domingo, 31 de março de 2013

PSDB lidera total de contrataçõ​es sem concurso público

Imagem inline 1


 


Maria Frô, 31/03/2013


IBGE mostra que PSDB lidera total de contratações sem concurso público.


Alô, tucanos, o que vocês têm a dizer a respeito?

Um discurso recorrente na boca de político tucano é dizer que o PT aparelha o Estado com cargos políticos sem concurso público. Eis que o IBGE mostra que como sempre é só bravata tucana.
Os tucanos de fato desmantelaram o Estado Brasileiro e o serviço público, o discurso era o de ‘choque de gestão’ e administração moderna, mas os fins claramente fisiológicos tem servido de moeda de troca no jogo sujo da política.
Outro título para o PSDB, além de partido com mais ficha suja do país, agora é o que mais aparelha o Estado com apaniguados sem concurso público, que beleza!

sexta-feira, 29 de março de 2013

Dilma, a mídia e o enigma

Mino Carta: Dilma, a mídia e o enigma

 
CartaCapital, 29/3/2013


Mino Carta reflete sobre a posição do governo federal diante da mídia conservadora
Mino Carta reflete sobre a posição do governo federal diante da mídia conservadora

Leio o ensaio de Luiz Dulci, Um Salto para o Futuro, recém-publicado pela Editora Fundação Perseu Abramo. Destina-se a demonstrar que o governo Lula, do qual o autor participou ativamente, colocou o país no rumo do desenvolvimento. E demonstra. “Nem por isso os conservadores ressentidos – escreve Dulci – deixam de negar o óbvio. Democratizar a sociedade nunca será uma operação consensual. E já dizia Tocqueville que preconceitos de classe são antolhos formidáveis (…) Não espanta que se recusem a admitir o êxito deste plebeu impenitente”. E mais adiante: “Com efeito, o governo Lula inovou – e inovou profundamente. No conteúdo e na forma de governar. Implementou, na verdade, um novo modelo de desenvolvimento, inteiramente distinto do neoliberal, ainda que não se tenha preocupado em teorizá-lo, e outra modalidade de inserção no Brasil e no mundo”.

Observo que o governo de Dilma Rousseff seguiu pelo mesmo caminho, e de certos pontos de vista avançou mais ao desafiar os interesses das oligarquias financeiras, enquanto esboça, juntamente com os governos do BRICS, a definição de uma área econômica e comercial livre das influências do ex-Primeiro Mundo. As pesquisas de opinião mais recentes provam com toda a nitidez que a presidenta iguala hoje a popularidade de Lula nos seus tempos de governo.

Dilma não é uma plebeia impenitente. Mesmo assim, as palavras de Luiz Dulci a respeito das reações dos “conservadores ressentidos” a Lula valem também para a sucessora. O substantivo conservadores me soa, contudo, muito condescendente, e até generoso. Há conservadores e conservadores, e sempre houve, alguns notáveis. No Brasil trata-se é dos senhores da casa-grande e dos aspirantes que vivem na mansarda. Qualquer tentativa de demolir de vez a senzala eles a encaram como ataque frontal. Aliás, segundo meus solertes botões, a demolição está apenas no começo.

Interessa-me sublinhar que o instrumento empregado pela casa-grande para manifestar suas resistências e ojerizas irreparáveis, quando não ódio no estado puro, é a mídia nativa, única no mundo por sua capacidade de se unir de um lado só, qual fosse o Forte Apache, e de mandar às favas a verdade dos fatos, como lamenta Luiz Dulci. Penalizado, entretanto, sou forçado a experimentar amiúde a estranha sensação de que autoridades situacionistas, inclusive parlamentares, gostam, com indisfarçável sofreguidão, de aparecer no vídeo da Globo, nas páginas dos jornalões e nas amarelas da Veja.

Situação contraditória. Ou não? A mídia ataca noite e dia, se for o caso inventa, omite e mente, e nem por isso tem êxito junto à maioria dos brasileiros. Haja vista os tais índices de popularidade. Se eleições fossem convocadas hoje, Dilma levaria no primeiro turno. É de estranhar, portanto, que o malogrado aparato comunicador fascine graúdos alvejados e goze de mesuras, afagos e contribuições em matéria. Polpudas.  À Globo, uma enxurrada de grana. Uma enchente.

CartaCapital, que não hesitou em criticar com a devida aspereza a presidência de Fernando Henrique Cardoso, definiu seu apoio, a exemplo do que acontece em países civilizados e democráticos, antes a Lula, depois a Dilma. Escolha sincera, voltada em boa-fé aos interesses do país e dos leitores, normal por parte de uma publicação que não vende a alma. Por causa disso, fomos apresentados à plateia da casa-grande como “revista chapa-branca”. Talvez fosse conveniente saber a opinião das damas e cavalheiros que se incumbem da distribuição das benesses publicitárias governistas. Aposto em surpresas. A categoria fecha com quem agride o governo, em nome de critérios “técnicos” habilitados a transformar os agressores, estes sim em autênticos chapas-brancas. Ao menos, desse específico ponto de vista, iluminado pelo brilho do dinheiro.

Neste ínterim, deletam-se alegremente os planos do ex-ministro Franklin Martins, democraticamente empenhado em limitar os alcances dos oligopólios midiáticos. Não falta à mudança o pronto aval das piscadelas do ministro Paulo Bernardo, personagem da capa (da edição atual da revista).
Mino Carta é jornalista e escritor, editor-chefe da revista Carta Capital.

quinta-feira, 28 de março de 2013

Dilma enfrenta a pátria rentista: mídia uiva

 
 
 
Quinta-Feira, 28 de Março de 2013


 

Dilma enfrenta a pátria rentista: mídia uiva


 
Por Saul Leblon



Uma dia de estupefação e revolta no circuito formado pelos professores banqueiros, os consultores e a mídia que os vocaliza.

Na reunião dos Brics, na África do Sul, nesta 4ª feira, a presidenta Dilma afirmou que não elevará a ração dos juros reivindicada pelos batalhões rentistas, a pretexto de combater a inflação.

A reação instantânea das sirenes evidencia a cepa de origem a unir o conjunto à afinada ciranda de interesses que arrasta US$ 600 trilhões em derivativos pelo planeta.

Equivale a dez voltas seguidas no PIB da Terra. Trinta e cinco vezes o movimento das bolsas mundiais.

Os anéis soturnos desse garrote reúnem – e exercem – um poder de extorsão planetária, capaz de paralisar governos e asfixiar nações.

Gente que prefere blindar automóveis a investir em infraestrutura. O Brasil tem a maior frota de carros blindados do mundo.

E uns R$ 500 bi estocados em fundos de curto prazo; fora o saldo em paraísos fiscais.

Carros blindados, dinheiro parado, paraísos fiscais e urgências de investimento formam a determinação mais geral da luta política em nosso tempo.

Em Chipre, como lembra o correspondente de Carta Maior em Londres, Marcelo Justo, o capital a juros compunha uma bocarra equivalente a 67 bilhões de euros, uns US$ 90 bilhões de dólares.

Três vezes o PIB. De um país com população menor que a de Campinas.

A fome pantagruélica desse organismo requeria rações diárias indisponíveis no ambiente retraído da crise mundial.

A gula que quebrou Chipre é a mesma que já havia quebrado a Espanha, Portugal, Irlanda, Islândia e alquebrado o mercado financeiro dos EUA.

A falência cipriota assusta o mundo do dinheiro não por suas dimensões.

Mas porque ressoa o uivo cavernoso de uma bancarrota, só anestesiada a um custo insustentável na UTI mundial das finanças desreguladas.

No Brasil o mesmo uivo assume o idioma eleitoral ao gosto do dinheiro graúdo: ‘dá para fazer mais’.

O governo Dilma acha que sim.

Mas com a expansão do investimento produtivo. Não com arrocho e choque de juros.

O país ampliado por 12 anos de políticas progressistas na esfera da renda e do combate à pobreza, não cabe mais na infraestrutura concebida para 30% de sua gente.

A desproporção terá que ser ajustada em algum momento.

Como o foi, com viés progressista e investimento pesado, durante o ciclo Vargas.

Sobretudo no segundo Getúlio, nos anos 50.

Mas também o foi em 64.

Em versão regressiva feita de arrocho e repressão contra as reformas de base de Jango, no golpe que completa 49 anos neste 31 de março.

O que se assiste hoje guarda uma diferença política importante em relação ao passado.

Nos episódios anteriores, o conflito de classe entre as concepções antagônicas de desenvolvimento seria camuflado pela vulnerabilidade externa da economia.

Um Brasil estrangulado pelo desencontro entre a anemia das exportações e o financiamento das importações colidia precocemente com o seu teto de crescimento.

O gargalo do investimento se realimentava no funil das contas externas. E vice versa.

Era um prato cheio para o monetarismo posar de arauto dos interesses da Nação. E golpeá-la, com as ferramentas recessivas destinadas a congelar o baile.

'Quem está fora não entra; quem está dentro não sai'.
Durante séculos, essa foi a regra do clube capitalista brasileiro.


Hoje, embora a pauta exportadora se ressinta de temerária concentração em commodities, não vem daí o principal obstáculo ao investimento.

O país dispõe de reservas recordes (US$ 370 bi). Tem crédito farto no mercado internacional. O relógio econômico intertemporal é favorável ao financiamento de um ciclo pesado de investimentos em infraestrutura.

Quem, afinal, veria risco em financiar a sétima economia do planeta, que, em menos de uma década, estará refinando a pleno vapor as maiores descobertas de petróleo do século 21?

O desencontro entre o Brasil que somos e aquele que podemos ser deslocou-se do gargalo externo, dos anos 50/60/80 para o conflito aberto entre os interesses da maioria da sociedade e os dos detentores do capital a juro.

Assim como em Chipre, na Espanha, nos EUA ou em Paris, o rentismo aqui prefere repousar num colchão de juros reais generosos, blindado por esférico monetarismo ortodoxo.

Migrar para a esfera do investimento produtivo, sobretudo de longo prazo, como requer o país agora, não integra o seu repertório de escolhas espontâneas.

É essa prerrogativa estéril que os professores banqueiros do PSDB cobram pela boca e pelo teclado do jornalismo econômico, escandalizado com a assertiva defesa do desenvolvimento feita pela presidenta Dilma.


Presidenciáveis risonhos que se oferecem untados em molhos palatáveis às papilas monetaristas e plutocráticas vão aderir ao jogral.

Esse receituário que quer matar o doente em vez de curar a doença está datado; é uma política superada", fuzilou Dilma.

Previsível, o dispositivo midiático tentou desqualificar o revés como se fora uma demonstração de ‘negligência com a inflação’.

Um governo que trouxe 50 milhões de pessoas para o mercado de consumo minimizaria a vigilância sobre a inflação?

Seria o mesmo que sacar contra o seu maior patrimônio político.

O governo Dilma optou por abortar as pressões de preços de curto prazo com desonerações. E enfrentar o desequilíbrio estrutural com um robusto ciclo de investimentos.

São lógicas dissociadas da receita rentista.

Aqui e alhures, a obsessão mórbida pela liquidez descolou-se da esfera patrimonial para a dos rendimentos financeiros. Não importa a que custo social ou político.

Sua característica fundamental é a preferência parasitária pelo acúmulo de direitos sobre a riqueza, sem o ônus do investimento físico na economia.

A maximização de ganhos se faz à base da velocidade e da mobilidade dos capitais, sendo incompatível com o empenho fixo em projetos de longa maturação em ferrovias, hidrelétricas ou portos.

Durante a década de 90, as mesmas vozes que hoje disparam contra o que classificam como ‘intervencionismo da Dilma’, colocaram o Estado brasileiro a serviço dessa engrenagem.

A ração dos juros oferecida no altar da rendição nacional chegou a 45%, em 1999.

Um jornalismo rudimentar no conteúdo, ressalvadas as exceções de praxe, mas prestativo na abordagem, impermeabilizou essa receita de Estado mínimo com uma camada de verniz naval de legitimidade incontrastável.

A supremacia dos acionistas e dos dividendos sobre o investimento - e a sociedade - tornou-se a regra de ouro do noticiário econômico.

Ainda é.

A crise mundial instaurou a hora da verdade nessa endogamia entre o circuito do dinheiro e o da notícia.

Trata-se de uma crise dos próprios fundamentos daquilo que o conservadorismo entende como sendo ‘os interesses dos mercados’. Que a mídia equipara aos de toda a sociedade.

Dilma, de forma elegante, classificou essa ilação como uma fraude datada e vencida. De um mundo que trincou e aderna, desde setembro de 2008.

A pátria rentista uiva, range e ruge diante de tamanha indiscrição.

Jovens brasileiros disseminam apoio à Coreia do Norte




Carta Capital, 28/03/2013
 

Jovens brasileiros disseminam apoio à Coreia do Norte

                                   
     
Por Piero Locatelli


 

coreia5_525
Kim Il-Sung
  
“Arqueólogos do Instituto de história da Academia de Ciências Sociais da Coreia do Norte recentemente confirmaram o covil do unicórnio usado pelo Rei Tongmyong.” A nota da agência de notícias oficial da Coreia do Norte, publicada em 30 de novembro de 2012, circulou pelo mundo. Veículos de comunicação repercutiram com uma interpretação literal: o governo do país dizia ter achado o lugar onde morava um ser mitológico.
A interpretação da notícia gerou revolta em alguns brasileiros. Justificavam que aquele era o nome de um local e não tinha relação direta com a existência de unicórnios. “É como falar que a Garganta do Diabo, aqui no Brasil, é a prova da existência do diabo. Não tem sentido”, argumenta o estudante de sociologia André Ortega, de 19 anos.
Ortega faz parte de um grupo dedicado ao estudo do juche, o marxismo adaptado à realidade coreana concebido por Kim Il-sung, fundador  do país. Desde 2010, eles mantêm o “Blog de Solidariedade a Coreia Popular”. Na descrição, dizem fazer um “contraponto às mentiras e deturpações promovidas pela imprensa ocidental”. Há mensagens elogiosas de líderes norte-coreanos sobre Stalin, textos sobre música revolucionária e muitas críticas à imprensa.
Em uma das postagens, rebatem uma reportagem de Marcus Uchôa, da TV Globo, após um jogo entre a seleção da norte-coreana e a brasileira na Copa do Mundo de 2010. Eles justificam por que os jogadores não queriam falar com o jornalista. “É claro que os coreanos, como genuínos patriotas e amantes da causa socialista e da paz mundial, jamais gostariam de perder tempo ouvindo a provocações e comentários inúteis com o intuito de ridicularizar a Coreia Popular e seu grande líder Kim Jong-il.
O grupo é atualmente formado por dez homens. A reportagem conversou com cinco deles que têm algo em comum: entraram em contato com o marxismo no começo da adolescência e buscaram exemplos de socialismo real por conta própria.
“Eu tinha um contato muito forte com a figura do Stalin, que eu admirava bastante. Estudando a história do desenvolvimento do comunismo internacional, eu acabei me deparando com a questão da Coreia, que era sempre um país muito demonizado, atacado. Aí eu tentei buscar uma visão diferente dos fatos, do que falavam sobre o país,” diz o estudante de engenharia Alexandre Roseno, 18.


Apoio de Kim Jong-un
A mesma agência responsável pela notícia da caverna do unicórnio fala esporadicamente dos trabalhos do grupo. A primeira vez foi em 12 de junho de 2011, quando aconteceu a reunião inaugural, em uma sala da Universidade de São Paulo. Na notícia, constava que os jovens haviam prometido “disseminar amplamente” a experiência do governo norte-coreano.
Antes de contar com o aval dos norte-coreanos, Roseno mantinha um blog sobre o país com seu amigo Gabriel Martinez, estudante de filosofia, hoje com 23 anos. Militantes do PCdoB naquela época, eles abordaram funcionários da embaixada norte-coreana em um evento. A partir deste dia, criaram laços com o governo e o grupo de estudos tomou forma. Foi então que chamaram André Ortega, autor de outro site de apoio ao país.
Desde então, os três viajaram duas vezes para a Coreia do Norte, convidados pela Academia Norte Coreana de Ciências Sociais para participar de encontros mundiais sobre a ideia Juche. Lá, foram levados a fábricas e fazendas, privilégios não concedidos aos poucos turistas que frequentam o país.
Eles dizem ter gostado do que viram. “O problema de muitas pessoas que vão para lá e voltam com essa posição (ruim sobre o país), é que eles vão justamente para isso, com o intuito de ver a pobreza,” diz Martinez. “E os guias percebem isso. Sabem que o turista vai como se estivesse num zoológico. Eles sabem o que as pessoas estão fazendo e dão uma cortada.”
A pobreza na Coreia do Norte teve seu ápice na década de 1990, quando algo entre 240 mil e um milhão de coreanos morreram devido à fome. Na visão do grupo, isso não ocorreu por um erro dos líderes do país, mas por causa das sanções sofridas pelos norte-coreanos. “A principal razão foi com certeza a questão do ambiente hostil que se criou com a queda da União Soviética e do leste europeu. Mas o imperialismo tenta colocar que foi uma política equivocada do governo.”
Mesmo durante esse período, a Coreia do Norte manteve o exército como sua prioridade, a chamada política Songun. Os integrantes do grupo defendem a ideia, incluindo as pesquisas nucleares que tem estremecido a relação entre a Coreia do Norte com outros países. “Quem não tem bomba atômica, principalmente um país como a Coreia, não tem independência,” diz Martinez. “Se não, iria acontecer o que aconteceu no Iraque, Líbia e vai acontecer na Síria. Esses países tiveram o mesmo destino.”


Trabalho forçado
O país é criticado duramente por organismos internacionais e organizações não governamentais ligadas aos direitos humanos. De acordo com um relatório da Anistia Internacional, divulgado em 2011, há cerca de 200 mil presos em campos de concentração. Relatos de maus-tratos, incluindo tortura e execuções arbitrárias, constam de documentos das organizações e livros com depoimentos de refugiados.
Os integrantes do grupo admitem que a política de “reeducação por trabalho” existe no país. “Existe um sistema prisional que faz uso do trabalho forçado, no mesmo estilo da China e do que existiu na União Soviética”, diz Martinez. “Mas não dá para falar que a política prisional da Coreia do Norte se baseia em campos de concentração, desrespeito aos direitos humanos e maus-tratos.”
Para os estudiosos de juche, isso não deve guiar a discussão sobre o país. “Não duvido que algumas histórias de dissidentes sejam traumas pessoais verdadeiros. Mas eu também não duvidaria que fossem forjadas. E, em termos de discussão política, isso é irrelevante por causa da base fraca dessas histórias,” diz Ortega. “Algumas histórias são mais pitorescas que o culto à personalidade. Imagine como um cara vai sair do campo de concentração do regime mais violento e militarizado do mundo, onde dizem que as pessoas tem de usar passaporte interno para sair da cidade e que nem as pessoas comuns têm como se locomover? Então, como ele conseguiu sair do país a pé? Atravessar o país e chegar à China?
Verdadeiros ou não, os relatos não chegam aos ouvidos norte-coreanos, que só tem acesso à imprensa controlada pelo Estado. “De fato, não dá para abrir um jornal para defender o capitalismo. Nesse sentido, sim, tem uma censura,” diz Martinez. Os estudantes, porém, contestam as comparações feitas com a mídia do resto do mundo, refutando a ideia de que os norte-coreanos estão numa situação pior. “Até hoje existe uma lei de segurança nacional (na Coreia do Sul) que prende comunistas. E os livros do Kim Il-sung são proibidos lá. Isso é liberdade?


Coreia levada à sério
Três dias depois do aniversário de Kim Jong-il, líder da Coreia do Norte morto em 2011, o grupo se reuniu para celebrar a data em uma sala no centro de São Paulo. Durante 40 minutos, leram a transcrição de uma fala do líder na década de 70, traduzindo em voz alta versões em inglês e em espanhol do texto. Depois, fizeram uma discussão de teor acadêmico: qual a influência do indivíduo na construção do socialismo segundo a ideia juche?
Na reunião, não havia nenhum dos símbolos do país que são motivos de risos ocidentais.  Não há retratos dos norte-coreanos e ninguém fala termos como “líder supremo”. Para eles, o humor sobre o país não é banal e tem motivos mais profundos. “A imprensa ligada ao imperialismo se aproveita das peculiaridades para promover a desinformação, tendo isso como base,” diz Martinez.
Os integrantes do grupo lamentam que a Coreia não receba da esquerda brasileira a mesma simpatia que o regime de Cuba. Eles veem o distanciamento cultural como um dos fatores para que isso não aconteça. Para eles, Kim Il-sung é tão importante para o socialismo quanto Fidel Castro. Os estudantes ainda dizem que os dois países sofrem do mesmo mal: o embargo econômico dos Estados Unidos. “Muitas vezes o camarada apoia Cuba, fala que o imperialismo é hostil contra Cuba, que a imprensa fala mentira sobre Cuba. Mas quando é a Coreia do Norte, não,” lamenta Ortega.
Apesar da falta de apoio, eles dizem não travar grandes embates dentro da esquerda por defenderem Kim Jong-un. A discussão só se acirra, segundo eles, quando entram em pauta os assuntos brasileiros. “São trabalhos separados, mas a gente defende a questão da revolução anti-imperialista e anti-feudal”, explica Roseno.
Estudantes de uma filosofia de um país a 18 mil quilômetros de distância, eles dizem ter aprendido lições importantes para usar no Brasil.  “A ideia Juche permite que a gente acabe com esses erros que infelizmente ainda existem, do “seguidismo”, de a gente não querer se apoiar nas próprias forças. A gente tem que fundar nosso próprio exército de operários camponeses,” completa.​

quarta-feira, 27 de março de 2013

Chipre: teste para cobrar dos correntist​as as dívidas dos bancos



27 de março de 2013 (www.msia.org.br)



Chipre: teste para cobrar dos correntistas as dívidas dos bancos

       


Mario Lettieri e Paolo Raimondi, de Roma




A provação de Chipre é a prova cabal da incompetência de Bruxelas e da "Troika" (Fundo Monetário Internacional, Comissão Europeia e Banco Central Europeu) para lidar com a crise financeira e bancária na Europa. Com ela, os eurocratas têm sido capazes de mostrar toda a sua arrogância, com o apoio dos europeus "duros" que querem aplicar o rigor apenas para salvar os bancos inadimplentes.
O sistema bancário de Chipre, a meio caminho entre a legalidade e a condição de paraíso fiscal, está cheio de dinheiro - boa parte, de proveniência não muito clara. De acordo com o FMI, o sistema tinha ativos de 152 bilhões de euros - equivalente a cerca de oito vezes o PIB do país. Os depósitos bancários, favorecidos por impostos baixos e controles ainda mais frouxos, equivaleriam a 68 bilhões de euros, dos quais 40% em mãos de russos. O Cyprus Bank e o Cyprus Popular Bank, os dois maiores bancos cipriotas, estão em sérios problemas, com prejuízos de bilhões de euros em títulos de dívida gregos. Obviamente, também é concebível que o risco de insolvência se deva à acumulação de dívidas causadas por especulações malsucedidas.
O governo cipriota tem de lidar com a crise orçamentária, da mesma forma como os demias países europeus da zona do Mediterrâneo. São necessários cerca de 17 bilhões de euros. Quem paga? O Mecanismo de Estabilidade Europeu, que é o fundo de resgate criado para tais situações? Ou o governo cipriota, que não tem dinheiro e não pode pedir emprestado sem violar o pacto de estabilidade europeu?
A alternativa seria a insolvência - e a quebra - dos bancos. Mas a Europa não quer; ficaria evidente o "lixo" existente dentro do sistema bancário estreitamente interligado. Por sua vez, o governo cipriota não quer correr o risco de que a ilha venha a perder a sua função de sistema "quase offshore", que atrai capitais em busca de "paraísos fiscais" perto de casa.
Por outro lado, a proposta de tributar os titulares de contas correntes parece ser a mais provocadora e menos eficaz. Provocadora, principalmente, para os correntistas russos. E, na verdade, impactaria negativamente as relações entre a Europa e a Rússia, num momento em que é mais urgente que os dois lados mantenham uma frutífera colaboração nos campos da infraestrutura, indústria e comércio. E ineficaz e injusta com os correntistas cipriotas, convocados a pagar a conta do resgate dos bancos, que estão em crise devido ao comportamento especulativo, não sancionado, mas tolerado pelas autoridades competentes nacionais e europeias.
Os bancos em crise não são "caixas fechadas", para ser salvos de qualquer maneira. Desde a falência do Lehman Brothers, se sustenta que, para situações semelhantes, é necessária a intervenção de um "síndico de massa falida ", que saiba distinguir nos bancos em dificuldades as partes saudáveis a ser salvas e as engrenagens corroídas a ser colocadas fora do jogo. Esta abordagem, portanto, requer a separação dos bancos comerciais dos de investimento, para garantir que a poupança dos indivíduos e famílias não seja usada para o jogo especulativo, mas apenas para investimentos produtivos.
Por isso, o caso de Chipre pode ser uma oportunidade para a definição de novas regras. A política de chantagem dos "puristas", de um lado, e dos bancos que se sentem "muito grandes para quebrar", do outro, só pode levar ao caos econômico e social. De qualquer maneira, a abordagem de Bruxelas frente ao Chipre será um teste para o conjunto da Europa, podendo estabelecer um perigoso precedente em que os cidadãos e os poupadores seriam considerados "garantes de último recurso" e, portanto, chamados a pagar as contas das dívidas feitas pelos bancos!
Sintomático é o comportamento do Commerzbank, o segundo maior banco alemão, que, como se sabe, apresentou uma proposta para tributar os ativos financeiros dos italianos em 15%, de modo a manter a dívida pública do país apenas abaixo de 100% do PIB. Trata-se do mesmo banco que, em 2008, foi resgatado com dinheiro público, tornando-se quase um banco estatal (na verdade, o governo de Berlim detém 25% de suas ações). É o mesmo banco que, no momento da explosão da crise da dívida soberana, possuía uma grande parcela dos 541 bilhões de euros em títulos da Irlanda, Portugal, Grécia e Espanha, controlados pelo sistema bancário alemão. É comum que se meta o bedelho nos assuntos dos outros, quando não se quer encontrar soluções concretas para os seus problemas e, portanto, se pretende desviar as atenções deles.
É realmente impossível que se tenham regras comuns para o sistema bancário e financeiro global? É possível se começar a partir da Europa e, posteriormente, envolver outros atores internacionais. A protelação do problema e o acúmulo de casos singulares só podem levar a crises cada vez mais graves.

terça-feira, 26 de março de 2013

Ubaldo, FHC e a Academia: Você é um medíocre !

26/03/2013
  

Ubaldo, FHC e a Academia: Você é um medíocre !




 
A propósito da anunciada candidatura  do Farol de Alexandria (o que iluminava a Antiguidade e sumiu com um terremoto chamado “Lula”)  a uma vaga na Academia de Letras do Ataulfo Merval de Paiva, o ansioso blogueiro recebeu um primoroso e-mail de título “recordar é viver !”

São artigos do Leandro Fortes e do imortal João Ubaldo sobre a candidatura do Farol, tempos atrás.

Pouco depois de o terremoto sumir com ele (para sempre).

Guerra anunciada na ABL: João Ubaldo x FHC



Guardei, por 12 anos, em meio à minha papelada imunda de recortes de jornais e revistas velhas, numa caixa de papelão em frangalhos, um artigo de João Ubaldo Ribeiro datado de 25 de outubro de 1998, porque esperava justamente esse momento: a hora em que Fernando Henrique Cardoso, alijado da político e na iminência de cair no esquecimento público, se candidatasse a uma vaga na Academia Brasileira de Letras. O artigo, intitulado “Senhor Presidente”, foi escrito logo depois da vitória de FHC, no primeiro turno das eleições de 1998, graças ao Plano Real e à aprovação, no Congresso Nacional, da Emenda Constitucional da reeleição, conseguida à custa de um escandaloso esquema de compra de votos. O texto é pau puro e, surpreendentemente, foi escrito numa época em que a mídia nacional era, praticamente, uma assessoria de imprensa do consórcio PSDB/PFL. Não por ou tra razão, foi inicialmente censurado em “O Estado de S.Paulo”, para onde o cronista escrevia, embora o jornal tenha sido obrigado a publicá-lo, uma semana depois, para evitar se envolver em um escândalo de censura justo com um dos mais respeitados escritores do país. Num tempo de internet incipiente, a repercussão do artigo foi mínima, ficando restrita às redações e ao meio intelectual, de resto, também acovardado pela força do pensamento único imposto à sociedade pela imprensa e pelo governo de então.

Esse retalho jornalístico ficou comigo tanto tempo porque, no fundo, eu tinha certeza que a vaidade intelectual de FHC iria levá-lo, em algum momento, a pleitear uma vaga na ABL, como agora se noticia em notas discretas de colunas de jornal, certo de que se trata de uma confraria historicamente vulnerável a influências políticas, quando não à bajulação pura e simples, como qualquer um pode constatar, embora abrigue grandes escritores, como o próprio João Ubaldo Ribeiro. Contudo, lá também estão escribas do calibre de José Sarney e do cirurgião plástico Ivo Pitanguy. No passado, também circulavam entre os imortais o general Aurélio de Lira Tavares (codinome “Adelita), eleito em 1970, com o apoio do ditador Emílio Médici, e Roberto Marinho, das Organizações Globo. A presença de FHC, que pelo menos escreveu uns livros de sociologia não seria, portanto, um escândalo em si. O problema é o artigo de João Ubaldo.

No texto, o escritor baiano, entre outras considerações, refere-se assim a Fernando Henrique Cardoso: “(…) o senhor é um sociólogo medíocre, cujo livro O Modelo Político Brasileiro me pareceu um amontoado de obviedades que não fizeram, nem fazem, falta ao nosso pensamento sociológico”. Mais adiante, relembra um dos piores momentos da vida de FHC: “(…) o senhor, que já passou pelo ridículo de sentar-se na cadeira do prefeito de São Paulo, na convicção de que já estava eleito, hoje pensa que é um político competente e, possivelmente, tem Maquiavel na cabeceira da cama. O senhor não é uma coisa nem outra, o buraco é bem mais embaixo”.

E por aí vai, até se lembrar, a certa altura do texto, que FHC, em algum momento da vida, poderia se interessar pela vida imortal da ABL. João Ubaldo, então, cospe uma fogueira de brasas para cima de Fernando Henrique: “(…) E, falando na Academia, me ocorre agora que o senhor venha a querer coroar sua carreira de glórias entrando para ela. Sou um pouco mais mocinho do que o senhor e não tenho nenhum poder, a não ser afetivo, sobre meus queridos confrades. Mas, se na ocasião eu tiver algum outro poder, o senhor só entra lá na minha vaga, com direito a meu lugar no mausoléu dos imortais”.

Eu posso estar errado, já se passou mais de uma década, a ira de João Ubaldo pode ter se perdido na poeira do tempo, mas a julgar pelo teor do imortal artigo do escritor e jornalista baiano, FHC vai ter que pensar duas vezes antes de se candidatar a uma vaga na ABL. Ou considerar o fato de que só vai entrar lá por cima do cadáver de João Ubaldo Ribeiro. A conferir.

Abaixo, o artigo completo, para quem quiser se deleitar:


Senhor Presidente – João Ubaldo Ribeiro

25 de outubro de 1998

Senhor Presidente,

Antes de mais nada, quero tornar a parabenizá-lo pela sua vitória estrondosa nas urnas. Eu não gostei do resultado, como, aliás, não gosto do senhor, embora afirme isto com respeito. Explicito este meu respeito em dois motivos, por ordem de importância. O primeiro deles é que, como qualquer semelhante nosso, inclusive os milhões de miseráveis que o senhor volta a presidir, o senhor merece intrinsecamente o meu respeito. O segundo motivo é que o senhor incorpora uma instituição basilar de nosso sistema político, que é a Presidência da República, e eu devo respeito a essa instituição e jamais a insultaria, fosse o senhor ou qualquer outro seu ocupante legítimo. Talvez o senhor nem leia o que agora escrevo e, certamente, estará se lixando para um besta de um assim chamado intelectual, mero autor de uns pares de livros e de uns milhares de crônicas que jamais lhe causarão mossa. Mas eu quero dar meu recadinho.

Respeito também o senhor porque sei que meu respeito, ainda que talvez seja relutante privadamente, me é retribuído e não o faria abdicar de alguns compromissos com que, justiça seja feita, o senhor há mantido em sua vida pública – o mais importante dos quais é com a liberdade de expressão e opinião. O senhor, contudo, em quem antes votei, me traiu, assim como traiu muitos outros como eu. Ainda que obscuramente, sou do mesmo ramo profissional que o senhor, pois ensinei ciência política em universidades da Bahia e sei que o senhor é um sociólogo medíocre, cujo livro O Modelo Político Brasileiro me pareceu um amontoado de obviedades que não fizeram, nem fazem, falta ao nosso pensamento sociológico. Mas, como dizia antigo personagem de Jô Soares, eu acreditei.

O senhor entrou para a História não só como nosso presidente, como o primeiro a ser reeleito. Parabéns, outra vez, mas o senhor nos traiu. O senhor era admirado por gente como eu, em função de uma postura ética e política que o levou ao exílio e ao sofrimento em nome de causas em que acreditávamos, ou pelo menos nós pensávamos que o senhor acreditava, da mesma forma que hoje acha mais conveniente professar crença em Deus do que negá-la, como antes. Em determinados momentos de seu governo, o senhor chegou a fazer críticas, às vezes acirradas, a seu próprio governo, como se não fosse o senhor seu mandatário principal. O senhor, que já passou pelo ridículo de sentar-se na cadeira do prefeito de São Paulo, na convicção de que já estava eleito, hoje pensa que é um político competente e, possivelmente, tem Maquiavel na cabeceira da cama. O senhor não é uma coisa nem outra, o buraco é bem mais embaixo. Político competente é Antônio Carlos Magalhães, que manda no Brasil e, como já disse aqui, se ele fosse candidato, votaria nele e lhe continuaria a fazer oposição, mas pelo menos ele seria um presidente bem mais macho que o senhor.

Não gosto do senhor, mas não tenho ódio, é apenas uma divergência histórico-glandular. O senhor assumiu o governo em cima de um plano financeiro que o senhor sabe que não é seu, até porque lhe falta competência até para entendê-lo em sua inteireza e hoje, levado em grande parte por esse plano, nos governa novamente. Como já disse na semana passada, não lhe quero mal, desejo até grande sucesso para o senhor em sua próxima gestão, não, claro, por sua causa, mas por causa do povo brasileiro, pelo qual tenho tanto amor que agora mesmo, enquanto escrevo, estou chorando.

Eu ouso lembrar ao senhor, que tanto brilha, ao falar francês ou espanhol (inglês eu falo melhor, pode crer) em suas idas e vindas pelo mundo, à nossa custa, que o senhor é o presidente de um povo miserável, com umas das mais iníquas distribuições de renda do planeta. Ouso lembrar que um dos feitos mais memoráveis de seu governo, que ora se passa para que outro se inicie, foi o socorro, igualmente a nossa custa, a bancos ladrões, cujos responsáveis permanecem e permanecerão impunes. Ouso dizer que o senhor não fez nada que o engrandeça junto aos corações de muitos compatriotas, como eu. Ouso recordar que o senhor, numa demonstração inacreditável de insensibilidade, aconselhou a todos os brasileiros que fizessem check-ups médicos regulares. Ouso rememorar o senhor chamando os aposentados brasileiros de vag abundos. Claro, o senhor foi consagrado nas urnas pelo povo e não serei eu que terei a arrogância de dizer que estou certo e o povo está errado. Como já pedi na semana passada, Deus o assista, presidente. Paradoxal como pareça, eu torço pelo senhor, porque torço pelo povo de famintos, esfarrapados, humilhados, injustiçados e desgraçados, com o qual o senhor, em seu palácio, não convive, mas eu, que inclusive sou nordestino, conheço muito bem. E ouso recear que, depois de novamente empossado, o senhor minta outra vez e traga tantas ou mais desditas à classe média do que seu antecessor que hoje vive em Miami.

Já trocamos duas ou três palavras, quando nos vimos em solenidades da Academia Brasileira de Letras. Se o senhor, ao por acaso estar lá outra vez, dignar-se a me estender a mão, eu a apertarei deferentemente, pois não desacato o presidente de meu país. Mas não é necessário que o senhor passe por esse constrangimento, pois, do mesmo jeito que o senhor pode fingir que não me vê, a mesma coisa posso eu fazer. E, falando na Academia, me ocorre agora que o senhor venha a querer coroar sua carreira de glórias entrando para ela. Sou um pouco mais mocinho do que o senhor e não tenho nenhum poder, a não ser afetivo, sobre meus queridos confrades. Mas, se na ocasião eu tiver algum outro poder, o senhor só entra lá na minha vaga, com direito a meu lugar no mausoléu dos imortais.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Polícia apresenta inquérito e aponta 35 responsáveis por incêndio na boate Kiss




http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2013/03/22/policia-apresenta-inquerito-e-aponta-responsaveis-por-incendio-na-boate-kiss.htm

 

22/03/2013


Polícia apresenta inquérito e aponta 35 responsáveis por incêndio na boate Kiss

 


Do UOL, em São Paulo e Santa Maria (RS)





A Polícia Civil do Rio Grande do Sul entregou o inquérito sobre o incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS), que deixou 241 mortos no último dia 27 de janeiro, nesta sexta-feira (22) e responsabilizou 35 pessoas pela tragédia. O documento aponta 16 indiciamentos de forma direta e outros 10 indícios de crime (nove que vão para a Justiça Militar e um para o Tribunal de Justiça). Outras nove pessoas responderão por improbidade administrativa.

Entre os indiciados estão os sócios da boate Kiss, Elissandro Spohr, o Kiko, e Mauro Hoffman, e os integrantes da banda Gurizada Fandangueira Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos, que já estavam presos preventivamente na penitenciária estadual de Santa Maria. Os quatro são acusados de homicídio com dolo eventual triplamente qualificado.

Além deles, foram indiciados pelo mesmo crime Angela Aurelia Callegaro, irmã de Kiko, sua mãe, Marlene Callegaro, o gerente da boate, Ricardo de Castro Pasche, e os bombeiros Gilson Martins Dias e Vagner Guimarães Coelho, responsáveis pela fiscalização.

Foram indiciados por homicídio culposo (sem intenção de matar) Miguel Caetano Passini, atual secretário de Mobilidade Urbana, Luiz Alberto Carvalho Junior, secretário do Meio Ambiente, Beloyannes Orengo de Pietro Júnior, chefe da fiscalização da Secretaria de Mobilidade Urbana, e Marcus Vinicius Bittencourt Biermann, funcionário da Secretaria de Finanças que emitiu o alvará de localização da boate Kiss.

O major Gerson da Rosa Pereira e o sargento Renan Severo Berleze, ambos do Corpo de Bombeiros e acusados de incluir documentos na pasta do alvará da boate, foram indiciados por fraude processual. O ex-sócio da Kiss Eltron Cristiano Uroda foi indiciado por falso testemunho.
Segundo o inquérito, há indícios de prática de crime de homicídio culposo na conduta dos bombeiros Moisés da Silva Fuchs (comandante regional do Corpo de Bombeiros de Santa Maria), Alex da Rocha Camillo, Robson Viegas Müller, Sergio Rogério Chaves Gulart, Dilmar Antônio Pinheiro Lopes, Luciano Vargas Pontes, Eric Samir Mello de Souza, Nilton Rafael Rodrigues Bauer e Tiago Godoy de Oliveira. Os nove serão investigados pela Justiça Militar.
A polícia também apontou indícios de prática de homicídio culposo por parte do prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer. A acusação será apurada pelo Tribunal de Justiça. "Concluímos aqui nosso papel. Cabe agora ao MP e à Justiça", afirmou o delegado que presidiu o inquérito, Marcelo Arigony.
Neste momento, os cinco indiciados que ainda não haviam sido presos permanecerão em liberdade. "Havia diversas circunstâncias desfavoráveis. Era uma casa que funcionava na ilegalidade", avaliou Arigony.

Em relação à atuação dos bombeiros socorristas que estiveram no local, a polícia é incisiva: "houve uma falha severa [dos bombeiros]. Sabemos que era um ambiente hostil, mas as pessoas que estavam do lado de fora não poderiam retornar. Homicídio culposo porque eles não poderiam deixar as pessoas retornarem para a boate. Mesmo assim, ficou apontado que os bombeiros poderiam fazer mais e melhor", explicou o delegado Sandro Meinerz.

 

Prefeitura

 

 Questionado sobre o papel da prefeitura municipal no auxílio às investigações, a polícia foi enfática: "tivemos certa morosidade no início [durante pedido de auxílio] e recebemos uma denúncia de que alguns documentos estavam sendo sonegados", revela Arigony.

"Conversamos com o Ministério Público e foram dois delegados e um promotor até a prefeitura. Foram encontrados alguns documentos e, entre eles, o mais relevante que existe, e que a prefeitura não tinha nos encaminhado. Um documento que tem 29 apontamentos feitos por um arquiteto de carreira do município dizendo que aquela boate não poderia funcionar", salientou.

A reportagem do UOL tentou contato telefônico com a Prefeitura de Santa Maria, mas não obteve resposta.

 

Inquérito

 

O documento de 10 mil páginas foi apresentado na tarde de hoje pela Polícia Civil no campus da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria). Os delegados também mostraram dois vídeos impressionantes do momento em que o incêndio começou dentro da boate.

Por 55 dias, cinco dezenas de policiais, peritos e assessores trabalharam em conjunto para colher 800 depoimentos e realizar perícias que sustentam o inquérito.

"O trabalho desenvolvido foi muito complexo. É o maior inquérito da Polícia Civil do Rio Grande do Sul", afirmou o chefe da Polícia Civil do Estado, Ranolfo Vieira Junior, antes da apresentação do inquérito.

O delegado regional, Marcelo Arigony, foi o responsável por detalhar como foram feitas as investigações. Segundo ele, os 234 autos de necropsia assinados pelo IGP (Instituto Geral de Perícias) atestam que 100% das mortes foram causadas por asfixia. "O desprendimento do monóxido de carbono e do cianeto com a queima da espuma do isolamento acústico causaram as mortes", explicou.

Na madrugada de hoje, os volumes do inquérito foram transportados da 1ª Delegacia de Polícia de Santa Maria para a Delegacia Regional. Antes da apresentação na UFSM, o material foi levado ao Fórum de Santa Maria e protocolado na 1ª Vara Criminal. O Ministério Público irá analisar o inquérito e, se concordar com a Polícia Civil, irá formalizar a denúncia à Justiça.

 

Cianeto e superlotação

 

O laudo do IGP sobre a liberação de gases tóxicos pela espuma de poliuretano que revestia o teto da boate Kiss, em Santa Maria (RS), já havia confirmado que o incêndio produziu cianeto, monóxido de carbono e dióxido de carbono em quantidade suficiente para asfixiar as pessoas que morreram na tragédia.

O documento informa que a queima da espuma liberou três tipos de gases suficientes para asfixiar as pessoas que estavam dentro da Kiss no momento do incêndio. O resultado foi obtido depois que amostras do material foram queimadas com um artefato pirotécnico do mesmo tipo do utilizado no show da banda Gurizada Fandangueira.

Outro ponto levantado pelos técnicos é que a casa comportava no máximo 750 pessoas. De acordo com os delegados que presidem o inquérito, ao menos mil clientes estavam na boate na noite do incêndio, o que indicaria superlotação.

quarta-feira, 20 de março de 2013

A exploração sexual da mulher no século XXI

 
 

A exploração sexual da mulher no século XXI


Larissa Ramina




As comemorações do Dia Internacional da Mulher servem também para alertar que, em pleno século XXI, a histórica vulnerabilidade da mulher persiste com contornos alarmantes, e na forma mais primitiva que se possa imaginar: a da escravidão sexual.

Situações de tráfico de pessoas e trabalho escravo não remetem a um passado distante, casos isolados de violações em lugares remotos e a um problema superado pela humanidade. Ao contrário, trata-se de questão que figura como tema central na agenda política internacional.

Atualmente, o tráfico de pessoas é uma das atividades mais lucrativas do crime organizado no mundo, sendo a terceira mais rentável atividade desse tipo de crime transnacional, ficando atrás somente do tráfico de drogas e de armas. O tráfico de mulheres para exploração sexual figura como espécie do tráfico de pessoas. Estima-se que da totalidade de vítimas do tráfico de pessoas, quase a metade seja subjugada para exploração sexual, a qual inclui turismo sexual, prostituição forçada, escravidão sexual e casamento forçado. Entre as principais vítimas, estão as mulheres.

No Brasil, o tráfico de mulheres não era considerado um problema relevante até que pesquisas incluíram o país nas rotas internacionais de tráfico de seres humanos e exploração sexual, evidenciando também a existência de rotas nacionais por todo o território.

Na seara das dificuldades conceituais em torno do crime de tráfico sexual de mulheres, um dos pontos mais complexos é o consentimento das vítimas ou seu grau de vitimização. É comum pensar que existe distinção entre a mulher que escolhe por um trabalho na indústria do sexo, e a outra que é forçada a isso. Em termos práticos, porém, é difícil avaliar qual é o grau de vontade própria do sujeito. Ainda que a pessoa tenha consentido com atividades relacionadas à indústria do sexo, indaga-se se teria ela se sujeitado à situação de exploração na qual foi inserida. De mais a mais, ainda que houvesse o referido consentimento à exploração, não parece razoável entender que a vítima poderia dispor de seus direitos fundamentais.

Logo, o consentimento dado pela mulher deve ser considerado como irrelevante para a configuração do tráfico, pois ninguém pode escolher voluntariamente ser traficada, explorada ou escravizada. Além dos fatores já expostos, há pesquisas que salientam o fato de que as mulheres e adolescentes em situação de tráfico sexual comumente já sofreram algum tipo de violência intrafamiliar ou extrafamiliar como abuso sexual, estupro, abandono, negligência, maus-tratos, ou outros tipos de violência em escolas, abrigos ou outros.

Por outro lado, a pobreza é um dos principais fatores para vulnerabilidade a qualquer tipo de exploração. No caso do tráfico de mulheres, esse fato adquire um valor particular, vez que muitos estudos concordam que a pobreza no mundo é mais recorrente em mulheres, e inclusive atribuem a este fenômeno o nome de “feminilização da pobreza”.

O século XXI vê-se diante de um velho problema, que ressurge com novos contornos, porém caracterizado pelas mesmas violações aos direitos humanos. O tráfico de mulheres para exploração sexual é um fenômeno impulsionado pela globalização, expressão da escravidão moderna e que ascende como nova modalidade do crime organizado internacional. É alarmante saber que pesquisas apontam para a existência, hoje, de mais mulheres escravizadas sexualmente do que em qualquer outro período da história.


(*) Professora de Direito Internacional da UFPR e da UniBrasil.

Portugal, um país em demolição




Carta Maior, Quarta-Feira, 20 de Março de 2013 

 
 
Portugal, um país em demolição
 
 
Por Mário Soares
 
O atual governo de Portugal é legítimo, porque foi eleito legalmente em junho de 2011. Porém, para vencer as eleições, o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, fez promessas que não soube cumprir e aplicou políticas de austeridade extrema que causaram um desastre irreparável aos portugueses.

A percepção da imensa maioria da população é que estamos suportando o governo mais destrutivo da história da nação. E que nos encontramos à beira de uma ruptura social.

Alguns ministros deste governo conservador não podem sair à rua sem serem vaiados e insultados, de norte a sul do país.

Para enfrentar a crise, a administração de Passos Coelho apenas soube aplicar cortes e mais cortes no orçamento, de uma magnitude nunca vista na história portuguesa.

Resultados: o aumento galopante do desemprego e as reduções dos salários, das aposentadorias e indenizações em caso de demissão, junto com uma carga fiscal em espiral, causaram perda do poder aquisitivo de aproximadamente 12% nos salários do setor privado e de 25% a 30% no setor público.

Em pouco mais de um ano e meio de governo conservador, o desemprego subiu de 11% para 17,6% da população economicamente ativa, o produto interno bruto caiu 3,2% em 2012 e, neste país de 10,6 milhões de habitantes, há cerca de um milhão de desempregados dos quais quase a metade (480 mil) não tem auxílio-desemprego.
Como se não bastasse, o endividamento da nação, público e privado, está alcançando níveis de catástrofe. Segundo dados de janeiro, a dívida pública, que no quarto trimestre de 2011 era de 107,8% do PIB, chegou a 120,3%, a maior na Europa depois das da Grécia e da Itália.
O endividamento privado é ainda mais alarmante, já que entre 2011 e 2012 subiu de 220% para 280,3% do produto interno bruto.A queda da renda real afeta o conjunto dos assalariados, com a previsível exceção dos setores economicamente privilegiados, e está destruindo sistematicamente a classe média, o que é gravíssimo para o futuro do país.

As pequenas e médias empresas estão em crise e são numerosas as quebras. Acentua-se a fuga forçada de cérebros acadêmicos, científicos e dirigentes de empresas, e uma das mais penosas consequências é que nossas excelentes universidades enfrentam dificuldades operacionais e sofrem perdas qualitativas.

Ao mesmo tempo, o patrimônio português, desde as propriedades imobiliárias até as empresas, sofrem drástica desvalorização e é vendido a preço vil, agravando o desemprego.

Como mostra a gravidade da situação socioeconômica, hoje nas grandes cidades estamos vendo pessoas remexendo no lixo em busca de comida.
Não chama a atenção que a esmagadora maioria dos portugueses manifeste sua contrariedade com este governo com crescente agressividade. E a maior parte dos economistas, incluídos alguns que no começo apoiavam o governo, reprova as políticas de austeridade.

Ao contrário do que afirma Passos Coelho, os cada dia mais frequentes protestos populares são profundamente representativos do sentimento geral e do estado de desespero que aflige a população.

Há alguns dias, o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, fez uma espécie de autocrítica ao reconhecer que suas previsões estavam erradas. Então, o que espera para abandonar o cargo?

Este governo, o pior que os portugueses já tiveram, acabará muito mal. Por isso, é oportuno e necessário que Passos Coelho apresente o quanto antes sua renúncia.

* O socialista Mário Soares é ex-presidente e ex-primeiro-ministro de Portugal.
Publicado originalmente na IPS