga para Miami.

A renda açucareira, base da economia de Cuba, passou de 623 milhões de pesos em 1952, para 426,1 milhões em 1956 e 520,7 milhões em 1958. Assim, a renda per capita em Cuba, em 1958, vésperas da revolução, era mais ou menos semelhante à de 1947. Foi como se uma PEC 241/55 tivesse passado por lá.

O desemprego atingia 35% da população ativa e cerca de 62% dos trabalhadores recebiam um salário inferior às suas necessidades mínimas de subsistência. Somente 4% dos camponeses comiam carne e cerca da metade nunca tinha frequentado uma escola.

Dessa forma, o regime Batista transformou um país modesto, mas em construção, num cassino dependente de “investimentos” da Máfia americana. 

Fidel fez o contrário: transformou um cassino da máfia de Miami num país. Pequeno, mas soberano. Pobre, mas justo. Um país digno. O país com os melhores indicadores sociais da América Latina. Mesmo com os grandes erros e as enormes dificuldades, em Cuba não há criança sem escola ou que durma nas ruas. Gostem ou não, é uma façanha política.

Com efeito, após mais de meio século de tentativa de invasões, de um bloqueio comercial cruel e ilegal, de uma campanha sistemática de mentiras, Cuba tem indicadores sociais extraordinários, para seu nível de desenvolvimento econômico.

Conforme a UNESCO, Cuba tem a mais baixa taxa de analfabetismo e a mais alta taxa de escolarização da América Latina. Além disso, Cuba é a nação do mundo que usa a maior parte de seu orçamento em educação, cerca de 13% do PIB. De acordo com a OMS, Cuba tem uma taxa de mortalidade infantil de 4,6 nascidos por mil, a mais baixa do continente americano.
Mais baixa que o do Canadá e que a dos EUA. E, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Cuba é o único país da América Latina e do “Terceiro Mundo” que se está entre as dez nações do mundo com os melhores Índices de Desenvolvimento Humano, levando em conta somente os indicadores sociais.

Dirão, é claro, que Cuba ainda é um país pobre, que enfrenta grandes dificuldades econômicas. É verdade. Mas isso só aumenta seu mérito. Lá, tomou-se a decisão de se construir um país soberano e para todos. Um país que vai gastar o pouco que tiver no bem-estar de sua população. Um país que não se verga e não se vende.

Pois bem, o Brasil do governo ilegítimo de Temer está seguindo o rumo oposto ao de Fidel e mesmo de países socialdemocratas que investiram no bem-estar de seus povos, e trilhando o caminho desastroso dos “batistas”, que investem na desigualdade e na alienação de seus países.

O Brasil passou, nos últimos 13 anos, por um processo bem-sucedido de combate à pobreza e de distribuição de renda e de oportunidades. Retiramos cerca de 30 milhões de pessoas da pobreza extrema e colocamos 42 milhões de brasileiras e brasileiros na classe média. Tiramos o Brasil do Mapa da Fome. Aumentamos muito o acesso à educação técnica e superior e aos serviços de saúde. Pela primeira vez, os pobres entraram realmente no orçamento.

Agora, o governo golpista quer percorrer o caminho inverso. Com a PEC 241/55, a reforma da previdência, a reforma trabalhista, a extinção da política de aumento do salário mínimo e outras medidas, o governo ilegítimo pretende acabar com todo o legado social da CLT, da Constituição Cidadã e das políticas dos governos progressistas recentes, com o intuito de reduzir os custos trabalhistas, previdenciários e sociais do Brasil.

Querem um Brasil bem baratinho para “atrair investimentos estrangeiros”. Um Brasil à venda por preços de liquidação. Querem tirar os pobres do orçamento, de modo a que sobre dinheiro para o pagamento das maiores taxas de juros do mundo. Querem que eles voltem à Senzala. Querem vender tudo o que for possível, inclusive o pré-sal, nosso passaporte para o futuro. Querem privatizar serviços públicos essenciais, até mesmo saúde e educação. Querem transformar o Brasil num grande balcão de negócios. Querem um país pequeno, periférico, injusto e indigno.

Mas Temer, um títere irrelevante, só está renovando uma tradição histórica brasileira.

Transformam o país inteiro num puteiro, pois assim se ganha mais dinheiro". Era o que cantava o poeta Cazuza, em ‘O Tempo Não Para’. Claro está que não se tratava de uma crítica pejorativa e machista à prostituição. A expressão é metafórica, uma referência clara a como as elites econômicas e políticas do Brasil tradicionalmente corrompem e alienam o país em benefício próprio.

Obviamente, o governo golpista não vai transformar o Brasil num país dependente de investimentos dos cassinos da Máfia norte-americana, como foi a Cuba de Batista. É muito pior do que isso. O governo ilegítimo vai pendurar a economia brasileira e o futuro de seu povo no grande cassino internacional das finanças desreguladas, sem pátria e sem ética, que esfola países e populações. O Brasil não será dependente de algum mafioso americano, o Brasil será dependente de Mamon, o deus hebraico do dinheiro e da cobiça, infinitamente mais poderoso e mais cruel, porque impessoal, que qualquer mafioso.

Enquanto o mundo inteiro começa a questionar e a fugir da globalização neoliberal, até mesmo o ultraconservador Trump, o Brasil faz o caminho inverso, emulando a cegueira estratégica e a truculência social de um Batista.

Se tiver êxito, o governo golpista transformará o Brasil numa gigantesca Cuba do regime Batista. Ao final do período da PEC 241/55, os idosos morrerão antes de aposentar e os pobres terão baixo acesso à educação e à saúde. O salário mínimo estará, com certeza, em menos de 100 dólares. A desigualdade terá aumentado exponencialmente. Poucos comerão carne, quando conseguirem comer. Num dos maiores produtores agrícolas do mundo, muitos voltarão a passar fome. O petróleo e tudo mais não serão mais nossos. O Brasil não será mais nosso. Os núcleos estratégicos da nossa economia já estarão alienados à banca internacional. O Brasil será, de novo, aquele país desigual e dependente de sempre, sem controle sobre seus destinos.
Em compensação, o Brasil será um paraíso para os negócios. Qualquer negócio.

Homens de negócios estrangeiros também percorrerão as ruas do Rio de Janeiro, dormindo com meninas de 14 anos e divertindo-se atirando moedas para ver brasileiros chafurdando nas sarjetas. Sócios do regime habitarão luxuosos espigões, indiferentes ao patrimônio histórico e aos milhões sem patrimônio algum.

E, ao contrário da Cuba de hoje, nesse Brasil do futuro milhões de crianças brasileiras dormirão nas ruas.

sábado, 26 de novembro de 2016

Ouça, Fidel tem algo a nos dizer



Carta Maior, 26/11/16


Ouça, Fidel tem algo a nos dizer

Carta Maior


O percurso de Fidel Castro foi tão intenso que por muito tempo será como se continuasse por aqui.
Sua relevância vincula-se à da ilha na qual lutou como um leão para provar que certas ideias pertenciam ao mundo através da ação.
Deixar uma obra inconclusa, porém não derrotada, em disputa, foi sua maior vitória.
Num tempo em que a utopia perdeu o seu horizonte de transição, Fidel ergueu pilares de uma ponte inconclusa, mas não derrotada, que dialoga com nossos desafios e hesitações.Cuba ainda magnetiza, a ponto de ostentar uma estatura geopolítica dezenas de vezes superior ao seu tamanho demográfico e territorial.
Ali, mesmo ameaçada por escombros, pulsa a ideia de um mundo novo e fraterno. Enquanto essa pulsação respirar em nós, Fidel será relevante.
Para começar, digamos aos céticos que não é comum que um país tenha seu nome imediatamente associado, em qualquer lugar do mundo, a sinônimo de audácia, soberania e justiça social.
Tampouco é trivial uma nação ser confundida com a legenda da bravura e da resistência heroica ao imperialismo predador e desumano por mais de meio século.
Todas essas exceções viram regra quando as letras se juntam para formar a palavra Cuba, imediatamente associada a outra, ‘Fidel’.
A pequena ilha do Caribe, na verdade um arquipélago de 4.195 restingas, ilhotas e ilhas,  soma um território de apenas 110 861 km² (pouco maior que o de Santa Catarina).
Os cubanos formam um povo de 11,2 milhões de pessoas.
Cuba, porém, está a léguas de ser uma simples ocorrência ensolarada no cardume das pequenas nações.
Por uma razão que ela transformou em referências desde 1959: ali se experimenta uma outra organização da sociedade humana, alternativa à fundada na exploração, no consumismo e no individualismo.
Esse reduto desassombrado acaba de agregar um novo epíteto ao seu trunfo: Cuba é considerada a experiência social e econômica mais próxima daquilo que se almeja como sociedade ambientalmente sustentável no século XXI.
É assim que a lendária ilha do Caribe se agiganta no concerto das nações: sendo a ponta de lança da humanidade em muitas frentes.
As quatro letras de seu nome condensam um dicionário de experiências, de esperanças, de vitórias, de tropeços, de lições e de problemas no caminho da construção de uma sociedade mais justa e convergente.
Depois do desmoronamento do mundo comunista, tornou-se a mais longeva e atribulada experiência no gênero trazida do século XX para o XXI.
Isso faz dela essa ponte de múltiplas conexões que singularizam e magnificam a sua presença em um tempo em que a utopia socialista perdeu o seu horizonte de transição.
Ao mesmo tempo em que a razão de ser dessa travessia avulta torridamente atual.
Os picos de desigualdade no capitalismo, o ocaso ambiental da humanidade, e tudo o que isso denuncia em relação às formas de viver e de produzir em nosso tempo, são uma evidência dessa teimosa pertinência.
Tome-se o caso dos EUA, para deliberadamente radiografar o cenário mais favorável da opulência produzida pelo capital.
Os perdedores do sistema compõem um contingente grande o suficiente, e desesperado a um ponto que se desconhecia, que um semi-fascista acaba de ser eleito por eles com a promessa de acudir uma aflição sem resposta nos mecanismos convencionais do mercado.
Nunca a desigualdade foi tão aguda. Jamais a probabilidade de que ela solape as bases da sociedade foi tão presente.
Não é Fidel Castro quem o diz.
A advertência foi feita em 2015 pela contida presidente do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, Janet Yellen.
Os abismos sociais no núcleo central do capitalismo atingiram o ponto em que, segundo a discreta Yellen, os americanos deveriam se perguntar se isso é compatível com os valores dos Estados Unidos.
Em uma conferência em Boston, a presidente do Fed informou que os níveis de desigualdade nos EUA são os mais altos em um século.
A desigualdade de renda e riqueza estão nos maiores patamares dos últimos cem anos, muito acima da média desse período e provavelmente maior que os níveis de boa parte da história americana antes disso, afirmou.
Cuba não poderia ser tomada como um contraponto histórico a esse espiral.
A ilha jamais concluiu a transição para onde decidiu caminhar em 1960.
Tangido pela truculência imperial norte-americana, Fidel Castro proclamou, então, a natureza socialista e marxista do governo.
Um ano antes havia derrubado a ditadura de Fulgêncio Batista e iniciara uma reforma agrária que intensificou a guerra da elite local e estrangeira contra o novo regime.
Cuba nunca se propôs a ser um modelo.
Desde o início foi uma aposta.
De olhos voltados para o relógio da história.
Quem já não ouviu a velha glosa segundo a qual ‘se não existe socialismo em um só país, quanto mais em uma só ilha’?
Nem os irmãos Castro, nem Che, nem nenhum dos pioneiros que desceram de Sierra Maestra para tomar o poder no réveillon de 1959 imaginavam desmentir esse interdito estrutural.
A aposta alternativa, porém, tampouco se consumou.
Um punhado de golpes de Estado sangrentos e preventivos que tiraram a vida de milhares de pessoas e seviciaram um contingente ainda maior em toda a América Latina, fizeram dos anos 60 e 70 um cinturão profilático em torno da grande esperança cubana.
Todas as artérias que poderiam misturar seu frágil metabolismo ao corpo vigoroso de uma integração regional progressista latino-americana foram cirurgicamente seccionadas.
Lembra algo em curso no continente nesse momento?
Não é uma miragem. É uma tranca da história que nunca se recolheu de fato.
A ação conjunta das elites, da mídia e dos exércitos, das federações empresariais, dos judiciários carcomidos de ideologia conservadora, dos partidos conservadores orientados e auxiliados pela mão longa do Departamento de Estado e da CIA, foi e é implacável.
Cuba é o limite da resistência a isso. Razão pela qual parece agonizar permanentemente. Mas, ao mesmo tempo, resistir.
Durante meio século o cerco asfixiante – que teve no embargo econômico iniciado em 1962 a sua fivela mais arrochada - não cedeu.
A obsessão conservadora contra a aposta cubana, símbolo de múltiplas transgressões em relação aos valores e interesses das plutocracias regionais, ficou comprovada mais uma vez nas eleições presidenciais brasileiras de 2014.
Em um dos debates mais virulentos da campanha, o candidato conservador Aécio Neves, que derrotado passou a operar o golpe ora no poder, trouxe a ilha para o palanque.
O tucano acusou o governo da candidata à reeleição, Dilma Rousseff, de cometer duas heresias do ponto de vista do cerco histórico à audácia caribenha.
A primeira, o financiamento de US$ 802 milhões para a construção de um porto estratégico de um milhão de containers na costa cubana de Mariel, a 200 quilômetros da Flórida.
A obra, capaz de transformar Cuba em uma intersecção relevante do comércio entre as Américas, foi denunciada por Aécio como evidência de cumplicidade com o castrismo.
Mariel se somou a uma ampla parceria na área da saúde, igualmente bombardeada. Através dela, mais de 11 mil médicos cubanos ingressaram no país, onde asseguram assistência a 50 milhões de pessoas.
O programa Mais Médicos, que levou doutores cubanos a lugares onde profissionais brasileiros não querem trabalhar, é um dos alvos do desmonte social em curso no Brasil assaltado pelo golpe de Estado de 31 de agosto que uniu a mídia à escória, ao dinheiro grosso e ao judiciário dos juízes de exceção.
O reatamento das relações diplomáticas entre EUA e Cuba – em águas incertezas, após a vitória de Trump - trincou as patas desse discurso.
A calculadora política do conservadorismo opera – e age -  ancorada na certeza ideológica de que a ‘ilha’ é apenas uma ditadura enferrujada, falida, desmoralizada e fadada à reconversão capitalista.
Jamais uma fonte de lições ao regime de mercado ou aos limites da democracia tolerada pelo capital.
Cambaleante, servia à demonização de qualquer traço de planejamento econômico que viesse afrontar a proficiente autorregulação dos mercados.
Morta, jogaria a pá de cal nos resquícios estatistas e socializantes teimosamente colados à tradição da esquerda latino-americana.
O vaticínio sincronizou o tempo de vida do regime ao do metabolismo de Fidel Castro –cujo epílogo antecipado foi tentado inúmeras vezes pela CIA e fracassou.
Paciência. Sua morte, finalmente concretizada, é esse o diagnóstico da grande Miami instalada na alma das elites locais, fará a implosão do regime diante da qual os agentes e os mercenários tropeçaram, desde a desastrosa tentativa de invasão da baía dos Porcos, em abril de 1961.
A impressionante resistência daquilo que se imaginava mais frágil do que tem se mostrado ingressa, a partir deste 26 de novembro de 2016, num período novo, mas dificilmente de fastígio das previsões conservadoras.
Em edição de 2014, a revista New Left Review arrolou dados interessantes sobre a resiliência da frágil sociedade cubana diante da dupla adversidade imposta pelo embargo americano e o fim do apoio russo, após o esfarelamento do bloco comunista.
No momento em que toda a América Latina, o Brasil à frente, depara-se com uma encruzilhada histórica encharcada de regressão, é inescapável a atualidade da lição de luta e desassombro embutida nessa travessia.
Por maior que tenha sido a rigidez política de que se acusa o regime – e até por  conta da explosão que esse fator unilateral acarretaria -  Cuba só não virou pó graças a três fatores: planejamento público, organização social, consciência política de amplas camadas de sua gente.
Não se trata de mitificar um caso de custo humano e social elevadíssimo. Mas de enxergar na experiência extrema da adversidade, o alcance  mitigador da variável política, reafirmada no reatamento diplomático norte-americano.
Nesse sentido, o retrospecto da épica luta do povo de Cuba fala aos nossos dias e à realidade que constrange as forças progressistas brasileiras.
Ao contrário da presunção que vê no degelo que precedeu a morte de Fidel o atalho da conversão capitalista tantas vezes frustrada, a resistência pregressa enseja outras esperanças.
O discernimento político e social acumulado pela sociedade cubana figura talvez como o mais experimentado laboratório de ponta da história para resgatar o elo perdido do debate latino-americano sobre a transição para um modelo de desenvolvimento mais justo, regionalmente  integrado, cooperativo, democraticamente participativo e sustentável.
Se a morte de Fidel – assim legada por ele como mais uma aposta política - desmentir a derrocada desses valores, dará inestimável contribuição para fixar o chão firme capaz de desenferrujar a alavanca histórica.
Não é pouco.
E pode ser muito do ponto de vista do imaginário e da agenda regional, assediados no momento pelo coro diuturno da restauração neoliberal.
A épica sobrevivência da pequena ilha, cuja morte anunciada era um poderoso trunfo conservador, expõe heroicamente a chance de se quebrar a rigidez das circunstâncias econômicas com o peso dos interesses históricos da maioria da população (leia editorial http://cartamaior.com.br/?/Editorial/O-lodo-o-povo-e-a-rua/37327)
Isso confere algum otimismo para brindar o final de 2016 como um horizonte em aberto na história brasileira e latino-americana. Nenhuma experiência em marcha reúne mais provações e adversidades que aquelas afrontadas e vencidas por Cuba.
Alguns tópicos do retrospecto criterioso feito pela New Left Review comprovam isso:
1. Ao perder o apoio russo nos anos 90 e diante da ‘teimosa recusa’ em embarcar em um processo de liberalização e privatização, a "hora final" de Fidel Castro parecia, finalmente, ter chegado;
2. Cuba enfrentou o pior choque exógeno de qualquer um dos membros do bloco soviético, agravado pelo saldo do longo embargo comercial norte-americano;
3. A dramática recessão iniciada em 1990 exigiria uma década para restaurar a renda real per capita anterior à derrocada do mundo comunista;
4. Sugestivamente, porém, Cuba saiu-se melhor em termos de resultados sociais, comparada às economias do bloco comunistas atingidas pela mesma borrasca e ancoradas em uma base econômica até mais sólida;
5. A taxa de mortalidade infantil em Cuba, em 1990, foi de 11 por mil, já muito melhor do que a média no leste europeu; em 2000 ficaria ainda abaixo disso, apenas 6 por mil, uma melhora mais rápida do que a verificada em muitos países da Europa Central que haviam aderido à União Europeia;
6. Hoje, a taxa de mortalidade infantil em Cuba é de  5 por mil;  um desempenho superior ao dos  EUA, segundo a ONU, e muito acima da média latino-americana;
7. Não só. A expectativa de vida da população cubana aumentou de 74 para 78 anos na década de 90 - mesmo com a ligeira alta das taxas de mortalidade entre grupos vulneráveis nos anos mais difíceis;
8. Hoje, após 55 nos de embargo e 26 de fim do apoio russo, a ilha ostenta uma das expectativas de vida mais altas do antigo bloco soviético e de toda a América Latina;
9. Não se subestime as terríveis privações, o custo humano, econômico e político cumulativos. A solitária busca de uma luz em um túnel claustrofóbico, década após década, cobrou um preço alto do povo cubano;
10. A superlativa dependência da economia em relação às exportações de açúcar para a Rússia era proporcional ao estrangulamento da estrutura produtiva decorrente do bloqueio norte-americano - um garrote estava ligado ao outro, em dupla asfixia;
11. A conta só fechava graças a uma cotação preferencial paga pelo Kremlin: uma libra de açúcar enviada à URSS gerava US$ 0,42 em receitas a Havana; cinco vezes a cotação mundial do produto (US$ 0,09);
12. Até a derrocada do bloco comunista, as importações cubanas equivaliam a 40% do PIB; delas dependiam 50% do abastecimento alimentar da população e mais de 90% do petróleo consumido. Era um pouco como o superciclo de commodities que ao se esgotar desencadeou as pressões políticas e econômicas afloradas agora na América Latina e no Brasil;
13. Mesmo com o ‘superciclo do açúcar’, o déficit comercial cubano de US $ 3 bilhões tinha que ser refinanciado generosamente pela União Soviética;
14. Essa rede de segurança se rompeu abruptamente em janeiro de 1990 e sumiu por completo há 23 anos. As receitas propiciadas pelo açúcar cairiam em 79%: de US $ 5,4 bilhões para US $ 1,2 bilhão.  As fontes de financiamento externo que mitigavam o embargo americano evaporaram;
15.Washington viu aí a oportunidade de bater o último prego no caixão de Havana, como se fez aqui, com o golpe. As sanções e represálias comerciais e financeiras contra países e instituições que facilitassem o acesso de Cuba ao crédito comercial foram acirradas. Deu certo: enquanto nos países do leste europeu, a transição pós-Muro (1991-1996) amparou-se em um fluxo de crédito externo da ordem de US$ 112 dólares per capita/ano, em Cuba esse valor foi de US$ 26 dólares per capita/ano;
16. O resultado foi um dramático cavalo de pau no comércio exterior: Cuba caiu de uma das taxas de importações mais altas do bloco comunista (de 40% do PIB), para uma das mais baixas (15% do PIB). Todas as tentativas de Havana de diversificar e ampliar seu leque de exportações esbarravam no embargo norte-americano. Alguma surpresa pela gratidão emocionada de Fidel em relação a Chávez, que por anos a fio garantiu um fluxo de petróleo à ilha, na base do escambo, em troca de serviços médicos e sociais?
17. Ainda assim, a penúria foi de tal ordem, que o manejo puro e simples do racionamento não explica a sobrevivência do regime;
18. Quando o ferramental econômico já não respondia mais e patinava em círculos, Havana viu-se diante de duas escolhas: render-se ao lacto purga ortodoxo (como está sendo imposto ao Brasil) e rifar a ilha numa apoteótica rendição capitalista, ou apostar no seu derradeiro trunfo: a resposta coletiva liderada pelo Estado, ancorada em uma longa tradição de planejamento, mobilizações de massa, debate popular e participação direta da sociedade nas tarefas nacionais;
19. A opção escolhida instalou uma rotina de prontidão na ilha, como se a população vivesse permanentemente na antessala de uma catástrofe natural em marcha;
20. Cortes ensaiados em serviços essenciais treinavam a sociedade para a defesa civil em mobilizações coordenadas envolvendo fábricas, escritórios, residências, escolas, hospitais;
21. A segurança alimentar básica foi planejada com disciplina férrea e mantida em condições de escassez extrema;
Cuba soçobrou, gemeu, contorceu-se e acumulou recuos.
O regime recorreu às forças extremas de sua organização política e social para enfrentar restrições equivalentes às de uma guerra, que se estende por meio século, a mais longa de que se tem notícia no mundo moderno.
Mas a sociedade não se desmanchou, nem se rendeu.
Sem ilusões.
Cuba continua a ser uma construção inconclusa, que independe de suas próprias forças para se consumar.
Como tal, enseja debate, comporta retificações e, sobretudo, cobra agendas desassombradas  – e não apenas em Havana.
O reatamento das relações diplomáticas com os EUA, por exemplo, poderia ser um acelerador desse processo.
A morte de Fidel, ao contrário da rendição inapelável prevista nos prognósticos conservadores, pode levar a ilha a surpreender de novo, ao não sucumbir à fatalidade tantas vezes anunciada.
Mas se mantendo como uma ponte inconclusa, a cobrar de outros povos e nações a reinventar a transição rumo a uma sociedade mais justa e libertária no século XXI.
O ano de 2016 está sendo muito, muito duro com a esperança progressista brasileira e latino-americana.
Mas foi muito mais dura por 55 anos com a esperança cubana. Fidel e sua gente não desistiram.
Ao contrário: ‘Não há um átomo de arrependimento em mim’, dizia.
Obrigado, companheiro Fidel, por esse legado.
Agora é a nossa vez,
Hasta la victoria, siempre!'

Dez formulações de Fidel como legado para a luta revolucionária







Brasil de Fato, 26/11/16




Dez formulações de Fidel como legado para a luta revolucionária



Por Ronaldo Pagotto*




"Fidel é a expressão máxima de uma geração que foi capaz de fundir intenção e gesto" (Ismael Francisco / CubaDebate)

“Se minha hora final me encontrar debaixo de outros céus, meu último pensamento será para o povo e especialmente para ti, que te digo obrigado pelos teus ensinamentos e pelo teu exemplo, ao que tentarei ser fiel até ás últimas consequências dos meus actos” Ernesto Guevara de la Serna, Che. Carta de despedida, 1965. Lida por ocasião da notícia do assassinato de Che na selva boliviana.

Os processos históricos são, e sempre serão, sociais, obra dos povos. Especialmente as revoluções – triunfantes, como Cuba; ou interrompidas, como a brasileira e da maioria dos países latinos. Mas a constatação de que a história é obra das grandes massas, é dizer, do povo, não deve ofuscar o que ficou consignado como “O papel do indivíduo na história”, em referência à obra com esse título do pensador Menchevique russo Guiorgui Valentinovitch Plekhanov. Fidel é a expressão máxima de uma geração que foi capaz de fundir intenção e gesto. E demonstrar o quanto isso é potente na história dos povos, especialmente na luta revolucionária.

Muitos são os especialistas no pensamento de Fidel, capazes de sistematizar a obra do Comandante com maestria. Mas apresento algumas formulações de Fidel que engrandeceram o pensamento transformador, o pensamento revolucionário.

Não se trata de uma centralização na figura dele dos êxitos de uma revolução e da ação do povo cubano, mas destacar o papel do Fidel como formulador e construtor de concepções atuais e relevantes.


1. A Teoria da Revolução: o papel dos países não desenvolvidos é fazer a revolução

Ao final da Segunda Guerra Mundial e início da Guerra Fria, combinada com o triunfo da Revolução Chinesa, teorias sobre a chamada coexistência pacífica entre o bloco Imperialista com o bloco liderado pela URSS (a unidade entre os dois blocos foi responsável pela derrota do Eixo), bem como as teses de superação do capitalismo a partir do progresso econômico do bloco socialista conviviam com as tensões da Guerra Fria.

A URSS passou a defender uma posição de coexistência e a buscar o apoio dos povos do mundo para manter e avançar o Socialismo Soviético. Isso resultava em uma política de baixar a temperatura da luta revolucionária em nome da defesa da sustentação da URSS. Isso está no centro da cisão – sino-soviética – e gerou uma reação de diversos cantos do mundo em contestação a posição oficial da URSS. Uma dessas posições veio de Fidel Castro, que a partir Cuba afirmava: o papel do revolucionário é fazer a revolução (em detrimento da linha de que o papel seria defender a URSS). Essa concepção é chave para compreender o pensamento do Comandante.


2. A questão nacional na luta revolucionária

A expansão do marxismo foi acompanhada de diversas características – ou especificidades – da Europa como sendo conteúdos universais. O tema da chamada “questão nacional” no marxismo era tratado como parte de um problema: o nacionalismo burguês expansionista. Entretanto, diferentemente dos países do centro econômico do mundo, os países dos chamados países subdesenvolvidos, terceiro mundistas ou em desenvolvimento, eram absolutamente distintas.

Duas distinções se destacam: a emergência do imperialismo como força econômica, militar, política, cultural e tecnológica e as formações econômicas e sociais oriundas do colonialismo e submetidas as novas partilhas do mundo (séculos 19 e 20). A bandeira nacional se combina com os interesses do povo, em parte pelo destino comum abaixo da exploração colonial-imperialista e em parte pela atuação das classes dominantes sem projeto nacional e associadas (como sócias subalternas) às classes dominantes dos países centrais.

Portanto, falar em defesa nacional e em pátria nesses países é falar em interesses populares e democráticos. Por isso, ao Cuba defender a Revolução Cubana com os símbolos nacionais e em nome da Pátria (sob a palavra de ordem “Pátria ou morte”) em nada se confunde com o nacionalismo burguês, ao nacional chauvinismo que fermentou os preparativos da Primeira Guerra Mundial.

Com essa posição, Fidel constrói, juntamente com diversas outras figuras da luta revolucionária, outro “lugar” para a questão nacional, unida com as bandeiras democráticas e populares na luta revolucionária.


3. Marxismo vivo se produz a partir da realidade

O marxismo deve ser capaz de preservar suas formulações de conteúdo universal e com vigência temporal para o futuro, combinadas com o desafio de compreender as realidades específicas, concretas no dizer de Lenin, e para tanto precisa ser permanentemente construído.

Esse pensamento se distancia de concepções no interior do campo marxista que valorizam as formulações clássicas como absolutas e de conteúdo universal, incorrendo em uma universalização de formulações particulares – por que não dizer quase sempre eurocêntricas ou a partir dos debates dentro da URSS – conformando um marxismo dogmático e que desmerece um princípio caro ao pensamento: a teoria advém da realidade, da ciência e da história.


4. A política e a aplicação das táticas

Fidel ficou conhecido pelo triunfo em Cuba. Mas sua marca sempre foi a capacidade política de conjugar táticas distintas, nunca aplicadas isoladamente, mas o contrário, a partir da combinação delas. Por isso, sua formulação da guerra de guerrilhas (guerra irregular) não foi isolada, mas combinada com uma política para a cidade, os operários, estudantes e para a ação internacional. Uma engenharia política que soube combinar as distintas táticas de forma a dotar as ações de maior capacidade de mudar a correlação de forças, de ampliar o apoio, enfraquecer os inimigos e conquistar apoio internacional e do povo cubano.

Essa concepção nos permite compreender a ação militar integrada com ações variadas – de caráter legal e ilegal, militar e civil, de ação direta e de propaganda, etc.


5. A política e as alianças

A política de alianças parte de dois pressupostos de origem militar: inimigos unidos e fortes são quase imbatíveis e as forças em luta devem conviver com as diferenças em nome da unidade em torno de objetivos comuns. Em outras palavras, isso exigiu dos cubanos a identificação do inimigo principal, a quem se deve dividir, isolar e neutralizar, e dos inimigos secundários, que, embora inimigos, diante dos objetivos políticos centrais, se encontrariam em um lugar secundário, cabendo aos revolucionários não ajudar na unificação, mas o contrário. E do outro lado, compreender as forças sociais e políticas com contradições com os inimigos principais e tecer uma política de alianças capaz de unificar forças distintas, em alguma medida até antagônicas, para a formação de um bloco de alianças centrado nos objetivos imediatos e nos desafios diante dos inimigos principais. Essa é uma formulação herdada de Lenin, Mao e Ho Chi Minh, mas que recebeu de Fidel aportes ousados em buscar uma ampla aliança para isolar, fragmentar, neutralizar e até mesmo aniquilar as forças de Batista. E como sabemos, vitoriosa.


6. A teoria militar como um desdobramento da política

A ação militar não tem nenhuma autonomia da política, mas, segundo Carl Von Clausewitz (autor do livro “Da Guerra”), é a sua consequência e desdobramento. Por isso, buscou aplicar na guerra os princípios e a política condutora do processo revolucionário. Um exemplo é a força moral como arma de guerra, que nos enfrentamentos militares não se mostra – já que estão no meio do conflito – mas se apresentam quando da tomada de prisioneiros, tratados com respeito, com cuidados médicos, alimentação e apresentando as avaliações da luta para os aprisionados. Isso impediu a tortura, os justiçamentos indiscriminados e ajudou a quebrar a força inimiga, que pregava lutar contra bárbaros materialistas sem alma e desprovidos de qualquer traço de humanidade. Parte dos prisioneiros se somaram e foram leais à revolução, parte se desligaram do Exército – alguns punidos com a morte – e parte atuaram como informantes e sabotadores no interior das forças da ditadura de Fulgêncio Batista.

Isso é aplicar no campo militar, em meio a uma guerra sangrenta, princípios e posições da política, dotando a luta em Cuba de muita força política-militar-ideológica-moral.


7. O lugar da luta ideológica

A luta ideológica, ou a capacidade de disputar corações e mentes, é um desafio da luta revolucionária, embora seja um tema quase sempre mal tratado. Fidel, com uma grande capacidade de apresentar ideias complexas de forma simples, capazes de serem compreendidas pelas pessoas mais simples e sem escolaridade, associada a uma ousada proposta de uso da tecnologia – rádio e TV – para difundir ideias.

Isso é um traço característico de Fidel e podemos compreender como uma forma de compreender o papel das massas: não como espectadoras, mas como forças ativas. Não conduzidas por lideranças que apenas apresentam consignas e os próximos passos da luta, mas capazes de compreender cada momento da luta e os desafios.

E, após o triunfo, a primeira grande batalha da revolução foi enfrentar o analfabetismo, gerando anos de mobilização de toda a sociedade para enfrentar esse traço das formações tardias e suas classes dominantes virulentas, sócias subalternas, atrasadas ideologicamente e que usam o conhecimento como privilégio e não direito.


8. Imperialismo é o inimigo número 1 da humanidade

A vitória e os momentos seguintes puderam demonstrar – em fatos e ideias – a existência de uma força em ascendência e que se convertera no inimigo número 1 da humanidade: o imperialismo. Não como um país, tampouco um povo, mas a ascensão de um complexo industrial-militar combinado com poderosas empresas transnacionais, denunciada até mesmo pelo presidente Eisenhower (discurso na íntegra). Ao afirmar que o imperialismo é o inimigo número um da humanidade, não poupou esforços para ajudar os povos em luta contra esse inimigo, sem jamais ter incentivado a postura de ataque ao povo dos Estados Unidos, aos símbolos desse povo – como sempre afirmou que em Cuba nunca haviam queimado uma bandeira dos EUA.


9. Intenção e gesto: moral inquebrantável

Como seguidor das ideias de Jose Martí, foi um praticante da ideia de que “a melhor forma de propor é fazer”. E foi capaz de unir a proposta política, especialmente as mais ousadas, com a ação, não como um dirigente de gabinete, mas um comandante em campo, correndo os maiores riscos e fundindo a proposta com a ação, ou a intenção e o gesto.

Isso fez de Fidel uma força moral e política que atraiu os principais inimigos – especialmente o aparato político-militar dos EUA, centralmente a CIA – para derrotá-lo politicamente e diante da impossibilidade, em ações e planos para o seu assassinato.


10. A solidariedade é a ternura dos povos

Uma pequena ilha caribenha é responsável por ações de solidariedade portadoras de uma mensagem de esperança e confiança na humanidade. Não se trata de uma ação de propaganda, tampouco algo episódico. Cuba é linha de frente em ações de combate ao analfabetismo no mundo, às doenças chamadas sociais, em educar povos do mundo nas Universidades na ilha, em compartilhar tratamentos médicos e avanços científicos, além da ação no plano militar.

Isso se tornou uma característica da Revolução Cubana e tem como figura de expressão na proposição, o seu líder máximo.

Não houve luta popular, catástrofes, conflitos e crises sociais entre os anos de 1960 até hoje que não tenha recebido o apoio direto, ativo e generoso de Cuba e seu povo. Isso é parte de uma concepção do processo marcada pela mensagem e ação sempre ativa do seu comandante.


Os povos do mundo, a América Latina e especialmente Cuba perderam um gigante. Uma força moral e política que não pode ser destruída e seguirá como referência dos povos do mundo em luta contra os velhos problemas e os mesmos inimigos da Humanidade. A obra gigantesca de Fidel foi e seguirá sendo uma referência e guia dos povos.

Como ele mesmo formulou:

“Pronto deberé cumplir 90 años, nunca se me habría ocurrido tal idea y nunca fue fruto de un esfuerzo; fue capricho del azar. Pronto seré ya como todos los demás. A todos nos llegará nuestro turno, pero quedarán las ideas de los comunistas cubanos como prueba de que en este planeta, si se trabaja con fervor y dignidad, se pueden producir los bienes materiales y culturales que los seres humanos necesitan, y debemos luchar sin tregua para obtenerlos. A nuestros hermanos de América Latina y del mundo debemos trasmitirles que el pueblo cubano vencerá.”

Fidel, en el VII Congreso del Partido

Hasta la victoria, siempre.

Viva o Comandante Fidel Castro Ruz.


*Advogado e militante da Consulta Popular